Friday, October 31, 2008

Coragem

(Um conto.) (Sugestões são bem-vindas.)


Belize:
Somewhere in there I recall, Margaret and Thaddeus
find the time to discuss the nature of love. Her face is reflecting
the flames of the burning plantation, you know the way white
people do, and his black face is dark in the night and she says
to him, "Thaddeus, real love isn't ever ambivalent."

Tony Kushner, Angels in America



Quando ouviu que sua filha tinha sido baleada, pensou que nada no mundo seguia em seu lugar. As paredes se inclinaram, o chão não ia lhe sustentar. O interior de seu corpo esvaziou-se, e ele achou que fosse se dobrar. As janelas o olhavam. Os vidros, bombeados para dentro da casa, batendo como corações, parecia que iam estourar. O mar azul de fora emudeceu. E um apito começou a subir pelo fio do telefone e a fuçar-lhe o cérebro, sobrepondo-se à voz. "Sua filha foi baleada".

A única foto dela estava em cima da lareira: a foto dela, ele e a mulher. Era de cinco anos atrás. Quando se separaram, ele sentiu-se culpado, e não levou nada para a casa da praia, onde foi morar. Ao contrário: a casa da praia ficou quase vazia, pois ele colocou as roupas da filha e da mulher, os livros e as lembranças em caixas de papelão e enviou-as por correio à casa da cidade. Restou só aquela foto, tirada na praia, em um dia de sol.

Soltou o telefone, tremiam-lhe os joelhos, apoiou-se no balcão que separava a sala-cozinha da sala de estar. Durante uns minutos ainda ouviu o apito, não conseguiu pensar. Depois, calçou uns sapatos, vestiu seu casaco de linho de verão e andou como um autômato até a garagem – como se os pés, como se o corpo não fosse mais o seu. Sentou na direção do velho Chevrolet e tentou ligar o carro, que por três vezes não pegou. Pensou que não ia ser capaz de dirigir até a cidade. E que aquilo não era possível – não podia acontecer.

Dirigiu lentamente pela rua à beira-mar, toda esburacada. Enxergou a praia deserta entre as dunas e, do outro lado, as casas vazias, de janelas fechadas – os quiosques fechados também, desmontados. Cinco anos atrás, ele procurou aquele despojamento, aceitou aquele despojamento, adotou-o. Era o mais parecido com uma espécie de castigo, e isso o levaria a uma purificação. Ela aprendeu a dirigir nessa mesma rua, tão diferente nos meses de verão. Com onze anos, ele a sentou no colo e ela tomava conta da direção; com treze, ela começou a mexer nas marchas; não chegava aos pedais. Lembrou da vez em que entraram na praia e encalharam na areia, de suas risadas espasmódicas. Pareceu-lhe que ouvia ela rir. Depois veio a faculdade e ela nunca tirou a carteira.

Não ouvia o quebrar das ondas; e os latidos do cão de guarda que corria atrás do carro, e pulava, chegavam-lhe abafados, como de um outro lugar. Ele a protegia quando, nesses meses longos das férias, ela começou a namorar – e a beber, a fumar. A mãe sempre foi mais conservadora, e a filha sabia disso e usava ele, que por sua vez sabia e deixava-se usar: bastavam um piscar de olhos, um olhar – quem não obedeceria o olhar de alguém que sabia tanto o que queria –, um pigarrear inocente. Assim se entendiam. Pisou assustado no freio ao ver-se com o carro no meio da estrada – sem saber como tinha chegado lá, a cidadezinha às costas. E jurou que ia estar atento ao tráfego; eram 150 km até a cidade e prometeu a si mesmo que ia estar atento ao tráfego.

Desviou a vista para o rádio. Não queria ouvir nada nem ninguém, e quase sorriu ao pensar que provavelmente o aparelho nem funcionava. Ouviu: Pai, como tu é desligado. Nesse tempo todo, a mulher não quis mais saber dele; ela sim, ela ligava. Ligava sempre no dia do aniversário dele e na noite de São João. Essas duas ligações o deixavam feliz, dois meses antes começava a esperá-las. Apertou os lábios ao lembrar das festas: como ela, aos 14, aos 13, aos 12, cravava os olhos nas fogueiras. Eram o fogo e o inverno que davam à filha uma beleza superior. Ela fitava o fogo como se nada na vida – que apenas começava –, como se nada na vida pudesse— Parecia que se irmanasse ao fogo, e seus olhos e seus cabelos, em vez de refletir as chamas, viravam profundamente pretos, de um preto aceso. No verão era mais menina, com seu corpo opulento, soberbo, mas sem aquele olhar. Sentiu a vibração do carro – aqueles ferros velhos querendo se desconjuntar – e um formigamento a subir-lhe pelas pernas.

Quis bloquear os pensamentos. Fixou a atenção nos modelos e as cores dos carros que o ultrapassavam. Mas nessa época, e nesse dia, havia poucos carros na estrada. Então foi dizendo para si os nomes das árvores nas margens – cedros, jacarandás –; e quando o bosque interrompia-se, dos campos de lavoura. Surpreenderam-lhe usinas que não lembrava da última vez. Como ela teria mudado em cinco anos! Ele só tinha a foto da lareira e a voz, mais densa a cada ligação, a cada ano; e com isso ia compondo o crescimento da filha, mas não era bastante. Sempre perguntava pelos cabelos dela. Até que um dia ela disse: Pai, isto está virando uma obsessão! Ele não queria que os cortasse. Eu sou aquela, ela dizia, referindo-se à foto, ou talvez aos verões passados na praia, ou— Ele acreditava, gostava de acreditar nessa não-mudança.

De todos os quadros que ele pintara, que ninguém vira, que a umidade e o salitre estragavam, quantos eram ela? Nas camadas sobre camadas, nesses quadros tão pesados, de somente um ou dois tons, o que havia? São marinhas, ele dizia, quando perguntado pela filha, não é nada; e adicionava: gastar pintura por gastar. Mas ela nunca acreditou. Essa era a pergunta dela, que sabia que o pai vivia a caminhar demoradamente pela areia e a pintar em casa. São teus cabelos, ele brincava então. Só que nem sabia de certo. Essas manchas e essas cores eram ela? Não podiam ser o que ele nunca foi. É tu, é tu, minha filha! Tremeram-lhe as mãos na direção. Esticou os braços com força, retesando desde os ombros até os dedos. Começou a tremer-lhe o rosto. Nunca imaginara que fosse possível ficar ainda mais só.

