Thursday, April 30, 2009

Hotel Fraternité, de A. Antunes, Aldo Fortes e H. M. Enzensberger

Falta música neste blog, faz tempo que não posto nada, acho que esta eu não postei.

Não postei, não. Porque não consegui traduzir bem a letra, que acho fantástica. (Também, já pode, né?, com esses três...) É minha música preferida do CD Qualquer e o DVD Ao vivo no estúdio. E acho que pode ser dedicada a todos aqueles que vêem, em seus semelhantes, "loucos", "anormais", ou até "monstros", que é uma palavra que ouvi e li com desgosto muitas vezes na TV e nos jornais. (Vão estudar psicologia, pessoas.)



Aquel que no tiene con qué comprar una isla
Aquel que espera a la Reina de Saba en la puerta del cine
Aquel que rasga de rabia y desespero su última camisa
Aquel que esconde un doblón de oro en su viejo zapato
Aquel que mira a los ojos duros del chantajista
Aquel que rechina los dientes en los tiovivos
Aquel que derrama vino en la cama sórdida
Aquel que incendia cartas y fotografías
Aquel que vive sentado en el muelle junto a las gaviotas
Aquel que alimenta a las ardillas
Aquel que no tiene un céntimo
Aquel que observa
Aquel que da puñetazos a la pared
Aquel que grita
Aquel que bebe
Aquel que no hace nada

Enemigo mío
Inclinado sobre el balcón
En la cama, encima del armario
En el suelo, por todas partes
Agachado
Ojos fijos en mí
Hermano mío

Wednesday, April 29, 2009

Treino com música

Hoje, cedo de manhã, passei em frente da praça onde um grupo de soldados ou policiais militares (não sei) faziam exercícios físicos - às vezes ouço ou vejo eles correndo, dando gritos, acho legal. Estavam fazendo flexões de braços, e pensei, saco, agora não vou saber quantas fazem, não vai dar tempo (eu ia caminhando rápido pela rua da Praia, não ia ficar olhando). O treinador parou de contar em oito. OITO??? Achei estranho, mas também não sei quanto durava o treino ou quantas séries de flexões já tinham feito.

Alguns quarteirões mais adiante, passei por uma banda de música do Exército, na calçada. Homens sorridentes, com seus trompetes, trombones, etc. - deve ser um dia especial, pensei. Então um carro passou e o motorista disse, da janela: "Trabalhar é bom!". Teria dado um soco nele.


PS nada a ver: Hoje na PUCRS tivemos uma palestra de uma professora alemã. A sala estava lotada, e (falando em termos militares) o Estado Maior estava presente. Achei a palestra muito fraca. Comentei isso com uma colega, que disse: ... e tudo só porque ela é estrangeira.

PPS: Depois de formado vou escrever sobre a faculdade. :o)

Tuesday, April 28, 2009

Antes do baile verde, de Lygia Fagundes Telles

Mais um grande escritor, neste caso, escritora, cuja obra completa passa a ser editada pela Companhia das Letras. Agora Lygia Fagundes Telles é "a menina dos olhos" da editora. E o que eu fiz? Pois ir procurar esse livro bonito logo que eu li a notícia no jornal. E o que eu encontrei? Pois uma pilha enorme de Antes do baile verde... da Rocco. Me precipitei, fui uma semana antes da hora. Paguei menos, mas perdi a arte da capa e da edição...

Bom, sobre o livro. Geralmente, Lygia é comparada com Clarice Lispector (não deveria por que ser assim, mas é). Eu achei os contos da Lygia igualmente delicados e elegantes, um pouco mais pé no chão, e por isso mais fáceis de ler (mais leves, também; o que pode parecer uma contradição, mas não é (incrível como as "palavras abstratas" da Clarice têm, às vezes, mais peso do que as palavras mais "terrenas" da Lygia)). Lygia mostra o mundo interior das personagens "de fora"; Clarice envereda pela mente das personagens, algo bem mais difícil - para o escritor (imagino), e para o leitor. Parece que elas se admiravam, algo raro nesse mundo de vaidades dos escritores. Para terminar com Clarice: em uma entrevista recente, Lygia explica que Clarice lhe recomendou não sorrir ("ninguém leva a sério um escritor que sorri") e, também, vestir roupas pretas (pelo mesmo motivo). Porém, Lygia não seguiu essas dicas, e é uma mulher muito sorridente. Para mim isso é de se agradecer, pois odeio esses escritores (acho que, especialmente, europeus) que aparecem nas orelhas dos livros com cara de quem viu os horrores de uma guerra, de quem veio de um enterro ou de quem quer assassinar alguém - o que eu acho muito ridículo.

