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Eça de Queirós foi quase a minha juventude; Pessoa, mais tarde, a minha quase obsessão. [...] É um "grande". [...] Mas depois de lhe escriturar a grandeza, gostaria de arrumar este problema: em que medida a sua originalidade não é muitíssimas vezes um arranjo curioso de banalidades? Dizer, por exemplo, "os olhos que têm o sono que não tenho" é dizer que se tem sono e se não pode dormir; dizer "se te queres matar, porque te não queres matar" é dizer "se te queres matar, porque não te matas?" [...]. Decerto, a maneira também é conteúdo; mas é um conteúdo em maneira e não em si com o quanto necessário à sua manifestação. E de tal modo isto é maneira, que é extraordinariamente imitável (e imitado) - o que não pode acontecer com uma originalidade de fundo. [...] Aliás, repito, seria interessante um confronto sistemático de Pessoa com Eça, de quem ele disse muito mal e em cujos bolsos meteu às vezes a mão. Por exemplo, é citada até à náusea a frase de Pessoa "a minha pátria é a língua portuguesa". Mas isto está na carta IV do Fradique: "Na língua verdadeiramente reside a nacionalidade". [...] O que é freqüente nele é não dizer nada de novo, excepto no que há de imprevisto e desmultiplicado na maneira de dizer. A ver se arranjo exemplos.
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