Desceu do carro tremendo, em um posto de gasolina que ele não conhecia, novo, brilhante, deserto. Não se via ninguém, mas todas as luzes estavam acesas. Foi tirar a carteira do bolso, e a carteira caiu no chão. Em vez de se agachar e recolhê-la, cobriu-se o rosto com as mãos. “Senhor”, ouviu. Alguém lhe devolveu a carteira. Ele apenas enxergava. “O senhor está bem?”. Ele cruzou os braços sobre o peito, agarrando os ombros para não tremer mais, e fez que sim com a cabeça. Era uma mulher loira, mais alta do que ele, de roupa branca, com uma aura dourada. A mulher abriu a tampa e encheu o tanque do Chevrolet; logo, sem deixar de olhar para trás, voltou para o seu carro. Então ele pôde vê-la: tinha o cabelo comprido e usava dois grandes brincos de argola dourados. Reparou na blusa branca, nas formas do corpo, na cintura. Quis sorrir para ela. A mulher se aproximou de novo e perguntou-lhe com voz doce: “Você pode dirigir?”. Ele fez que sim. O corpo tremia-lhe menos. No respirar acelerado sentiu por um instante um cheiro de— Cheirou forte num intento de sentir o perfume – de voltar à realidade – mas sentiu só a gasolina. Ainda de pé onde a carteira caiu, estendeu os dedos para acenar à mulher, que ao passar pelo Chevrolet deu-lhe tchau desde a janela de seu carro vermelho. Vestida de festa, pensou ele. Nesta hora. Neste posto. Pensou que era um anjo. Perguntou-se se era um anjo. E pensou se a filha não poderia ter sido um anjo também.

Será que te amei o bastante, filha? Pai, tu sabe. Foi na última conversa telefônica, no dia do seu aniversário, seis meses atrás. Bastante era quanto? Quão grande deveria ter sido seu amor, se depois ele ia sumir por cinco anos? Que valia isso? O que valia ele? Inalava ar e o soltava rápido, sentia o coração bater na pele. Ouviu sua voz, rindo ao telefone: Pai, daqui a dois anos todo o mundo estará louco! Aos poucos foram aparecendo mais luzes traseiras, feixes verticais que perdiam-se no céu, estrelas vermelhas que o perturbavam e o obrigavam a piscar. E a voz dela em sua cabeça: O amor não é— O amor não é nunca ambivalente. E ele a ruminar: amor de pai, amor de mãe, amor de amigo, amor de— Por que o homem tem de ser de material tão sensível?

As ruas da cidade pareceram-lhe espectrais. Exceto por algum ou outro carro e o movimento cromático dos sinais, parecia que ninguém morasse lá – que uma debandada, enquanto ele estava fora, tivesse se produzido, deixando só fantasmas. Viu figuras escuras nas ruas esvaziadas, figuras contra paredes ora sujas, ora rachadas, banhadas em um amarelo de necrotério de hospital. Sentiu de novo o apito ouvido ao telefone – ignorava quantas horas atrás: quando era dia; e forte, como sempre desde que elas partiram e ele ficou na praia, a ameaça da loucura. Se ela não estivesse lá, deitada em sua cama, em seu quarto, com a mãe, as amigas, nada mais o salvaria. Ele, que quando achou já estar perdido, para não enlouquecer ou se matar, começou a pintar, sem ela não viveria. Não vai me beijar? Isso foi o que ela disse. Muito tempo atrás, no entanto parecesse sempre ontem. Encostada na porta do quarto do sótão, o único lugar da casa de cuja janela, por cima das dunas, dava para ver o mar. Ele nunca soube se ela estava perguntando. Nem na voz nem nos olhos acesos pôde adivinhar. Por que o homem é obrigado a—? Mas tinha certeza que tiveram coragem.

Quase não reconheceu a casa. Mudou a cor da fachada. A porta, larga e alta, antes era de madeira, não de aço. Alguém dormia nos degraus. Tanta coisa havia mudado. Desceu rápido do carro. Já não tremia, nem suava. De regresso à casa onde morou, subiria esses degraus, sentiria de novo o carpete nos pés, apalparia as paredes. E ela estaria na cama, no centro de tudo, sorrindo para a mãe. Olhou para cima e não viu luz nas janelas. Deu mais uns passos e enxergou: a figura nos degraus da porta, com os cabelos no rosto, diminuída no interior de um abrigo. A mulher ergueu a cabeça e pestanejou; pestanejou várias vezes em frente ao homem de cabelos grisalhos. Sorriu e chorando disse: “Meu amor, amor meu”. Então ele soube. No entanto, perguntou: “Onde ela está?”. “Ninguém parou, ninguém parou, ninguém parou”, a mulher disse. “Onde ela está?”. A mulher soluçava, abraçava-se a ele, golpeava-o com raiva no peito, no casaco, colava-se a ele.

Foi de táxi ao IML. Um homem de guarda-pó o recebeu na entrada. Explicou-lhe que Débora havia sido baleada às seis da tarde, ao sair da faculdade de carro. Que os assaltantes fugiram. Contou-lhe que o namorado morreu na hora, na direção; que o carro rodou cem metros, até bater em um poste de luz. “Sua filha Débora”, o médico disse, “conseguiu abrir a porta e sair. Um grupo de vizinhos tentou socorrê-la no chão. Pediram para outros carros pararem e a levarem para o hospital. Senhor? Na ambulância, ela disse: Ligue pro meu pai. Não resistiu. Agora, se quiser entrar na sala. Talvez queira levar uma lembrança”.

... Y otro pingüino

Éste se perdió por el camino.


Liniers


(Es un pingüino filósofo.)

Monday, October 27, 2008

Crueldad

Se acuerdan, no?, de aquellos pingüinos? (Caminan para subir a un avión que les llevará de Salvador a Pelotas; de Pelotas irán en camión a Rio Grande, y en Rio Grande serán devueltos al mar, para que otra corriente les lleve a pasar el verano a las aguas frías del fin del mundo.) Ahora dime tú si no estarían mucho mejor en Salvador.

