Monday, September 26, 2011

True love will find you in the end, by Daniel Johnston

Essa é a música que estava procurando ontem. Está no filme Medianeras (não percam, isso eu já disse num post anterior, agora digo com mais propriedade, depois de assisti-lo :), é escutada e cantada pelos protagonistas, Mariana (Pilar López de Ayala, falando porteño e mais linda do que nunca) e Martín (o argentino Javier Drolas, ótimo); cantada pelos dois ao mesmo tempo, mas de diferentes lugares. A música é de Daniel Johnston, músico e artista plástico norte-americano, e as imagens do vídeo são do documentário sobre a vida dele, The Devil and Daniel Johnston, não de Medianeras.




Eu não sabia nada de Daniel Johnston, procurei na Wikipedia e achei o seguinte:

Daniel Dale Johnston (born January 22, 1961) is an American singer, songwriter, musician, and artist.

Johnston was the subject of the 2006 documentary The Devil and Daniel Johnston. He currently lives in Waller, Texas.

Johnston has been diagnosed with bipolar disorder, which has been a recurring problem throughout his life.

He began recording Beatles-inspired music in the late 1970s on a $59 Sanyo monaural Boombox, singing and playing piano and chord organ.

Johnston's musical work gained some notoriety when he moved to Austin, Texas. Johnston began to attract the attention of the local press and gain a following augmented in numbers by his habit of handing out tapes to people he met. Live performances were well-attended and hotly anticipated.

In 1988, Johnston visited New York City and recorded 1990 with producer Kramer at his Noise New York studio. It was released in 1990 on Kramer's Shimmy-Disc label. This was Johnston's first experience in a professional recording environment after a decade of releasing home-made cassette recordings. His mental health further deteriorated during the making of 1990.

Interest in Johnston increased when Kurt Cobain was frequently photographed wearing a T-shirt featuring the cover image of Johnston's album Hi, How Are You which music journalist Everett True gave him. In spite of Johnston being resident in a mental hospital at the time, a bidding war to sign him ensued. He refused to sign a multi-album deal with Elektra Records because Metallica was on the label's roster and he was convinced that they were possessed by Satan and would hurt him. He also dropped his manager who brokered the deal, because Johnston believed he too was possessed by Satan. Ultimately he signed with Atlantic Records and released Fun, produced by Paul Leary of Butthole Surfers in 1994.

In 1990, Johnston played at a music festival in Austin, Texas. On the way back to West Virginia on a small, private two-seater plane piloted by his father Bill, Johnston had a hypomanic episode believing he was Casper The Friendly Ghost and removed the key from the planes ignition and threw it out of the plane. His father, a former Air Force pilot, managed to successfully crash-land the plane, even though "there was nothing down there but trees". Although the plane was destroyed, Johnston and his father emerged with only minor injuries. As a result of this episode, Johnston was involuntarily committed to a mental hospital.

In 2004, he released The Late Great Daniel Johnston: Discovered Covered, a two-disc compilation. The first disc featured many artists, such as Tom Waits, Beck, TV on the Radio, Jad Fair, Eels, Bright Eyes, Calvin Johnson, Death Cab for Cutie, Sparklehorse, Mercury Rev and The Flaming Lips covering songs written by Johnston. The second disc featured Johnston's original recordings of the songs.

His artwork is shown in galleries such as in London's Aquarium Gallery and New York's Clementine Gallery, and both in the 2006 and the 2008 Liverpool Biennial. Currently his work is being exhibited as "The Museum of Love" at Verge Gallery in Sacramento, California.

Sunday, September 25, 2011

The Missing Piece, by Shel Silverstein

I used to have a friend ("I used to" because we are no longer in touch) who once, in New York, where we first met, took me to a children's bookstore - Books of Wonder, it still exists. I don't know what I was looking for, but she started getting excited at the view of some books she was very familiar with, books she had grown up reading. And she kept finding them, and commented each and every one to me while putting them in my hands. One was Bridge to Terabithia, another was The Lion, the Witch and the Wardrobe, and then there was this very special one, The Missing Piece, that she adored. I bought them all, five or six books from my friend's childhood. Some years after, I gave the book as a present to my sister. This is a treasure I'm giving to you, I thought, or said (we were a little bit closer than now). And years after that, I sort of regretted not having kept it for myself. Over the time, I found translations of books by Silverstein (The Giving Tree, usually), but not, never, The Missing Piece, which I still don't have. So today I saw a beautiful movie, a love story - I guess it could be said - about missing pieces, and while looking for a song from the film I went over some drawings similar to those in the book. Then I remembered it and found it online. It's an American classic children's book - not especially happy.


