Monday, December 27, 2010

Nadal 2010

Algumas fotos destes dias.



Primeiro, a minha preferida (as restantes estão em ordem cronológica).
Minha querida prima Anna e a Aina e a Jana se abraçando. A Aina
é filha da Anna e o Jordi, que também têm a Martina, e a Jana (à direita)
é filha de meu querido primo Joan e a Alba. A Anna e o Joan são irmãos,
então é um abraço entre primas. Foram a alegria destes dias,
as crianças.



Meu irmão Oriol e minha irmã Rose (ela prefere "Rous") fazendo
uma canja, no fim da noite do 24, em casa, Barcelona. (O Uri está fingindo,
não toca violão.)



Parte do almoço do dia 25, prato típico catalão para esse dia:
"pilota i carn d'olla". A "carn d'olla", acima à esquerda, é a carne
com que se faz o caldo da sopa que se come primeiro. A pilota é feita
com carne moída (50% vitela, 50% porco), pão, leite e ovo, e se come
com batatas fervidas e linguiça preta (fervida também).



Meu irmão Oriol e meu primo Joan procurando água
com um anel, em casa da minha avó Rosa, mãe da
minha mãe, na tarde do 25. (Minha avó ficou uma semana
no hospital, recebeu alta no 24 mas não esteve no almoço
familiar, fomos ver ela de tarde. Ela mora em
Sant Sadurní d'Anoia, distante uns 30 km de Barcelona.)
Minha prima Marta, a Anna, o Uri, eu... todos tentamos
e não conseguimos, mas o Joan e a Alba sim: com eles,
num ponto determinado, o anel começava a
dar voltas,
como imantado. Minha irmã conseguiu também (ao menos
disse que estava sentindo "algo" puxando o fio). Esta não
é nenhuma tradição natalina, OK.


Ao calor da lareira. (Nossa avó Rosa, bisavó das pequenas, à direita.)


Gostei destes golfinhos desenhados por Javier Mariscal,
de um livrinho que minha mãe deu à Jana.



Minha avó Montserrat, mãe do meu pai, falando pelos cotovelos
no almoço do dia 26, em casa de meu irmão Ramon e a Nelia,
minha querida cunhada (os pais dela,
Paula e Tomás, à direita).
Minha avó, com seus 90 anos, continua lúcida. Nestes dias
se emociona muito, também. Pensa muito no marido, nosso avô,
Ramon, que faleceu há exatamente 35 anos (no dia 28 de dezembro).



Meus pais no almoço do 26. Os dois ganharam óculos novos.
Ele no início se sentiu esquisito, mas falamos que estava
parecido com o Martin Scorsese e ficou bem faceiro.



O Ramon fumando um charuto de chocolate.


O Uri começando a queimar calorias na mesma
tarde do 26, no jardim do Ramon e a Nelia.

Saturday, December 25, 2010

La imagen del año



A revista de domingo do jornal El País escolheu esta como a imagem do ano. É a minha imagem do ano também. De novo: não se trata de esporte, não se trata de futebol (havia outras imagens do jogador para escolher). Tal qual um Montaigne com chuteiras, Andrés Iniesta, no momento culminante de sua carreira (da carreira de qualquer jogador de futebol: ele marcou o gol da vitória na final da Copa), se lembrou do outro, de um amigo falecido, colocando a amizade acima de TUDO.


PS: O primeiro dos "100 hombres y mujeres iberoamericanos [o jornal deveria ter escrito "latinoamericanos": coisas de país colonizador...] que han marcado 2010" é uma mulher, Dilma Rousseff. Isso me deixa feliz, pois é um reconhecimento a todo o Brasil. Como Enrique Morente escreveu em 2003 sobre Lula, "un poquito de esperanza para el tiempo que viene", alguna cosa buena en este mundo estropeado.

Wednesday, December 22, 2010

Saturday, December 18, 2010

The Social Network, by David Fincher

O filme começa com a namorada, ou meio namorada, de Mark Zuckerberg, criador do Facebook (achei perfeito o ator Jesse Eisenberg no papel, um nerd nem tão nerd assim), terminando com ele ("You're an asshole"), numa cena de diálogos rápidos e difíceis de acompanhar, num bar barulhento do campus de Harvard (todo o filme é assim; é bom tentar não ler as legendas, que só conseguem capturar a metade do que é dito). (Eu tenho, tinha?, uma amiga formada em Stanford que foi morar em Nova York; lá namorou um ex aluno de Harvard, e ela odiava sair com a turma dele. Porque o "harvardnês" é assim: falar rápido e com a obrigação de ser, ou parecer, sempre brilhante, tudo com a maior nonchalance). A sequência seguinte é linda e fundamental, é a dos créditos de início e mostra Zuckerberg correndo através do campus, à noite, até a sua residência estudantil. É nesse momento que (isto está implícito, o filme é cheio de implícitos), fuelled by (como é "fuelled by", Silvia?, estou com a ressaca do inglês do filme), com a raiva derivada do rompimento e do insulto (para quem gosta de "processos de criação": a raiva pode servir a esse propósito), Zuckerberg cria em sua cabeça uma espécie de site infantilóide, para se vingar da namorada, que será o primeiro embrião do Facebook. A seguir vem a parte para mim mais perturbadora do filme: it's all about sex! Lembram Porky's, essa comédia sobre estudantes de ensino médio obcecados por transar? Pois essa parte do filme é a mesma coisa, só que em Harvard, com protagonistas supostamente brilhantes. (Aliás, vi que os alunos de Harvard são de dois tipos: os realmente brilhantes, de um lado, e os bobalhões com pais que foram alunos da universidade e se tornaram fund-raisers, do outro; este seria o caso de Bush II.) Uma personagem que não é de Harvard é especialmente irritante, a do criador do Napster (que, vi nos créditos, é interpretado pelo tal Justin Timberlake, cantor). Sua única contribuição para o Facebook, que inicialmente era thefacebook é: "Drop the 'the'. [Aí ele faz um movimento irritante com as mãos] It's cleaner". Depois vem o juízo, que não é bem um juízo, são reuniões entre Zuckerberg, o brasileiro Eduardo Saverin (o cara mais legal e sensato), os bobalhões irmãos Winklevoss (atletas que não têm noção alguma de programação, mas querem uma fatia do bolo) e os advogados de todos eles, para chegar a algum acordo. Tem uma mulher, uma mulher que não está com nenhuma das partes em conflito, só assiste porque é da firma que sedia as reuniões, que diz a frase de que eu mais gostei. Quando Mark fica sozinho na sala, ela lhe diz: "You're not an asshole. But you're trying very hard to be one". O fim da história é sabido: Mark Zuckerberg vira milionário (ou zillionaire) e perde o único amigo que teve na vida, o Eduardo. E a última cena é parecida com a de Citizen Kane, só que um pouco patética, pois não é da infância, desse paraíso perdido, que Mark sente absoluta falta. É de... - não vou dizer, mas é meio óbvio. O filme é muuuito bom.