Sunday, October 26, 2008

Frear o ritmo ir muito lento

Fiquei romântico. Dia de chuva no Sul do país. Julieta Venegas: Lento. (Do MTV Unplugged.) (Gostei desse verso: vale a pena "frear o ritmo ir muito lento", não só no amor.)



Se queres um pouco de mim
Me deverias esperar
E caminhar a passo lento
Bem lento
E pouco a pouco esquecer
O tempo e sua velocidade
Frear o ritmo ir muito lento
Mais lento
Ser delicado e esperar
Da-me tempo para te dar
Tudo o que eu tenho
Ser delicado e esperar
Da-me tempo para te dar
Tudo o que eu tenho
Se queres um pouco de mim
Da-me paciência e verás
Será melhor que andar correndo
Levantar vôo
E pouco a pouco esquecer
O tempo e sua velocidade
Frear o ritmo ir muito lento
Mais lento
Ser delicado e esperar
Da-me tempo para te dar
Tudo o que eu tenho
Ser delicado e esperar
Da-me tempo para te dar
Tudo o que eu tenho
Se me falas de amor
Se suavizas minha vida
Não estarei mais tempo
Sem saber o que eu sinto
Ser delicado e esperar
Da-me tempo para te dar
Tudo o que eu tenho
Ser delicado e esperar
Da-me tempo para te dar
Tudo o que eu tenho

Wednesday, October 22, 2008

Tom Zé "estudando a bossa"

Traduzco la entrevista que Tom Zé concedió al diario O Globo, de Rio, para presentar su nuevo disco, "Estudando a bossa". Divertidísimo como siempre, el músico es capaz de cagarse en lo más sagrado - pero de manera muy fina. En este caso, se divierte imitando un lenguaje que no es el suyo, sino el de los bossanovistas, más intelectuales. La foto del periódico era más divertida que esta de la edición online. Tirada también en el Fuerte de Copacabana, en ella Tom Zé se colocaba en una postura algo rara, que sólo se entendía leyendo el pie de foto: "Tom Zé imitando el Pão de Açúcar". ¿Imaginan? Como dice Rose, Tom Zé es un figuraça. Escuchar: Filho do pato. (Com Márcia Castro!)


Origen: Cuando empecé a componer las músicas, el título no estaba en pauta. Hasta que escribí el verso 'A Doralice me disse no desconsolo seu' y pensé: 'qué verso más bossanovista!'. Fue el grano de arena dentro de la ostra, la incomodidad que genera la perla. No hice una perla, hice un disco.

Transgresiones: La mayoría de veces puse las pillerías, transgresiones y bromas más sabrosas en los últimos 30 segundos de las canciones. Seguí el consejo de los lingüistas, cuando afirman que los radicales informan más que las desinencias.

Expulsado: La bossa nova era algo tan fino que mi calidad de bárbaro me expulsaba de aquello, yo mismo me expulsaba. Al lado de ese alejamiento, sin embargo, existió una atracción desde el momento de su aparición en el mundo.

Puente Rio-Niterói: La ingeniería brasileña sólo consiguió resolver el problema de construir el puente Rio-Niterói cuando hizo la traducción intersemiótica de las enseñanzas de la bossa nova. Sus plataformas flotantes son la traducción en hierro y hormigón de lo que la bossa nova hizo en la música. Lo femenino de las plataformas traduce lo femenino de las síncopas. Y, como la bossa nova, la tecnología del puente fue una creación brasileña exportada. En 1958, en un sólo año, Brasil pasó de exportador de materias primas, el grado más bajo del subdesarrollo humano, a exportador de arte, el grado más alto. Antes, el arte brasileño en el mundo era víctima de la mirada exótica, lo que no sucedió con la bossa nova, un género tan consumado que no permitió ese engaño.

"Chega de saudade": Oí "Chega de saudade" cerca de las dos de la tarde, en la ZYD-8, Radio Excelsior de Bahia. Era algo completamente absurdo, al mismo tiempo que era apasionante, al mismo tiempo que era diferente, al mismo tiempo que salía del vientre de la samba. Mi vida habría sido otra si no hubiera escuchado eso. No tendría tanta fe en la invención si no hubiera vivido una invención de ese porte.

El canto de João Gilberto: Los jóvenes estábamos cansados de los vibratos. Cuando surgió João, vimos que podía haber otro modo, íntimo, de cantar. Lo que fue una explosión. Porque al largo de siglos varias experiencias fueron hechas con la garganta humana. El canto lírico fue fruto de una evolución de generaciones. Pero João, solito en su cuarto de baño de Juazeiro, hizo con la voz humana algo que nunca había sido hecho. Fue el fonoaudiólogo, el esteta del buen gusto, el profesor de anatomía que creó una nueva forma de usar la musculatura de la cara... De hecho, hay dos cuartos de baño que deberían garantizar un Premio Nobel a sus constructores: el de Arquímedes (que, en su bañera, descubrió la ley del empuje) y el de João Gilberto.

La voz usada en este disco: Usamos oketos, que son esos eh, ah, oh, una cosa de las cantilenas de la Edad Media. Algunas cosas aspiradas también. João hacía aspirados, como en 'Bésame mucho'. Y portamentos, que es el hummmmmmm.

Cantantes participantes: Todas fueron generosas, grabaron fuera de su tono. Antes de las grabaciones, copié el primer CD de João Gilberto 12 veces y lo mandé a cada una de ellas, para que entendieran de qué estaba hablando. No para imitarlo, cada una usó aquello de un modo.

Arnaldo Antunes, coautor de cuatro canciones del disco: Me tomé la libertad de meterme en sus letras. En 'Rio arrepio (Badá-badi)' sólo quedó un verso suyo: 'Nunca la tristeza fue tan feliz'. En 'Mulher de música', tuvo una enorme sensibilidad para seguir la idea del verso inicial que hice y escribió unas 10 estrofas, pero en la canción sólo quedaron dos.

Dorival Caymmi: Como en "Chega de saudade", el texto del disco también tiene un PS que hace referencia a él. En ese, era 'PS: Caymmi dice lo mismo'. En el mío es una referencia a su muerte, que no le permite escuchar la canción que le hice, 'Solvador Bahia de Caymmi'.

