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Opiniões conflitantes sobre o filme que estreou ontem no Brasil. A crítica (norte-)americana gostou muito (críticas especialmente positivas na New Yorker e no NYT). A crítica européia gostou pouco. A crítica espanhola e catalã não gostou. Meu irmão Uri, há um ou dois meses, quando viu o filme, escreveu um e-mail tão cheio de xingamentos (ele geralmente escreve e-mails com xingamentos, mas esse tinha xingamentos demais por linha :) que eu (uma pena, porque estava engraçado) resolvi não reproduzi-lo aqui (e olha que meu irmão tem um Woody Allen em papel machê, de 50 cm, no antigo quarto dele); uma jornalista de El País escreveu um artigo também xingando o diretor (mas essa está meio doidona). A Gabriela, que viu o filme ontem aqui no Brasil e que adora Barcelona, achou o filme muito bom. Enfim, eu respeito todas essas pessoas e opiniões (excetuando a da doidona), então... só assistindo! Por enquanto, há uma opinião unânime (inclusive meu irmão, que não gosta dela, concorda, e isso me deixa feliz, porque faz parte de uma velha briga entre nós): a Penélope arrasa com tudo e com todos. A outra coisa é que eu gosto do cartaz... e então posto o cartaz.
PS: Ah, para os amigos de Barcelona: Segundo a Zero Hora o filme é 4 (de 5) estrelas; segundo a Folha de S. P. é "bom", com altos e baixos.
PS2: Já posso opinar. Tive a sensação de estar vendo um bom filme de um diretor principiante. Ou uma boa história provavelmente escrita às pressas. A segunda parte é melhor. Não achei paixão nas cenas de sexo (só no beijo da Penélope à Scarlett). Algumas frases sobre o amor me pareceram meio bobas. Uma Barcelona mais real e intensa é a de
Todo sobre mi madre (estou comparando só a imagem da cidade, se for comparar os filmes, ai). Achei as dúvidas das personagens, ou talvez a forma de serem expressadas, próprias de pessoas mais novas do que as representadas (se bem que a gente não muda muito, né?). É para ser um filme triste (segundo o diretor) e isso eu só o percebi no final (na cena do aeroporto), não permeia o filme, que às vezes parece não saber bem o que é. É difícil construir uma história verossímil com três atores tão conhecidos? (Eu não consegui deixar de ver
eles.). Por que caralho aparece o Joel Joan?
PS3: O psicólogo Contardo Calligaris viu o filme e gostou, achou-o leve, bem-humorado e, no final, triste. Considera-o "um pequeno tratado do amor paixão", e diz que os espetadores "terão o prazer (ou desprazer) de se reconhecer em algum lugar do leque de experiências amorosas que o filme apresenta - um leque pequeno, mas do qual escapamos pouco".
Com exemplos do filme, ele faz considerações interessantes sobre o amor-paixão.
"1) Os casais que se amam de paixão, cujos parceiros parecem ser feitos um para o outro, em regra, acabam tentando se matar (Juan Antonio e María Elena). É porque, se o outro me completa e vice-versa, o risco é que nenhum de nós sobreviva à nossa união - ao menos, não como ente separado e distinto (...).
2) Por sorte ou não, o amor-paixão é raro. A maioria de nós vive relações menos 'interessantes' e menos fatais - relações em que a gente se preocupa em criar os filhos, decorar a casa, ganhar um dinheiro (Vicky e Doug) (...). Detalhe: nesses casais 'normais', ao menos um dos parceiros vive com a sensação de que sua escolha amorosa é resignada, fruto de um comodismo medroso (...).
3) Os que parecem não idealizar o amor paixão passam o tempo se protegendo contra ele. Deve ser por isto que a normalidade amorosa pode ser insuportavelmente chata: porque ela exige a construção esforçada de defesas contra a paixão (Doug).
4) A paixão não é uma coisa que a gente possa encontrar saindo pelo mundo como um turista da vida (Cristina). Pois não basta esbarrar na paixão; é preciso encará-la quando se apresenta".
"Para mim", escreve Calligaris na Folha, "a mais 'patológica' de todas as personagens do filme é Cristina. Sua aparente abertura para a vida ('Ela não sabia o que queria, mas sabia o que não queria', narra a voz em off) é apenas uma versão 'bonita' e literária de sua 'insatisfação crônica' (diagnosticada por María Elena, com razão). Nisso, Cristina é muito próxima da gente: ela consegue brincar com a paixão, mas sem perder a ilusão da liberdade ou o sonho do que ela poderia encontrar na próxima esquina. Por isso, sua voracidade é a do turista: tira muitas fotos pelo mundo afora, mas será que ela se deixa tocar pela vida?".
PS4: Cristina, em letra de The Smiths:
Sad veiled bride [Vicky], please be happy
Handsome groom, give her room
Loud, loutish lover, treat her kindly
(Although she needs you more than she loves you)
I know it's over
And it never really began
But in my heart it was so real
And you even spoke to me and said:
"If you're so funny
Then why are you on your own tonight?
And if you're so clever
Then why are you on your own tonight?
If you're so very entertaining
Then why are you on your own tonight?
If you're so very good looking
Why do you sleep alone tonight?
I know because tonight is just like any other night
That's why you're on your own tonight
With your triumphs and your charms
While they are in each other's arms"
PS5: Well, I don't want to be a "Cristina", but I want to be a "sad veiled bride" less. That would also explain why there are so many Cristinas.
PS6: Eu adoro quando a Penélope afirma, meio gritando, meio chorando, irritada por ter se dado conta disso tão tarde, nos braços de Juan Antonio e em frente de uma Cristina desconcertada: "Cómolosabíacómolosabíacómolosabía!!". (Certo que foi idéia dela!)