Os assuntos mais repetidos nos contos - às vezes, misturados - são a infelicidade conjugal, a aceitação da infidelidade, a loucura, a relação mãe-filha, o fim dos relacionamentos... E todos os contos são bons, interessantes, alguns (ao menos, a metade) muito bons, excelentes (meus preferidos: "Os objetos", "Verde lagarto amarelo", "Apenas um saxofone", "O moço do saxofone", "A chave" - para mim, talvez, o melhor de todos -, "A ceia", "Eu era mudo e só", "O menino"). Todos menos um, há um que eu achei ruim. E posso dizer qual é, porque não é só um problema meu. Tomei café com minha amiga Ana Santos, e... coincidência!, estava lendo o mesmo livro! Achei fantástico, falamos nele, e ela me disse qual foi o único conto que não gostou: "A caçada". Agora: qual era o conceito que eu tinha da Lygia Fagundes Telles antes de ler este livro? Não muito bom. Por quê? Porque tinha lido "A caçada". Por quê? Porque esse foi o conto dela que a gente leu em uma disciplina do mestrado.

Vários contos me desapontaram no final. Não pelo desfecho, mas pela forma. Alguns terminam no clímax, o que não é o ideal (é bom uma suave descida depois - como no... sabe, né?). Outros terminam com frases tão simples (no sentido negativo da palavra; e em comparação com o resto do texto), tão insossas, que não dá para acreditar: "Ofereci-lhe cigarro"; "Susteve a respiração"; "Guardo-o na bolsa"; "Crianças ao longe brincavam de roda"; ''Fecho a cortina". Esses contos parecem vestidos sem cauda. Mais um detalhe (esse, já, coisa chata de oficina de escrita criativa). Em alguma ocasião, um grande "achado", uma imagem original, é estragada por culpa de um erro de medida que deixa ver o artifício. O exemplo mais claro (no conto - macabro - "Venha ver o pôr-do-sol"): "No centro do cubículo, um altar meio desmantelado, coberto por uma toalha que adquirira a cor do tempo. Dois vasos de desbotada opalina ladeavam um tosco crucifixo de madeira. Entre os braços da cruz, uma aranha tecera dois triângulos de teias já rompidas, pendendo como farrapos de um manto que alguém colocara sobre os ombros do Cristo. Na parede lateral (...)".

No início de cada conto, nas primeiras frases, se sabe quem fala, de onde, em que situação, o que é muuuuito bom para o leitor - e não diminui o valor de nada (escritores atuais poderiam tomar exemplo); um alguém, onde, etc. sempre interessantes. E a leitura de cada um deles - isto é o mais importante - é um prazer.