Tom Jobim: Hice las cuerdas de 'Rio arrepio (Badá-badi)' en el teclado, a la hora de grabar, improvisando, imitando las cuerdas de Tom Jobim. En los arreglos del primer disco de João Gilberto, las cuerdas de Jobim están paradas, sostienen la misma nota por varios compases. Cuando hay un elemento que se mueve mucho, como la guitarra de João, Jobim percibió que otro elemento, parado, gana sentido informacional. 'Samba de una sola nota' es un ejemplo perfecto de ese principio. Como la armonía cambia, la nota nunca es una sola.

Vinicius de Moraes: Era el poeta que escribía en la contraportada de "Canção do amor demais" cosas como 'crestada por la pátina de vida'. Y luego hizo letras que cualquier ama de casa entendía. Esa renuncia, esa entrega, es de una grandeza... Con un abanico pequeño de palabras, aumentó el repertorio de sentimientos de la clase media brasileña.

Funk (música tipo hip-hop nacida en las favelas de Rio): Las olas concéntricas generadas por el impacto de la bossa nova sin duda reventaron en el funk carioca. Se ve en un estribillo como 'Me estoy poniendo muy mojada', que es un metaestribillo (por remitirnos al arte de hacer estribillos), microtonal y plurisemiótico (al usar el sonido y el texto para alcanzar no sólo la audición, sino también el tacto, el olfato, el placer sexual.



PS nada a ver: Since they won't be taken to international courts or put in jail, at least let's laugh at the expense of the leaders of the Republican party for what they've done these last eight years.

[Video no longer available.]

PPS: Na verdade, esse PS não é tão "nada a ver". Porque Tom Zé, ligado em tudo, escreveu aquela música, "Companheiro Bush":

Se você fá sabe quem vendeu
Aquela bomba pro Iraque,
Desembuche.
Eu desconfio que foi o Bush.

Foi o Bush,
Foi o Bush.
Foi o Bush.

Onde haverá recurso
Para dar um bom repuxo
No companheiro Bush.
Quem arranja um alicate
Que acerte aquela fase
Ou corrija aquele fuso,

Talvez um parafuso
Que ta faltando nele
Melhore aquele abuso.
Um chip que desligue
Aquele terremoto,
Aquela coqueluche.

Tuesday, October 21, 2008

Divulgando a literatura em catalão 2

Ontem recebi esta mensagem de um colega de Oficina do ano passado:

"Cara, só escrevo pra te agradecer a indicação da Mercè Rodoreda. Acabei de ler o Mirall Trencat (em português, claro, Espelho Partido) e gostei muito mesmo. Vou ver se consigo outras traduções dela. No mais, era isso, valeu e tudo de bom."

:)

Sunday, October 19, 2008

Frevo (Pecadinho)



La Rose em va enviar aquesta cançó en mp3. ("Lembra da maluquinha que abriu o show da Céu, na Concha Acústica?":) (Como eu não ia lembrar?:) La "maluquinha" és la Márcia Castro, la cançó és de Tom Zé i Tuzé de Abreu*. M'agrada molt la lletra. És una cançó de Carnaval, perfecta per començar el dia (o la nit) animat. (Tchau, vou dançar.)

Esta noite não quero saber de conselho
esquece, deixe pra lá
me arranja um pecado
quente pra me consolar
pense bem que depois
tem o ano inteiro pra gente pagar

Cinqüenta gramas de amor
veja lá, é um bocadinho
vinte gramas até,
venha cá, é tão pouquinho.
Eu vou morrer se você
não quiser
me arranjar um pecadinho.

Se você não quiser
me arranjar um pecadinho.


*O Tuzé de Abreu é outro baiano, mas menos famoso que o Tom Zé. É um cantor, compositor, diretor musical, flautista... Sei lá mais o quê... rsrs. Já trabalhou com Moraes Moreira, Carlinhos Brown e outros talentos. Ele tá em cena há muito tempo, mas não é muito conhecido, eu acho. (Rose)

Obrigadão, Rose.

Thursday, October 16, 2008

Ficar (aos 11)

(NEW! Agora com correções, novas linhas de diálogo e informação imperdível, tudo acrescentado pela própria professora!)


Professora particular:
I must go, it's nine o'clock. I hope you do well in the test, my girl.
Aluna de 11 anos: Thank you very much. I will do. I will be. I will doing...
Prof.: You will do your best.
A.: Sim. I will do my best.
P.: Perfeito. Eu sei que tu é nota A!
A.: Sora, posso te perguntar uma coisa?
P.: Claro.
A.: Tu já ficou?
P.: Se eu o quê? Há há! Como assim, se eu já fiquei?
A.: É que... Bom: eu...
P.: Já... já fiquei. Claro, né?! Mas é que eu sou bem mais velha que tu... Por que tu quer saber?
A.: Promete que não vai contar contar pra minha mãe? Nem pra minha irmã?
P.: Prometo.
A.: É que no colégio tenho quatro pretendentes.
P.: (Ai, meu Deus.) Quatro pretendentes! Nossa! Tem algum bonitão, inteligente e que saiba mais inglês que tu?
A.: Hehe.
P.: E já escolheu algum deles?
A.: Ainda não. Na verdade, eu não sei se eu quero ficar.
P.: Claro. Tu é muito nova ainda. Eu brinquei de Barbie até os 14. E dentro do colégio também não dá pra ficar!
A.: Tu que não sabe! Lá tem muitos cantinhos!
P.: (Ai, meu Deus!) (Muitos cantinhos!)
A.: Algumas amigas minhas já ficaram, sabia?
P.: ?
A.: Já. Eu até ajudei uma amiga a ficar ontem.
P.: Ah, é? E como tu fez isso?
A.: Eu fui por trás, peguei a cabeça dele, peguei a cabeça dela e empurrei um contra o outro. Assim.
P.: Há há! Sério??
A.: Depois saí correndo!!!