Thursday, December 16, 2010

Enrique Morente :'(

Granada, 25 de diciembre de 1942 - Madrid, 13 de diciembre de 2010

Uri: Ei bro, o grande Morente morreu e tu não escreve nenhum post?!?!?! O exílio até pode ser bom, mas esquecer tudo não é legal! Se agora eu gosto como eu gosto de flamenco é, em boa parte, graças ao grande Morente e ao álbum Omega. Viva o cante jondo e o grande mestre.

Eu: Me diz uma música, que eu boto no blog. Meses atrás postei umas. Li nos jornais, mas não soube o que dizer. Omega me apaixonou, mas eu não consegui entrar nesse mundo.

Uri: What can I say... O amigo Morente era um craque, um desses artistas que trazem mudanças, marcam um antes e um depois. Foi ele quem abriu as portas do flamenco e o cante jondo a muita gente, uma música que, para alguns, de início, não parece fácil ou próxima. Além disso, ele a soube renovar, atualizar, levar para o século XXI. O "Pequeño vals vienés" é muito importante para mim, por três motivos. Quando o ouvi pela primeira vez (numa festa de Sant Jordi, no instituto) não gostava de flamenco (deveria dizer, melhor, que o desconhecia). Também não gostava dos poemas de Lorca. E a versão que ouvi era dançada, e as bailarinas, amigas minhas (uma delas, a very special one). Depois de ver o espetáculo e ouvir a música, tudo mudou. Passei a gostar de flamenco e dos poemas de Lorca, e a saber que nunca teria uma namorada que não soubesse dançar (só vou te dizer que tua teacher in love, a Carmen, se emocionou quando o viu e acabou chorando). Mas bota aí no blog "Reloj molesto", uma música de um álbum que eu tenho e curto muito, que é linda e o Morente dedicou ao Lula em 2003 (para Lula, esperanza de Brasil). Vê se ele não é um craque. Como explicar, se não, além do mais, que sua filha seja alguém como a Estrella Morente...

Eu: Bro, respondo aqui (com este post com texto teu). Obrigado pelo e-mail e pela música. Ela emociona e faz chorar (é isso, o flamenco?). Como alguém escreveu no youTube, "Descanse en paz en el tablao del cielo". Con el Camarón.




EL PEQUEÑO RELOJ (2003)
Guitarras: Pepe Habichuela, Niño Josele, Tomatito, Manolo de Huelva, Sabicas, Ramón Montoya.
Percusión: Piraña, Bandolero.
Otros músicos: Javier Limón, Jerry Gonzalez, Alain Pérez, Horacio el Negro, Caramelo.
Morente se despide diciéndole al molesto reloj "Déjame pasar las horas a ritmo de tango" y lo dedica a Lula, en el que reconoce la esperanza de Brasil. Un poquito de esperanza para el tiempo que viene...

Tuesday, December 14, 2010

Cinco dias até eu viajar!

Queria que a longa viagem de avião não fosse chata. Que fosse assim:

Monday, December 13, 2010

Eu sou um grande mentiroso 2

Terminei de ver o documentário sobre Fellini. O vi em duas partes, não consigo ficar muito tempo quieto em frente à TV (ao laptop, no caso). Nesta segunda parte achei mais trechos da entrevista interessantes, que anotei (sobre o tempo, o imaginado e o real, a criação artística, as mulheres), e um belo diálogo de 8 1/2 que transcrevo também (quando eu era adolescente, achava que esse filme de que os adultos falavam era sobre dois palhaços, Otto e Mezzo... :o). Vale a pena dizer: no documentário, o ator Donald Sutherland (Il Casanova) fala de Fellini como uma pessoa autoritaríssima e até cruel - tipo Picasso, citado por Fellini como fonte de inspiração.


"Não acho que seja possível definir ou desenhar uma linha divisória entre o passado, o presente e o futuro, ou entre uma coisa imaginária e a memória de alguma coisa que realmente aconteceu. Não acho que qualquer um que escolheu essa profissão ou foi chamado para contar histórias possa distinguir isso. Do momento que ele cria seu pequeno universo essa criação é absoluta. É um universo completo que também inclui o tempo, não só pelo espaço territorial ou a descrição dos personagens. Até o tempo é inventado."

"Meus filmes ficam prontos porque eu assino um contrato. Recebo um adiantamento que não quero devolver e tenho que terminar o filme. Não acredito na total liberdade criativa. Um artista que tiver liberdade criativa ficaria propenso a não fazer nada. O grande perigo para um artista é a liberdade total."

"Não ter fé é difícil. E uma maneira de se limitar, colocar obstáculos em sua frente. No entanto, ter fé acho que faz parte desse sentimento vago que mencionei, que para mim é uma nota fundamental na qual eu me reconheço: a expectativa. A fé também é uma forma de expectativa. Não quero dar uma conotação mística para essas afirmações. Quero dizer um estado da alma, uma impressão no dia-a-dia de que o sentimento de expectativa nunca me deixou. Mas se você perguntar o que eu espero, você irá me complicar."

"Uma mulher é o planeta desconhecido. A parte à qual o homem quer se unir para encontrar um complemento, para completar o círculo, para encontrar a integridade, a totalidade. Justamente por isso, é a parte desconhecida dele. É o lado escuro. Assim ela o atrai e o assusta."

"Projetamos na mulher, eu acho, um sentimento de expectativa, a revelação de alguma coisa, a chegada de uma mensagem. Como a personagem de Kafka que esperava uma mensagem do Imperador. A mulher pode ser a Imperatriz que, há milhões de anos, mandou essa mensagem que felizmente nunca chegou. Porque eu sinto que o que faz a vida valer a pena é a espera dessa mensagem mas não a mensagem propriamente dita."

"A longa história que um artista conta através de suas obras é uma busca em muitos níveis diferentes. A busca de um estilo, de coerência, do que é essencial, de um tom mais direto, mais espontâneo, de ser mais sincero, menos conceitual, de viver a própria expressão da maneira mais direta. Ou seja, uma busca da parte mais autêntica de você mesmo."