Thursday, April 23, 2009

Hoje na Catalunha: Sant Jordi, dia do livro e da rosa

Vi agora no jornal que hoje é a pré-estreia do filme I Hate Valentine's Day em Porto Alegre. Não sei por que, porque hoje não é Valentine's Day. Eu nem sei quando é, Valentine's Day. Mas não é hoje. Achei simplesmente uma curiosa coincidência que esse filme, mais um filme americano estúpido? (este não é um comentário gratuito, tem a ver com o que vem depois), estreasse no "Dia dos Namorados" catalão. Porque hoje é Sant Jordi (São Jorge). Sant Jordi é o padroeiro da Catalunha, e o Dia (ou Diada) de Sant Jordi é o dia dos livros e as rosas... e dos namorados. Lá. (E em outros lugares da Espanha, onde copiaram isso; e inclusive em alguns lugares do Japão.) Acho que em todos estes anos eu nunca escrevi sobre Sant Jordi. Alguma vez a Gabriela me pediu que o fizesse, porque é um dia muito bonito e tal (por sinal, ela vai perder seu primeiro Sant Jordi; estará em Barcelona para ver o Fito Páez... mas só no sábado). Bom, nesse dia os homens dão rosas às mulheres amadas, e as mulheres dão livros aos homens amados. Só que, nos últimos anos, todo o mundo dá flores e livros a todo o mundo. É mais politicamente correto. Ou seja, mulher ganha livro também. E cada vez tem mais homens ganhando rosas. E não é somente a amada que ganha uma rosa: qualquer mulher ganha: a irmã, a mãe, a avó. Tudo bem, irmã, mãe e avó não são "qualquer mulher". Mas é que também ganha rosa a chefe, a(s) colega(s) do trabalho, a irmã da namorada, as amigas, claro, etc. E elas ficam felizes da vida. (Eu não teria mudado isso de rosa só para rosa + livro; mulher gosta mais de flor; e sempre no Sant Jordi me lembro dos versos de Dorothy Parker em que ela se queixa de não ganhar nunca uma limousine e ganhar sempre uma "perfect rose": mentirosa, certo que ela prefere a "rose", tem mais classe.) Mas o mais bonito é como fica Barcelona, cheia de bancas de livros e rosas, não dá nem para caminhar. E isso não só no centro: a cidade toda é inundada de bancas de rosas e livros: você sai de casa, e lá tem alguém oferecendo rosas a 5 euros. A cidade fica linda, não estou brincando: com rosas e livros em todas as ruas, imagina!, deveria ser todo o ano. Mas tem gente, especialmente garotas, que não gostam desse dia, claro; como, provavelmente, a protagonista desse filme americano. Porque ficam passeando e passeando, e cada vez é mais tarde e ainda não ganharam uma rosa. E o dia termina com elas chegando em casa e ganhando uma rosa do pai. Eu nunca dei uma rosa à minha namorada nesse dia. Não que eu lembre. Porque eu não tinha namorada, ou porque eu não estava na cidade, ou porque eu tinha namorada, mas a gente tinha brigado. Dei rosas a amigas, mãe, avó (acho que irmã não, porque não fez por merecer),... Só nunca fui o bobalhão que chegava no trabalho com vinte e tantas rosas, uma para cada colega. Hoje lembrei de meu melhor Sant Jordi. Eu tinha uns 12 anos. Uma menina, Laura, gostava de mim, ou isso diziam meus amigos, e ela esperava por minha rosa. Meus amigos me empurravam para que eu desse uma rosa a Laura. E ela estava num canto do pátio enorme da escola, com suas amigas, que depois a deixaram sozinha (tadinha), talvez para que eu não tivesse vergonha de me aproximar. Eu me lembro dela lá sentada, e acho que eu tinha uma rosa na mão (meus amigos tinham colocado ela ali). Mas sabe que não lembro se lhe dei a rosa? Isso sumiu de minha memória. Talvez o fiz, talvez não; talvez o fiz por meio de uma outra pessoa. Lembro de um beijo na bochecha que ela teria me dado. Então eu o teria feito. Mas pode ser uma lembrança fabricada. Tempo depois, Laura casou com um colega meu desses anos de criança, colega de aula. Um cara que..., bom, deixa pra lá. E eu fui achando ela nos lugares mais insuspeitados, ao longo dos anos. Sempre com ele. Em uma passeata depois que a ETA assassinara um escritor (tudo bem, tinha muita gente lá, um milhão de pessoas; mas... curioso, não é, ir encontrar ela?); em Marrakech; em Nova York. Eu sempre pensando: será que ainda está com ele? Pois sim, estava. Essa é a história. Nenhum pesar, claro. Não ia ficar namorando aos 12 anos! Agora, os livros. Os livros que se vendem no dia de hoje são uma porcaria. (Mais tarde vai sair a lista dos mais vendidos de hoje e eu vou adicioná-la aqui.*) Porque, nos últimos anos, quem vende mais é qualquer coisa menos escritor. Na Catalunha temos nossas Oprahs, Martha Stewarts, David Lettermans. Esses vendem muito, aproveitam o dia de hoje para lançar qualquer coisa que tenham escrito. Temos cozinheiros, também. Depois, famosos que ninguém sabe por que o são. Políticos. Jogadores do Bar$elona que nem sabem escrever (um dia vou ter de investigar esse fenômeno: por que os jogadores de futebol não sabem escrever - às vezes, nem falar - e os de basquete sim). Depois tem, também, os escritores de livros de Sant Jordi: ou seja: aqueles que alguns meses antes recebem o encargo da editora de escrever um romance, algumas semanas antes "ganham" um prêmio e no Dia D têm seu livro lançado com grande estardalhaço. Resultado de tudo isso: boa literatura, só nas livrarias: não vai ter livros bons nas bancas. Isso é desmoralizador: vende-se porcaria e compra-se porcaria. Esses escritores de um dia (showmen et al.) se defendem dizendo que, se bem impedem que livros de bons escritores sejam comprados no dia, a leitura de seus livros leva pessoas que nunca lêem a comprar melhores livros depois. Bullshit. Três vezes bullshit. Quem lê Martha Stewart fica sempre por aí. E o que esses aproveitadores fazem é ainda pior. Porque, na Catalunha, no dia de hoje as editoras faturam o 50% do total anual. Como o escritor de verdade, isto é, aquele que passa cinco anos burilando um romance, vai se sentir? Ele (ou ela) fica sorrindo, no cantinho de uma banca, tentando vender seus 20 exemplares. Fazer o quê? E o que dizer de um país que tem bastante com um único dia para comprar/vender a metade dos livros lidos (se lidos) no ano? A imagem acima é de Raquel Marín, ilustradora, que dá parabéns aos colegas no Día del Libro (vou falar dela em um post próximo :) Não sei por que a flor não é uma rosa; talvez achou que fosse muito óbvio. Bom, na Espanha é o Dia do Livro e só, não tem rosa nem namorados; é o dia do livro porque em 23 de abril morreu Cervantes.


