Monday, December 27, 2010

Nadal 2010

Algumas fotos destes dias.



Primeiro, a minha preferida (as restantes estão em ordem cronológica).
Minha querida prima Anna e a Aina e a Jana se abraçando. A Aina
é filha da Anna e o Jordi, que também têm a Martina, e a Jana (à direita)
é filha de meu querido primo Joan e a Alba. A Anna e o Joan são irmãos,
então é um abraço entre primas. Foram a alegria destes dias,
as crianças.



Meu irmão Oriol e minha irmã Rose (ela prefere "Rous") fazendo
uma canja, no fim da noite do 24, em casa, Barcelona. (O Uri está fingindo,
não toca violão.)



Parte do almoço do dia 25, prato típico catalão para esse dia:
"pilota i carn d'olla". A "carn d'olla", acima à esquerda, é a carne
com que se faz o caldo da sopa que se come primeiro. A pilota é feita
com carne moída (50% vitela, 50% porco), pão, leite e ovo, e se come
com batatas fervidas e linguiça preta (fervida também).



Meu irmão Oriol e meu primo Joan procurando água
com um anel, em casa da minha avó Rosa, mãe da
minha mãe, na tarde do 25. (Minha avó ficou uma semana
no hospital, recebeu alta no 24 mas não esteve no almoço
familiar, fomos ver ela de tarde. Ela mora em
Sant Sadurní d'Anoia, distante uns 30 km de Barcelona.)
Minha prima Marta, a Anna, o Uri, eu... todos tentamos
e não conseguimos, mas o Joan e a Alba sim: com eles,
num ponto determinado, o anel começava a
dar voltas,
como imantado. Minha irmã conseguiu também (ao menos
disse que estava sentindo "algo" puxando o fio). Esta não
é nenhuma tradição natalina, OK.


Ao calor da lareira. (Nossa avó Rosa, bisavó das pequenas, à direita.)


Gostei destes golfinhos desenhados por Javier Mariscal,
de um livrinho que minha mãe deu à Jana.



Minha avó Montserrat, mãe do meu pai, falando pelos cotovelos
no almoço do dia 26, em casa de meu irmão Ramon e a Nelia,
minha querida cunhada (os pais dela,
Paula e Tomás, à direita).
Minha avó, com seus 90 anos, continua lúcida. Nestes dias
se emociona muito, também. Pensa muito no marido, nosso avô,
Ramon, que faleceu há exatamente 35 anos (no dia 28 de dezembro).



Meus pais no almoço do 26. Os dois ganharam óculos novos.
Ele no início se sentiu esquisito, mas falamos que estava
parecido com o Martin Scorsese e ficou bem faceiro.



O Ramon fumando um charuto de chocolate.


O Uri começando a queimar calorias na mesma
tarde do 26, no jardim do Ramon e a Nelia.

Saturday, December 25, 2010

La imagen del año



A revista de domingo do jornal El País escolheu esta como a imagem do ano. É a minha imagem do ano também. De novo: não se trata de esporte, não se trata de futebol (havia outras imagens do jogador para escolher). Tal qual um Montaigne com chuteiras, Andrés Iniesta, no momento culminante de sua carreira (da carreira de qualquer jogador de futebol: ele marcou o gol da vitória na final da Copa), se lembrou do outro, de um amigo falecido, colocando a amizade acima de TUDO.


PS: O primeiro dos "100 hombres y mujeres iberoamericanos [o jornal deveria ter escrito "latinoamericanos": coisas de país colonizador...] que han marcado 2010" é uma mulher, Dilma Rousseff. Isso me deixa feliz, pois é um reconhecimento a todo o Brasil. Como Enrique Morente escreveu em 2003 sobre Lula, "un poquito de esperanza para el tiempo que viene", alguna cosa buena en este mundo estropeado.