"É evidente que um autor, um artista, se abastece essencialmente dos traumatismos psicológicos, as injustiças, as cicatrizes de sua existência psíquica. Há um aspecto benéfico da neurose que capacita alguém a estabelecer um depósito, um armazém, um tesouro encontrado de onde pode extrair amplos recursos."


Este diálogo do filme 8 1/2, incluído no documentário, é entre Guido (Marcello Mastroianni), alter ego de Fellini, que faz o diretor e ator do filme dentro do filme (um diretor com bloqueio criativo) e Claudia (Claudia Cardinale), que interpreta uma atriz desse filme que não sai (Claudia Cardinale: a única atriz "antiga" por quem já "me apaixonei"... :)



Claudia: No fundo é sua culpa. O que você espera dos outros?
Guido: Por quê? Você pensa que eu não sei? Você está um pouco chata.
C.: Ninguém pode dizer nada! Você está tão engraçado com aquele chapéu, feito de feno velho! Não entendo: essa menina poderia mudar a vida toda, ele renasceria, e a rejeita?
G.: Porque ele perdeu a fé.
C.: Ele não sabe como amar.
G.: Uma mulher não pode mudar um homem.
C.: Ele não sabe como amar.
G.: E não quero contar outra história que é uma mentira.
C.: Ele não sabe como amar.
G.: Desculpe, Claudia, tê-la trazido aqui. Perdão.
C.: Você é um impostor. Então não tem um papel para mim?
G.: Você está certa. Não tem um papel. E nenhum filme também. Não há nada, em lugar nenhum.

Saturday, December 11, 2010

Computador

Hoje, às 9 h 30, eu tomava um café numa mesa na calçada, num boteco da rua da Praia, e escutei um homem velho, sentado à minha direita, e que nessa hora já estava bêbado, falando só para si.

Ele disse, baixinho e meio cantarolando:

- Computador. Computador com música.

E, em voz mais alta, escandiu a palavra, tornando-a uma espécie de poema:

-Computa
A
Dor.

(Se bem que ele enfatizou o "puta", ou seja, também pode ter querido dizer:

-Com puta
A dor.)


PS: E essa moda das gurias no Centro? Essas camisetas de listras horizontais cinzas + uma cor (rosa, azul, verde, amarelo) fluorescente? É muito brega!

Wednesday, December 08, 2010

Coisas ditas sem pensar

No teatro, ontem, o assunto foi o arrependimento. (Ótimo assunto para mim, esta semana; só que lá eu não falo, já contei, só escrevo.) Os atores deviam lembrar e contar algum arrependimento por ter dito ou feito alguma coisa a alguém, tempo atrás. São as mães, ao que parece - e não é de estranhar -, as que mais sofrem por coisas ditas sem pensar, duas ou três pessoas se referiram a elas.

Em casa, hoje de manhã, me pareceu reviver a sessão. Escutei barbaridades semelhantes às de ontem. Só que no presente (mais vivas, mais fortes) e com os papéis trocados. As vozes e os choros, choros de um menino que, por algumas palavras entrecortadas (algo sobre uma mochila), achei que devia ter uns dez anos, vinham de um apartamento vizinho:


(Menino chorando.)

-Tu perdeu tua mãe hoje!

(Menino chorando.)

(Som de um tapa forte.)

(Menino chorando.)

-Some! Esquece!

(Menino chorando.)

-Esquece de mim!


Foi tudo o que eu ouvi, não quis escutar mais, quis fugir para a rua.

Tuesday, December 07, 2010

Eu sou um grande mentiroso 1: La disponibilità

Ontem, assistindo ao documentário Sono un gran bugiardo (Eu sou um grande mentiroso), sobre Federico Fellini, que o Marco me emprestou, tive um insight (desculpem a palavra, qual é a tradução portuguesa de "insight"?; todo o mundo usa "insight", e eu não gosto de palavras inglesas no meio de frases em português...) relacionado com meu trabalho de escrita. Nem insight foi, pois sei muito bem do que se trata; estaria mais para uma recordação da qual eu estava precisando. Quem sabe o trecho que anotei não possa ser útil para outras pessoas metidas nesse mesmo processo danado de "criação", como o Uri, a Gabriela, a Ana, o próprio Marco (agora entendo melhor a necessidade de seus exercícios de uma hora prévios aos ensaios), etc.

O trecho é o seguinte:

"Não acho que a palavra 'improvisação' tenha algum lugar no processo criativo. É uma palavra totalmente inadequada. É até mesmo irritante. Eu não usaria a palavra 'improvisação', eu usaria outro termo. Eu diria que o problema e ficar acessível [Fellini não usa 'acessível', ele diz, aqui, que 'è necessaria la disponibilitá'], se tornar alguém acessível para a coisa que está nascendo e que ainda não tem forma, é magmática, confusa, indefinida."


...


Eu já estive mas por enquanto não estou mais "disponível". Por isso meu romance está parado. Coisas demais me atrapalham em Porto Alegre. Por isso também não era infundada a intuição de me mandar para uma praia...

Sunday, December 05, 2010

Traduções ao português 13 (El sabor de la fresa, cuento zen)

Do livro Cincuenta cuentos Zen, da editora El Barquero, que eu ganhei da Gabriela (presente de conclusão de mestrado :). Tradução espanhola de María Tabuyo e A. López Tobajas.


O sabor do morango

Um homem que atravessava um bosque topou com um tigre. Fugiu, mas o tigre o perseguiu. Um precipício escassamente visível interrompeu sua corrida; esteve a ponto de cair, mas, no último momento, pôde agarrar-se à raiz de uma planta silvestre e ficou balançando no vazio. O tigre estava acima, farejando. Tremendo, o homem olhou para baixo, e viu outro tigre que esperava sua caída para devorá-lo. Só a planta o sustinha. Então, dois ratos, um branco e outro preto, começaram a mordiscar a raiz da planta.

O homem viu então um morango apetecível perto dele. Agarrando-se à planta com uma mão, pegou o morango com a outra. Estava tão bom!



PS nada a ver (e nada zen): Emerson!, ya tardas!!!

Saturday, December 04, 2010

Porto Alegre linda


Uma rua do bairro Moinhos de Vento, uns dias atrás.


Rua Ramiro Barcelos.


PS: Talvez sejam fotos de gringo, pois um amigo viu a primeira e disse: "Isso é perfeito para escorregar".