*O jornal La Vanguardia diz assim: "O falecido Stieg Larsson, com as duas primeiras obras de sua trilogia Millenium [não é com dois 'n'?] e Javier Cercas, com sua análise do 23-F [golpe de Estado fracassado na Espanha], se converteram nos autores 'vencedores' [= mais vendidos] do Sant Jordi deste ano. [Não posso opinar, nunca li. O primeiro é best-seller também no Brasil.] Os títulos de Larsson são [curiosos]: Los hombres que no amaban a las mujeres [Os gays?] e La chica que soñaba con una cerilla y un bidón de gasolina [A pirómana?]. O primeiro romance lidera as vendas de livros de ficção tanto em catalão quanto em espanhol [Catalunya is (not that) different]. No mesmo apartado, destacam El silenci, de Gaspar Hernàndez [não conheço] e L'últim home que parlava català [para o prazer masoquista do leitor nacionalista; o autor é o embaixador espanhol em Londres], em catalão, e La soledad de los números primos, de Paulo Giordano [não conheço], em espanhol. Depois de Javier Cercas, que, com o ensaio romanceado Anatomía de un instante, foi quem mais livros autografou [um ensaio em primeiro lugar?, peraí, não pode; ah, é que tem fofoca, fala mal do Rei], em não ficção os mais vendidos foram La crisis Ninja, de Leopoldo Abadía [economista (aparece muito na TV?; não sei)], e Todos mis hermanos, de Manel Estiarte [ex-jogador de waterpolo]. Em catalão e não ficção, Crònica de la independència [mais nacionalismo (vende muito); mas esse livro não deveria estar em ficção? Quero dizer, a independência não foi, né?, se foi ninguém me avisou], de Patrícia Gabancho, El món sobre rodes, de Albert Casals [?], e No m'ho crec, de Joan Majó [um ex-ministro de não sei qual governo]. Entre os mediáticos, cabe destacar o livro do programa Crackòvia [programa humorístico de TV sobre futebol, acho; esse nem tem autor], Guardiola, de Jaume Collell [Guardiola é o atual treinador do F. C. Bar$elona], e La pilota no entra per atzar, de Ferran Soriano [ex-diretivo do mesmo clube de futebol; o Macaco Simão gostaria do título: 'A bola não entra por acaso'. Claro, tem de empurrar]".