Wednesday, December 22, 2010

Saturday, December 18, 2010

The Social Network, by David Fincher

O filme começa com a namorada, ou meio namorada, de Mark Zuckerberg, criador do Facebook (achei perfeito o ator Jesse Eisenberg no papel, um nerd nem tão nerd assim), terminando com ele ("You're an asshole"), numa cena de diálogos rápidos e difíceis de acompanhar, num bar barulhento do campus de Harvard (todo o filme é assim; é bom tentar não ler as legendas, que só conseguem capturar a metade do que é dito). (Eu tenho, tinha?, uma amiga formada em Stanford que foi morar em Nova York; lá namorou um ex aluno de Harvard, e ela odiava sair com a turma dele. Porque o "harvardnês" é assim: falar rápido e com a obrigação de ser, ou parecer, sempre brilhante, tudo com a maior nonchalance). A sequência seguinte é linda e fundamental, é a dos créditos de início e mostra Zuckerberg correndo através do campus, à noite, até a sua residência estudantil. É nesse momento que (isto está implícito, o filme é cheio de implícitos), fuelled by (como é "fuelled by", Silvia?, estou com a ressaca do inglês do filme), com a raiva derivada do rompimento e do insulto (para quem gosta de "processos de criação": a raiva pode servir a esse propósito), Zuckerberg cria em sua cabeça uma espécie de site infantilóide, para se vingar da namorada, que será o primeiro embrião do Facebook. A seguir vem a parte para mim mais perturbadora do filme: it's all about sex! Lembram Porky's, essa comédia sobre estudantes de ensino médio obcecados por transar? Pois essa parte do filme é a mesma coisa, só que em Harvard, com protagonistas supostamente brilhantes. (Aliás, vi que os alunos de Harvard são de dois tipos: os realmente brilhantes, de um lado, e os bobalhões com pais que foram alunos da universidade e se tornaram fund-raisers, do outro; este seria o caso de Bush II.) Uma personagem que não é de Harvard é especialmente irritante, a do criador do Napster (que, vi nos créditos, é interpretado pelo tal Justin Timberlake, cantor). Sua única contribuição para o Facebook, que inicialmente era thefacebook é: "Drop the 'the'. [Aí ele faz um movimento irritante com as mãos] It's cleaner". Depois vem o juízo, que não é bem um juízo, são reuniões entre Zuckerberg, o brasileiro Eduardo Saverin (o cara mais legal e sensato), os bobalhões irmãos Winklevoss (atletas que não têm noção alguma de programação, mas querem uma fatia do bolo) e os advogados de todos eles, para chegar a algum acordo. Tem uma mulher, uma mulher que não está com nenhuma das partes em conflito, só assiste porque é da firma que sedia as reuniões, que diz a frase de que eu mais gostei. Quando Mark fica sozinho na sala, ela lhe diz: "You're not an asshole. But you're trying very hard to be one". O fim da história é sabido: Mark Zuckerberg vira milionário (ou zillionaire) e perde o único amigo que teve na vida, o Eduardo. E a última cena é parecida com a de Citizen Kane, só que um pouco patética, pois não é da infância, desse paraíso perdido, que Mark sente absoluta falta. É de... - não vou dizer, mas é meio óbvio. O filme é muuuito bom.

Thursday, December 16, 2010

Enrique Morente :'(

Granada, 25 de diciembre de 1942 - Madrid, 13 de diciembre de 2010

Uri: Ei bro, o grande Morente morreu e tu não escreve nenhum post?!?!?! O exílio até pode ser bom, mas esquecer tudo não é legal! Se agora eu gosto como eu gosto de flamenco é, em boa parte, graças ao grande Morente e ao álbum Omega. Viva o cante jondo e o grande mestre.

Eu: Me diz uma música, que eu boto no blog. Meses atrás postei umas. Li nos jornais, mas não soube o que dizer. Omega me apaixonou, mas eu não consegui entrar nesse mundo.

