Thursday, March 29, 2012

Show de luz no prédio da prefeitura de Barcelona, fevereiro de 2012

Ontem tomei café com a Camila (não: cerveja) no Chalé da Praça XV. Na praça tinha um show de música, e pela megafonia foi anunciado um show de luz na fachada do mercado, às 20h. Então lembrei do show de luz na fachada da prefeitura de Barcelona, ao que assisti o dia do meu aniversário (depois de um baita almoço e uma baita surpresa que os amigos me deram em casa da querida Roser), em ocasião das Festas de Santa Eulàlia, segunda padroeira da cidade (a primeira é a Mercè). Pensei que talvez este seria igual ao de Barcelona, inclusive poderia ser produzido pela mesma empresa. Não foi: foi bonitinho, mas nada a ver com aquele. Aquele foi espetacular, e se na hora não postei nenhum vídeo foi porque também o achei, vai saber por quê, um pouco brega. O vídeo (de "salchimurri") não produz o mesmo efeito que o show ao vivo, mas dá para se ter uma ideia. A parte que mais me impressionou começa no minuto 7 (e, antes, as explosões de pintura).

Mais tarde vou postar um vídeo que eu fiz, essa mesma tarde, do correfoc infantil. Achei mais lindo que o correfoc de La Mercè, que ocorre em setembro na Via Laietana, porque este passa pelas ruazinhas estreitas e antiquíssimas do Barri Gòtic. Os diabos mais novos, nos disseram, têm apenas 5 anos de idade. E eu quase me queimei, filmei de muito perto.

Saturday, March 24, 2012

Restless, by Gus Van Sant

Gus Van Sant doesn't make bad movies. Por isso achei estranho que no site Rottentomatoes seu novo filme aparecesse com só 36% de críticas positivas, ou seja, como "rotten". Como isso simplesmente não podia ser, procurei a crítica de A. O. Scott, do New York Times. Ela é positiva. Mas ainda mais positiva é a de Richard Brody, na New Yorker.

Não sei se o filme vai estrear ou se já passou pelos cinemas em POA. Lembrei dele hoje, folheando por acaso uma revista bobinha de novembro ou dezembro de 2011, onde era recomendado. Gosto de escrever as "críticas" eu mesmo, mas como não sei se vou poder ver o filme, posto o trailer e a crítica de Brody aqui, para quem tiver a chance de assistir.




"Restless" in Peace and War
Richard Brody, The New Yorker


To summarize Gus Van Sant’s new film, “Restless,” which opens tomorrow (and which David Denby wrote about in the magazine this week), is to invite laughter: Enoch (Henry Hopper), a teen-age boy who is obsessed with death, meets, at one of the many funerals he crashes, Annabel (Mia Wasikowska), a mortally ill girl, and they begin a relationship. Yet the backstory gives the young man a good reason to be death-obsessed—his parents both died in a car accident that also left him momentarily dead, and then in a three-month coma. And though the movie (like so many these days) runs on the emotional tangle and expressive frustration that results from not having gotten therapy at once, Van Sant extracts something wonderful from his somewhat contrived setup. All couples meet by a seeming miracle, and what brings this young pair together is less the way they think about death than the way they live. His real subject is the theatre of daily life—the mask and the costume, the assumed identity—as a formative and defining teen-age experience.

“I’ve always wanted you to admire my suffering” (as Kafka knew) is the fallback position for the adolescent not-quite-alpha male whose powers of invention get channelled instead into an elaborate (or, as Nietzsche might have said, priestly) ritual of abnegation, a theatre of self-denial that aims nonetheless at achieving the usual gratification (unless—and there’s another story—he internalizes his performance and takes its means as its ends: the portrait of the artist as a young dogmatist). Enoch is a type, but realized with a tender specificity. When he talks about death, he’s been there, and declares, with a roughly-earned existential anguish, that what awaits is indeed “nothing,” and the artificial fullness of his experience, or, rather, the filling-up of his existence with artifice, is his response to the void.