Tuesday, April 21, 2009

É tão estranho

É tão estranho
Esses amores que vão ficando pelo caminho
Quando os amores anteriores
Ainda não foram esquecidos.


PS: Definição de Renato Russo para 'homens' (1994):
- Bobos, que nem cachorro.

Friday, April 17, 2009

Más Jorge Amado (mujeres fogosas)

Hoy me he regalado otro libro de Jorge Amado - en mi intento de tener, algún día, la colección completa en las nuevas (y bonitas, elegantes, en colores, con apéndices, prefacios, posfacios) ediciones de la Companhia das Letras. He comprado Os velhos marinheiros, que también se llamó O capitão-de-longo-curso (algo así como "El viejo lobo de mar"). En el apéndice, con fotos del autor, del manuscrito, de portadas de ediciones extranjeras, etc., hay, esta vez, la portada de una edición en catalán*: Els vells mariners (La veritat completa sobre les discutides aventures del comandant Vasco Moscoso de Aragão, capità de gran derrota; no es veu quina editorial va ser).

Pero este post es para traducir el fragmento de la contraportada, que me ha parecido divertido.


El pollo asado era tentador, Vasco aún no había comido nada, sólo pan. Lo difícil era cortarlo, por el juego del navío. Cogerlo con la mano no quedaría bien.
- Un comandante a bordo es un eremita.
- Vamos, comandante, no me venga con esa historia...
- En los puertos, sin embargo, uno se desquita...
- De todo el ancho mundo por el que el señor viajó, ¿dónde encontró a las mejores mujeres, las más fogosas?
No era el momento para tal conversación, el pollo amenazaba saltar del plato, exigía completa atención y mucho cuidado. Vasco desistía:
- Es difícil decir. Depende...
- Pues todos sabemos que las inglesas son frías, las francesas sólo quieren dinero, las españolas, fogosísimas. Hasta yo, que todavía no he salido de Brasil...
- Bien, es cierto, hay diferencias. En mi opinión, las más ardientes de todas... - hacía una pausa, bajaba la voz, el senador y el diputado se inclinaban para oír la revelación - ... las mejores de todas son las árabes.
- ¿Fogosas? - susurró el senador.
- ¡Un incendio!


*Defendendo a Catalunha:
"Acabei de comprar o livro Os velhos marinheiros ou o capitão-de-longo-curso, de Jorge Amado. Fiquei a olhar as ilustrações das capas estrangeiras, e minha grande surpresa foi ver que a capa catalã está identificada como... tcheca. Corrijam, por favor! Abraços de um catalão no Brasil."
"Prezado Roger, Agradecemos pela informação. Sua mensagem foi encaminhada ao editor responsável. Atenciosamente, Departamento Editorial."

Thursday, April 16, 2009

Divulgando a literatura em catalão 4

Encontrei este poema de Gabriel Ferrater (1922-1972) em uma caderneta velha.


Ídols

Aleshores, quan jèiem
abraçats davant la finestra
oberta al pendís d'oliveres (dues
llavors nues dins un fruit que l'estiu
ha badat violent, i que s'omple
d'aire) no teníem records. Érem
el record que tenim ara. Érem
aquesta imatge. Els ídols de nosaltres,
per la submissa fe de després.


Ídolos

Então, quando jazíamos
abraçados em frente à janela
aberta à encosta de oliveiras (duas
sementes nuas dentro de um fruto que o verão
fendeu violento, e que se cheia
de ar) não tínhamos lembranças. Éramos
a lembrança que temos agora. Éramos
esta imagem. Os ídolos de nós,
para a submissa fé de depois.

Don Quijote en Japón

De la agencia EFE:

'El Quijote' desata las risas de los japoneses
Tokyo - 16/04/2009

La obra magna de Cervantes suscita la hilaridad del lector japonés pese a la distancia cultural, según un hispanista nipón. El catedrático de estudios hispánicos Norio Shimizu aseguró hoy que la primera impresión que causa El Quijote en los lectores japoneses es risa, aunque para muchos sea difícil entender el humor español. [...]


A mí también. :D

La primera parte del Quijote es la novela más divertida que he leído en mi vida.

Y no es humor español, es universal, catedrático tontín.