Friday, December 03, 2010

"Why We Build the Wall", from Hadestown, by Anaïs Mitchell

Na terça-feira passada, nos ensaios de teatro aos que estou assistindo, o Marco, o diretor, me deu o libretto do musical Hadestown, CD que ele usa durante o aquecimento, para que eu tivesse alguma coisa para ler. Eu não participo nessa primeira hora de aquecimento e exercícios físicos prévios ao ensaio em si: estou lá como "escriba", ou, posto de uma maneira mais chique, "escritor da dramaturgia"; para ir anotando o que cada ator improvisa a partir das propostas do Marco (a peça está sendo criada, do zero). Enquanto os atores e atrizes "evoluíam" na sala ao ritmo da música, rodopiando, pulando, se jogando no chão, eu ouvia o musical quase inteiro e a todo volume, acompanhando a história e me empolgando com cada canção. A do vídeo a seguir, "Why We Build the Wall", é a que mais me impressionou (e acho que deve ser ouvida a todo volume mesmo).

Hadestown, que a autora Anaïs Mitchell, norte-americana, chama de "opera folk", reconta o mito de Orfeu e Eurídice no cenário de uma América do Norte em depressão. Este Reino do Hades contemporâneo é uma suposta mina de ouro, para onde as pessoas descem meio seduzidas por Hades, meio por vontade ou necessidade - fugindo dos tempos difíceis ("times being what they are / hard and getting harder all the time"). Hades dá trabalho a essas pessoas, as põe a escavar, dragar a terra (ele é chamado de King of Mortar, King of Bricks, e o rio Estígio é um rio de pedras), e elas vão perdendo as suas identidades ("and a million minds that were just one mind / like stones in a row"). Eurídice desce ao mundo subterrâneo, abandonando Orfeu. É nesse momento, com Eurídice já em Hadestown, que Hades canta essa canção, um adoutrinamento de seus trabalhadores-cidadãos. O vídeo inclui a canção que segue a "Why We Build the Wall", em que Perséfone, mulher de Hades, a escondidas do marido ("what the boss don't know, the boss won't mind"), começa a apresentar a face oculta desse mundo, aonde Orfeu vai descer ("Wait for Me", canção de Orfeu, também é linda).

A letra de "Why We Build the Wall", canção de protesto, é forte e atual (como a da própria "The Wall", de Pink Floyd); um exemplo de lógica do absurdo. E faz igualmente sentido fora do contexto do musical (Anaïs Mitchell a canta em seus shows de música folk), pois aponta o que está acontecendo em metade do mundo (uma norte-americana escreveu no seu blog que os membros do Congresso deveriam ouvi-la). Apesar de ter sido publicado em CD e encenado pela primeira vez em 2010, o musical foi escrito nos Estados Unidos da "crise de identidade" pós-11 de setembro, antes de 2008, mas a canção, como outras do gênero, vai além, e parece se referir, também, à crise econômica dos Estados Unidos e a Europa de hoje.




HADES
Why do we build the wall?
My children, my children
Why do we build the wall?

CERBERUS
Why do we build the wall?
We build the wall to keep us free
That’s why we build the wall
We build the wall to keep us free

HADES
How does the wall keep us free?
My children, my children
How does the wall keep us free?

CERBERUS
How does the wall keep us free?
The wall keeps out the enemy
And we build the wall to keep us free
That’s why we build the wall
We build the wall to keep us free

HADES
Who do we call the enemy?
My children, my children
Who do we call the enemy?

CERBERUS
Who do we call the enemy?
The enemy is poverty
And the wall keeps out the enemy
And we build the wall to keep us free
That’s why we build the wall
We build the wall to keep us free

HADES
Because we have and they have not!
My children, my children
Because they want what we have got!

CERBERUS
Because we have and they have not!
Because they want what we have got!
The enemy is poverty
And the wall keeps out the enemy
And we build the wall to keep us free
That’s why we build the wall
We build the wall to keep us free

HADES
What do we have that they should want?
My children, my children
What do we have that they should want?

CERBERUS
What do we have that they should want?
We have a wall to work upon!
We have work and they have none
And our work is never done
My children, my children
And the war is never won
The enemy is poverty
And the wall keeps out the enemy
And we build the wall to keep us free
That’s why we build the wall
We build the wall to keep us free
We build the wall to keep us free

Pedido aos leitores silenciosos

São tantos os leitores diários deste blog (sei pelas estadísticas que o próprio sistema introduziu em julho deste ano), do Brasil, mas também, sobretudo, dos Estados Unidos, do México e dos países da América do Sul, e há dias em que me sinto tão só (é isso que é a Internet, né? :), neste país que não é o meu, que adoraria saber quem eles são. Poderiam me escrever um e-mail, talvez. O endereço está no perfil.

Seja como for, obrigado pelas visitas.



Obra de Raquel Marín.

Monday, November 29, 2010

Seymour, An Introduction (uma releitura apaixonada)

Meu irmão Oriol prometeu um e-mail irado que eu, assim como o Sérgio e outros amigos, estávamos esperando, mas ao que parece ele cansou de se irritar (acho que está canalizando sua raiva através do Emerson). "Já não vale a pena, não quero gastar palavras. Não vou falar da visita do papa a Barcelona, esse homem se afunda sozinho, não precisa da minha ajuda. [Eu queria botar no blog algum vídeo da recepção que gays e lésbicas lhe deram na Catedral, mas não achei nenhum o bastante forte.] Nem da vitória, ontem, de CiU. Os catalães são loucos. [A direita nacionalista catalã voltou ontem ao poder. Mas não somos loucos. Perto da metade da população não votou, eles vão governar com o apoio de dois em cada dez catalães.] Nem da loucura instalada neste país pelo estúpido jogo Bar$a-Madri$ de hoje. Nem de outras mediocridades que nos invadem." Em vez disso, ele escreveu um e-mail apaixonado, fruto da releitura de Seymour, An Introduction. Vou traduzi-lo aqui, a seguir, desta vez sem censura (parece que também cansou de usar palavrão), só com um pouquinho de edição. :)


Recuperei a alegria de ler graças ao mesmo autor que, em certo modo, despertou-me um prazer superior pela literatura, na minha idade pré-adulta: o amigo J. D. Salinger. Sempre gostei de ler, inclusive quando criança (os livros do "Barco à Vapor"), mas foi com The Catcher In the Rye que dei um passo além, como o noviço que, depois de um tempo no mosteiro, começa a enxergar que há outros caminhos, superiores aos que ele conhece ou pode imaginar.