Uri: What can I say... O amigo Morente era um craque, um desses artistas que trazem mudanças, marcam um antes e um depois. Foi ele quem abriu as portas do flamenco e o cante jondo a muita gente, uma música que, para alguns, de início, não parece fácil ou próxima. Além disso, ele a soube renovar, atualizar, levar para o século XXI. O "Pequeño vals vienés" é muito importante para mim, por três motivos. Quando o ouvi pela primeira vez (numa festa de Sant Jordi, no instituto) não gostava de flamenco (deveria dizer, melhor, que o desconhecia). Também não gostava dos poemas de Lorca. E a versão que ouvi era dançada, e as bailarinas, amigas minhas (uma delas, a very special one). Depois de ver o espetáculo e ouvir a música, tudo mudou. Passei a gostar de flamenco e dos poemas de Lorca, e a saber que nunca teria uma namorada que não soubesse dançar (só vou te dizer que tua teacher in love, a Carmen, se emocionou quando o viu e acabou chorando). Mas bota aí no blog "Reloj molesto", uma música de um álbum que eu tenho e curto muito, que é linda e o Morente dedicou ao Lula em 2003 (para Lula, esperanza de Brasil). Vê se ele não é um craque. Como explicar, se não, além do mais, que sua filha seja alguém como a Estrella Morente...

Eu: Bro, respondo aqui (com este post com texto teu). Obrigado pelo e-mail e pela música. Ela emociona e faz chorar (é isso, o flamenco?). Como alguém escreveu no youTube, "Descanse en paz en el tablao del cielo". Con el Camarón.




EL PEQUEÑO RELOJ (2003)
Guitarras: Pepe Habichuela, Niño Josele, Tomatito, Manolo de Huelva, Sabicas, Ramón Montoya.
Percusión: Piraña, Bandolero.
Otros músicos: Javier Limón, Jerry Gonzalez, Alain Pérez, Horacio el Negro, Caramelo.
Morente se despide diciéndole al molesto reloj "Déjame pasar las horas a ritmo de tango" y lo dedica a Lula, en el que reconoce la esperanza de Brasil. Un poquito de esperanza para el tiempo que viene...

Tuesday, December 14, 2010

Cinco dias até eu viajar!

Queria que a longa viagem de avião não fosse chata. Que fosse assim:

Monday, December 13, 2010

Eu sou um grande mentiroso 2

Terminei de ver o documentário sobre Fellini. O vi em duas partes, não consigo ficar muito tempo quieto em frente à TV (ao laptop, no caso). Nesta segunda parte achei mais trechos da entrevista interessantes, que anotei (sobre o tempo, o imaginado e o real, a criação artística, as mulheres), e um belo diálogo de 8 1/2 que transcrevo também (quando eu era adolescente, achava que esse filme de que os adultos falavam era sobre dois palhaços, Otto e Mezzo... :o). Vale a pena dizer: no documentário, o ator Donald Sutherland (Il Casanova) fala de Fellini como uma pessoa autoritaríssima e até cruel - tipo Picasso, citado por Fellini como fonte de inspiração.


"Não acho que seja possível definir ou desenhar uma linha divisória entre o passado, o presente e o futuro, ou entre uma coisa imaginária e a memória de alguma coisa que realmente aconteceu. Não acho que qualquer um que escolheu essa profissão ou foi chamado para contar histórias possa distinguir isso. Do momento que ele cria seu pequeno universo essa criação é absoluta. É um universo completo que também inclui o tempo, não só pelo espaço territorial ou a descrição dos personagens. Até o tempo é inventado."

"Meus filmes ficam prontos porque eu assino um contrato. Recebo um adiantamento que não quero devolver e tenho que terminar o filme. Não acredito na total liberdade criativa. Um artista que tiver liberdade criativa ficaria propenso a não fazer nada. O grande perigo para um artista é a liberdade total."

"Não ter fé é difícil. E uma maneira de se limitar, colocar obstáculos em sua frente. No entanto, ter fé acho que faz parte desse sentimento vago que mencionei, que para mim é uma nota fundamental na qual eu me reconheço: a expectativa. A fé também é uma forma de expectativa. Não quero dar uma conotação mística para essas afirmações. Quero dizer um estado da alma, uma impressão no dia-a-dia de que o sentimento de expectativa nunca me deixou. Mas se você perguntar o que eu espero, você irá me complicar."