Friday, September 23, 2011

Prova de amizade de Julio Cortázar

Faz tempo que queria postar trechos desta carta de Julio Cortázar ao poeta e pintor Eduardo Jonquières, por ser uma das maiores provas de amizade que eu já li/vi - e de agudeza psicológica, e de outwardness, se é que existe essa palavra. (As minhas próprias provas, dadas e recebidas - já fui muitas vezes Eduardo, algumas vezes Julio -, as guardo na memória como um tesouro.) A carta está, junto com outras (oito páginas de cartas; esta ocupa duas, a quatro colunas) na revista Piauí de julho, e a tradução é de Josely Vianna Baptista.  

(Adiciono aqui que não estou postando isto para ninguém. Quando o li, me identifiquei com alguns trechos e senti como o calor de um abraço, foi isso. Se alguém se identifica com algum trecho também, tudo bem. Conheço mais de quatro e mais de cinco pessoas com um quê de Eduardo, isto sim.)


Paris, 27 de agosto de 1955

Meu caro Eduardo:
Ontem fiz 41 anos. Je viens d'avoir 30 ans, dizia Jean, o da estrela, num belo poema do qual deves se, e ele dizia isso com tanta tristeza quanto eu. Quarenta é um número horrível para quem acredita que o mundo é belo, mas alheio, alheio aos meus sentidos que só conhecem uma parte ínfima, à minha inteligência, incapaz de apreendê-lo em suas estruturas mais elementares. (...) Ma foi, tua carta me deixou triste vários dias, e estou quase contente de não tê-la respondido em seguida. Agora eu a vejo - te vejo - com mais perspectiva. Agora consigo ser mais desapiedado, embora não seja piedade, muito pelo contrário, o que tu esperas de mim.
(...)
De tudo o que me conta, de tudo o que confia a mim, o pior é esse sentimento de solidão, de estar isolado entre todos os que o cercam. Conheço um pouco esse sentimento porque fui quase um camarada de juventude e você sabe disso muito bem. Por isso me dói - e como lhe dizer com as palavras certas tudo isto, se a única coisa possível seria olhá-lo nos olhos e dar umas palmadinhas em seu ombro para que você soubesse que seu amigo está perto? -, me dói ver você metido num labirinto tão sutil, tão feito de nadas que são tudos, com paredes que se franqueiam com o corpo mas que nem assim o deixam em liberdade.  E me dói - e me dá raiva, não vou esconder isso, e tenho vontade de gritar que assim você não pode continuar -, me dói ver se agravar o que não foi difícil de suspeitar durante todo o verão passado em Buenos Aires. Naquela época pensei que seu estado físico somava desassossego a sua inquietação moral, mas agora acho que entendo que esta pode mais que qualquer outro fator momentâneo.
(...)
Deixe que eu empregue outra vez o termo "egotista". Não é pejorativo, você sabe. Você tem um interior rico demais para não ser um pouco bumerangue e retornar a si mesmo toda vez que sai para o mundo. Seu egotismo me parece uma barricada, um muro de defesa. Não me parece seu verdadeiro ser, o profundo; insisto em vê-lo como um método de vida, um meio que ameaça tomar o lugar de um fim.
(...)
Você já era "difícil" e, mil vezes, em conversas com Paco - o único amigo em quem eu confiava plenamente, além de você -, nós ríamos lembrando suas reações petulantes, seus acessos de entusiasmo seguidos de depressões brutais que o deixavam arrasado e atormentado. Depois fiquei um longo tempo sem vê-lo, mas foi então que você fez o que correspondia exatamente a seu mecanismo de rebelião: foi para a Europa numa viagem bastante insensata e, ao fazer isso, fez o que Freud chama de "matar a mãe" (matava vários outros, de quebra). Não sei muito bem como você viveu quando voltou, embora imagine que tenha sido uma pequena boemia honorável, viveu sozinho - um dia me mostrou seu ateliê -, mas tudo isso encobria, receio, o começo da derrota, a volta ao rincão natal, o ingresso na ordem. Talvez tenha sido nessa época que teve medo (inconscientemente, sem confessá-lo) de escolher um caminho absoluto, ser um artista, como Van Gogh escolheu ser, ou um poeta, como Vallejo escolheu ser. Tudo reside, creio, no fato de você ter vocação para o que não faz, ou para o que faz insatisfatoriamente (não estou aludindo aos resultados, mas a sua satisfação ao fazê-lo). A única maneira de se realizar teria sido, naquele momento, quando você não era casado nem tinha filhos, fazer a viagem verdadeiramente. Entendo por viagem qualquer roteiro interior ou exterior que o teria levado até o extremo de si mesmo. Porque - e será o melhor elogio já feito a você - você não é homem de termos médios, acomodado. Tem uma espécie de sede de absoluto, que se reflete em toda sua conduta. Sua vida, porém, foi montada sobre uma série de compromissos, e até irrisoriamente você caiu num tipo de trabalho fundamentalmente impuro e cheio de concessões, arranjos e compromissos.
(...)
E por que você se rebela contra a ordem burguesa que aceitou há dez anos? A rebelião aos 15 anos tudo bem; esta rebelião aos 40 dá o que pensar.; tem muito de absurdo, tem muito de cópia irrisória da primeira, da autêntica. Entre as duas há uma derrota, a de seu ingresso numa ordem que você não queria. É aí que você tem de procurar uma solução possível, aí e em seu próprio caráter, alterado por fossos, barricadas e pontes levadiças que não são seu verdadeiro eu.

