Diumenge passat vaig acabar d'escriure el projecte de tesina i, com sempre que acabo alguna feina, treball de la universitat, conte, etc., em vaig voler fer un regal. Vaig anar a la llibreria Saraiva i vaig comprar l'últim llibre de l'escriptor brasiler (de Manaus) Milton Hatoum: A cidade ilhada. Aquest és l'inici (només l'inici) d'un dels millors contes del llibre (és fàcil de llegir, sembla escrit en català).
O ano é 1980: agosto, muito calor em Barcelona. E pencas de turistas barulhentos, como hordas de bárbaros vindos do Norte. Eu procurava um emprego naquele verão de jejuns forçados; ganhar pesetas com traduções era difícil, mas qualquer serviço seria bem-vindo: balconista de uma mercearia de Gracia, garçom no bairro Gótico ou nas tascas do velho porto mediterrâneo. Então o acaso saiu da sombra e o telefone tocou. Uma mulher havia lido um cartaz no Centro de Estudos Brasileiros: ensina-se português do Brasil. Victoria Soller queria aprender português. Fui vê-la no endereço que me deu: um apartamento num palacete modernista, travessa da avenida Diagonal.
Uma mocinha morena, alta e magra abriu a porta: Fique à vontade. O que deseja beber?
Água, respondi timidamente.
A sra. Soller já vem.
Na sala observei quadros de Miró e Antoni Tàpies e uma gravura do século XIX com a figura de Tirant lo Blanc no palco de uma batalha. Uma sala catalã. Daí a poucos minutos a sra. Soller apareceu: da minha altura, só um pouco mais magra que as mulheres de Monet. E mais bonita que as figuras femininas dos pintores impressionistas. Victoria quis saber quem era eu, e de onde era. Um estudante brasileiro, eu disse. Um ex-bolsista de um instituto de Madri. E acrescentei: Um escritor brasileiro inédito, à procura de um emprego.
Já tens um emprego, ela disse. E só porque és brasileiro.
A pátria me salvou neste verão, pensei. Picado de curiosidade, perguntei por que ela queria aprender o português falado no Brasil.
Não quero falar, ela disse com firmeza. Quero ler Machado de Assis.
Corrigi o que havia pensado: o sentimento íntimo do país me salvou a tempo.
E, para impressionar minha futura aluna, eu disse em catalão: Molt bé. E por que a senhora quer ler Machado?
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