"Uma mulher é o planeta desconhecido. A parte à qual o homem quer se unir para encontrar um complemento, para completar o círculo, para encontrar a integridade, a totalidade. Justamente por isso, é a parte desconhecida dele. É o lado escuro. Assim ela o atrai e o assusta."

"Projetamos na mulher, eu acho, um sentimento de expectativa, a revelação de alguma coisa, a chegada de uma mensagem. Como a personagem de Kafka que esperava uma mensagem do Imperador. A mulher pode ser a Imperatriz que, há milhões de anos, mandou essa mensagem que felizmente nunca chegou. Porque eu sinto que o que faz a vida valer a pena é a espera dessa mensagem mas não a mensagem propriamente dita."

"A longa história que um artista conta através de suas obras é uma busca em muitos níveis diferentes. A busca de um estilo, de coerência, do que é essencial, de um tom mais direto, mais espontâneo, de ser mais sincero, menos conceitual, de viver a própria expressão da maneira mais direta. Ou seja, uma busca da parte mais autêntica de você mesmo."

"É evidente que um autor, um artista, se abastece essencialmente dos traumatismos psicológicos, as injustiças, as cicatrizes de sua existência psíquica. Há um aspecto benéfico da neurose que capacita alguém a estabelecer um depósito, um armazém, um tesouro encontrado de onde pode extrair amplos recursos."


Este diálogo do filme 8 1/2, incluído no documentário, é entre Guido (Marcello Mastroianni), alter ego de Fellini, que faz o diretor e ator do filme dentro do filme (um diretor com bloqueio criativo) e Claudia (Claudia Cardinale), que interpreta uma atriz desse filme que não sai (Claudia Cardinale: a única atriz "antiga" por quem já "me apaixonei"... :)



Claudia: No fundo é sua culpa. O que você espera dos outros?
Guido: Por quê? Você pensa que eu não sei? Você está um pouco chata.
C.: Ninguém pode dizer nada! Você está tão engraçado com aquele chapéu, feito de feno velho! Não entendo: essa menina poderia mudar a vida toda, ele renasceria, e a rejeita?
G.: Porque ele perdeu a fé.
C.: Ele não sabe como amar.
G.: Uma mulher não pode mudar um homem.
C.: Ele não sabe como amar.
G.: E não quero contar outra história que é uma mentira.
C.: Ele não sabe como amar.
G.: Desculpe, Claudia, tê-la trazido aqui. Perdão.
C.: Você é um impostor. Então não tem um papel para mim?
G.: Você está certa. Não tem um papel. E nenhum filme também. Não há nada, em lugar nenhum.

Saturday, December 11, 2010

Computador

Hoje, às 9 h 30, eu tomava um café numa mesa na calçada, num boteco da rua da Praia, e escutei um homem velho, sentado à minha direita, e que nessa hora já estava bêbado, falando só para si.

Ele disse, baixinho e meio cantarolando:

- Computador. Computador com música.

E, em voz mais alta, escandiu a palavra, tornando-a uma espécie de poema:

-Computa
A
Dor.

(Se bem que ele enfatizou o "puta", ou seja, também pode ter querido dizer:

-Com puta
A dor.)


PS: E essa moda das gurias no Centro? Essas camisetas de listras horizontais cinzas + uma cor (rosa, azul, verde, amarelo) fluorescente? É muito brega!

Wednesday, December 08, 2010

Coisas ditas sem pensar

No teatro, ontem, o assunto foi o arrependimento. (Ótimo assunto para mim, esta semana; só que lá eu não falo, já contei, só escrevo.) Os atores deviam lembrar e contar algum arrependimento por ter dito ou feito alguma coisa a alguém, tempo atrás. São as mães, ao que parece - e não é de estranhar -, as que mais sofrem por coisas ditas sem pensar, duas ou três pessoas se referiram a elas.

Em casa, hoje de manhã, me pareceu reviver a sessão. Escutei barbaridades semelhantes às de ontem. Só que no presente (mais vivas, mais fortes) e com os papéis trocados. As vozes e os choros, choros de um menino que, por algumas palavras entrecortadas (algo sobre uma mochila), achei que devia ter uns dez anos, vinham de um apartamento vizinho:


(Menino chorando.)

