Tuesday, July 27, 2010

Leituras mais ou menos recentes


"Llueve". Desenho de Raquel Marín,
que ilustrou Una barca, un riu.



Nos últimos meses li vários romances (alguns por prazer, outros por terem alguma coisa a ver com minha dissertação) que não cheguei a comentar aqui, talvez por preguiça, talvez porque não achei nenhum deles "maravilhoso" (o último que amei, Indignação, de Philip Roth, já comentei). Mas quero continuar falando em livros, imitando a blogueira Maria (de "Maria e seus livros"). Desta vez não vou dar corações, como ela; só dizer alguma coisinha de cada um, em ordem inversa, começando pelo último que li.

Invisível é um grande Paul Auster, ou ao menos bem melhor do que os últimos. O autor inova, não repete fórmulas (se é que ele estava usando fórmulas). E o enredo empolga, a história tem muita força (talvez a primeira parte seja mais fraca, mas... cheguem à segunda!). Formalmente, também não um Auster daqueles, mas o estilo pouco depurado está justificado, já que o narrador não é escritor. Com boas descrições de sexo entre... não vou dizer quem.

Lowboy (ou Afluentes de um rio silencioso) é o terceiro romance de John Wray, nascido em 1971. Narra alguns dias na vida do adolescente William Heller, que sofre de esquizofrenia e está obcecado com o aquecimento global. Ele foge com uma amiga (grande parte da fugida e pelos túneis do metrô de Nova York), enquanto é perseguido pela mãe e um detetive. O melhor (que encontrei em poucos romances) é que o autor transmite o transtorno mental do protagonista a partir do que ele vê, o que ele ouve, o que ele fala. Segundo a orelha da edição da Cia. das Letras, "o leitor invade a psique perturbada e erotizada do garoto". O romance chega a ser perturbador. (Curiosidade: Wray escreveu o livro em estações de metrô.)

Sob a pele, de Michel Faber. Realmente perturbador, de dar medo. (Quem leu Pétala escarlate, flor branca, uma obra-prima sobre a Inglaterra vitoriana, pode esquecer, este romance, anterior àquele, parece de um outro autor.) Mulher de grandes seios dirige pelas ruas do norte da Escócia para oferecer carona a homens... que devem ser jovens e fortes. (É bom não ler a orelha.) (E é bom, também, aguentar a monotonia inicial.)

Satolep, de Vitor Ramil. Me pareceu um romance bem escrito, interessante, para refletir... porém chatinho (terminei querendo chegar logo ao final). Sobre um homem que se reencontra a si mesmo em sua cidade natal - em seus habitantes, em suas ruas, em seus prédios - depois de correr meio mundo. Interessante, digo, e até surpreendente, porque o narrador (o autor?) faz o descobrimento de si não se voltando para dentro, como de costume, senão abrangendo, incorporando quase literalmente o que encontra ao seu redor.

Desilusões de um americano, de Siri Hustvedt. Quarto romance da mulher de Paul Auster. Sobre um psicanalista, Erik, e seus pacientes, e sua vizinha de apartamento, Miranda, e seu ex-marido psicótico. Com outras personagens importantes, como a mãe e a irma de Erik e a filha de Miranda, Eglantine. O romance é bom, muito bom, até, intrigante e denso. (Só me irritaram as descrições de Eglantine: cada gesto, cada careta, cada mudança na voz da criança é registrada como se disso dependesse a história.) Mas não descobri essa tão grande escritora de que alguns críticos falaram depois do terceiro romance, O que eu amava. Eles diziam que ela não era "a mulher de"; que o correto seria dizer que ele era o marido de Siri Hustvedt. Eu não sabia se era verdade ou simples esnobismo de crítico literário (agora sei).

