Wednesday, December 23, 2009

Anninha doutoranda!

Resultado da seleção ao Doutorado em Teoria da Literatura /2010
Por ordem de classificação


1. Andrea Ferras Wolwacz
2. Amilcar Bettega Barbosa
3. Anna Faedrich Martins
4. Milton Roberto Isé Colonetti
5. Cristina Barcelos Gutkoski
6. Paloma Esteves Laitano
7. ...


:D :D :D (Nem sei o que dizer... Está dito por e-mail... Sei o quanto tu merece. E estou tão feliz por ti!)

Parabéns, Anna!!! E parabéns para a Paloma também!


PS: Para não perder (estreou sexta em Barcelona). Sobre um conto de Eça de Queirós, Singularidades de uma rapariga loura, de Manoel de Oliveira. Seria bonito morar na Lisboa delicada de Oliveira...

Thursday, December 17, 2009

Indo para Barcelona passar as férias


Ramon


O Leo me pediu que contasse coisas de lá. Vou tentar! Vamos ver como está minha cidadezinha! Beijos a todos!

Wednesday, December 16, 2009

Oído en una cashe de Buenos Aires

El olor de una rosa, por ejemplo. Qué sé sho. Es grande! Y vos sos capás de sentir el olor de la rosa! Una puesta de sol. Es grande! Es brishante! Es como... total, nesesária, diría sho. A todo el mundo le agrada, no es sierto? Es bella. Entendés? Es algo... A todo el mundo le gusta! ... Sho no sé. Ahora pensá en un libro. El Quijote? Sí, está bueno. Es válido. No es grande? Vos no pensás que es? Emosiona, verdá? Es como,... como diría sho, como una rosa! Comprendés? Es más que un libro! Es arte! Vos podés no comprender. Pero es arte! Es bello! No podés desir que no. Vos sentís el olor de una rosa. El arte no es más que eso!

E mais um conto muito bom

Este, muito especial: da amiga e ex-colega de oficina de escrita criativa Ana Santos. Publicado em destaque na revista Cult de dezembro. O título é "O Fazedor de Guarda-chuvas", e é muito bom mesmo, o que não é surpresa para quem conhece ela. Queria colocar o link aqui, mas a revista quase não tem matérias online. Comprem! :) Afinal de contas, literatura se paga, né? O comecinho: "Na cidade em que nunca chovia os homens eram secos".

Monday, December 14, 2009

Capítulo 19 (novo rascunho)

Anne, no som tocou "Satellite of Love" (baixinho, como sempre, para não incomodar os jovens que trabalham) e você ainda não veio. Terminei de comer uma omelete recheada, menos cheirosa e saborosa do que a que você comeu. Li o jornal do princípio ao fim. Passei do meu limite de refills de café e agora vou embora. Mas um dia terei a coragem de bater à sua porta e convidá-la a passear no Prospect Park. Se o tempo estiver ruim, poderíamos entrar no museu. Têm uma bonita coleção de máscaras africanas, lá.

É uma lástima, porém, pois hoje eu estava pronto, preparado para lhe contar o pouco que eu soube desse homem do Peru. Quem sabe tanto faz: é uma história trágica, não é conversa de sábado no parque, nem sei se você ia gostar. Não sei nada de você, só que é linda. E que à noite escuta essa música melodiosa e triste. Porque é você, não há ninguém mais morando nos apartamentos do andar acima do meu.

Alberto R. é seu nome. Ele era camponês numa aldeia da província de Ayacucho, no Peru. Cultivava batatas que ia vender no mercado da capital: papas de vários tipos, formas e tamanhos; há papas de casca roxa, amarela, azul, nesse país, acredita? Deve ter sido durante uma dessas viagens. Quinze pessoas, a metade dos habitantes da aldeia, entre elas a mulher e a única filha de Alberto, foram assassinadas num ataque do Sendero Luminoso. Supostamente, teriam se negado a colaborar com os guerrilheiros. Foi no final da década de 60, quando os ataques indiscriminados eram comuns, tanto da guerrilha quanto do exército e dos paramilitares que diziam combatê-la. Alberto, que tinha pouco mais de vinte anos, ficou sem nada. Vendeu sua pequena propriedade e mudou-se a Ayacucho.