PS: No outro dia, na aula de Literatura juvenil, a gente leu um ensaio em que havia um trecho da Retórica de Aristóteles onde o filósofo descrevia o que era ser adolescente. Podia ter sido escrito ontem. Ao seu lado, havia menções a Fukuyama, Todorov e outros pós-modernos, de cujas teorias eles mesmos já se retrataram. Um é universal, no tempo e no espaço. Os outros... são os que se ensinam nas universidades. :(

Post nº 500

Hoje é um grande dia - ou uma grande noite. Achei, por fim, a forma de meu romance.

Agora é escrever.


Tipografia de Ariano Suassuna,
criada a partir de ferros
de marcar.

Still from New York





Sumiu meu vídeo dos pingüins. Eu tinha um vídeo com os pingüins... :(


PS: Ao menos tenho uma foto!

Monday, April 13, 2009

Traduccions de Brasil 56 (Haja, de C. Oyens e Z. Duncan)

Difícil
Conjugar la vida
Separar
Cicatriz y herida
Y engullir
El comprimido del tiempo
Que alguien
Nos metió
Garganta adentro
Haya Dios
Para tanto misterio
Hijos tuyos histéricos
Dando vueltas
Por el mundo
Redondo
Listo
Para confundirnos
Y nosotros
Bando
De tantos tontos
Dando tumbos
Por ahí

Haya techo
Para tanto desabrigo
Haya palabra
Para lo que no digo
Haya instinto
Y haya salida
Para tanto laberinto

Thursday, April 09, 2009

O hino brasileiro é de quem? Arnaldo Antunes sobre São Paulo

Este é aquele post sobre A. Antunes e S. Paulo que ia escrever. (Aviso que vai sobrar para o Rio, para Porto Alegre e para Barcelona.) O Yuji "me lembrou" que devia escrevê-lo com seu comentário ao post anterior, com sua vontade de morar no estrangeiro. E a Maitê Proença (atriz, para quem não saiba), ontem, fazendo o ridículo no programa Saia Justa, me lembrou também. A Maitê não gostou que um francês lhe dissesse que os brasileiros costumavam esquecer um semi-tom ao cantar o hino do Brasil. Um francês, imagina! Um estrangeiro falando isso para uma autêntica brasileira! Ela gritou no programa, dirigindo-se à câmera: "O hino é nosso, viu? E nós cantamos o nosso hino como nós queremos. Seu besta!". É assim que reagem alguns brasileiros às críticas de estrangeiros a seu país e suas cidades. (Estrangeiro que visitas o Rio de Janeiro: não perguntes a um carioca sobre desigualdade social, violência, etc.) Não é tão grave, isso da Maitê. Ela é, simplesmente, nacionalista dos pés à cabeça. Mas esse tipo de reação desanima muito aos que não nos sentimos de país nenhum - e, muito menos, nacionalistas. (A Maitê provavelmente já cantou também, feliz da vida, aquela música famosa do John Lennon - e muitas outras parecidas: Caetano Veloso, "eu não tenho pátria..." -, mas não reparou na letra...) Desanima tanto quanto desanima aos não crentes ouvir o Papa falando besteiras na África (ver post antigo). E só para responder à Maitê: o hino brasileiro, para mim, é de quem o compôs, de quem escreveu a letra, de quem o quiser cantar ou tocar, de quem gostar dele, de quem o sentir seu - brasileiro ou não.