Tenho algo a te dizer, de Hanif Kureishi. Outro protagonista psicanalista. Mas se Hustvedt dá espaço aos pacientes de Erik, Kureishi se importa bem pouco com os de Jamal Khan. Talvez porque a mulher, a ex-mulher, a filha, o melhor amigo, a irmã e o resto de familiares de Khan já sejam suficientemente malucos. O tom da história é leve. Há pouca descrição e muito (bom) diálogo (Kureishi é roteirista). Desilusões... se passa em Nova York, Tenho algo a te dizer, em Londres. E serve para ver até que ponto os ingleses são sexualmente inibidos (esse é o assunto que um grande autor poderia ter explorado mais). Eles têm suas fantasias sexuais, só que não podem realizá-las em lugares "normais", nem com a mulher/marido, nem com a/o amante. Existem uma série de antros escondidos, cada um mais sórdido do que o outro, para esse propósito, ou então eles marcam encontros com estranhos pela Internet.

Monday, July 26, 2010

Em São Paulo

Coincidindo com a passagem da Anninha por São Paulo, transcrevo uma mini entrevista publicada hoje no Estadão com o DJ norte-americano Larry Tee, fã da cidade. (Eu, eu Roger, quero cada vez mais conhecer São Paulo...)


Natural de Seattle, o DJ Larry Tee esteve no Brasil pela primeira vez há 15 anos. São Paulo foi uma das primeiras cidades onde tocou fora de casa. Hospedou-se na Bela Vista e ficou impressionado com o centro da cidade. "Percebi que era um lugar que eu naturalmente gostaria de visitar, não só a trabalho". Por isso, tratou de fazer amigos e volta à metrópole sempre que sai em turnê internacional.

Point. "O Brasil está pegando fogo lá fora. É o lugar da moda, todo mundo quer vir para cá", diz Larry. O lado ruim? "Tudo ficou mais caro também. O câmbio já não é mais tão favorável assim!"

Compras. Mesmo reclamando dos preços, o DJ vai passar a semana fazendo compras. "Adoro as lojas dessa cidade. Sempre que uso minhas camisetas compradas aqui, perguntam de onde é e eu esnobo: 'Ah, comprei em São Paulo!'. Todos ficam com cara de 'Oooh!'", diverte-se.

Paulistanos. "Paulistanos, nova-iorquinos e londrinos são parecidos. Têm um ponto de vista diferente." E, para Larry, os paulistanos "estão sempre um passo à frente do resto do mundo". "Tudo que meus amigos americanos descobrem, os paulistanos sabem há um ano!"

Saturday, July 24, 2010

Rayuela, de Gotan Project (+ Pato Fu)

Mais música!

Do CD Tango 3.0, a música "Rayuela".

Com a voz de Julio Cortázar recitando Rayuela (O jogo da amarelinha) e "Preámbulo a las instrucciones para dar cuerda al reloj", e um coro de crianças cantando:

UN, DOS, TRES, CUATRO, TIERRA, CIELO
CINCO, SEIS, PARAÍSO, INFIERNO
SIETE, OCHO, NUEVE, DIEZ, HAY QUE SABER MOVER LOS PIES
En la rayuela o en la vida
vós podés elegir un día
por qué costado, de qué lado
saltarás




PS: Como dice mi abuela Montserrat:

La vida es un tango
Y el que no lo baila
Es un burrango


PS2: E mais música! Está quase pronto o novo CD de Pato Fu! Uhú! O título é Música de brinquedo, esta é a capa



e este um vídeo lindo, o making of da música "Primavera". Com a sempre linda e maravilhosa (ai!) Fernanda Takai.