Vou lhe falar com toda a franqueza: neste verão tive a impressão de que você perdeu um dom que antes tinha, embora nunca em grandes proporções: o da alteridade, o de saber se debruçar e escutar, o de se colocar um pouco no lugar do interlocutor, de seu amigo, de quem estiver com você nesse momento. (...) Achei que você tinha perdido a capacidade para o diálogo, um pouco porque era continuamente rodeado e amavelmente fustigado por seus filhos e por tantos que o acompanhavam; mas mesmo aceitando essa justificativa, insisto em dizer que o achei um pouco rígido, um pouco cristalizado, ansioso por oferecer tudo espiritualmente e ao mesmo tempo negando se negando a fazê-lo, encerrando-se rapidamente na anedota fácil, na conversa anodina, no papo-furado social.
(...)
Há em você um fundo invariável de ternura, de confiança e entusiasmo adolescentes; sei que continua encarando a amizade como um sentimento muito mais exigente que o que pode ter, por exemplo, Jorge. Suas reações bastante frequentes e bastante violentas diante da conduta displicente e desapegada do Jorge me provam isso. Sei também que, se eu morasse em Buenos Aires, já teríamos alcançado o plano que eu esperava encontrar neste verão. (...) Agora penso em você diante das outras pessoas. Que razão fundamental você tem para estar divorciado de sua mulher ou de seus amigos, ou de seus filhos, ou do papa? Que razão pode haver senão esse encastelamento obstinado, essa resistência ferrenha às ofensivas do mundo? Não é necessário resistir ao mundo de hoje, o que é preciso é escolher bem o mundo que se prefere e ao qual é preciso se dar; e a esse, ah, a esse é preciso se dar profundamente, como quando se nada, ou se dorme, ou se ama. E eu temo (me diga se estou enganado, porque tudo isso pode ser falso) que sua velha rebeldia de menino contra sua mãe e suas irmãs está envenenando seu presente sem uma razão legítima.
(...)
As soluções extremas e românticas (a pobreza, a travessia do Atlântico, a renúncia às obrigações sociais), você deve descartar de cara. Se não pode ser Van Gogh, quem o impede de ser como Picasso? Se não pode ser Vallejo, porque não viver como Valéry? Não insista em viajar para Marrakech, como aos 17 anos. A vida já provou que você não foi feito para isso. Em compensação, foi feito para tantas outras coisas igualmente valiosas, igualmente belas! Se você achar que deve tomar algum outro rumo, seja inflexível nisso: ninguém deve impedi-lo. Se entender que precisa de seis horas por dia para pintar, é necessário, absolutamente necessário que as encontre. (...) Só acho que, se você conseguir uma base material de tranquilidade (outro emprego, tempo para o trabalho, certa satisfação diante do espelho quando estiver vivendo como quer e fazendo o que quer), há mais possibilidades de o outro se acertar, de os fantasmas irem embora, de haver paz. Receio que você esteja combatendo no campo errado; tem que procurar os inimigos em outro lugar, a começar por você mesmo. Vou lhe dizer algo muito duro: acho que até agora você brinca de não ter pena de si mesmo (escrevendo, por exemplo, um longuíssimo diário onde você não demonstra ter a menor pena de si mesmo, embora o próprio fato de escrevê-lo mostre de sobra que você tem, e quanta); penso que chegou a hora de você realmente começar a não sentir pena de si mesmo, ou seja, hora de renunciar a esse narcisismo às avessas que consiste em cuspir na água onde seu rosto está refletido. Aceite seu rosto, no dia em que ele for como você o deseja.
(...)
Eduardo, acho que me excedi na mesma tecla, e me pergunto o que você vai pensar desta carta. Claro que vou mandá-la mesmo assim, como uma simples prova de amizade, de um antigo afeto que só vai acabar junto comigo. Eu também me pergunto o que María vai pensar se a ler. Acho que entenderá. Acho que vai me perdoar por me intrometer num espaço tão privado, para o qual, no fundo, não fui chamado por ninguém. Teria sido mais fácil (...).
(...)

Wednesday, September 21, 2011

16 days to go

Tristão e Isolda, Bernart de Ventadorn, Rumi, Petrarca, Dante: feito. (Só não sei se servirá para alguma coisa.)