Enoch and Annabel share a love of role-play. They have thrift-shop Victorian wardrobes to die for, and their dress-up games and intricately scripted and staged playacting (done for their own pleasure, without spectators—except for Halloween) seem at one with the film’s Portland setting. As photographed by Harris Savides, it seems draped with Gothic vines and yet serene with a soft, enveloping light. Capturing a pair of smart and original kids in an ordinary town (i.e., not in the high-culture pressure cooker of New York or the hip milieu of Hollywood), Van Sant suggests that the unpopulated expanses, the proximity of nature’s sublime otherness, offer them a richer and stranger cauldron of fantasy, a larger and more malleable inner stage for it. He’s after nothing less than the very nature of the American imagination, its source in the land—and its morbid, violent roots.

There’s a strange sidebar to the action, and trouble in paradise—Hiroshi (Ryo Case), the living image of a gentle, ironic Japanese kamikaze pilot from the Second World War whose presence Enoch conjures. (What’s next, a musical twist on the Bataan Death March?) Van Sant’s view of him is startlingly benign and ahistorical (though a brief atomic-bomb montage suggests that, by comparison, he finds the Imperial Army’s suicide fighters unexceptionable); in any case, the boy’s fascination with martial ritual (purged of politics and nationalism) reflects his own struggles with violence and, for that matter, his own methods of auto-therapy.

Whether Hiroshi is Enoch’s imaginary friend or, for that matter, imaginary lover is never clarified; the suggestion is enough. Van Sant’s forthright approach to gender continuity, free-ranging desire, and possible exploration—amplified by the casting and the costuming that give Enoch and Annabel the same short and floppy haircuts and the same slender physiques—is all the more relevant to his vision of malleable identity.

The subject is in the air. Some of the best films of the year to date, such as “The Future,” “Bellflower,” “The Ballad of Genesis and Lady Jaye,” and even “Certified Copy” have confronted it, as does the forthcoming “Silver Bullets,” which I’ll revisit later. (It’s worth adding now that it shares something else with “Restless”: the fascinating presence, in a supporting role, of Jane Adams.)

Tuesday, March 20, 2012

Ficar em albergue é...

Ainda não saí e já estou com saudade do hostel. Como deve ser lindo ter um albergue - pensei hoje - e como deve ser triste. Pessoas queridas, por quem a gente se afeiçoa, logo vão embora e em geral não voltam mais. Depois de um mês, sinto um grande carinho pela Viviana, a Flávia, o Edilson e os outros empregados. O Edilson (um dos dois seguranças que se alternam às noites) me perguntou quanto custa e quanto demoraria em receber pelo correio uma camiseta do Espanyol. Ele sabe que Dátolo, agora no Inter, seu time, jogou no meu, assim como Costa, do Grêmio; sabe que Coutinho, selecionado pelo Brasil para a Olimpíada, está triunfando em Cornellà-El Prat (eu lhe disse que hoje fez mais um golaço).
-Quantas pessoas queridas tu não conheceu aqui, né? - ele vem de me perguntar agora, quando saí à calçada para fumar -. De todo o Brasil e do mundo.
-Muitas, quase todas. Só aquele **** era meio chato - eu disse (a nacionalidade não é difícil de adivinhar; por que tantos **** são assim?).
-Sim, ele era louco.
Senti-me muito querido pelas pessoas que trabalham aqui, que me tratam como se fosse da casa (isso é porque tu é como tu é, pensa bem, disse meu psicólogo); ajudaram-me em tudo, inclusive a procurar apartamento para alugar, e voltarei muitas vezes para vê-los e conversar. A bruschetteria, aberta ao público, começa a funcionar a semana que vem.