Dos seguintes trinta anos de sua vida não há notícia. Mas parte do relatório policial está na Internet, permite reconstruir o que lhe aconteceu em 1996. Ao que parece, morou por uns meses num quarto de pensão em Arequipa, 650 km ao sul de onde nasceu. No quarto, a polícia encontrou uma pilha de livros, só livros, não havia roupas sequer. Livros sobre os incas e sobre culturas andinas pré-incaicas. Também de astronomia. Junto com eles, algumas cadernetas, com notas em letra grande, porém difícil de ler. Alberto não deve ter tido uma formação escolar, quem fez o relatório zomba de sua escrita, qualifica-a de "típica de una chica de catorce años sin instrucción". Poderiam conter um pequeno tesouro, essas cadernetas. A única nota transcrita é reveladora, diz assim: "Los seres humanos son unas personas pésimas".

Alberto entrou no museu armado com um martelo. Essa frase é esquisita, "armado con un martillo". Um martelo não é, propriamente, uma arma, e tal inexatidão surpreende, sobretudo num relatório oficial. Passou rápido pelas quatro primeiras salas das cinco que o museu tem, onde estão expostos objetos cerimoniais de ouro, prata e cobre, e estatuetas em argila e metal, e entrou na quinta, reservada a Juanita. Sem nem olhar para ela, ao contrário, segundo o relatório a imagem é a de um homem cabisbaixo (provavelmente ele esteve lá outras vezes, disso não há registro, as fitas se reutilizavam), tirou o martelo do bolso e golpeou com força o cristal, na altura dos pés da múmia. O cristal só rachou, e o segurança chegou na hora, um instante antes que Alberto golpeasse a urna pela segunda vez: derrubou-o, imobilizou-o no chão.

Juanita não sofreu nenhum dano. Por um tempo, foi retirada da sala, substituída por Sarita, tão antiga quanto ela, porém bem menos conservada. Hoje em dia, Juanita continua lá, em sua eternizada posição semideitada, as costas inclinadas para frente, os joelhos dobrados, os braços cruzados sobre o peito. Com os cabelos longos terminados numa fina trança e uma fratura de cinco centímetros na parte posterior do crânio, imperceptível ao olhar. (Ressonâncias magnéticas determinaram que a jovem morreu assim, com um golpe desferido de trás com algum tipo de bastão.) Com seu manto cerimonial, de cor vermelho e branco, seus brincos e pingentes e seus sapatos de pele.

Sunday, December 13, 2009

Um conto muito bom que li ontem

Alone, de Yiyun Li: um conto muito bom que li ontem e recomendo, sobre "a woman who meets an older man at a ski resort and tells him about a childhood tragedy in her past".

... Que li ontem à noite, quando me sentia exatamente... isso. Engraçado esses acasos da vida. Eu estava com um número da New Yorker que comprei na Fnac, ainda não tinha chegado ao conto, achei que ler o conto da revista poderia me fazer bem, virei as páginas e, de repente, esse adjetivo no título! :)

Saturday, December 12, 2009

Traduções ao português 9 (Cada una de tus cosas, de Andrés Calamaro)



Cada uma de suas coisas


Olhando o rio lhe escrevi
Enquanto lhe esperava,
Com o peitinho inquieto e alegre,
E um andar de não ser de aqui.

De aqui não me movi, de sua vertigem minha,
De seu sorriso vertical, que misteriosa é uma rosa de Hiroshima
E a rumba que há.

A rumba se ri, não sabe se é rumba,
Será um momento só,
De eternidade, de esses que me dá.

Todos os dias, todos os segundos,
Infinitamente, a alegria de viver,
O sentido que dá a vida viver contigo.

No céu, no chão, em cada uma de suas coisas,
No céu, no chão, em cada uma de suas coisas.