Aconteceu que, diante do deserto do panorama literário atual, um editor inteligente, ou ao menos bem intencionado, preferiu, antes de atirar na própria cabeça, reeditar a obra de Salinger em espanhol, e que apesar de tê-la lido, não resisti e comprei Raise High the Roof Beam, Carpenters and Seymour, An Introduction, à principio para que o editor bem intencionado recebesse a mensagem de que não tudo está perdido e seu esforço não foi em vão. Tinha lido o livro em inglês, e a verdade é que nunca tive a certeza de tê-lo entendido bem. Posso dizer que não, não o tinha entendido nem curtido totalmente, e agora sei por quê.

A primeira parte do livro, Raise high..., é brilhante, o melhor que eu li em mais de um ano, ou dois, ou três; uma demonstração tão esmagadora de talento literário que deveria bastar para que muitos escritores largassem a caneta e se dedicassem ao estudo da vida dos caracóis. Mas a segunda parte... Ah, irmão! A segunda parte, Seymour..., é talvez um dos textos mais interessantes e perturbadores com que me deparei.

Ler Seymour... é se encontrar face à face com alguém que não só demonstra uma inteligência abismal, quanto, ao mesmo tempo, fala isso na nossa cara, brinca conosco, nos faz pensar, seduz, nos leva por onde quer e, no fim, nos deixa mais burros do que já éramos. Sem nos explicar nada, mas dizendo tudo. Salinger consegue isso simplesmente (como diz o título) apresentando-nos Seymour, um gênio, uma pessoa que nem fazemos ideia de como é quando terminamos de ler, mas que, esta é a maravilha, entendemos.

Se eu fosse um Salinger seria fácil, mas sou bem mais burro, e não sei dizer como ele consegue escrever 100 páginas sem explicar nada (as universidades estão cheias de alunos que fazem a mesma coisa, e as livrarias cheias de livros, mas não é isso o que Salinger faz) e ao mesmo tempo explicar tudo. O texto é tão inteligente que, para nos ajudar, Salinger usa, como narrador, um irmão supostamente bobo de Seymour (que não é bobo, não). Ele brinca com isso, brinca tão bem que, por momentos, achamos que está zombando de nós. Mas é exatamente assim que ele nos pega, e nos vira e revira o pensamento, tantas vezes que ficamos perdidos e entregues, presos, sem poder parar de ler nem para dormir.

Nem Salinger, Seymour ou o narrador são, em modo algum, arrogantes ou espessos; ao contrário, são transparentemente inteligentes e inclusive bons (de bondade). Esforçam-se para se comunicar, cientes de estar num outro nível (isso não é aparente no texto, está no fundo), e nós ficamos admirados e intrigados não pelo que contam, senão porque somos capazes de entrever que ali atrás há uma inteligência superior, limpa e cristalina, que não conseguimos, mas gostaríamos de entender.

Como eu diria... É como a sensação que as criancinhas têm quando vêem seus pais fazerem coisas "mágicas" que elas não têm como entender (cozinhar, dirigir, saber onde está tudo, conhecer as ruas da cidade,...). Acho que é isso o que eu senti: um misto de admiração e mágica, surpresa e fascinação, quase um delírio. Ah!, e o para mim mais engraçado. O narrador, em determinado momento, nos diz que Seymour conhece o Tao, que tem conceitos zen, que segue o caminho do oriente. Mesmo isso ele conta de uma maneira tão clara que parece o mais normal, o mais terrenal e menos espiritual do mundo.

Talvez esteja flipando demais. Mas no dia seguinte de terminar a leitura comprei Franny and Zooey, que também só tinha lido em inglês, e Nine Stories, porque precisava ler de novo o conto do peixe-banana, o suicídio do grande Seymour, chegar ao fim do que tinha começado. The Catcher In the Rye é uma obra-mestra, mas Seymour, An Introduction é a chave para entender por que Salinger, esse gênio, se retirou do mundo.

Friday, November 26, 2010

La ira del filósofo, de Eduardo Parra Ramírez

Queria escrever sobre este livro porque gostei e o terminei de ler. Antes dele, deixei alguns pela metade, cansado. Como O grande, obra póstuma de Juan José Saer, um dos maiores escritores argentinos (diferente de outros, esse romance é um exercício de estilo, um tour de force, o mais parecido à pintura hiperrealista que eu vi em literatura); ou Leviatán, de Philip Hoare, livro de não ficção sobre baleias e literatura sobre baleias, que fez muito sucesso na Inglaterra; ou o número da revista/livro Granta dedicado aos melhores narradores jovens em espanhol. Não terminei de ler nenhum dos três. O cansaço poderia ser atribuível a mim, mais do que aos livros, mas só relativamente, pois antes li Freedom, com enorme prazer, e agora este, La ira del filósofo, curtindo-o do princípio ao fim. Freedom é uma obra-mestra, um desses clássicos instantâneos (um amigo da faculdade dizia que não se escreviam mais clássicos; acho que esse é um); La ira del filósofo, não. É "só" um baita primeiro romance, do escritor Eduardo Parra Ramírez, nascido em 1970 em Ciudad de México.

Foi refrescante, ler este livro. Semanas atrás, estava pensando em voltar a ler só os mortos, como meu irmão Oriol me aconselhou (ele sempre foi leitor, principalmente, de literatura contemporânea, mas agora, também cansado de novidades ruins, tomou a decisão drástica de ler Os miseráveis). Eu estava pensando nisso, sobretudo (além de porque li, nos últimos anos, alguns primeiros romances brasileiros, e outros nem tão primeiros, que me deixaram frio), pelo efeito que me causou esse número da Granta. Tratando-se de uma seleção de autores de sei lá quantos países (em quantos países se fala espanhol?), a revista só deveria, achei, só poderia, incluir textos bons, ou muito bons. Pensei: terá narrações realistas e narrações experimentais, vozes novas, etc. Pois bem, não sei onde tinham a cabeça os editores (nem sei o que devem estar pensando os ingleses, já que a revista saiu simultaneamente na Inglaterra, em tradução), mas parece que deixaram a tarefa (a sua tarefa) de seleção para o leitor, não separaram o joio do trigo. Daí eu fui procurando, e procurando... e o pior é que não tinha trigo (vou continuar lendo, não pode ser). Por isso foi um alívio, o Parra Ramírez...