Hoje me deixou triste que o Ferras (o australiano, de origem palestina), fosse embora, para o Pantanal. 35 anos, aventureiro, interessado por tudo, bem-humorado, disposto a fazer rir qualquer um - em especial as gurias, comprovei estas últimas noites. Sem ele, por exemplo, o argentino Fernando e eu não teríamos sentado à mesa de três moças lindas e simpáticas, ontem, num restaurante da Cidade Baixa; nos divertido até altas horas. Sem ele, na sexta, Marta, a gaúcha italiana, não teria deixado suas amigas patricinhas no tedioso Dhomba e ido sambar com nós dois. Marta, a da beleza incomparável, "che fa tremar di chiaritate l'are", sambando se soltou ("como eu precisava disto!", disse), deixou de parecer um afresco para se tornar mais bela ainda, e real. Mas nem tudo foi noite e mulheres. Ontem à tarde, ele e o argentino (que hoje foi para Bento Gonçalves dar umas palestras sobre lógica computacional, seja isso o que for) me pediram para ir "naquele lugar onde se vê o pôr-do-sol"; eu voltava de um almoço com a Marinella e pretendia ler e descansar, mas fui passear com eles à beira do rio, antes de voltar para o Gasômetro e sentar na grama. Deu tempo até de jogar um pouco de basquete com um brasileiro que estava na quadra sozinho e - casualidade - morou em Sidney por dois anos e quer voltar lá para ficar. Meu inglês melhorou um monte (ontem fiz de tradutor simultâneo com essas três gurias); minha perna machucada, não - o médico pediu repouso, mas eu não quis perder a chance de fazer uns arremessos, muito menos de sambar. "Você é a gaúcha mais linda que eu já conheci. Não é cantada, é fato".

Todas essas pessoas, também o inglês Richard (sua história não cabe aqui, além de que não terminou, espero acompanhar a continuação, ele fica em POA), ou a Hellen, carioca que mora em Niterói, ou a nova empregada que a Viviana contratou, haitiana (numa janta a Viviana me contou uma parte de sua história, de seu inferno) me deixam seus e-mails e perfis no Facebook. Já andei pensando em voltar para esse mundo de amizades virtuais, para manter o contato, mas não o farei, seria absurdamente pouco em comparação com o vivido no mundinho real.

Wednesday, March 14, 2012

... E segue sendo muuuito bom (ficar em albergue)

Pena que já me restam poucos dias (mas vou para um lugar melhor). Aqui cada dia é festa, cada dia é carnaval. Estou sem tempo para contar as histórias que ouvi, falar nas pessoas que conheci ou estou conhecendo. A última, uma italiana. Bom, ela é gaúcha, mas está há cinco anos na Itália e pretende ficar lá. É de uma beleza inacreditável. (Um dos caras da recepção se cobre o rosto quando ela passa.) Hoje fomos comer pastéis e beber cerveja, com ela e uma amiga, quinta vamos dançar. E mais nada, é só para ser admirada (boa de conversa, também, e boa de risada). Já nem me preocupo com o português do blog, desculpem, está difícil, com todo esse pessoal estrangeiro. Hoje estou no quarto com um argentino e um australiano. O australiano me convidou para uma festa sexta, toca uma dj amiga dele. A festa não para.

Sunday, March 11, 2012

Sempre Espanyol

Hoje é um bom dia para postar estas imagens do 11 de fevereiro, quando, antes de ir almoçar com meus amigos (era o meu aniversário, daí o capacete: o Uri me levou em moto, se não não ia chegar a tempo), fomos ao estádio de Cornellà-El Prat assistir ao jogo do Espanyol contra o Zaragoza. Quis levar o Uri e, sobretudo, meu pai, que não gosta muito de ir porque sempre sofre, e esse dia perdemos, e fiquei triste por meu pai (ainda mais porque o Espanyol ganhou os outros três jogos aos que assisti esses dois meses passados em Barcelona). Hoje é um bom dia porque acabei de assistir, pela internet (às 8h da manhã, meio-dia em Barcelona; as gurias aqui do albergue ficaram surpresas de que acordasse tão cedo :), à vitória por 5-1 contra o Rayo Vallecano, importante depois da derrota da semana passada contra o Real Madrid (5-0). Estamos de novo na luta para jogar na Europa o ano que vem.

Na primeira foto, o Uri e eu diante da estátua recém inaugurada do falecido Dani Jarque, nosso capitão. Na segunda, a camiseta que Iniesta mostrou quando fez o gol que deu o título a Espanha na final da Copa de 2010 (presente de Iniesta ao Espanyol); já escrevi aqui que essa é a memória que guardarei para sempre dessa Copa. Na terceira, uma torcedora.