Sunday, October 12, 2008

Isto é água, isto é água

Eu evito postar textos que não sejam meus (trechos de romances, letras de músicas, citações, etc.), acho que se o fizesse o blog perderia o sentido. E quando o faço, são traduções, que já ficam meio minhas. Mas, desta vez, com este texto de David Foster Wallace que a Gabriela me enviou, vou fazer uma exceção. Quero postá-lo para tê-lo sempre em mente. E porque é lindo (e triste) e merece muito ser lido. Não é literário, OK? Para textos literários tem o conto Good People (e mais dois) na revista New Yorker. Este que eu posto aqui, que saiu na Revista Piauí deste mês (espero que ninguém me obrigue a retirá-lo!), é um discurso de paraninfo que o escritor fez para formandos do Kenyon College (que deve ser um dos lugares onde ele ensinou escrita criativa).


A liberdade de ver os outros

Dois peixinhos estão nadando juntos e cruzam com um peixe mais velho, nadando em sentido contrário. Ele os cumprimenta e diz:
– Bom dia, meninos. Como está a água?
Os dois peixinhos nadam mais um pouco, até que um deles olha para o outro e pergunta:
– Água? Que diabo é isso?

Não se preocupem, não pretendo me apresentar a vocês como o peixe mais velho e sábio que explica o que é água ao peixe mais novo. Não sou um peixe velho e sábio. O ponto central da história dos peixes é que a realidade mais óbvia, ubíqua e vital costuma ser a mais difícil de ser reconhecida. Enunciada dessa forma, a frase soa como uma platitude – mas é fato que, nas trincheiras do dia-a-dia da existência adulta, lugares comuns banais podem adquirir uma importância de vida ou morte.

Boa parte das certezas que carrego comigo acabam se revelando totalmente equivocadas e ilusórias. Vou dar como exemplo uma de minhas convicções automáticas: tudo à minha volta respalda a crença profunda de que eu sou o centro absoluto do universo, de que sou a pessoa mais real, mais vital e essencial a viver hoje. Raramente mencionamos esse egocentrismo natural e básico, pois parece socialmente repulsivo, mas no fundo ele é familiar a todos nós. Ele faz parte de nossa configuração padrão, vem impresso em nossos circuitos ao nascermos.

Querem ver? Todas as experiências pelas quais vocês passaram tiveram, sempre, um ponto central absoluto: vocês mesmos. O mundo que se apresenta para ser experimentado está diante de vocês, ou atrás, à esquerda ou à direita, na sua tevê, no seu monitor, ou onde for. Os pensamentos e sentimentos dos outros precisam achar um caminho para serem captados, enquanto o que vocês sentem e pensam é imediato, urgente, real. Não pensem que estou me preparando para fazer um sermão sobre compaixão, desprendimento ou outras “virtudes”. Essa não é uma questão de virtude – trata-se de optar por tentar alterar minha configuração padrão original, impressa nos meus circuitos. Significa optar por me libertar desse egocentrismo profundo e literal que me faz ver e interpretar absolutamente tudo pelas lentes do meu ser.

Num ambiente de excelência acadêmica, cabe a pergunta: quanto do esforço em adequar a nossa configuração padrão exige de sabedoria ou de intelecto? A pergunta é capciosa. O risco maior de uma formação acadêmica – pelo menos no meu caso – é que ela reforça a tendência a intelectualizar demais as questões, a se perder em argumentos abstratos, em vez de simplesmente prestar atenção ao que está ocorrendo bem na minha frente.

Estou certo de que vocês já perceberam o quanto é difícil permanecer alerta e atento, em vez de hipnotizado pelo constante monólogo que travamos em nossas cabeças. Só vinte anos depois da minha formatura vim a entender que o surrado clichê de “ensinar os alunos como pensar” é, na verdade, uma simplificação de uma idéia bem mais profunda e séria. “Aprender a pensar” significa aprender como exercer algum controle sobre como e o que cada um pensa. Significa ter plena consciência do que escolher como alvo de atenção e pensamento. Se vocês não conseguirem fazer esse tipo de escolha na vida adulta, estarão totalmente à deriva.

Lembrem o velho clichê: “A mente é um excelente servo, mas um senhorio terrível.” Como tantos clichês, também esse soa inconvincente e sem graça. Mas ele expressa uma grande e terrível verdade. Não é coincidência que adultos que se suicidam com armas de fogo quase sempre o façam com um tiro na cabeça. Só que, no fundo, a maioria desses suicidas já estava morta muito antes de apertar o gatilho. Acredito que a essência de uma educação na área de humanas, eliminadas todas as bobagens e patacoadas que vêm junto, deveria contemplar o seguinte ensinamento: como percorrer uma confortável, próspera e respeitável vida adulta sem já estar morto, inconsciente, escravizado pela nossa configuração padrão – a de sermos singularmente, completamente, imperialmente sós.

Isso também parece outra hipérbole, mais uma abstração oca. Sejamos concretos então. O fato cru é que vocês, graduandos, ainda não têm a mais vaga idéia do significado real do que seja viver um dia após o outro. Existem grandes nacos da vida adulta sobre os quais ninguém fala em discursos de formatura. Um desses nacos envolve tédio, rotina e frustração mesquinha.

Vou dar um exemplo prosaico imaginando um dia qualquer do futuro. Você acordou de manhã, foi para seu prestigiado emprego, suou a camisa por nove ou dez horas e, ao final do dia, está cansado, estressado, e tudo que deseja é chegar em casa, comer um bom prato de comida, talvez relaxar por umas horas, e depois ir para cama, porque terá de acordar cedo e fazer tudo de novo. Mas aí lembra que não tem comida na geladeira. Você não teve tempo de fazer compras naquela semana, e agora precisa entrar no carro e ir ao supermercado. Nesse final de dia, o trânsito está uma lástima.

Quando você finalmente chega lá, o supermercado está lotado, horrivelmente iluminado com lâmpadas fluorescentes e impregnado de uma música ambiente de matar. É o último lugar do mundo onde você gostaria de estar, mas não dá para entrar e sair rapidinho: é preciso percorrer todos aqueles corredores superiluminados para encontrar o que procura, e manobrar seu carrinho de compras de rodinhas emperradas entre todas aquelas outras pessoas cansadas e apressadas com seus próprios carrinhos de compras. E, claro, há também aqueles idosos que não saem da frente, e as pessoas desnorteadas, e os adolescentes hiperativos que bloqueiam o corredor, e você tem que ranger os dentes, tentar ser educado, e pedir licença para que o deixem passar. Por fim, com todos os suprimentos no carrinho, percebe que, como não há caixas suficientes funcionando, a fila é imensa, o que é absurdo e irritante, mas você não pode descarregar toda a fúria na pobre da caixa que está à beira de um ataque de nervos.