Ganhei o livro do Sérgio, ou Sergi. O Sérgio é surpreendente. Primeiro, ele volta de Buenos Aires e me dá um livro de autor... mexicano. Segundo, no bar do Antônio me dá o presente e diz: "Para ti. Li na loja, assim, em diagonal, e achei bom". E como conseguiu encontrá-lo? La ira del filósofo ganhou o Prêmio Juan Rulfo de primeiro romance, mas a tiragem foi de 1.000 exemplares só. Quantos desses devem ter chegado a Baires? 50? O Sérgio o encontrou mesmo assim. Então, para mim, além de bom amigo, bom ator, bom professor de teatro (imagino: ainda não assisti a uma aula dele), e além, é claro, de perfeito Embaixador da Catalunha em Porto Alegre, agora ele é também "melhor catador de livros", dom raro e precioso, considerando o panorama geral. "Só tem merda", diria meu irmão (eu não posso, ele sim, sabe ser radical com graça). Talvez. Porém tem o Sérgio também.

Eduardo Parra, este cara, que não está na revista Granta, é um escritor de verdade - "de raça", dizia-se antigamente. E se não escreveu uma obra-mestra, provavelmente também não tinha essa ambição, já a escreverá. Por enquanto, escreveu um romance mais do que bom, que não se esquece logo após terminá-lo.

A história é forte e empolgante, aos poucos cada vez mais sórdida, e não está desprovida de humor. A personagem principal é Teo Mondragón, homem colérico e desesperançado, de 30 anos, solitário, distanciado dos pais (ele tem um passado, um pai militar com dois neurônios), professor de filosofia numa escola pública de um bairro suburbano. Seus alunos são personagens igualmente críveis: a maioria, "adolescentes apáticos y subnormales", "mudos, trepanados" (sem exageros: os alunos dessa escola são tarados, pequenos traficantes, chantagistas); outros (poucos) ainda podem, segundo o professor, "ser salvos", como Renata ("¿cómo puede ser que esta mocosa, con su sola cercanía, haga brotar mi parte más ridícula?") ou Mao ("de verdad experimentaba una progresiva simpatía por ese muchacho"). E o guarda da escola, Facundo, um homem generoso que serve de contraponto ao professor, também tem seu quê de especial: "El hecho contradice las más profundas creencias de Teo. Un hombre ayudando a otro. Porque sí, porque el otro lo necesita".

A linguagem é rica, oral e cheia de baixarias engraçadas (ao menos para mim, que não sou mexicano): adorei "guajalote", "chamaco pendejo"; ou "No diga pendejadas, filósofo. Si la policía me atora por lo del vídeo [é, há um vídeo na história], la libro porque no pueden comprobar una mierda. Pero si yo lo atoro a usted por chiva, no se la acaba".

Quanto ao enredo, é mais ou menos assim: Teo volta à escola onde três anos antes trabalhou temporariamente como professor. A escola não existe mais, é um prédio em ruínas ao lado de um rio fedorento (o primeiro capítulo, sobre os vapores que emanam do rio, vale por si só). Vai à procura de algo, um "presente" que um aluno escondeu para ele. Nas quadras de basquete e no prédio, lembra das aulas que deu, dos alunos mentecaptos, do cinismo (e vícios piores) dos professores. Evoca lembranças que nem sabe se faz bem em evocar. Junta as peças de tudo o que aconteceu.

Um trecho, sobre o "funcionamento" da escola:

-Qué interesante - dijo Teo -. ¿Y qué sabes de las calificaciones? ¿Es cierto que practicamente no hay reprobados?
-Sí, en este chiquero todos se gradúan. A los dueños les vale verga que aprendas o no aprendas. Cada güey que se da de baja es dinero que se les va de la bolsa. Así que si un maestro te reprueba, lo sobornas; si no afloja, lo arreglas con el dírec. En esta escuela todos sabemos que el único requisito para terminar es no morirte. Y pagar la colegiatura, claro.

E mais um, só para rir. Um "escrito sobre a existência" de um aluno-tipo de Teo:

La existencia es existir en esta vida. Yo existo por que me han pasado muchas cosas. Una de ellas fue cuando volbí de la muerte. Ívamos yo y mi hermano en el carro de mi hermano. Yo quise darme una vuelta pero no sabía manejar bien. Mi papá me dijo: no te desalejes mucho, pero yo no obedecí y agarré para la zona de los balneareos, donde va la gente a pasiar. Nunca me llamó la tensíon ir a balneareos porque no soy muy socialista con la gente, pero el chiste era salir a la carretera. En una curba nos voltiamos, porque me dieron ganas de estornudar. [...] Mi hermano salió muy herido y estuvieron a punto de imputarle un brazo, pero a mí me fue más peor porque según los doctores estube muerto unos momentos. Cuando devolví en sí, solamente recordaba que havía visto una luz que me llamava, pero no fui. Luego me dijeron que pude haver quedado en estado vegetariano o mal de mi razoncinio. Lo bueno es que estoy vivo y bien de mis facultades mentales. A veses oigo visiones, pero ya estaba así antes del choque.



Saturday, November 20, 2010

Pessoas, da Companhia H (ou Rossana dançando)

Domingo passado assisti, no teatro Renascença, à terceira parte do espetáculo de dança contemporânea Pessoas, trilogia acerca da obra de Fernando Pessoa e seus heterônimos, da Companhia H, com coreografia e direção de Ivan Motta. Fui, principalmente, para ver a amiga Rossana, bailarina da companhia. Sempre quis ver ela dançar, e agora me arrependo de não ter assistido antes a um espetáculo seu; de só ter ido agora, e ainda porque ela me deixou um convite na bilheteria. Adorei o espetáculo. Já disse a ela que não sei bem do que eu gostei mais ou por quê, já que o universo da dança é desconhecido para mim (assim como o da ópera e tantos outros), mas o fato é que foi muito bom, um prazer (da próxima vez vou pagando; arte se paga, se não quem é que o vai fazer). Essa terceira e última parte é dedicada à obra de Ricardo Reis. Não está mais em cartaz, mas quem sabe não volta?

Fiz o seguinte videozinho com meu iPhone (como gosto desse treco...). A Rossana, para quem não a conheça, é quem atravessa o palco de direita a esquerda, como uma rainha, com seus lindos cabelos loiros, e aparece de novo no finalzinho. Os versos de Ricardo Reis, projetados na tela, dizem: "Veio o nome de Lídia / mas não veio a mulher".

No Dia da Consciência Negra...

... copio um comentário que a Marinella reproduziu dias atrás no seu blog (seu último post, sobre uma criança na era da internet, é muito bom também). A Marinella escreveu sobre uma observação que o psicólogo Contardo Calligaris fez no programa Roda Viva de 8 de novembro. Ele disse: "É fajuto falar numa democracia racial no Brasil, ninguém acredita nisso". [Isso não é verdadeiro, muitas pessoas acreditam; mais correto seria dizer que não deveriam acreditar; bom...] E logo ele mesmo se questionou: "Se você tiver um filho branco e ele se apaixonar por uma negra, onde seria mais legal para eles viverem, como casal, e para terem filhos?". Resposta do próprio Calligaris: "Acho que o Brasil seria um lugar".