Friday, July 23, 2010

Encontro no café com um desconhecido

Hoje conheci um cara no café da rua Uruguai. Foi engraçado como aconteceu. E é bem inusual, lá poucas vezes falei com alguém, só digo que sim quando alguém pergunta se uma cadeira está livre, e uma vez conversei brevemente com uma guria que me perguntou por que eu não lia a Zero Hora (eu estava com a Folha ou o Estado, e ela era do departamento de marketing da Zero Hora). De manhã me pareceu vê-lo, mas nem tenho certeza se era ele. Se era, estava com o que me pareceu um MacBook branco. À tarde estava sentado ao meu lado, e só reparei nele quando se dirigiu a mim, ele ainda estava sentado mas quase indo embora. "Filosofia?", perguntou. Parece que leu "Rousseau" na página que eu estava revisando, deve ter se puxado, porque a página estava toda cheia de anotações, coisas riscadas, eu estava revisando-a. "Literatura", eu disse. "Ah, é que eu li aí Rousseau...". Acho que então fui eu quem lhe perguntou se estudava Filosofia. Disse que sim, que estava no último ano na universidade de Santa Maria. Eu contei que estava fazendo o mestrado em Literatura da PUC. Ele quis saber sobre o meu trabalho, eu disse que era um romance e que aquilo ali era a parte teórica. Antes ou depois disso, ele me disse que gostava dos românticos (por isso o interesse por Rousseau), mas que os havia deixado de lado porque estavam levando ele para a literatura, e o que ele queria mesmo era focar em filosofia pura. Metafísica, também disse. Estava se preparando para o mestrado. Eu perguntei se a faculdade de Santa Maria era boa, ele disse que sim, falou num professor alemão que teve. Eu, devo confessar, não falei bem da Filosofia na PUC, por influência de um amigo que estudou lá. Daí ele perguntou se eu podia lhe contar algo do enredo do romance. Tudo isso com muita educação, com muita naturalidade. Ele, não falei ainda, era um guri de cabelo loiro, longo e crespo, e vestia uma roupa elegante cinza. O enredo... Eu não teria sabido contar-lhe o enredo, nem teria tido tempo, ele já estava de pé, com sua namorada ou amiga ao lado, que voltou do banheiro. Lhe disse que era sobre amor e loucura. Antes ou depois, ele disse que tinha encontrado o café por acaso. "Muito bom trabalhar aqui, né? Eu não estava conseguindo começar meu trabalho de conclusão...". Eu disse, "sim, especialmente para fumantes"... Provavelmente falamos algumas coisas mais que agora não lembro. Espero encontrá-lo de novo, me pareceu um cara legal. E esse tipo de encontro, assim, tão casual e cordial, me pareceu muito legal também, por isso quis contá-lo aqui. Mas escrevi sem parar, nem revisar, daí o estilo ruim e os possíveis erros... :)

Thursday, July 22, 2010

Instantànies de Porto Alegre (en català!) 3

(Continuo fent fotos amb el mòbil poderós.) (Cliqueu per veure-les bé.)


Primer partit del Brasil, vist dins d'un taxi.


Segon partit del Brasil, 16 h, no vist.
A
vinguda Getúlio Vargas deserta.


Tercer partit del Brasil, vist en un bar de
la Rua da Praia.


Quart partit del Brasil, vist amb la multitud,
a la plaça davant del mercat.



Cinquè partit del Brasil, 11:30 h, botigues
de la Rua da Praia tancades, vist al cafè
de la rua Uruguai. Brasil perd
contra Holanda ("agora deu, acabou, chega,
vamos
trabalhar", diu una cambrera).


Un dels cafès on escric. L'amo, o potser és
un cambrer,
parla català. (Llàstima de la bufanda.)


El mateix cafè. Vaig aixecar la vista
del quadern i el primer que vaig veure
va ser el Renato Russo. Va ser com si
em digués: "força, nen!".



Un dels cafès on llegeixo el diari els
diumenges, quan al Centre tanca tot.



Parc d'atraccions del Parque da Redenção, un diumenge al matí.


Patinant sobre rodes al Parque da Redenção.


L'arbre de les punxes, a la Praça da Alfândega.


La Gabriela, amb la seva nova
gel·lava (chilava, jalaba),
abraçant la Flora i la Lúcia
(despentinada de la nit anterior).


I el Max! :)

Sunday, July 18, 2010

Pra você guardei o amor, de Nando Reis

Faltava música no blog. Ontem ouvi esta no rádio e gostei muito. Gosto de como a voz de Ana Cañas corre por baixo, ou segue um pouco atrás da voz de Nando Reis (contraponto?).

Wednesday, July 14, 2010

Do bem e do mal


Arte de rua em Porto Alegre. (En català:
Existeix un blau més bonic que el meu?)




