Foto de Uri.Meu irmão Oriol levou um exemplar de meu livro (meu e da Raquel) à minha professora de literatura espanhola de segundo grau, Carme. Eu queria muito que ela o tivesse, pois foi quem, junto com os meus pais, despertou em mim o interesse pela literatura. Ele, o Uri, ficou feliz, porque além de falar com ela e com um outro professor também muito querido (professor de filosofia, marido dela), aproveitou a chance para visitar aquele que foi o nosso colégio (que, depois de mais de trinta anos, abandona o prédio da Av. Josep Tarradellas, muda-se para um novo endereço). Ele me escreveu sobre a experiência, disse que o simples cheiro do colégio lhe trouxe um monte de sensações e lembranças - todas boas - que lhe deixaram no rosto "um sorriso estúpido". Rever o Fórum (espaço central do colégio; lugar suficientemente grande para que os estudantes do mesmo ano pudéssemos nos reunir), o corredor ("passadís del silenci", era chamado, porque no corredor não se podia falar, quem era pego falando era levado para a sala de coordenação), as salas de aula, etc. significou para ele uma baita viagem ao passado - feita em um momento especial, porque, como digo, o colégio inteiro se traslada para a outra ponta da cidade; deixa de ser como foi para mim, ele e meus outros irmãos (e muitos de meus melhores amigos).
O Uri aproveitou para tirar a fotografia acima, que pediu que eu postasse no blog. É linda, e muito representativa do colégio. Essa parede é um enorme horário no qual estão representados todos os anos (seis: os alunos entram com 12 e saem com 18 anos), todos os dias da semana, todas as horas, todas as disciplinas, os tipos de classe (teórica, prática, seminário, prova), as salas de aula. Nunca uma semana é igual a outra (e isso tem um valor educativo), os alunos só sabem as aulas que têm na semana em curso (se olham o horário; também é bom não olhar). Não sabem o que têm na outra semana, e assim terça nunca é a mesma terça, quinta pode ser um dia chato, ou o melhor dia da semana...
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Dois dias antes do e-mail e a foto de meu irmão Oriol - coincidência -, recebi, da minha irmã (ou seja, da África) o artigo de um jornal de Barcelona que comemora a criação de um novo parque para a cidade. Só que... esse parque foi uma vez o pátio da nossa escola de primeiro grau. O lindo e antigo prédio da foto era a escola - há dez anos deixou de ser, por perigo de desabamento, mas continua em pé. E esse espaço tão enorme era exclusivo para nós, era o nosso pátio, com figueiras e outras árvores, com chão de terra, com uma quadra de basquete e futebol, onde tínhamos aula de ginástica. Mas, como conta o artigo, talvez o mais interessante fosse o que fica (ficava: agora isso é parque também) fora da foto, às margens direita e inferior: atrás dos muros da escola havia uma pequena floresta urbana, e os alunos pulávamos a barreira para ir brincar de exploradores. A maior aventura era entrar em um túnel escuro, de uns quatro metros de diâmetro, que era ao mesmo tempo riacho e parte da rede de esgoto; nós, meninos, dávamos as mãos às meninas e íamos avançando pelas estreitas passagens laterais, cuidando de não cair na água nojenta; avançávamos até não ver mais a entrada (escuridão quase total), até o túnel se bifurcar em outros, até descobrir amplas salas onde, às vezes, vimos
homens! Os primeiros preservativos que vimos na vida estavam lá, no chão dessa "floresta", assim como as primeiras seringas usadas. E tínhamos medo dos sapos e as cobras, e de velhos solitários que às vezes apareciam do nada. Agora isso é um parque municipal, e, como diz o artigo, o parque infantil (na foto, o espaço com chão de areia) mais parece um jardim de esculturas de um museu de arte moderna.
Minha irmã se indignou. Não gosta da Barcelona
fashion, que, ela diz, acaba com os espaços naturais, ordena e higieniza tudo. Não gosta dos novos arquitetos, que "destroem os espaços de mistério", "fazem de Barcelona uma cidade asséptica, sem segredos"... E compara as crianças da cidade com as crianças que ela vê na Guiné Equatorial, pendurando-se nas árvores, brincando no barro e na água, jogando futebol sob a chuva, "ágeis e integradas com a natureza", "crescendo mais espertas que as crianças catalãs".