Wednesday, November 17, 2010

O que é ser escritor?

Gostei de uma historinha do Diário de Kafka contada por Leda Tenório da Motta, professora da USP e crítica literária do Estadão, no artigo "Oito e meia razões para detestar Leite derramado". Abro parênteses, explico o contexto da coisa. Quando Leite derramado, de Chico Buarque, saiu, li, no caderno da Folha de domingo, uma ao lado da outra, duas críticas totalmente opostas, uma extremamente elogiosa, de Roberto Schwarz, e uma outra extremamente negativa, de um escritor cujo nome não lembro. Meses depois, na revista Piauí, li que na Festa Literária de Paraty a escritora irlandesa Edna O'Brien disse que Chico Buarque nem era escritor. Passou muito tempo e este final de semana, de novo no caderno de domingo da Folha, li que alguns críticos literários estavam revoltados pelo fato de Chico Buarque ter ganho o prêmio Jabuti de melhor ficção do ano. Então procurei na internet mais alguma crítica sobre Leite derramado e encontrei o artigo de Leda Tenório, fecho parênteses. Não opino sobre se Chico é ou não é escritor (não li nenhum livro dele, a tal crítica negativa da Folha me deixou com um pé atrás, assim como as críticas negativas que recebeu na Espanha Budapeste), mas reconheço nesta historinha de Kafka, do ponto 5 do artigo, uma bela definição (dentre outras possíveis) do que é ser escritor.


5 - Relendo o Diário de Kafka, na tradução francesa de Marthe Robert, ao mesmo tempo em que lia Leite derramado, encontro, nas anotações lançadas no dia 19 de janeiro de 1915, algo que me parece ser uma advertência a quem queira ousar escrever depois de Kafka. Estamos numa manhã de domingo em Praga. O escritor tinha combinado de sair, logo cedo, com alguns amigos, mas acordou tarde e perdeu a hora. Conhecendo sua pontualidade, os amigos foram até sua casa, ver o que estava acontecendo. Ouvindo bater, ele pula da cama, às pressas, e se veste. Quando abre a porta, os amigos, visivelmente estarrecidos, recuam. O que é que você tem aí atrás? perguntam. Algo, na altura da nuca, que o impedia de mexer a cabeça, o estava incomodando, já na cama. E agora que os amigos perguntaram, ele termina de perceber: é uma espada que está enterrada ali. Instigada por tal morceau kafkiano, eu fiquei me perguntando se não é disso que se está falando quando se fala de literatura! Sem trocadilhos: se não é de um estorvo desses que se precisa para se poder escrever! O autor de Leite derramado tem por si o main stream editorial, o capital simbólico da USP, a mídia, um espaço que a literatura já não tem nos segundos cadernos, e tudo o mais que esses mimos trazem consigo: os eventos sponsorizados, as declamações na FNAC, as tendas de Paraty... Mas não tem a espada enterrada nas costas!

Monday, November 15, 2010

A Vaca Cega

Esta é a vaca que eu mais gostei das poucas que vi no Cow Parade de Porto Alegre, a "Vaca Cega". O autor só pintou os cílios dela (além de colocar um pequeno texto em braille em suas costas). Como era um dia de muito sol quando a vi e tirei a foto, logo pensei nos versos de Maragall, e em como esta vaca podia bem ser a do poema.

"[...]
i abaixa el cap a l'aigua i beu calmosa."

"[...] parpelleja
damunt les mortes nines, i se'n torna
orfe de llum, sota del sol que crema,
[...]"





PS nada a ver: This could be my soundtrack for these days. (I was listening to The Smiths last night, while trying to sleep.)

Thursday, November 11, 2010

Sunday, November 07, 2010

Idiotices da Academia 1 (nova série no blog!)

Trecho inicial de um artigo publicado hoje na Folha de S. Paulo: "Cinco anos após as revoltas que acuaram a França e chocaram o mundo, as periferias pobres e segregadas de Paris, Marselha, Lyon e outras cidades do país estão mais do que nunca à deriva. Cerca de um terço da população dessas áreas está abaixo da linha da pobreza, o índice de desemprego chega a 42% - 60% em algumas regiões - e as instituições públicas e seus representantes se tornaram cada vez mais alvos de ataques".

Pergunta que o próprio jornalista se faz, mais adiante no artigo, à procura de explicações menos óbvias do que as que sugeririam os números do texto anterior: "Mas, se insatisfação política e econômica ocorre por toda parte, por que é sempre na França que a tensão social parece explodir?".

Respostas dadas ao jornalista por Michel Maffesoli, um dos criadores da "sociologia do cotidiano", catedrático da Universidade Paris V e... o nosso Acadêmico Idiota de hoje!

-Não acredita em razões econômicas para os distúrbios?
-Não, podem ser no máximo uma das razões. O verdadeiro problema é que é preciso haver, em todas as sociedades equilibradas, momentos de desregramento. É o que Aristóteles chamava de "catarse" ou purgação. Quando olhamos as sociedades medievais, havia momentos como o Carnaval, as festas de inversão - o que Émile Durkheim chamava de desregramentos autorizados. O problema é que isso não existe mais na França.
-Essa é a razão por que esses distúrbios parecem ocorrer somente na França?
-Sim, pois existe aqui, desde Descartes, uma tradição racionalista da sociedade, que busca conter as emoções, as paixões, etc. É uma razão cultural!
-E ela também explica os distúrbios nas periferias?
-Sim, e isso não depende da classe política. Tanto esquerda quanto direita buscam uma espécie de assepsia da vida social. Logo, não há lugares ritualizados de expressão da efervescência - como o Carnaval, por exemplo. Daí a violência gratuita, inexplicável.

E digo eu: mais circo, então! Um pouco de circenses para os franceses incendiários!


PS: Resposta a uma pergunta similar dada ao jornalista pelo rapper marselhês Mino Brown, que não deve ter lido Durkheim:
-Qual é hoje a situação nos subúrbios que você conhece em Paris, Marselha...?
-Há cada vez mais diferença entre os muitos ricos e os muitos pobres. O sentimento de ser posto de lado é um grande problema para o país.

Sunday, October 31, 2010

Eles não têm cores, eles não têm sabor, eles não se enxergam, eles não fazem amor...