Arnaldo Antunes confirmou, no diálogo ao que assisti na UFRGS, aquilo que C. Calligaris escreveu uma vez na Folha de S. Paulo (de novo cito de memória): "S. Paulo é uma das cidades menos provincianas onde eu morei; menos provinciana inclusive do que Nova York". Ao ser perguntado pelo que havia de São Paulo em sua música (nota: não foi dele a vontade de falar de sua cidade), A. Antunes disse que São Paulo era uma cidade "mutante", e que ser de São Paulo era como não ser de nenhum lugar; não se sentir paulistano, ou brasileiro, senão meio apátrida, estrangeiro na própria terra, desenraizado. Dá para perceber esse sentimento em muitas de suas letras: "A nossa casa é onde a gente está / A nossa casa é em todo lugar"; ou: "Eu não sou da sua rua, / Não sou seu vizinho. / Eu moro muito longe, sozinho. / Estou aqui de passagem".* O bairrismo, entretanto, como era de se esperar, apareceu na platéia, quando alguns assistentes quiseram saber quais bandas gaúchas o Arnaldo conhecia e gostava. E o "amor à terrinha" apareceu também na voz do entrevistador, L. A. Fischer, que fez questão de falar do Beira-Rio e do Internacional. (Arnaldo, educado, sorria e respondia.) Porto Alegre (falando assim, grosso modo) é uma cidade provinciana. O Rio também (não há dia que o jornal O Globo não inclua auto-elogios à cidade de vários de seus colunistas, o que não ocorre na Folha ou no Estado de S. Paulo). E a cidade onde eu nasci, Barcelona, também (vocês não imaginam com que pouco sentido do ridículo as pessoas - e a mídia - manifestaram seu orgulho quando o "grande Woody Allen" resolveu fazer um filme lá). Gente: já é bastante difícil viver sem a ajuda de ser crente ou nacionalista (sem essas "paranóias coletivas", segundo Freud); então, por favor, poupem-nos ao menos desses momentos de constrangimento. (Mas sei, sei que ninguém vai nos poupar, e que devemos aceitá-los, e até entendê-los...)


*A manifestação mais radical, que eu já traduzi uma vez, está em uma música escrita por ele na época dos Titâs: "Não sou brasileiro / Não sou de lugar nenhum / Não sou de São Paulo / Não sou japonês / Não sou carioca / Não sou português / Não sou de Brasília / Nenhuma pátria me pariu / Eu não tô nem aí / Eu não tô nem aqui".

Saturday, April 04, 2009

Bon voyage, Gabi, chérie



... En Provence, c'est le printemps.
À Porto Alegre il pleut, a commencé aujourd'hui.
Comme si on ne voulait pas te voir partir.

A sorte de não ser anglófono

Para quem gosta de ler e escrever, é uma sorte não ser anglófono. Hoje tem na Folha uma crítica de um livro de Nick Hornby: Frenesi Polissilábico. O livro reúne resenhas que ele fez para a revista norte-americana The Believer (nota: nunca ouvi falar; segundo o crítico, é "uma das revistas mais bacanas do mundo" - também não sei o que isso quer dizer), com a imposição dos editores de que as resenhas fossem sempre positivas. Por isso ele resolveu escrever sobre livros escolhidos por ele (o título da coluna era "Stuff I've Been Reading"). Preciso dizer que eu não sou leitor de Hornby (comecei a ler A Long Way Down, não gostei, parei: acho que ele escreve voltado para um público muito jovem), mas sei que ele é um bom escritor, respeitado, premiado, etc. Então. O que eu quero destacar é o que aparece em último lugar na crítica da Folha. O crítico diz que, entre os mais de 100 títulos lidos por Nick Hornby, se encontram "apenas algumas cartas de Flaubert e Tchekov, um romance do israelense Amos Oz e outro do espanhol Javier Cercas". E em traduções ao inglês. Já sabia mais ou menos disso, pois colegas que eu tive em Nova York (colegas leitores) também só liam livros em inglês e de autores anglófonos (todos tinham lido One Hundred Years of Solitude, isso sim). My point is - porque já estou me alongando demais - que nós, fãs da literatura norte-americana e inglesa, conhecemos a literatura deles e várias outras: ao menos as européias, as latino-americanas...; e até podemos ler as obras nos idiomas originais. Ou seja: em princípio, estamos muito mais capacitados do que eles - os anglófonos, que não aprendem outras línguas porque "não precisam" - para adquirir uma bagagem cultural maior, o que pode significar ter uma visão mais abrangente, uma visão mais aproximada do real (e do fantástico, por que não). E, em segundo lugar, que é assustador pensar que o país que dominou o mundo no século XX esteve, quanto à criação literária e à leitura, tão isolado do resto de países e culturas. Imagino - só pode ser assim - que os grandes autores (Hemingway, Fitzgerald, T.S. Eliot, Faulkner, etc.) foram exceções (os três primeiros moraram na França, por exemplo) a essa "regra". Mas os leitores anglófonos... eles cresceram e crescem desconhecendo um mundo, o que não pode ser (nem tem sido!) nada bom.