De qualquer modo, você acaba chegando à caixa, paga por sua comida e espera até que o cheque ou o cartão seja autenticado pela máquina, e depois ouve um “boa noite, volte sempre” numa voz que tem o som absoluto da morte. Na volta para casa, o trânsito está lento, pesado etc. e tal.

É num momento corriqueiro e desprezível como esse que emerge a questão fundamental da escolha. O engarrafamento, os corredores lotados e as longas filas no supermercado me dão tempo de pensar. Se eu não tomar uma decisão consciente sobre como pensar a situação, ficarei irritado cada vez que for comprar comida, porque minha configuração padrão me leva a pensar que situações assim dizem respeito a mim, a minha fome, minha fadiga, meu desejo de chegar logo em casa. Parecerá sempre que as outras pessoas não passam de estorvos. E quem são elas, aliás? Quão repulsiva é a maioria, quão bovinas, e inexpressivas e desumanas parecem ser as da fila da caixa, quão enervantes e rudes as que falam alto nos celulares.

Também posso passar o tempo no congestionamento zangado e indignado com todas essas vans, e utilitários e caminhões enormes e estúpidos, bloqueando as pistas, queimando seus imensos tanques de gasolina, egoístas e perdulários. Posso me aborrecer com os adesivos patrióticos ou religiosos, que sempre parecem estar nos automóveis mais potentes, dirigidos pelos motoristas mais feios, desatenciosos e agressivos, que costumam falar no celular enquanto fecham os outros, só para avançar uns 20 metros idiotas no engarrafamento. Ou posso me deter sobre como os filhos dos nossos filhos nos desprezarão por desperdiçarmos todo o combustível do futuro, e provavelmente estragarmos o clima, e quão mal-acostumados e estúpidos e repugnantes todos nós somos, e como tudo isso é simplesmente pavoroso etc. e tal.

Se opto conscientemente por seguir essa linha de pensamento, ótimo, muitos de nós somos assim – só que pensar dessa maneira tende a ser tão automático que sequer precisa ser uma opção. Ela deriva da minha configuração padrão.

Mas existem outras formas de pensar. Posso, por exemplo, me forçar a aceitar a possibilidade de que os outros na fila do supermercado estão tão entediados e frustrados quanto eu, e, no cômputo geral, algumas dessas pessoas provavelmente têm vidas bem mais difíceis, tediosas ou dolorosas do que eu.

Fazer isso é difícil, requer força de vontade e empenho mental. Se vocês forem como eu, alguns dias não conseguirão fazê-lo, ou simplesmente não estarão a fim. Mas, na maioria dos dias, se estiverem atentos o bastante para escolher, poderão preferir olhar melhor para essa mulher gorducha, inexpressiva e estressada que acabou de berrar com a filhinha na fila da caixa. Talvez ela não seja habitualmente assim. Talvez ela tenha passado as três últimas noites em claro, segurando a mão do marido que está morrendo. Ou talvez essa mulher seja a funcionária mal remunerada do Departamento de Trânsito que, ontem mesmo, por meio de um pequeno gesto de bondade burocrática, ajudou algum conhecido seu a resolver um problema insolúvel de documentação.

Claro que nada disso é provável, mas tampouco é impossível. Tudo depende do que vocês queiram levar em conta. Se estiverem automaticamente convictos de conhecerem toda a realidade, vocês, assim como eu, não levarão em conta possibilidades que não sejam inúteis e irritantes. Mas, se vocês aprenderam como pensar, saberão que têm outras opções. Está ao alcance de vocês vivenciarem uma situação “inferno do consumidor” não apenas como significativa, mas como iluminada pela mesma força que acendeu as estrelas.

Relevem o tom aparentemente místico. A única coisa verdadeira, com V maiúsculo, é que vocês precisam decidir conscientemente o que, na vida, tem significado e o que não tem.

Na trincheira do dia-a-dia, não há lugar para o ateísmo. Não existe algo como “não venerar”. Todo mundo venera. A única opção que temos é decidir o que venerar. E o motivo para escolhermos algum tipo de Deus ou ente espiritual para venerar – seja Jesus Cristo, Alá ou Jeová, ou algum conjunto inviolável de princípios éticos – é que todo outro objeto de veneração te engolirá vivo. Quem venerar o dinheiro e extrair dos bens materiais o sentido de sua vida nunca achará que tem o suficiente. Aquele que venerar seu próprio corpo e beleza, e o fato de ser sexy, sempre se sentirá feio – e quando o tempo e a idade começarem a se manifestar, morrerá um milhão de mortes antes de ser efetivamente enterrado.

No fundo, sabemos de tudo isso, que está no coração de mitos, provérbios, clichês, epigramas e parábolas. Ao venerar o poder, você se sentirá fraco e amedrontado, e precisará de ainda mais poder sobre os outros para afastar o medo. Venerando o intelecto, sendo visto como inteligente, acabará se sentindo burro, um farsante na iminência de ser desmascarado. E assim por diante.

O insidioso dessas formas de veneração não está em serem pecaminosas – e sim em serem inconscientes. São o tipo de veneração em direção à qual você vai se acomodando quase que por gravidade, dia após dia. Você se torna mais seletivo em relação ao que quer ver, ao que valorizar, sem ter plena consciência de que está fazendo uma escolha.

O mundo jamais o desencorajará de operar na configuração padrão, porque o mundo dos homens, do dinheiro e do poder segue sua marcha alimentado pelo medo, pelo desprezo e pela veneração que cada um faz de si mesmo. A nossa cultura consegue canalizar essas forças de modo a produzir riqueza, conforto e liberdade pessoal. Ela nos dá a liberdade de sermos senhores de minúsculos reinados individuais, do tamanho de nossas caveiras, onde reinamos sozinhos.

Esse tipo de liberdade tem méritos. Mas existem outros tipos de liberdade. Sobre a liberdade mais preciosa, vocês pouco ouvirão no grande mundo adulto movido a sucesso e exibicionismo. A liberdade verdadeira envolve atenção, consciência, disciplina, esforço e capacidade de efetivamente se importar com os outros – no cotidiano, de forma trivial, talvez medíocre, e certamente pouco excitante. Essa é a liberdade real. A alternativa é a torturante sensação de ter tido e perdido alguma coisa infinita.