-Tu perdeu tua mãe hoje!

(Menino chorando.)

(Som de um tapa forte.)

(Menino chorando.)

-Some! Esquece!

(Menino chorando.)

-Esquece de mim!


Foi tudo o que eu ouvi, não quis escutar mais, quis fugir para a rua.

Tuesday, December 07, 2010

Eu sou um grande mentiroso 1: La disponibilità

Ontem, assistindo ao documentário Sono un gran bugiardo (Eu sou um grande mentiroso), sobre Federico Fellini, que o Marco me emprestou, tive um insight (desculpem a palavra, qual é a tradução portuguesa de "insight"?; todo o mundo usa "insight", e eu não gosto de palavras inglesas no meio de frases em português...) relacionado com meu trabalho de escrita. Nem insight foi, pois sei muito bem do que se trata; estaria mais para uma recordação da qual eu estava precisando. Quem sabe o trecho que anotei não possa ser útil para outras pessoas metidas nesse mesmo processo danado de "criação", como o Uri, a Gabriela, a Ana, o próprio Marco (agora entendo melhor a necessidade de seus exercícios de uma hora prévios aos ensaios), etc.

O trecho é o seguinte:

"Não acho que a palavra 'improvisação' tenha algum lugar no processo criativo. É uma palavra totalmente inadequada. É até mesmo irritante. Eu não usaria a palavra 'improvisação', eu usaria outro termo. Eu diria que o problema e ficar acessível [Fellini não usa 'acessível', ele diz, aqui, que 'è necessaria la disponibilitá'], se tornar alguém acessível para a coisa que está nascendo e que ainda não tem forma, é magmática, confusa, indefinida."


...


Eu já estive mas por enquanto não estou mais "disponível". Por isso meu romance está parado. Coisas demais me atrapalham em Porto Alegre. Por isso também não era infundada a intuição de me mandar para uma praia...

Sunday, December 05, 2010

Traduções ao português 13 (El sabor de la fresa, cuento zen)

Do livro Cincuenta cuentos Zen, da editora El Barquero, que eu ganhei da Gabriela (presente de conclusão de mestrado :). Tradução espanhola de María Tabuyo e A. López Tobajas.


O sabor do morango

Um homem que atravessava um bosque topou com um tigre. Fugiu, mas o tigre o perseguiu. Um precipício escassamente visível interrompeu sua corrida; esteve a ponto de cair, mas, no último momento, pôde agarrar-se à raiz de uma planta silvestre e ficou balançando no vazio. O tigre estava acima, farejando. Tremendo, o homem olhou para baixo, e viu outro tigre que esperava sua caída para devorá-lo. Só a planta o sustinha. Então, dois ratos, um branco e outro preto, começaram a mordiscar a raiz da planta.

O homem viu então um morango apetecível perto dele. Agarrando-se à planta com uma mão, pegou o morango com a outra. Estava tão bom!



PS nada a ver (e nada zen): Emerson!, ya tardas!!!

Saturday, December 04, 2010

Porto Alegre linda


Uma rua do bairro Moinhos de Vento, uns dias atrás.


Rua Ramiro Barcelos.


PS: Talvez sejam fotos de gringo, pois um amigo viu a primeira e disse: "Isso é perfeito para escorregar".

Friday, December 03, 2010

"Why We Build the Wall", from Hadestown, by Anaïs Mitchell

Na terça-feira passada, nos ensaios de teatro aos que estou assistindo, o Marco, o diretor, me deu o libretto do musical Hadestown, CD que ele usa durante o aquecimento, para que eu tivesse alguma coisa para ler. Eu não participo nessa primeira hora de aquecimento e exercícios físicos prévios ao ensaio em si: estou lá como "escriba", ou, posto de uma maneira mais chique, "escritor da dramaturgia"; para ir anotando o que cada ator improvisa a partir das propostas do Marco (a peça está sendo criada, do zero). Enquanto os atores e atrizes "evoluíam" na sala ao ritmo da música, rodopiando, pulando, se jogando no chão, eu ouvia o musical quase inteiro e a todo volume, acompanhando a história e me empolgando com cada canção. A do vídeo a seguir, "Why We Build the Wall", é a que mais me impressionou (e acho que deve ser ouvida a todo volume mesmo).