Friday, March 09, 2012

Felicitats, Ana! (Quatre mesos!)

Post muuuito atrasado, porque nunca carrego comigo o cabo do celular. A foto é do dia 21 de fevereiro (bem, de uns dias antes, porque eu viajei o 16), quando a Ana fez... quatro meses! Tenho um vídeo incrível, onde ela dá muita risada e se despede de mim, o tio do Brasil, haciendo la ola; mas vídeos não pode (la ola é o que se faz nos estádios de futebol, quando o público vai ficando de pé e levantando os braços).






















PS nada a ver (ou alguma coisa a ver, porque a Ana veio a este presente "de mierda pestilente que trepa por nuestros pies"): Meus pais me enviaram este vídeo recente de Luis Pastor, em que ele responde, em verso, à pergunta de onde estão os cantautores espanhóis nestes tempos de crise. Eles estão aqui, nunca se foram.

Thursday, March 08, 2012

Freedom, de Jonathan Franzen. Crítica de Uri Scissorhands

Recebi do Uri uma crítica de Freedom, que ele acabou de ler. Vou postá-la a seguir, traduzida (assim vou recuperando meu português) e editada, porque ele se enrola demais. (Sim, irmão: tu terias gostado de um editor melhor para esse romance, de alguém sem medo de usar a tesoura, e ao mesmo tempo não te dás conta de como tu te enrolas; isto, em espanhol, é "ver la paja en el ojo ajeno y no la viga en el propio".) (Eu fiz uma mini resenha do romance em outubro de 2010; não me pareceu que ao livro lhe sobrasse ou faltasse nada, nem páginas, nem personagens, me encantaram todos eles; achei dez. Mas o Uri toca em pontos importantes em que eu, tão encantado, nem reparei.) O texto a seguir, então é dele. Eu faço comentários entre colchetes.

Finalmente, terminei de ler Freedom, levei dois meses para ler esse tijolão. E para não perder a tradição vou escrever uma breve crítica. Primeiro, direi que o livro é bom, senão nem louco teria dedicado tanto tempo a ler tudo isso. De fato, diria que tem momentos brilhantes, alguns até mais brilhantes do que qualquer coisa que eu tenha lido recentemente (sobretudo no início e nas partes autobiográficas da Patty), mas também direi que, para mim, é longo demais e tem trechos que algum editor bondoso poderia ter cortado ou eliminado sem nenhum prejuízo. O livro é um grande retrato não só social, senão vital/individual das mudanças que uma pessoa pode experimentar ao longo da vida. Acredito que é um dos livros que melhor retratam as evoluções pessoais, essas mudanças que as pessoas vivem e que fazem com que passem de querer ser tudo o contrário de seus pais a terminar entendendo eles, além de muitas outras: sonhos quebrados, idealismos jogados no lixo, situações inesperadas que deixam a gente de cabeça para baixo, coisas que a gente faz e nunca teria acreditado ser capaz de fazer, etc. O melhor é que o romance não só ensina isso: faz com que se entenda, às vezes até com que se sinta, o que é realmente muito bom. Provavelmente, isto é assim porque o romance tem mais de autobiografia do que é reconhecido. As partes autobiográficas são de uma mulher, mas acredito que nelas temos muito do amigo Franzen e de sua vida. Nesse sentido, entendo que o livro tenha se destacado como um dos grandes romances dos últimos anos, porque não me lembro de nenhum outro tão profundo e exaustivo na recriação dessas mudanças (da adolescência da Patty até seus cinquenta e tantos anos, mais ou menos). O problema, o único problema que para mim o livro tem, como digo, é que, se bem é ótimo por tudo isso, seria ainda melhor se o leitor tivesse sido poupado de algumas partes, como essas histórias secundárias dos tios e das tias que, sobretudo no final, aparecem sem ter tido nenhum papel importante na vida dos protagonistas e não contribuem com nada de especial (pior: por momentos aproximam o romance de uma telenovela). Os protagonistas são a Patty (sobretudo ela) e o Walter Berglund, e entendo o papel que têm seus respectivos pais, os filhos e os amigos/amantes. Mas, sinceramente, a família longínqua não somente não aporta nada quanto me importa uma merda.