Pensem de tudo isso o que quiserem. Mas não descartem o que ouviram como um sermão cheio de certezas. Nada disso envolve moralidade, religião ou dogma. Nem questões grandiosas sobre a vida depois da morte. A verdade com V maiúsculo diz respeito à vida antes da morte. Diz respeito a chegar aos 30 anos, ou talvez aos 50, sem querer dar um tiro na própria cabeça. Diz respeito à consciência – consciência de que o real e o essencial estão escondidos na obviedade ao nosso redor – daquilo que devemos lembrar, repetindo sempre: “Isto é água, isto é água.”

É extremamente difícil lembrar disso, e permanecer consciente e vivo, um dia depois do outro.

Friday, October 10, 2008

Em crise

Na última aula da Oficina de Criação Literária (eu tô assistindo, mesmo que não pareça, pois faz séculos que não posto um conto (pra não dizer não escrevo)) o professor falou em plágios intencionais, paráfrases, paratextos, hipotextos, hipertextos, transex - não, trans, peraí. Transtextualidade, etc.: essas coisas muuudernas (vou escrever muuuderno como a Carol Bensimon - já estou plagiando viu; assim dou uma risada), sabe né?; dá pra adicionar "mise en abîme", en français, que o professor também usou: fica meio antiquado, mas os mudernos podem não saber. Ele, o professor, pediu pra nós fazer uma dessas coisas, mas nos deu exemplos do mundo da pintura (ele gosta, eu também, tudo bem). Projetou três versões do "Concerto Campestre", de... não me lembro quem (não me lembro, sério, um pintor renascentista); essa não é versão, né?, é a original: projetou essa e depois a de Manet; não achou a de Picasso e vimos uma terceira, mas também não sei de quem. E já que estava com Picasso citou "As meninas" (não sei se é com m ou com M). Não, foi um colega que citou "As Meninas". (Aparte: "Las meninas": quadro mais incrível que eu já vi; sério. Ao vivo, tem que ser ao vivo; sério, juro, tem que ir a Madri.) Esse - ou essa (acho que essa, pois tem mais mulher) colega citou "Las Meninas", e foi então que o professor a deu como exemplo (nada demais - sério; essa está em Barcelona, mas tem picassos mais chulos em Paris, à Paris - aliás o museu Picasso de Barcelona, mm, sério). Eu, então, mais... Mais o quê?, não sei, mais espanhol que o professor, pensei na versão do Equipo Crónica. E até fiz uma busca (é né?, não é "um busca") - I googled, iiihh, não agüento essa - no computador, queria mostrar aos colegas como essa versão era divertida, tão colorida e super pop. Mas fiquei quieto, melhor ser prudente (também não sei nada do tal equipo - SÉRIO). Só que em casa I googled anew - iiiihhh. Busquei e achei outra versão muito mais tri legal, só que do Gernika (o professor também falou do Gernika, se não nessa aula, na anterior, também eu não escuto o tempo todo). Adorei, e essa é a que eu vou postar aqui. Sério. Agora sério mesmo, o post vira sério, porque o quadro é pop mas é sério. Que nem a crise. ("El mundo se derrumba y nosotros de rumba": minha irmã escreveu isso, mas também não é dela - plagiou de alguém. Está na África, ela - sério - e não sabe de nada, acho que porque lá não tem Internet, ou porque lá a crise é..., enfim, a vida é f..., a vida é uma crise - e os irmãos também não escrevem pra ela contando.) Tava dizendo que na verdade este post não faz sentido, é mais porque eu não tinha conto pra postar, nem post pra escrever, nada. Mas gostei do quadro do Equipo Crónica, de Madri (na verdade não é nem um equipo, né?, acho que eram dois; e só acho que eram de Madri). Aqui.

Monday, October 06, 2008

Para quem não gosta de ler os clássicos 2

Os clássicos são, segundo os autores do site, livros tijolões tão entediantes quanto "pescar em um lago vazio", e, a metade das vezes, "sem um enredo discernível". Para lembrar.

Mais três:

Esaú e Jacó, de Machado de Assis

Pedro: Pau que nasce torto nunca se endireita.
Paulo: Pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto.


Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago


As pessoas podem ser muito ruins. As pessoas podem ser muito boas.


Late works of Philip Roth


I'd like to fuck with this young, extremely beautiful college girl. And I'll do it, because I'm an old, decrepit, self-obsessed Literature Professor (and she loves it). Oh, and I'm afraid of dying.

Saturday, October 04, 2008

É tão estranho, os bons morrem jovens*

Hoje recebi uma mensagem bem interessante, longa e divertida (quase escrevi irrefletida) do meu irmão Oriol, mais ou menos relacionada com o post (The World Is an) Infinite Jest, sobre a morte do escritor David Foster Wallace. Publico-a sem pedir-lhe licença (até pensei em traduzi-la, mais eu não tenho o tempo libre que ele tem :) - fica assim então, em catalão), e quase sem modificações. Eu só editei, apaguei, corrigi, censurei, e inventei uns títulos, nada mais.


1. (Por que os melhores escritores se suicidam, e aqueles que deveriam se suicidar, não?) Fa uns dies que una qüestió em ronda el cap: per què els escriptors que se suïciden són els bons, i els dolents, en canvi, segueixen publicant i publicant sense parar fins que la mort natural se'ls emporta (normalment, molt tard), no sense abans haver pogut deixar acabats un parell de llibres que els seus familiars publicaran per treure pasta?

2. (Podemos confiar nos escritores que não têm se suicidado?) Ja sé que el que em pregunto no és nou, però m'ha vingut al cap recentment pel tema de l'amic Foster Wallace. Et diré, primer de tot, que costa molt trobar llibres d'aquest home a Barcelona, però m'he començat a llegir un llibre de contes seu (les seves novel·les no es troben, ni a la Fnac), i, una vegada més, es compleix la norma artística segons la qual "el que se suïcida era bo". D'aquí la meva pregunta: ens podem fiar dels escriptors que no s'han suïcidat?

