Here you'll find comments and stories about my stay in Brazil; translations of Brazilian songs, poems, short stories and pieces of news; photographs. Also, some film and book reviews. In Spanish, Catalan, Portuguese and English.
Friday, April 25, 2008
O barulho
O barulho da cadela acorda Elvira, que olha, aos pés da cama, a hora no relógio azul do som. São 03h00. Vira-se para a irmã, que continua a dormir, com a cara para o lado da parede. Respira fundo. Puxa levemente o lençol, aparece o ombro desnudo e fino, mas a irmã não se mexe. Elvira suspira. Olha para o teto, meio desmanchado. E volta a fechar os olhos, apertando as pálpebras.
A cadela late de novo e Elvira, murmurando um palavrão, ergue-se na cama. Sem acender a luz, de pés descalços, sai ao corredor. Ouve os roncos do irmão mais velho, deitado no sofá, e misturando-se a eles, atravessando a sala, a respiração forte e entrecortada da mãe. Eles e todos os outros dormem, alheios aos latidos da cadela.
Elvira sobe as escadas até a porta de entrada da casa. Encontrando-a aberta, abana a cabeça. Sob o céu, anda com cuidado para não escorregar no chão, gasto pela ação da chuva. Avança até a grade de ferro. Sonolenta e com o cabelo revolto, os cachos a dificultar-lhe a visão, demora em encaixar a chave na fechadura.
Sobe à laje olhando para os degraus e tateando as paredes. Lá em cima, acha os dois cachorros velhos deitados. Um deles entreabre os olhos quando Elvira aparece. O segundo rosna, fica quieto. A cadela, em pé, com as patas sobre a beirada, pára de latir e começa a pular de um lado para o outro, enlouquecida. No final, vai encostar na menina. "Ai, Preta".
Elvira observa os olhos da cadela. Aquele que não existe mais, cujas pálpebras têm sido costuradas uma à outra, e o outro, velado por uma película cinzenta. Preta tem o corpo cheio de ferimentos, mordidas, chagas. Elvira faz-lhe um afago e a desamarra, e ela some atropeladamente pela escada, rumo à rua. Os outros dois erguem as orelhas e viram-se para a menina, em sinal de protesto, mas ela os manda dormir de novo.
Ainda de cócoras, com as mãos sobre as coxas, Elvira repara nos dois tanques de água, vazios, secos, e em seguida desvia a vista para os três baldes ao lado. Morde os lábios. Pensativa, olha para o chão de concreto, embranquecido pelo luar, e logo para o céu, através dos varais nus. Levanta-se e vai devagar até os baldes, pega os três em uma mão. Olha ao redor, onde as luzes de algumas casas ainda estão acesas. E fala, em tom neutro e conformado: “Mas que merda”.
Refaz o caminho e deixa os baldes ao pé da porta de entrada, junto à pilha de roupas sujas e os sapatos. Anda silenciosamente até a cozinha, pega uma banana do cacho sobre o balcão e come, atenta à respiração da mãe. Bebe um resto de suco de umbu direto do jarro. Volta para o quarto com a irmã. Deita-se ao seu lado, de barriga para cima. Olha sem querer as horas no som. Dá uma mexida nos cabelos, esfregando os dedos na raiz. Fecha os olhos e fica imóvel. Não há mais latidos. Só barulhos distantes, alguns reconhecíveis, outros não.
O Mãe de Deus
- Eu estava tão bem! O atendimento é tão bom... que eu não queria sair de lá!
E eu falei:
- Eu também não!
E ela:
- Sério! Eu estou falando sério!
E eu:
- Eu também! Eu adorei estar no Mãe de Deus! Quando já estava curado queria ainda ficar lá!
E Ana:
- Pois é, é muuuito legal. Eu pedia: Mais uma semaninha, por favor?
Sério: as pessoas que trabalham nesse hospital são uma maravilha.
Só tenho boas lembranças...
Ainda às vezes quero ir lá almoçar, para lembrar. Dá para acreditar nisso, de um hospital?
É claro que foi muito importante, muito mais importante, eu estar acompanhado por quem eu estava acompanhado, mas essa é outra história. E essas pessoas, que sem dúvida sofreram mais do que eu, acho que não pensariam a mesma coisa...
Thursday, April 24, 2008
Na rua
Agora à noite eu ia andando rápido pela rua da Praia, com uma sacola com livros numa mão e uma pasta na outra, quando, na esquina com a Borges (a chamada "esquina democrática", se não estou errado), apareceu à minha esquerda uma guria, andando muito rápido também. Fiz uma paradinha, ela passou, e eu fui presenteado com um sorriso que... bem, não sei dizer. É tão bom, um sorriso assim, de uma desconhecida!