Hadestown, que a autora Anaïs Mitchell, norte-americana, chama de "opera folk", reconta o mito de Orfeu e Eurídice no cenário de uma América do Norte em depressão. Este Reino do Hades contemporâneo é uma suposta mina de ouro, para onde as pessoas descem meio seduzidas por Hades, meio por vontade ou necessidade - fugindo dos tempos difíceis ("times being what they are / hard and getting harder all the time"). Hades dá trabalho a essas pessoas, as põe a escavar, dragar a terra (ele é chamado de King of Mortar, King of Bricks, e o rio Estígio é um rio de pedras), e elas vão perdendo as suas identidades ("and a million minds that were just one mind / like stones in a row"). Eurídice desce ao mundo subterrâneo, abandonando Orfeu. É nesse momento, com Eurídice já em Hadestown, que Hades canta essa canção, um adoutrinamento de seus trabalhadores-cidadãos. O vídeo inclui a canção que segue a "Why We Build the Wall", em que Perséfone, mulher de Hades, a escondidas do marido ("what the boss don't know, the boss won't mind"), começa a apresentar a face oculta desse mundo, aonde Orfeu vai descer ("Wait for Me", canção de Orfeu, também é linda).

A letra de "Why We Build the Wall", canção de protesto, é forte e atual (como a da própria "The Wall", de Pink Floyd); um exemplo de lógica do absurdo. E faz igualmente sentido fora do contexto do musical (Anaïs Mitchell a canta em seus shows de música folk), pois aponta o que está acontecendo em metade do mundo (uma norte-americana escreveu no seu blog que os membros do Congresso deveriam ouvi-la). Apesar de ter sido publicado em CD e encenado pela primeira vez em 2010, o musical foi escrito nos Estados Unidos da "crise de identidade" pós-11 de setembro, antes de 2008, mas a canção, como outras do gênero, vai além, e parece se referir, também, à crise econômica dos Estados Unidos e a Europa de hoje.




HADES
Why do we build the wall?
My children, my children
Why do we build the wall?

CERBERUS
Why do we build the wall?
We build the wall to keep us free
That’s why we build the wall
We build the wall to keep us free

HADES
How does the wall keep us free?
My children, my children
How does the wall keep us free?

CERBERUS
How does the wall keep us free?
The wall keeps out the enemy
And we build the wall to keep us free
That’s why we build the wall
We build the wall to keep us free

HADES
Who do we call the enemy?
My children, my children
Who do we call the enemy?

CERBERUS
Who do we call the enemy?
The enemy is poverty
And the wall keeps out the enemy
And we build the wall to keep us free
That’s why we build the wall
We build the wall to keep us free

HADES
Because we have and they have not!
My children, my children
Because they want what we have got!

CERBERUS
Because we have and they have not!
Because they want what we have got!
The enemy is poverty
And the wall keeps out the enemy
And we build the wall to keep us free
That’s why we build the wall
We build the wall to keep us free

HADES
What do we have that they should want?
My children, my children
What do we have that they should want?

CERBERUS
What do we have that they should want?
We have a wall to work upon!
We have work and they have none
And our work is never done
My children, my children
And the war is never won
The enemy is poverty
And the wall keeps out the enemy
And we build the wall to keep us free
That’s why we build the wall
We build the wall to keep us free
We build the wall to keep us free

Pedido aos leitores silenciosos

São tantos os leitores diários deste blog (sei pelas estadísticas que o próprio sistema introduziu em julho deste ano), do Brasil, mas também, sobretudo, dos Estados Unidos, do México e dos países da América do Sul, e há dias em que me sinto tão só (é isso que é a Internet, né? :), neste país que não é o meu, que adoraria saber quem eles são. Poderiam me escrever um e-mail, talvez. O endereço está no perfil.

Seja como for, obrigado pelas visitas.



Obra de Raquel Marín.