Wednesday, December 09, 2009

Capítulo 18 (novo rascunho)

Foi graças ao que chamei de meu pequeno, improvável sucesso que conheci Kate. Assim como Anne, ela gostou da história do homem e a múmia. Na metade do curso (terminada a parte dedicada à edição de livros e antes de iniciada a dedicada à edição de revistas), na lanchonete onde minhas colegas e eu comemorávamos o fim do trabalho (elas comemoravam, eu me sentia aliviado, liberado por ter falado em público e me saído mais ou menos bem), veio me dar parabéns, elogiar o projeto de livro que eu acabava de apresentar. Seus foram os elogios que mais me surpreenderam e deixaram lisonjeado - mais do que os do diretor e os do velho Ernest, que tanto fariam por mim, depois, com o intuito de que eu encontrasse emprego na cidade. Foram os de Kate. Não por ela ser tão bonita, seus olhos cálidos, cor de avelã, o rosto e o sorriso largos, o cabelo curto e preto (como o de Taís); ou tão inteligente; ou por estar vencendo sua prudência e proverbial timidez (tudo isso eu iria perceber mais tarde, em nossos longas caminhadas e conversas nos cafés), e sim por serem os mais insuspeitados, por virem de alguém em quem eu não tinha reparado, uma pessoa com quem, nesse instante me dei conta, eu deveria ter algo em comum.

Difícil dizer como foi a apresentação. Nos primeiros minutos, minha voz tremeu, e eu só olhava meus papéis. Quando o tremor na voz passou, aproveitei alguma pausa na fala para, por meio segundo, levantar a vista do atril. Enxergava as pessoas sentadas na primeira fila: o diretor, os coordenadores. O resto da sala estava escura, os colegas disseminados pelas fileiras de bancos, até o fundo, agrupados por editoras fictícias (a nossa foi a última a se apresentar). Do início ao fim, falei sem pensar, tratando unicamente de verbalizar as anotações, sem esquecer nada e no melhor inglês de que fui capaz. Minhas colegas estavam de pé no estrado, à esquerda, e entre elas e eu, numa telona, foram se alternando a projeção da capa do livro e alguns outros slides com dados sobre produção.

Tempo depois, perguntaria a Kate por que só veio falar comigo então. Queria saber se, até aquele dia, eu tinha lhe parecido um aluno medíocre, ou vulgar. Não, ela disse: se alguma coisa, você me pareceu alguém altaneiro, desdenhoso dos demais (não lembro da palavra exata que ela usou). Maravilha. O fato de eu estar sempre tão calado, fumando, evitando os colegas quando se reuniam para ir almoçar (porque eu não me sentia em condições de manter, ao redor de uma mesa, uma conversação), foi interpretado por ela como sinal de arrogância. Eu!, eu que talvez não em Nova York, porque há vários anos carregava a doença e já não me importava com o que os outros pensassem, mas sim antes, fiz tanto para que ninguém percebesse o que acontecia?! Kate me dava vontade de rir. Então a neurose não transparecia, não se mostrava? Era para cada um o que bem entender?

Eu sabia das condições em que preparei e escrevi a apresentação. Por isso os elogios não me serviam, só me deixavam perplexo. Nas semanas anteriores, tinha ido com frequência à sala de computadores mais próxima da residência, ciente de que não conseguiria trabalhar. Entrava e, passados cinco minutos, saía para fumar. Entrava e saía de novo, incapaz de escrever uma linha. O que fazia era ler e-mails e tentar pesquisar. Lia páginas na Internet (resenhas, por exemplo, deixadas por leitores na livraria Amazon) como um autômato, impossibilitado de conectar informações, de articular nada novo a partir delas. Imprimia algumas páginas e, sem ânimo para conversar com os colegas que encontrava ali (esforçava-me, apenas, para sorrir para eles, ou os cumprimentava com um inclinar de cabeça), saía ao pórtico do prédio, desejando que não aparecesse ninguém mais, pois só desejava fumar, conseguir que a pergunta me deixasse momentaneamente tranquilo, sem ter de falar sobre nada, de explicar por que estava com esses olhos e essa cara.