[Eu, já disse, fiquei empolgado com as vidas de todas as personagens, uma a uma, por serem complexas, interessantes e "reais". Talvez esse foi meu erro e a leitura do Uri foi mais inteligente. Escapou-me algo que agora, lendo sua crítica, entendo como essencial. A liberdade do título, isto é claro, é um conceito negativo, ou usado com ironia, e Franzen é ousado ao tratá-la assim, por ser nos Estados Unidos ("the land of the free") o que há de mais venerado (junto com o dinheiro). Mas as personagens não estão perdidas em suas vidas, à deriva, por serem livres demais, terem excessivas opções entre as quais escolher - ou não só (esse foi um preconceito meu, devido a algo que Franzen disse em alguma entrevista). Elas não são livres devido a certas inter-relações não positivas com pessoas emocionalmente próximas, amadas ou odiadas, ou amadas e odiadas ao mesmo tempo. Simplificando muito: Joey é quem é porque seus pais são quem são (ele tenta ser o oposto deles); Walter parece um homem bem-sucedido, mas no fundo inveja Richard, o ex músico de sucesso reconvertido em construtor de decks; Patty não consegue não se sentir atraída por Richard, um dos melhores amigos de Walter; etc. (btw, Uri: tem mais de Franzen em Walter). Grandes afetos e desafetos vão definindo vidas e as fazem descarrilar - sem importar que algumas das personagens que se influenciam de tal maneira não se encontrem num mesmo espaço por muitos capítulos (esse é um dos méritos de Franzen).]

[Numa palestra sobre o romance à que assisti com a Marinella, o palestrante, não lembro o nome, disse que o maior defeito do romance era a voz de Patty (exatamente aquilo que meu irmão, com bom critério, mais gostou, e que Franzen demorou, segundo disse, mais de sete anos em encontrar). Patty rejeitou o mundo acadêmico e de envolvimento político dos pais, liberais cultos da costa leste, dedicou-se ao basquete desde o colégio e quis casar e ser mãe tão cedo quanto possível; e, portanto, disse o teórico e palestrante (haja paciência para os grandes escritores), "não poderia falar e escrever tão bem, sua voz soa falsa". Lembro que eu, chocado, falei na hora (às vezes preciso superar minha timidez e falar) que Patty odiava seus pais, rebelava-se contra tudo o que eles significavam e o que para eles era importante, mas, por esse movimento de rebeldia ser consciente, seguia falando como a liberal democrata e culta que era e que não poderia nunca deixar de ser.]

Tu vai me dizer, "muito bem, bro", muito bonito, mas aonde tu queres chegar com essa conversa toda? Como tu sabes, não sou homem de palavras gratuitas e faço tudo com uma intenção. E essa não é outra que a de insistir, mais uma vez, em que desenhes um esquema, mesmo que seja mental, do teu romance, para evitar que esse tipo de coisas aconteça. Mesmo que o amigo Franzen escreva bem, houve momentos em que estive tentado de abandonar Freedom por achar que ele estava se enrolando e me enrolando, e se não o fiz foi em parte porque ele recuperava os temas principais antes que eu cansasse e em parte porque, devido às boas críticas, eu lhe dava mais crédito do habitual. Mas isso não sempre será assim. É um pouco o que acontece com alguns diretores de cinema, que, porque sabem filmar, fazem filmes longos demais que acabam virando uma bosta. Por sorte, no cinema existe a figura do montador (nunca suficientemente valorizada), que pega e dá cabo de tudo o que sobra (quando lhe é permitido) e o manda direto para os extras do DVD. O que sobra, tu já sabes, é aquilo que, se eliminado, não muda NADA da obra. Infelizmente, não tenho certeza de se essa figura existe na literatura: é o editor?, deveria ser? [Existia e era o editor, nos tempos dourados da edição literária: o mesmo editor que, hoje, ou já faz muitos anos, nem sequer lê o que publica.] Por isso insisto sempre no mesmo, na importância de ter claro aonde se vai e o que se explica, e de não ficar perdido por ali. Como ontem acabei de ler este romance pensando que se eu tivesse sido o editor teria lhe amputado 150 páginas, e assim não só o teria deixado melhor e feito com que menos pessoas o largassem pela metade, como teria salvado a vida de algumas árvores e, com eles, de alguns desses pássaros cantores tão caros a Walter, pois aproveitei para tocar no assunto. [Obrigado irmão. Por enquanto, tu sabes, feliz ou infelizmente não tenho muito que cortar nesse romance meu. Adoraria ter um baita manuscrito de 600 páginas e umas tesouras, mas não escrevo assim.] [Vai ler O rei pálido. Wallace se enrola pelo prazer do leitor.]