Thursday, April 02, 2009

Uma puta canção

O que eu achei de mais interessante no bate-papo com Arnaldo Antunes, músico e poeta, conduzido por L. A. Fischer, ontem na UFRGS. Primeiro, um garoto perguntou-lhe o que achava das músicas com conteúdo político ou social; se a musica devia ser engajada. Arnaldo - que não faz música diretamente engajada - respondeu de modo pouco original (só que na voz e no jeito inteligente e espontâneo dele tudo soa original): que ele não tinha nada contra a música engajada, mas que transformar a sociedade não era a função principal da música, nem se encontrava dentro de sua capacidade; porém, ele disse, qualquer música podia ter um efeito político, no sentido em que a arte tem efeitos sobre a consciência de cada um. Houve aplausos de uma parte da platéia. E então (e isso é o que eu achei mais legal) um outro garoto fez uma piadinha, falou que a música para o que servia era para conquistar garotas. Ao que Arnaldo respondeu: "Não, você não faz uma canção para conquistar garotas. Você até pode usar uma canção já feita para conquistar alguém. Daí você consegue ou não. Mas isso não é o que importa. Importa é que você tem UMA PUTA CANÇÃO"*.


*Maiúsculas dele. (Elevou a voz.)
PS: Ele também falou coisas interessantes sobre S. Paulo, mas ficam para um outro post.

PS2: Eu não pude ir ao show do dia seguinte. Mas a Anna foi!!!
(O Salão de Atos da UFRGS lotou, os ingressos foram vendidos em uma manhã. Aliás, era só levar um kilo de alimentos. E Arnaldo Antunes é um dos poucos grandes artistas que fez isso em Porto Alegre, em vez de cobrar 100 reais ou mais.)

Wednesday, April 01, 2009

Objeto de pesquisa

Hoje eu estava lá no Café A Brasileira da rua Uruguai (meu preferido, e o preferido do meu pai; já não existem cafés desse tipo, lá na Espanha) quando uma garota me abordou. "Por que você está lendo o Estado?" Não foi assim tão brusco, mas essas são as primeiras palavras que eu registrei. Ela, que estava tomando café com uma amiga na mesa ao lado, disse que era de S. Paulo. Repetiu a pergunta e se explicou. Trabalhava no departamento de marketing do jornal Zero Hora, e queria saber não só por que eu lia o Estado de S. Paulo, mas também, principalmente, por que não lia a ZH. Era simpática e bonita, então, estava fora da questão responder algo como "porque eu acho a ZH um ..." (Iiih, não dava, não.) Falei que gostava de artigos e reportagens mais longos, com espaço para aprofundar nos assuntos..., algo assim, chato, bem a minha cara. E disse que eu lia a ZH no bar, para saber o que acontecia na cidade (ela tinha perguntado: e como tu te informa dos assuntos mais locais?). Perguntou meu nome, elas se apresentaram, perguntou de onde eu era, o que eu fazia, e logo disse para a amiga: "Claro, é o perfil". Eu tinha esquecido que para algumas pessoas nós somos todos perfis. Então: de Barcelona + estudante de mestrado (e ainda em Letras!) = leitor de um jornal nacional. Ela era formada em publicidade; a amiga, em relações públicas. Ela falou brincando: "Bom, você vem de ser objeto de uma pesquisa de marketing". Era o momento de dar a ela meu telefone por se queria pesquisar mais, só que, bom, nasci e vou morrer tímido. Só aproveitei para dizer que era uma opinião comum de meus colegas de aula que na ZH faltavam críticas de livros e filmes. (Mas também nem sei se meus colegas de aula lêem muitos jornais.) Ela se defendeu dizendo que no caderno de sábado havia, mas concordou que era um ponto fraco do jornal. Eu continuei lendo sobre o G20 (nada sobre o G20 na ZH de hoje que eu li no bar) e elas continuaram tomando seu café. Eu não soube puxar mais assunto. E, óbvio, não houve troca de telefone nenhum - mas, também, nesses casos, tres son multitud. (Em defesa da Zero Hora, quando eu era novo em Porto Alegre e no Brasil, o lia com prazer.)