Wednesday, October 10, 2007

E só

Segundo exercício do curso de criação literária da Faculdade de Letras da PUCRS. (Conto falho, não sei se vou apresentá-lo.) Estrutura in media res expandida.


-E o que tu faz durante o dia?
-Tomo café e leio jornais.
-Tomas café e lês jornais?
-Ahã.
-E...?
-Só. Vou à internet, vejo os e-mails, escrevo um, dois. Depois saio de novo. Tomo um café, continuo a ler o jornal.

Gostava da cidade. Às vezes, sentia-se sozinho. Mas nunca havia preocupado-se muito com a solidão. Na verdade, costumava procurá-la. Se isso era o que realmente queria, ele não sabia. Em geral, achava que lhe fazia bem.

-Não vai ao cinema?
-Pouco. É que não tem filmes bons.
-Pois é né? Tem poucos. Mas há cinemas em que passam.
-Sim. Sei. Mas não é sempre. É raro poder ver um filme bom.

Gostava de ir ao cinema. Quando um filme muito esperado estreava, não demorava em ir. Quase sempre sozinho. Se era verdadeiramente bom, não gostava de falar na saída, desejava passear. Se era ruim, também não gostava de comentar e ouvir comentários.

-Tem muitos eventos culturais.
-Tem. Já passeei várias tardes pelos museus e os armazéns do cais. Tem muita coisa acontecendo na cidade. É.
-Teatro...
-Ao teatro não fui. Enfim, ultimamente não tenho ido.

Júlia gostava de ir ao teatro. Mas essa atividade requeria previsão, e ele não gostava de prever. Preferia passear à toa e, de repente, se queria, entrar num determinado lugar.

-Mais alguma coisa que tu faça?
-Não. Sim. Correr. Corro pela beira do rio. Quando tenho força. É quando escrevo melhor.
-...?
-É quando as idéias vêm. Eu tento retê-las. E só assim que consigo escrever. Esse conto o escrevi enquanto corria. Acabei-o no ônibus, escrevendo sobre a capa do jornal.

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