Capa da Veja, a revista mais retrógrada do país,
sobre o partido de Lula e Dilma Rousseff.

Monday, July 12, 2010

Notícias da Copa do Mundo e 9



















Isto é o que ficará para mim desta Copa. Uma espécie de aprendizagem. No fim do jogo me perguntaram se não ia chorar. Provavelmente teria chorado (sem, na hora, saber bem por quê), mas não consegui ler isso ao vivo. Na verdade pensei: será?; não, não pode ser. Pois era. Talvez nunca aprenda.


... E as fotos do dia! =)
























Thursday, July 08, 2010

Notícias da Copa do Mundo 8



Essa capa é dos hermanos. :)

Como disse um comentarista brasileiro, tocam a bola como se jogassem handebol ou basquete. :)

A Gabriela disse: jogando como hoje, a Espanha é imbatível. :) A Raquel está torcendo desde o início pela Espanha por mim, assim como a Anna. =) A Rosária me mandou parábens, o João também, e ligou para o meu pai. O Leo, querido, de pai alemão, logo após o jogo escreveu que, domingo, ia torcer pela Espanha. E a Rose me enviou um vídeo de "fútbol y tango" dizendo que desta vez podia dar "fútbol y flamenco".


PS: No café da rua Uruguai, oito homens discutiam sobre a Copa, falando na Espanha, na Alemanha, na Argentina,... E uma das moças, atrás do balcão, sorriu e falou para si mesma: "É a Espanha, gente!, a Espanha vai ganhar!".

Wednesday, July 07, 2010

Notícias da Copa do Mundo 7

Gostei dessa de L. F. Verissimo, hoje na Zero Hora (gostei porque... é mesmo assim!):

"Se a Espanha fosse uma organização criminosa, Xavi seria o capo, Iniesta, o que escolheria as vítimas, e Villa, o executor".


PS: E este post tão simplesinho é o nº 700 do blog.

Sunday, July 04, 2010

Notícias da Copa do Mundo 6

O Naranjito está feliz. Porque a Espanha já fez sua melhor campanha em Copas do Mundo. (Ele já estava muito faceiro, na verdade, quando virou imagem de camisetas vintage, alguns anos atrás.)

E o Brasil está triste... Por quê está triste o Brasil?

Culpados das derrotas, em qualquer esporte, são os jogadores e, em grau maior, o treinador (junto com, às vezes, a má sorte).

Mas quem é que botou na cabeça dos brasileiros que o Brasil ia ser hexacampeão? Quem é que deixou as pessoas com toda essa empolgação prematura, que no fim as levou às lágrimas? Todas essas crianças chorando. (E os adultos. Mas os adultos têm, ou deveriam ter, capacidade de discernimento.)

Jornalistas, empresários, lojistas... Meses antes da Copa começar e, é claro, durante a mesma, aqui só se falou em hexa. Nos artigos e as reportagens dos jornais, nos anúncios de jornal e comerciais de TV, nas vitrines das lojas e suas promoções para vender o que for... Hexa, hexa! Hexa Copa é nossa! Só faltou vender camisetas com seis estrelas em vez de cinco. (Nem as seleções, nem os jornais dos países cujas seleções estão nas semifinais pensaram ou falaram nisso antes da hora, e nem o fazem agora, a duas partidas do fim; por quê o Brasil sim?) Toda essa turma do hexa...: não sabia que na Copa chegam 31 seleções, além do Brasil?

Um dia depois da derrota contra a Holanda, li num anúncio de jornal: "Faltam 48 meses para o Hexa". Hein? O Dunga pode ser burro e mal-educado, mas essa turma que empolgou o Brasil inteiro deveria reconsiderar o que fez (por enquanto não li nada ao respeito, nenhum mea culpa; como se todos pensassem que, de fato, o Brasil devia ter sido hexa); reconsiderar seu oba-oba ao ver as pessoas chorando, ou quietas e tristes. Só não posso dizer que eles são burros - jornalistas, empresários, lojistas - porque atuaram em seu próprio interesse.