PS: Não longe da Casa de Cultura, na mesma rua, vi pessoas com notebooks em mesas colocadas na calçada (muitas mesas onde antes não havia). Porto Alegre está mudando!
PS2: Voltando ao tema do post, lembrei da música que cantou o Ney Matogrosso: Pra viver e pra ver / Não é preciso muito / Atenção, a lição / Está em cada gesto / Tá no mar, tá no ar / No brilho dos seus olhos / Eu não quero tudo de uma vez / Eu só tenho um simples desejo.
PS3: E a Rose me mandou este comentário, que ela não deixou aqui, mas que acho que não vai se importar com que eu copie, porque é lindo:
PS da Rose: Recebi um sorriso de uma desconhecida ontem, enquanto almoçava. Era uma garota que aparentava ter problemas mentais, e foi tão legal quando ela sorriu pra mim (eu estava almoçando sozinha mas daí, depois desse sorriso, me senti acompanhada).
Monday, April 21, 2008
Carnaval 2008: Recebi agorinha estas lindas fotos
Joilson diz: O bicho pegou no Crocodilo!
Daniela Mercury disse: "No meu bloco pode tudo!"
Mariene de Castro disse: "Vamos dançar? Ou vocês sempre pensam naquilo?"
Saturday, April 19, 2008
Crisis? What crisis?
(Nunca visto antes.)
PS: E este, quase sem palavras, é meu post n° 300.
PS2: Obrigado à Cris do cibercafé pelo escaneio artístico.
Friday, April 18, 2008
Meu pai
Eu geralmente não posto fotos minhas, ou de familiares, amigos e tal, mas não podia não postar esta, tão bo-ni-ta, tão bo-ni-to. Parece o Japão, né? É o Valle del Jerte, Extremadura, Spain.
Ele escreveu: "L'endemà vam anar a parar a la vall del costat, el 'Valle del Jerte', que és una vall no gaire ampla i que està plena de cirerers (un milió) que en aquest moment estaven tots florits i era preciós". Um milhão (!) de cerejeiras em flor.
O ritmo da chuva
Que você fez com a minha fantasia de gorila?
Que você fez com a minha fantasia de gorila?
Thursday, April 17, 2008
Juliana ri
Juliana desce e ele vai atrás, câmera na mão. Está praticamente sozinha no trecho final. É a última descida. E está tão feliz! Porque não faz mais “o pêndulo”, como no início. Agora está indo reto, desce reto, deixando a prancha correr antes de virar. Com os braços abertos em cruz, para manter o equilíbrio, vira à direita, varrendo a neve, e vai, vai, se afastando dele. Não olha para trás, só dá rápidas espiadas em frente – hihihi –, a cabeça escondidinha no colarinho do anoraque; há um instante passaram por ela duas crianças que nem raios, de capacete, cabeções; já ouve só seus gritos. Ainda não ergue a cabeça, olha a neve deslizar sob seus pés. Ela nunca tinha estado na neve. Agora está adorando. Deslizar não é um obstáculo, não. Olha para baixo, sorrindo, vê os flocos de neve brilhar, cor de laranja. Neve cálida! Lembra que está sendo filmada e segue em frente, não vai parar; quer se aprimorar, mas logo esquece. Escuta o som suave e rasgado da neve, que a corteja, docemente. E o vento que embrulha o anoraque. Seu anoraque vermelho, tão bonito. Nunca se sentiu tão leve assim. Sorri; desliza e vai abrindo o sorriso. Não pára. Aproxima-se muito dos abetos, sente o coração acelerar. Vira, vira à esquerda, olhando a prancha, vê se obedece! Vê passar um pedaço de azul de anoraque. O anoraque dele. Se sente linda, linda. E sorri tanto porque é a primeira vez. E está se dando bem. Tu-do tão na-tu-ral. Certamente ele está olhando, e ainda gravando – bobo! –: ela não vai olhar. Vira de novo, e escapa, mais uma vez não pára. Não quer, não quer parar. Ela nunca viu a neve, nem se sentiu deslizar. Fraquejam-lhe as pernas, está chegando abaixo, agora é que vai se jogar. Ele passa reto, trava a prancha, perto, perto. Ah, ela não pode mais! Cai de costas na neve, protegida no anoraque. Nunca foi tão linda – sabe, sente – como embaixo desse céu, sobre essa neve. “Pára!”, grita; porque não quer ser filmada, porque somente ela sabe, porque isso que ela sente não vai aparecer. Ouve sua própria gargalhada; seu peito que se abre, que dói. Vira a cabeça para o sol, sente frio na orelha. A bola vermelha vazando nas telhas de ardósia – o refúgio. Lembra o sabor do chocolate, tão quente, tão bom. Tudo tão bom, agora. Olha de novo para cima. As pontas verde-azuis dos abetos. O céu claro e sem nuvens. Alguns fios de cabelo. E essa cara de bobalhão!