Às vezes aparecia o bom e velho Ernest, colega de curso que, quase em idade de se aposentar, queria abrir uma pequena editora em sua livraria de Indiana. Gordo, sempre com a camisa por fora da calça, de cabelo branco amarelado e bochechas e nariz sanguíneos, de irlandês, Ernest fumava e conversava comigo. Mas ninguém ia à sala de computadores, nessas horas do fim da tarde, ou da noite, a não ser para trabalhar, e nossas conversas eram breves. Ele entrava e eu ficava. Acendia um outro cigarro e dava uns passos pela calçada; voltava, encostava numa coluna, os pés cruzados, olhando para o outro lado da avenida. O sol, menos inclemente, suavizava as fachadas, deixava prédios em sombra e prédios em luz, fazia visíveis as partículas de poluição no ar, que criavam uma abóbada de um lado ao outro, por cima dos carros.

Recentemente li as memórias de uma pessoa com múltiplas fobias, músico de profissão. Quando, em sua vida - ele contava -, encontrava-se face a uma situação de risco ou perigo real (sem importar se ele estava num espaço pequeno e fechado, numa estrada em campo aberto, num local lotado de desconhecidos), todas suas fobias desapareciam de imediato; e, nesse lapso de tempo, como qualquer pessoa, reagia, voltava ao normal. Não é o caso do neurótico - ou não foi o meu. Lembro de, certa vez, voltando para casa com Lídia, ter sido assaltado, receber um soco na cara e, de caminho ao hospital e enquanto o médico costurava minha sobrancelha, continuar analisando se o que na hora da janta eu tinha dito a uma amiga estava certo ou errado - sem reagir nem ser capaz de tentar acalmar minha namorada. Na apresentação, no entanto, a neurose talvez tenha me ajudado. Porque o pensamento obsessivo embotava minha capacidade de sentir, me emocionar, e ele esteve lá comigo, no estrado, ainda que encolhido, recolhido num canto. Isso, naquela circunstância, para alguém tímido como eu, pôde ter sido bom. Impediu que me exprimisse melhor, mas, ao mesmo tempo, imunizou-me contra a pressão e a vergonha que, de outro modo, sem dúvida teria sentido ao falar ante aquela plateia.

Sunday, December 06, 2009

Capítulo 17 (novo rascunho)

Hoje tudo se conjugou para levantar meu ânimo. Na rua, fui cumprimentado com ênfase por um homem de meia-idade que passeava com dois cachorros (o bairro não é tão frio e deserto, ao fim e ao cabo). O sol saiu, depois de vários dias cinzentos. Passei meia hora acordado na cama, embalado pela música que, agora eu sei, vem do andar de cima, que aos sábados e domingos toca também de manhã e que já não me incomoda, ao contrário, começa a me agradar. A garçonete que me serviu a fatia de torta, escolhida no balcão pelo visual, piscou-me um olho. Bendito sábado! Sei que não por isso, é claro, as frases virão; não por isso vou conseguir escrever. Por que não me dar uma folga, então? Afinal de contas, sábado não é dia de semana. Afinal de contas, meu desejo inconfesso é encontrar Anne, deixar que Anne me encontre. Recostado numa das poltronas, de frente para a rua, leio o jornal. No início, com atenção relativa, pois a cada figura que se aproxima pela calçada olho por cima das páginas para ver se é ela, confiado em que, num momento ou outro, será.

No jornal está tudo errado. A crise, quando não tratada diretamente, ecoa nas notícias de todos os cadernos. Na cidade se perdem empregos em ritmo acelerado. Os teatros reduziram o número de apresentações, as pessoas assistem cada vez menos aos eventos esportivos e ao cinema. Os donos de restaurantes se lamentam, têm de reduzir pessoal. Só enchem os Starbucks e os cafés da rede de livrarias Barnes & Noble, onde a gente fica por horas sem ter de gastar um centavo. Os mais prejudicados, os trabalhadores imigrantes, voltam aos seus países, e os que não o fizeram (entrevistados no jornal) esperarão um ou dois meses, ver se a situação melhora, e, caso contrário, também vão voltar. Em Miami, famílias inteiras perderam suas casas e se instalaram embaixo de pontes, com a aquiescência da prefeitura, que parece não ter uma outra solução a oferecer. Na Califórnia, criam-se comunidades à beira de estradas, onde pessoas moram em seus carros ou suas tendas de acampamento. Os membros do gabinete do novo presidente Barack Obama foram anunciados esta semana. Leio com curiosidade seus perfis. Dizem-se esperançados. Valentes, os herdeiros deste desastre! Terão de reconstruir, ou reinventar, o que um analista chama, em primeira página, de país "não só economicamente falido". É irônico: no som toca "Perfect Day". Mas é, é um dia bom para mim. E seria fantástico, um dia perfeito, se Anne aparecesse agora. A música talvez me desse a coragem para convidá-la a passear, falasse por mim. Pode ser que também trabalhe aos sábados.