Sunday, March 04, 2012

Ficar em albergue segue sendo muito bom

O HI de POA está bombando, lotou e agora é internacional mesmo. Além de cariocash (Hellen, muito querida), cearenses (Tarso-alguma coisa, nome difícil), paulistanas, etc., agora temos australianas, um francês, um alemão, um croata-porteño e mais. E, tirando que meu inglês está péssimo e meu francês pior (a gente acha que fala tal e tal idioma, porque um dia o/os falou e segue lendo-os, mas na hora de falar de novo vê como, sem prática, apodrecem), tirando isso, tudo é muito engraçado. Ontem ia sair de novo, ir para o Ocidente como sábado passado, quando fui sozinho e conheci a V. (eu, que, na noite, desde os tempos de Dublin, não conheci ninguém, ou ninguém que não fosse amiga ou amiga de amiga, e isso não é conhecer, conhece-se uma desconhecida), mas no fim não saí sozinho, fomos numa turminha. Eu disse "agora temos" porque já sou como da casa, tornei-me amigo até da dona, a Viviana (a mesma que me meteu bronca logo que cheguei, por fumar no quarto), que ontem também saiu, resolveu ir para a noite quando um grupo já havia se formado e me eleito guia e anfitrião (!). A boa é o Ocidente mesmo, pensei (com a V. me rondando a cabeça, mas também porque era um lugar que eles iam gostar); só que ontem era sexta. Imaginem o baita anfitrião, já numa mesinha (chegamos cedo), com a carioca e o cearense dando risada, olhando disfarçadamente para a Viviana: E agora como eu digo para este Je me suis trompé, hoje aqui é GLS!? Mas a noite, terminada no Opinião (que, quando não tem show, é uma chinelagem, como diz o P.), foi bem divertida. E sempre se aprendem coisas. A Viviana, além de dona daqui, é CEO da HI Brasil, esteve em albergues do mundo todo. Segundo ela, o melhor de Baires é o Florida. Sobre o Milhouse, tem a mesma opinião que eu, aliás parece que a rede trata o Milhouse como àquele filho que se perdeu. Um dos melhores que ela conheceu? O de Mendoza, Argentina. Os responsáveis de que na Argentina os quartos coletivos não sejam mais mistos (excetuando o Milhouse, que é uma orgia)?: as brasileiras. Os responsáveis da colocação em todos os quartos de espelhos de corpo inteiro?: as brasileiras, é claro. São só algumas das coisas que a Viviana me contou. Hoje íamos sair numa turma maior; mas a paulista disse que o Beto era uma creche, um cara que trabalha aqui disse que a Balonê, que hoje é no Ocidente, era para playboys, etc. (eu fiquei quieto); e nesse vamos não vamos acabamos ficando, bebendo cerveja e aprendendo coisas sobre the Great Barrier Reef.


PS: Tem esses colegas de quarto e albergue qui viennent et vont, mas as maiores alegrias destes dias vêm dos reencontros com os amigos e amigas gaúchos. E com meu orientador e a coordenadora da FALE. Vou ter que pensar no que escrevo a respeito disto em futuros posts. Que eles gostem tanto de mim como dizem e mostram não deveria mudar minha opinião geral, e atual, sobre a faculdade, acho. ... E agora vou dormir, que amanhã tem futebol com o Leo. Sonhar com a Ana (num próximo post, vai uma foto dela de quatro meses, estou demorando, o "aníver" foi dia 21): Ana, teu tio preferido está no Brasil, que é muito longe, e morre de saudade de ti.