Tuesday, April 15, 2008
Da Folha para vocês 6 (Crack no Rio, de Elio Gaspari)
El motivo es triste y simple: quien empieza a tomar crack difícilmente lo deja, y quien no lo deja muere.
La droga puede llegar a la clase media, pero en pocos meses el adicto cambia de clase, ya que, a diferencia de la cocaína y la marihuana, el crack incapacita a la persona para cualquier otra cosa que no sea tomar crack.
El temps
Monday, April 14, 2008
No elevador
Sunday, April 13, 2008
Dos mesos després, a Itàlia...
Gràcies Rudy, Gràcies Penya!!!
Felicitats al papa, a l'Uri, al Jorge, a tota la ciutat de Badalona, a tothom a qui li agrada el bàsquet.
Visca la Penya, i Visca Badalona!!!!!!!!
(No és un post repetit, és que ara la Penya guanya sempre :)
Show Inclassificáveis
Simples desejo (de Luciana Mello)
Que tal abrir a porta do dia-a-dia
Entrar sem pedir licença
Sem parar pra pensar,
Pensar em nada...
Legal ficar sorrindo à toa, toa
Sorrir pra qualquer pessoa
Andar sem rumo na rua
Pra viver e pra ver
Não é preciso muito
Atenção, a lição
Está em cada gesto
Tá no mar, tá no ar
No brilho dos seus olhos
Eu não quero tudo de uma vez
Eu só tenho um simples desejo
Hoje eu só quero que o dia termine bem
Hoje eu só quero que o dia termine muito bem
Thursday, April 10, 2008
O que aconteceu com Baleia?
Baleia virou assunto de documentário. Nenhum exemplar sobreviveu à última guerra. Houve quem culpasse exclusivamente aos japoneses, que teriam dizimado a população enchendo-se a comer filés de cetáceo em suas cadeias de fast-food. Porém, historiadores conceituados acreditam que os exemplares sobreviventes teriam bastado para repovoar o planeta, não tivesse sido pelos mísseis subaquáticos que durante o conflito cruzaram os mares dos cinco continentes. Golfinho também desapareceu, virou assunto de livro de biologia. E nem pôde dar tchau a Baleia, pois seu extermínio foi anterior. Nesse caso não há acordo entre a comunidade científica, estando norte-americanos e chineses ainda divididos quanto à responsabilidade dos hábitos alimentares nipônicos e, portanto, às medidas a adotar.
Wednesday, April 09, 2008
Haicai
Furu ike ya
Kawazu tobikomu
Mizo no oto
Tá, estou brincando (ou então esse só vai entendê-lo a Cristina; e o Yuji, claro).
Deitado
Vejo passarem as núvens
Quarto de verão
(Yaha)
O vento do inverno sopra
Os olhos dos gatos
Piscam
(Bashô)
O riacho de verão
Passado a pé que felicidade
Tamancos na mão
(Buson)
Para o Ronaldo, que gosta de olhar as estrelas:
As flores de verbena branca
Também em plena noite
A via láctea
(Gonsui)
Um haicai moderno:
Empregados de banco de manhã
Fosforescentes
Como moluscos
(Kaneko Tôta)
Portinha de treliça
Flores num vaso
Cabana da paz
(?)
Para quem gosta de andar descalço:
Frescor
Na parede a planta de meus pés nus
Sesta
(Bashô)
Estação das chuvas. Olhamos a chuva
Eu e atrás de mim, de pé,
Minha mulher
(Rinka)
Chego pela senda da montanha
Ah! Isto é lindo
Uma violeta
(Bashô)
Em meu copo de saquê
Nada uma pulga
Absolutamente
(Issa)
"Isto, Isto"
Foi tudo o que pude dizer
Diante das flores do monte Yoshino
(Teishitsu)
Tuesday, April 08, 2008
Wednesday, April 02, 2008
Cancer (a poem)
How many members of how many families
That didn't speak to each other or look at each other's face
Has that only illness had the power
To reconcile, in all the world, all these years?
Tuesday, April 01, 2008
Adriana (a poem)
Adriana went to the market
Went to the bank
Went to the library
And went to the store
And by the end of the day
She had four lines of poetry
That she gave to her creative writing teacher
With whom she was in love