Se ao menos Kate estivesse aqui. Sempre pensei que iria reencontrá-la ao voltar: a única amiga que ficou na cidade, contratada por uma editora logo que o curso acabou. Ela também perdeu o emprego. Por enquanto sua odisseia terminou. Com 18 anos, saiu do Havaí para se afastar da família. Estudou e se formou na Universidade da Califórnia. Considerou que a distância da família ainda era pouca e veio fazer o curso de edição aqui. Morou em três apartamentos, cada um pior do que o outro e cada vez mais longe do centro. Em suas cartas, sempre desenhava um croquis e descrevia o lugar. Por pequeno que fosse, convidava-me, escrevia que a gente se viraria no espaço que houvesse. O primeiro nem era um apartamento, era um quarto, no Soho. Tão pequeno que teve de comprar um beliche sem a cama de baixo para poder embutir a mesinha e o computador. Na área comum, as fechaduras não fechavam, as torneiras pingavam (por dias, a água quente do chuveiro não pôde ser fechada, tudo enchia de vapor); ratos se afeiçoaram por ela. Na mesinha, sob a cama, passou noites em branco, lendo originais, revisando provas. As dez ou doze horas trabalhadas na editora não eram suficientes - nunca são, ninguém consegue morar em Manhattan sem se entregar totalmente ao trabalho, nem os parasitas de Wall Street. A editora era prestigiosa, mas o salário era baixo, e não aumentava. Fosse isso pouco, os superiores aproveitavam sua docilidade de recém chegada, seu ar em aparência medroso, para alfinetá-la, atordoá-la, enchê-la semanalmente de trabalhos dos que ninguém poderia dar conta num mês.

Sua primeira mudança foi para o bairro de Greenpoint, no Brooklyn (para a mesma rua Bedford onde eu moro, só que quilômetros mais ao norte). Alugou um conjugado minúsculo, porém tudo para ela, onde cabiam uma cama, a mesa com o computador e um sofá-cama militar que ela encontrou na rua, para acolher os amigos de passagem na cidade. Greenpoint também se tornou caro demais. Então foi para um bairro mais pobre, onde a maioria da população era negra, e ela, de origem e feições asiáticas, sentia-se uma minoria entre uma outra minoria. As vitrines das lojas estavam protegidas com tábuas; predominavam os conjuntos de habitação subsidiada.

Em algum ponto entre tais mudanças, eu nunca soube exatamente o porquê, saiu da editora, abandonou para sempre o mundo editorial. Em certa ocasião, tendo sido relegada de seu gabinete para um cubículo, escreveu: "I no longer have a view, but the temptation to fling myself out the window is no longer there". Apesar das dúvidas, não perdeu a vontade de permanecer na cidade. Fez um novo curso, de documentação; trabalhou, com maior prazer, embora também exigida até o limite, num programa de debate político da televisão pública. Quando a série de debates terminou, ficou sem nada. Há poucos meses foi para Chicago, morar por um tempo no apartamento de um amigo, companheiro na época de estudante na Califórnia. São as últimas notícias que eu tenho: Kate procurando emprego em Chicago antes de se resignar a voltar com a família, de ter de voltar ao Havaí, de onde sonhou em sair durante toda a adolescência.

Triste final do Campeonato Brasileiro

Hoje a cidade acordou em clima tenso, e daqui a umas horas isto pode virar uma guerra. É o dia da última rodada do Campeonato Brasileiro. E, ao que tudo indica, o Grêmio vai entregar o jogo para o Flamengo no Maracanã, vai fazer do Flamengo o campeão. E tudo... Tudo porque se empatar ou vencer no Rio, o campeão vai ser o eterno rival, o Internacional, que tem um jogo fácil aqui em Porto Alegre.