Coisas que eu posso compartilhar:

Tantos versos, tantas canzones, sonetos e cantos dedicados a elas, e não sabemos como eram os seios de Laura nem os de Beatrice.

Mas Petrarca e Dante nem conheceram elas, o que é que eles iam descrever?


Então, coisas que eu posso compartilhar 2:

Dante e Petrarca não precisaram de nada, nem de um corpo, para se apaixonar. O que diz muito sobre a mente humana.

(Minto: precisaram de um olhar.)

Saturday, September 17, 2011

21 days to go

Hoje eu fui da lenda hindu de Krishna e Radha à lenda árabe de Leila e Majnum.

Coisas que eu posso compartilhar...

O BrOffice é melhor do que o Word.


PS: Assisti com o Sérgio ao show de Marianne Faithfull, no Bourbon Country. Ela encerrou o show com esta música do vídeo, que não sei bem se é uma Irish folk song ou é dos Chieftains. Cantou a capella, como no vídeo. Ao vivo foi de arrepiar.  

Thursday, September 15, 2011

22 days to go

Hoje eu fui de Ovídio a Santo Agostinho.

Coisas que eu posso compartilhar...


"Li" as Confissões em duas (!) horas (adoro Internet) e fiz o seguinte descobrimento. Pero hay cosas que hay que decir en lengua materna: He descubierto el mayor ejemplo de sublimación de la historia universal. Si a Don Quijote de tanto leer se le secó el cerebro, a San Agustín de tanto follar le entró tal arrepentimiento que le explotó el cerebro y con los restos construyó la mayor obra literaria de la Cristiandad.

Para mí se convierte en el Santo Padre de los Neuróticos (mi santo!). Y en la prueba, por si faltaba alguna, de que en los manicomios debe de haber grandes mentes que no pudieron o supieron reencaminar su enfermedad.






















San Agustín, regenerado y confesado, 
pensando todavía en su juventud.

Beginning of the final countdown: 23 days to go

Hoje eu fui de Homero a Safo de Lesbos.

Coisas que eu posso compartilhar...

Um poema de Safo, em brilhante tradução ao inglês (sorry, não sei o autor). (Pena que não vou poder usá-la e que das que encontrei ao português não gostei muito.)

O pema não tem título, só é endereçado "A uma mulher querida". Para ler e reler.


That man seems to me peer of gods,
who sits in thy presence,
and hears close to him
thy sweet speech and lovely laughter;
that indeed makes my heart flutter in my bosom.
For when I see thee but a little
I have no utterance left,
my tongue is broken down,
and straightway a subtle fire has run under my skin.
With my eyes I have no sight,
my ears ring,
sweat bathes me, and a trembling
seizes all my body; I am paler than grass,
and seem in my madness little better than one dead.
But I must dare all, since one so poor...


PS nada a ver: E hoje é o dia do meu santo! Acabei de lembrar porque meus pais ligaram. ... Seria bom comemorar só o dia do santo, em vez do aniversário - mesmo os não crentes. Assim a gente poderia esquecer da idade, e não teria que cantar o "Happy Birthday". Aliás, está na hora de alguém inventar uma outra musiquinha. Essa fica bem para as crianças de menos de 10, mas estou achando cada vez mais esquisito e constrangedor cantá-la em aniversários de pessoas com 60, 70, 80 anos.

Tuesday, September 06, 2011

Medianeras (Buenos Aires na era do amor virtual), de Gustavo Taretto

Não percam. Já está em sessões de pré-estreia no Moinhos e no Bourbon Country, acredito que logo estará em cartaz.

Este é o trailer, mas não é um trailer convencional, mais parece um trecho do filme, ou o início - não sei, ainda não assisti. Um trecho muitíssimo bom. (Melhor ver em tela cheia.)


Sunday, September 04, 2011

Traduções ao português 15 (Transgresiones, de Mario Benedetti)

"Alimentar un gran blog em fa sentir una mica blogger", escreve o Uri, me enviando um link para um vídeo de Loquillo.

Não acho que este seja um grande blog (talvez um dia o foi). Mas aqui vai a música, com a tradução do poema de Benedetti.




Transgressões

Todo mandato é minucioso e cruel
eu gosto das frugais transgressões
Por exemplo inventar o bom amor
aprender nos corpos e em teu corpo
Ouvir a noite e não dizer amém 
traçar cada um o mapa de sua audácia
Ainda que esqueçamos de esquecer
é certo que a lembrança nos esquece
Obedecer às cegas deixa cego
crescemos somente na ousadia
Só quando transgrido alguma ordem
o futuro se torna respirável
Todo mandato é minucioso e cruel
eu gosto das frugais transgressões



PS nada a ver: Corta pero buena: entrevista a Harold Bloom en El País de hoy.