Tuesday, June 30, 2009

Um irmão em busca de si, parte 3

Lo que más lamento es no haber escrito diarios de mis viajes. Nunca pensé tanto, nunca viví tanto, existí tanto, fui tanto yo mismo, si se puede decir así, como en esos viajes que hice solo y a pie. Ir a pie tiene algo que anima y aviva las ideas. Casi no puedo pensar cuando estoy inmóvil. Es necesario que mi cuerpo se mueva para que mi espíritu lo haga. La vista del campo, la sucesión de aspectos agradables, el aire libre, el gran apetito, la buena salud que adquiero al caminar, la libertad de los albergues, el alejamiento de todo lo que me hace sentir dependiente, de todo lo que me recuerda mi situación, todo eso me desembaraza el alma, me da una mayor audacia de pensar, me pone de un cierto modo dentro de la inmensidad de los seres para combinarlos, escogerlos, apropiarme de ellos a mi voluntad, sin incomodidades y sin recelos. Dispongo, como señor, de la naturaleza entera. Mi corazón, errando de cosa en cosa, se une, se identifica con lo que le agrada, se envuelve de imágenes encantadoras, se embriaga con sentimientos deliciosos.


Uri ya debe de estar llegando a Santiago pero no ha vuelto a escribir. Tal vez tenga llagas también en las manos, de tanto masajear piernas peregrinas. O a lo mejor está tan iluminado, después de tantos días de camino, que no puede expresarse con palabras (el viaje, al fin y al cabo, él lo dijo, es interior). Así que, para continuar la serie de posts sobre la búsqueda de sí, aprovecho para compartir otro fragmento de Rousseau, que escribe mejor que mi hermano (Confissões, Livro quarto). Esta vez en castellano.

Sunday, June 28, 2009

Monday, June 22, 2009

Pacote cultural

Quinta-feira fui trocar o livro Suicídios Exemplares, do escritor espanhol Enrique Vila-Matas. O comprei porque saiu agora no Brasil e porque achei que era da época de antes dele virar chato. Mas bastou ler um dos contos para ver que não, que então ele era chato. E o troquei. (Vila-Matas, não me enganas mais.) (Nota: Há quem possa gostar dele, não é que ele seja um escritor ruim.)




O troquei pela HQ O chinês americano, de Gene Luen Yang, indicado ao National Book Award americano. Muito bom. Não é como esses comics autobiográficos sobre problemas pessoais do autor. É isso, e muito mais, porque à história da adaptação de um garoto chinês a um colégio norte-americano se mistura uma antiga lenda chinesa, a do Rei Mono, maravilhosamente contada e ilustrada (dá para ver o Rei Mono, sob uma montanha de pedras, de braços esticados, no fundo amarelo da capa). Com ambas histórias, entrelaçando-as, o autor faz uma reflexão bem pé no chão sobre a aceitação da identidade individual. Os desenhos e as cores, em cada página, são um prazer.




Esse mesmo dia, de tarde, fui com a Anna à Fnac. Chegou a Fnac a Porto Alegre, e me senti como se estivesse na Illa Diagonal, em Barcelona, foi esquisito. Lá só comprei a New Yorker e a Esquire. Por que comprei a Esquire? Não sei. Bom, a comprei porque tinha um conto de Stephen King, com uma chamada muito atraente na capa: as primeiras linhas do conto pintadas no corpo de uma modelo brasileira. E porque Stephen King tem prestígio nos Estados Unidos (não na Europa, onde é considerado um escritor de best-sellers). O conto não é nada demais, mas tudo bem, valeu a pena lê-lo. Mas a revista? Quero criticar aqui essas revistas para homens. Para que tipo de homens são? E se a Esquire é a melhor de todas elas... nossa, eu quero descer. Parece uma revista escrita por crianças para crianças. Por babacas para babacas. Com textos de meia página supostamente engraçados sobre os temas mais banais (tipo, a cor das meias). Fiquei indignado. Desfiz a revista: guardei só o conto e uma reportagem sobre um menino narcotraficante e assassino na fronteira USA-México.




A New Yorker está ótima, como sempre. O número é de meados do mês de abril, e estamos quase em julho, e isso chateia um pouco, mas as reportagens não têm data de vencimento. Li uma dedicada ao uso de estimulantes pelos estudantes das melhores universidades. Não são estimulantes tradicionais. São medicamentos geralmente receitados a pessoas com doenças como o déficit de atenção, ou o Alzheimer, que circulam pelos campi como antes circulava a cocaína. São, em inglês, neurohenancers, potenciadores neuronais. E quem os toma pode ficar a noite inteira escrevendo papers. Em algumas faculdades, 25% dos estudantes estão dopados. E isso levanta questões, é claro: os outros estudantes, por exemplo, acham o uso desses medicamentos pelos colegas injusto. Mas parece que os expertos não são muito contra, e alguns dizem que, assim como foi aceita a cirurgia estética, será aceita esta "cirurgia neuronal". Interessante, mas eu não quero problemas, fico com o café (que é um neuroenhancer, também).