Para que o escândalo seja menor, o treinador do Grêmio já tirou do jogo os principais jogadores titulares, para poupá-los da vergonha. Vai escalar sete reservas. Nada disso aconteceria com meu Espanyol, que nunca entregaria um jogo para o Real Madrid, só para que o Barcelona não fosse campeão (primeiro é o Espanyol, e a dignidade do torcedor do Espanyol - e olha que a gente odeia o Barcelona); o Atlético de Madrid não faria o corpo mole contra o Barcelona, só para que o Real Madrid não ganhasse o título (primeiro é o orgulho do torcedor "rojiblanco").

Mas enfim. Aqui o título será para o Flamengo, e a vergonha será toda gremista. Vai entender.


PS: Espero estar errado. Mas falo pelo que andam dizendo toda a semana os torcedores do Grêmio, com um sorriso na cara. Querem que o seu time perca.

PS2: Não estava errado, não.

Friday, December 04, 2009

As 7 melhores da Rolling Stone

Para meu irmão Uri (e para quem goste), que está me pedindo mais e mais e mais música brasileira. (Todas estas músicas são maravilhosas... mas Uri, eu vou te trazer CDs mais atuais, OK.)

Estas são as 7 primeiras da lista (comentada) das "100 maiores músicas brasileiras", que saiu na Rolling Stone (brasileira) de outubro.

1- Construção, de Chico Buarque. "As estrofes são repetidas três vezes, com algumas palavras-chave sendo trocadas de posição. (...) Na primeira vez, o cantor apresenta a história de uma forma lógica, quase jornalística. Na segunda repetição (...) é levado em conta o estado psicológico do protagonista, que já estava se transformando num autômato. Na parte final, que não aparece na íntegra, o peão anônimo já se encontra demente e alucinado, não é dono de suas ações."

2- Águas de Março, de Tom Jobim, interpretada por Elis Regina. "O começo de 'Águas de março' já está impresso no fundo do subconsciente do povo brasileiro. (...) Descreve um momento típico da estação das chuvas do Brasil, o mês de março, que marca o fim desse período no verão, de chuvas torrenciais e ventania. (...) A melodia vai em um lento e malemolente crescimento em sintonia com a letra, como uma enxurrada e também como se fosse chuva aumentando de intensidade para no final prometer o início de uma vida renovada, sol e céu aberto, com o fim do ciclo das águas."

3- Carinhoso, de Pixinguinha, letra de João de Barro. "A mais famosa melodia da música popular brasileira continua eterna (...) mesmo tendo sido escrita há mais de 90 anos. (...) A interpretação clássica de Orlando Silva, de 1937, é de arrepiar até os mais desavisados."

4- Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. "A evocativa letra da canção fala da seca, das tristes condições de vida do sertanejo. A asa-branca entra como metáfora. A ave bate asas para achar uma vida melhor e o protagonista da canção faz o mesmo. Mas ele promete a seu amor que um dia vai voltar, quando a chuva cair de novo."

5- Mas que nada, de Jorge Ben. "Seu time perdeu mais uma? O dinheiro do mês acabou e hoje é dia 12? Mas que nada! Você precisa de um samba legal pra ficar animado. Não pode ser qualquer samba, tem que ser especial. Mas tem um samba diferente, misto de maracatu."

6- Chega de saudade, de João Gilberto (composição de Tom Jobim e Vinicius de Moraes). "O marco zero da bossa nova."

7- Panis et Circensis, de Os Mutantes (composição de Gilberto Gil e Caetano Veloso). "Uma das canções mais marcantes de Tropicália ou Panis et Circensis, de 1968, o disco-manifesto do tropicalismo, que juntou Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão, Tom Zé e os intérpretes da faixa em questão, Os Mutantes."


PS: Entrem no site sobre o tropicalismo, é muito bom!

Thursday, December 03, 2009

Writer's Block

Acho que meu irmão Ramon está querendo me incentivar a continuar... :)


Ramon