Thursday, March 05, 2009

Inici del conte "Encontros na península", de Milton Hatoum

Diumenge passat vaig acabar d'escriure el projecte de tesina i, com sempre que acabo alguna feina, treball de la universitat, conte, etc., em vaig voler fer un regal. Vaig anar a la llibreria Saraiva i vaig comprar l'últim llibre de l'escriptor brasiler (de Manaus) Milton Hatoum: A cidade ilhada. Aquest és l'inici (només l'inici) d'un dels millors contes del llibre (és fàcil de llegir, sembla escrit en català).

O ano é 1980: agosto, muito calor em Barcelona. E pencas de turistas barulhentos, como hordas de bárbaros vindos do Norte. Eu procurava um emprego naquele verão de jejuns forçados; ganhar pesetas com traduções era difícil, mas qualquer serviço seria bem-vindo: balconista de uma mercearia de Gracia, garçom no bairro Gótico ou nas tascas do velho porto mediterrâneo. Então o acaso saiu da sombra e o telefone tocou. Uma mulher havia lido um cartaz no Centro de Estudos Brasileiros: ensina-se português do Brasil. Victoria Soller queria aprender português. Fui vê-la no endereço que me deu: um apartamento num palacete modernista, travessa da avenida Diagonal.

Uma mocinha morena, alta e magra abriu a porta: Fique à vontade. O que deseja beber?

Água, respondi timidamente.

A sra. Soller já vem.

Na sala observei quadros de Miró e Antoni Tàpies e uma gravura do século XIX com a figura de Tirant lo Blanc no palco de uma batalha. Uma sala catalã. Daí a poucos minutos a sra. Soller apareceu: da minha altura, só um pouco mais magra que as mulheres de Monet. E mais bonita que as figuras femininas dos pintores impressionistas. Victoria quis saber quem era eu, e de onde era. Um estudante brasileiro, eu disse. Um ex-bolsista de um instituto de Madri. E acrescentei: Um escritor brasileiro inédito, à procura de um emprego.

Já tens um emprego, ela disse. E só porque és brasileiro.

A pátria me salvou neste verão, pensei. Picado de curiosidade, perguntei por que ela queria aprender o português falado no Brasil.

Não quero falar, ela disse com firmeza. Quero ler Machado de Assis.

Corrigi o que havia pensado: o sentimento íntimo do país me salvou a tempo.

E, para impressionar minha futura aluna, eu disse em catalão: Molt bé. E por que a senhora quer ler Machado?

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