Tuesday, June 16, 2009

Um irmão em busca de si, parte 2

Coisas que o meu irmão Uri, que está fazendo o Camino de Santiago, escreveu em seu último e-mail:


- A luz é o caminho e o apóstolo meu destino.

- Eu sou o irmão peregrino, mas em verdade vos digo que isto não é mais do que uma redundância, pois não é que somos todos peregrinos, nesta vida?

- Estivemos em Burgos, em cuja plaza mayor parece ter caído uma bomba atômica. Está se repetindo o seguinte padrão: paisagem maravilhosa - cidadezinha horrível.

- Não vou dar nenhuma explicação das revelações extraordinárias que eu tenho, pois o caminho é interior e é difícil explicar esse tipo de coisas.

- Caminhamos 20 kilometros de noite, com chuva, na companhia de três peregrinos, bebendo cerveja, muy chulo.

- Cada dia que passa cresce a minha determinação de não voltar jamais ao mundo da publicidade.

- Hoje é o dia em que me ordenam templário, desde agora serei um cavalheiro e levarei a cruz.

- Enquanto passeio pelas bonitas paisagens que este país desconhecido me oferece, rezo cada dia por vocês.

- 20 minutos de internet custam um euro peregrino.

- O Camino não tem preço.

- Quanto a meus progressos espirituais (é isso, e não outra coisa, o que está escrito em meu passaporte peregrino: "motivos espirituais"), vão indo. Os primeiros dias, meu cérebro era um torrente de revelações tão grande que achei que não ia ser capaz de assimilar tudo. Mas as coisas estão entrando em seu ritmo e agora as revelações são mais pausadas.

- Tenho sonhos perturbadores (três por noite).

- Como pode o ressonar humano ser mais forte do que o rugido dos animais?

- Uri 1 - Bolhas 0. O segredo é a vaselina. (Foto acima.)

- Agora vem a parte mais dura do Camino, o páramo castellano: etapas planas, retas, tediosas, à beira da estrada, através de polígonos industriais, sob um sol de 40 graus. Etapas em que o peregrino se questiona sobre o sentido da vida ou as perversões sexuais das baleias.

- Meu amigo peregrino só fala: "Podia ser pior".

- Amai-vos e amai os vossos irmãos.

- O Quixote é uma obra-prima. Diminui tudo o que eu já li.


PS: "Só viajei a pé nos meus dias felizes, e sempre com delícias." (Confissões, Rousseau)

Sunday, June 14, 2009

"Qual é o seu nome?" Ao que ele respondeu: "Meu nome é Legião, porque somos muitos."

Adoro trabalhar neste cibercafé. O melhor computador fica reservado para mim. Os cafés, para mim são de graça. A música é quase sempre Legião, canções que, de tão escutadas, ouço sem escutar, não me atrapalham, são como afagos passados.

Friday, June 12, 2009

Y hoy es el día de los enamorados!

En Brasil! Y J. Simão dice: Habrá overbooking en los moteles! Que amor empieza en motel y termina en pensión! Y sabes cómo hacer que tu novia siga gritando después del coito? Límpiate la picha en la cortina! Hahaha! Y una amiga me dijo que su primer novio fue un pastor. Un pastor alemán. Hahaha! Y hay otra que quiere pasar el Día de los Enamorados en estado de coma. Que venga alguien y me COMA, por el amor de Dios! Y otra que quiere tener orgasmos múltiples CON ECO. Para que todo el edificio se entere de que tiene novio! Si no no tiene gracia! Y el mejor novio del mundo es el manco. Porque cuando te da la patada el que se cae es él. Y sabes qué le dice el manco a la manca? Ponte de tres patas! Hahaha! Y la recomendación de cada año: si tu novio te traiciona no te tires por la ventana! Tienes cuernos y no alas! Y sabes cuándo la pareja se va al garete? Cuando te comes más sapos que conejos! Es flojo? Es flojo pero agita que verás lo que sucede! Y aquí en São Paulo hay una boate perfecta para el Día de los Enamorados llamada BAKANAL! Perfecto para un momento romántico a dos. Dos en cada lado. Dos por minuto. Hahaha! Sufrimos, pero gozamos!

PS do Roger: E eu vou fazer uma tortilla de patatas para a minhaNNamorada!!!!