3. (O que deveria deixar feliz um escritor é escrever bem, não escrever redações escolares.) Res més lluny de la meva intenció que promoure la idea de què si un no se suïcida és perquè no és bon escriptor, però la veritat és que sorprèn veure el talent i la qualitat de tots els autors que, al llarg de la història, s'han anat matant, mentre que homes com l'amic Bucay, que inunden les llibreries de tot el món de paper (arbres tallats), no només no es treuen la vida, sinó que van pel món fent de gurús feliços capaços d'ensenyar la gent a ser feliç.

A veure: si el que hauria de fer feliç un escriptor és escriure bé, i allò que l'hauria de fer sentir desgraciat és escriure redaccions de col·legi (com El niño con el pijama de rayas, que ja només pel títol sembla una redacció),... per què collons es maten els que escriuen millor, i en canvi els dolents no només no s'amarguen amb la seva prosa vulgar, sinó que es tornen més prolífics cada dia?

4. (A grande teoria irrefletida de Oriol.) Sé que això no només passa amb la literatura, sinó també amb la pintura, la música i altres arts. (Per sort meva, amb el cine no passa: el cine és més de morts tràgiques en accidents de cotxe i coses per l'estil, no sé si perquè són més espectaculars cinematogràficament parlant, si perquè el cine no és un art individual, o si, simplement, perquè el cine no és un art, com pensaria qualsevol persona que només hagués vist les pel·lícules fetes els darrers 20 anys.) I, com ja deus haver imaginat, tinc una gran teoria al respecte.

Òbviament la meva opinió va pels camins de l'artista que viu la seva obra; que és conscient de la seva mediocritat fins i tot quan assoleix els nivells més brillants, perquè és justament llavors quan s'adona de la distància que separa el seu talent del poder creatiu de la naturalesa; que s'adona de la futilitat del seu esforç; etc. Però això ja s'ha dit molts cops i no és divertit. Jo avui prefereixo llançar-me al fang del sensacionalisme i l'escriptura lliure i irreflexiva, molt més divertida, i dir coses com que els bons escriptors que encara estan vius són bons perquè encara no s'han suïcidat, però ho faran.

O que si l'amic Paul Auster (a qui admiro) s'hagués suïcidat fa tres llibres, hauria passat a la història com a un escriptor millor del que finalment acabarà sent considerat si continua així. (Tot i que jo tampoc no em mataria si tingués un piset a Nova York, una dona intel·ligent i guapa, reputació mundial, i pogués viure com volgués i fer el que volgués). O dir que el que hauríem de fer tots és no llegir cap llibre de cap escriptor que no s'hagués suïcidat (això, sens dubte, seria mal rebut pels familiars de molts escriptors.) O que els escriptors que després de publicar es queden vius i cobrant els drets de la seva obra són uns hipòcrites pesseters.

5. (O exemplo de Gerard e os mestres da literatura do Japão.) No sé, el Gerard (un gran lector, per cert) durant un temps de la seva vida es va marcar el principi literari de llegir només escriptors que s'haguessin suïcidat, i a poder ser japonesos (el suïcidi es porta més a Orient que aquí). Ara ja no segueix aquesta màxima, però sempre diu que fliparies amb els grans descobriments literaris que va fer (moltes vegades, d'autors que només havien escrit un o dos llibres abans de matar-se).

És clar que això xoca frontalment amb la meva màxima com a lector, segons la qual només llegeixo autors vius (màxima que em salto, però no gaire). Encara que a vegades d'això en resulti que després de llegir unes quantes pàgines pensi "a aquest paio l'haurien de matar".

6. (Justificante da reflexão irrefletida e alguns desvarios.) En definitiva, no sé per què passa (tot i tenir la meva teoria), però feia dies que hi pensava i tenia ganes d'expressar el meu punt de vista sobre el tema dels escriptors suïcides i el perquè sembla que els que se senten més atrets per aquesta pulsió autodestructiva són els que tenen més talent creatiu.

I volia fer-ho d'una manera alegre i divertida, traient ferro a l'assumpte, més que res perquè ets el meu germà, ets *****, crec que ***** i, almenys de moment, no massa prolífic, la qual cosa, segons el meu rànquing de causes que porten un escriptor a suïcidar-se (explicat perfectament al 4t capítol de la meva teoria), et dóna uns quants punts.

Per això et dic que si mai et passa pel cap (després de publicar una gran novel·la, això sí) cometre un acte tan romàntic com un suïcidi literari per situar-te a l'Olimp de la història de la literatura, pensis immediatament en l'amic Auster i t'adonis que hi ha altres camins a la vida i que no només l'escriptura pot fer-te feliç (pensa, de fet, abans que en l'Auster, en ***** ***** *****, sambar als carnavals o banyar-te a Noronha amb les tortugues). A més, si et mates ja no podré llegir els teus llibres (seguint la meva màxima) i això em tocaria molt els *****.

7. (PS:) Grande Foster Wallace. A veure si algú a Barcelona s'anima a reeditar les seves novel·les, prometem no suïcidar-nos en massa després de llegir-les.


PS do Roger: Procurando na Internet a forma correta de escrever "não têm se suicidado", dei-me de cara com a seguinte qüestão: "O capitalismo pode se considerar inocente diante do número alarmante de escritores que têm se suicidado nos últimos 100 anos?". O link leva para o Jornal do Brasil, mas eu não vou ler agora essa reflexão, que deve ser séria em vez de irrefletida que nem a do meu irmão.

*"Love In The Afternoon", Legião Urbana.

*PS: Pode haver mais respostas em uma canção...



NYT

Thursday, October 02, 2008

De nuevo los pingüinos


Zero Hora

Hace unos seis meses, estos pingüinos de Magallanes se pasaron de largo en su migración al norte. Muy de largo. Espabilados, en lugar de quedarse en el litoral sin gracia del estado de São Paulo, siguieron viaje hasta las playas de Salvador, donde han pasado el invierno calentitos y disfrutando de la hospitalidad y la comida bahianas. Ahora, cabizbajos, son obligados a desfilar de vuelta. Caminan para subir a un avión que les llevará de Salvador a Pelotas; de Pelotas irán en camión a Rio Grande, y en Rio Grande serán devueltos al mar, para que otra corriente les lleve a pasar el verano a las aguas frías del fin del mundo. Mundo cruel.