Tuesday, June 09, 2009

Andreia Dias

<a href="http://scubidu.bandcamp.com/album/andreia-dias-vol-1">Asas by Scubidu Records</a>

Thursday, June 04, 2009

Um irmão em busca de si



Meu irmão Oriol partiu para uma viagem diferente da minha. Foi fazer o Camino de Santiago. Tem muita gente no Brasil interessada em ir a Espanha para fazer esse caminho (em vez de, sei lá, visitar Barcelona, Madri, ou Al-Andalus; ou de ir até o Cusco, que fica mais perto, e fazer o caminho do Inca), então, enquanto espero alguma das crônicas que ele disse que ia mandar, vou comentar um pouco sobre sua partida.

Meu irmão é um maldito ateu, ou seja, não esta cumprindo nenhuma penitência. Não é um peregrino, como ele me disse no último e-mail. Também não é um hippy, longe disso. Então, o que ele foi fazer? O que o levou a querer caminhar durante um mês e meio, até os pés ficar cheios de bolhas, calos e sangue? (Nota: Meus pais são mais inteligentes. Uma vez por ano, vão de carro até um ponto do caminho; caminham por cinco dias; voltam a Barcelona, e até o ano que vem. Fazem o caminho por trechos. E tem mais: um cara da turma que não caminha faz o roteiro do dia de carro, carregando as malas dos outros, comida, etc. E isto eu não deveria dizer, mas... acho que dormem em hotéis! Como a Igreja Católica aceita qualquer coisa, eles têm seus documentos carimbados igualmente...)

O Oriol escreveu aquele verso: "Caminante no hay camino, se hace camino al andar", mas isso serve mais para a minha viagem (a escrita de um romance) do que para entender a sua. E, também: "El camino está en el corazón de quien lo hace", que é uma cafonice que nem dá para entender. Mas ele já me avisou: "Muito tem se escrito sobre os caminhos e a vida, e não é a minha intenção me pôr a fazer frases".

Diz que é um desafio pessoal e espiritual... "bastante espetacular para minha humilde natureza". (Eu acho que é mais uma espécie de procrastinação enfeitada, mas não vou dizer isso.)

O que ele busca? "Paz, amor e fé." (Podia ter voltado a Salvador de Bahia.) Fé não católica, ele acrescenta (já disse: maldito ateu!). Quer, também, "carregar as baterias" para enfrentar uma nova etapa vital "mais ativa e produtiva sobretudo pelo que diz respeito à arte cinematográfica, e menos pelo que diz respeito à publicidade". (Ainda bem que ele não escreveu "a arte da"; mesmo assim, eu fiquei puto, porque nessa frase está implícito um não abandono total dessa atividade que, em meu entender, poderia ser extirpada da face da terra e ninguém sentiria sua falta; o cinema, entretanto, está precisando urgentemente de pessoas que o tirem do fundo do poço.)

Ele procura, também (mas acho que ele diz isso de cara a la galería, isto é, para que as pessoas vejam), "um rencontro com um estilo de vida mais simples e natural", que o leve "longe do doente mundo ocidental" e perto de "coisas tão básicas quanto dormir com sono, comer com fome, descansar por cansaço, e sentir o trino dos pássaros ao amanhecer".

Não sabe o que vai encontrar, mas acredita que vai encontrar alguma coisa, pois escreve, cheio de mistério: "Todo o mundo que fez o caminho me disse que encontrou coisas".

Eu não sei o que ele vai encontrar, mas lhe adverti por telefone que dois preservativos era pouco. Respondeu que a aventura era espiritual, e que de qualquer jeito no caminho havia farmácias...

Não vai sozinho, vai com seu amigo Gerard, "e com todos aqueles irmãos que o destino ponha em paralelo aos meus passos, que tenham vontade de bater um papo e esquecer as dores do corpo (se são irmãs e lindas, muito melhor)" (ele que disse).

Prometeu à minha avó que não ia virar padre.

Disse que ver que tudo aquilo do que ia precisar cabia em uma mochila de 9 kilos lhe fez pensar.

Jurou aos irmãos (aos irmãos de sangue) que não tinha enlouquecido.

E, por último, me disse ao telefone que, como leitura, levava o Quixote. Eu lhe disse que melhor do que isso só os sete volumes de Proust, e ele me mandou calar a boca, me contou sua estratégia: não ia carregar o tijolão o tempo todo: ia ler e arrancar as páginas lidas. Eu só posso me curvar ante idéia tão engenhosa.

Vou pensar em uma recompensa para ti, irmão, se daqui a 45 dias chegas inteiro a Santiago.