Vejo pouca TV, não conhecia o Fernando Caruso nem o programa "De cara limpa", mas hoje estava fazendo zapping e parei no Multishow. Da areia da praia de Ipanema, vestido de executivo, um cara barbudo "filosofava" sobre a vida no Centro do Rio de Janeiro e depois ia lá, de sunga, fazer as pessoas rirem. Essa é a ideia do programa: fazer com que as pessoas sérias ou tristes riam, ou reparem em pequenas coisas; que as pessoas que não olham umas para as outras interajam. O ator faz isso sem tirar sarro de ninguém, com leveza. Eu adorei. Não tem esse capítulo de hoje na Internet. Mas também gostei deste, grabado na PUC-Rio.

Thursday, October 28, 2010

Freedom, by Jonathan Franzen

I finished reading Franzen's new novel, Freedom. Nothing extraordinary goes on in the story, but every page is extraordinary. Set in New York City, Washington D. C. and some rural counties of "the land of the free" during the Bush administration years, the narrator tells in detail and with psychological incisiveness (which is what makes every page so good, along with the strong dialogues) all about the members of a common, upper-middle-class family, the Berglund's, and a few neighbors, lovers, and friends of theirs; about the mistakes they make, due to too much freedom, while trying to lead their lives and deal with each other's and their own peculiarities. This is a story about nearly ruining everything in one's life, and, eventually, achieving a happiness of some sort. The best book I've read in a long time.


One quote:

On the chance that, regarding Patty's parents, a note of complaint or even outright blame has crept into these pages, [Patty] here acknowledges her profound gratitude to Joyce and Ray for at least one thing, namely, their never encouraging her to be Creative in the Arts, the way they did with her sisters. Joyce and Ray's neglect of Patty, however much it stung when she was younger, seems more and more benign when she considers her sisters, who are now in their early forties and living alone in New York, too eccentric and/or entitled-feeling to sustain a long-term relationship, and still accepting parental subsidies while struggling to achieve success they were made to believe was their special destiny. It turns out to have been better after all to be considered dumb and dull than brilliant and extraordinary. This way, it's a pleasant surprise that Patty is even a little bit Creative, rather than an embarrassment that she isn't more so.




Special PS: If you're reading this: I miss you, Kris.

Tuesday, October 26, 2010

Art Gallery 2





Peinture sans peinture

Gabriela (Brazilian, born 1985)
2010. Wood-framed mirror, fruits, cloth





PS: ... And this is how the artist (currently) sees me:


Friday, October 22, 2010

Tevê Rugê

Dilma hoje em Porto Alegre, na avenida Borges de Medeiros. (Estava um tumulto, mas consegui chegar pertinho.)

Sunday, October 17, 2010

It's a Syndicated Horoscope (by Chris Ware)*

You born today are in search of love and doubt the overall trajectory of your life. Your dreams are filled with the fading faces of loves lost, ruined or left behind. The notion of your death seems absurd, yet also has the power to paralyze you with fear upon starting awake from an involuntary afternoon nap. Now would be a good time for shopping!

Aries: All possibilities for happiness seem unsalvageable.
Taurus: The time of sexual elligibility is past.
Gemini: Why not call up an old ex-girlfriend or boyfriend?
(Cancer will definitely get you, when & where you least expect it.)
Leo: Keep in mind they might've married or changed surnames.
Virgo: You might also try an internet search.
Libra: What are you going to say, though? Huh?
Scorpio: Maybe you should just see what's on T.V. instead...
Sagittarius: Or buy something... You can do that on line, too...
Capricorn: Besides, what if they're happier than you?
Aquarius: Everyone is happier than you are.
Pisces: Better to stay the big fish in your little pond.

Today's lucky number: 13. Tomorrow's color: Puce.


*From the book McSweeney's Quarterly Concern. Issue Number 13. An Assorted Sampler of North American Comic Drawings, Strips, and Illustrated Stories, Etc. By Many of the Most Dignified and Skilled Practitioners of the Cartoonist Art, Presented On Over 250 Lithographic Plates and In Approximately 3,732 Individual Pictures.

Friday, October 15, 2010

Porto Alegre, 14/10/10

(Sem palavras.)

(Não adianta. Esta segue sendo minha música preferida.)


Filmagem: Luis Fernando.

Thursday, October 14, 2010

A sem-vergonhice de José Serra

Talvez esteja na hora de fazer as malas e me mudar, pois moro numa República (só agora me dei conta) integrista cristã. 70% dos brasileiros se dizem a favor de continuar considerando o aborto como crime. Uma República de hipócritas, também, já que cada ano um milhão de mulheres fazem abortos de maneira ilegal, e centenas morrem por causa disso. José Serra, candidato da direita, entrou no jogo sujo (sempre a direita... Obama é um terrorista muçulmano, né?), vendo que era sua única chance de ganhar a eleição do dia 31. Virou católico de carteirinha (ele, que, no fundo, é tão defensor da descriminalização do aborto quanto Dilma), integrista, até. Não há dia que, em sua propaganda eleitoral na TV, não fale dezenas de vezes em "nascer", "nascimento", "o Brasil que está nascendo", suas palavras acompanhadas com imagens de partos, de bebês com o cordão umbilical ainda sem cortar. Uma imagem é repetida cada dia; para alguns deve ser bonita, mas a mim me parece tirada de um filme de terror: a de sete (!) mães grávidas, vestidas de branco, com cortinas brancas esvoaçando entre elas, acariciando seus ventres cheios. A mulher de Serra chamou Dilma de "assassina de criancinhas". Tudo muito triste. Cadê o jogo limpo nas eleições? Por que, em vez de lutar para mostrar quem é mais cristão, os dois candidatos não dizem que são, sim, a favor da descriminalização?, que aborto é questão de saúde pública, que estamos no século XXI? (Tudo ficaria igual, os integristas não teriam em quem votar.) Mas isso não vai acontecer. Serra prefere seguir nesse jogo, traindo não importa quais princípios, pois vê nele sua única opção de vencer. Ignora as consequências de ir por esse caminho, ignora o perigo de brincar com a separação Estado-Igreja que o Ocidente demorou tanto em lograr. Analistas falam num retrocesso de décadas, quando não numa volta à idade das trevas, à Alta Idade Média. Falam num Brasil dos talibãs. Inclusive na Folha de S. Paulo, de direita, abundam os artigos contra essa estrategia de José Serra. Só o admirado José Simão leva isso na brincadeira ("Quem não é batizado pode votar? Pode, mas não deve!"), mas é serio, e é uma tristeza.

Saturday, October 09, 2010

Presentão do João

Felicíssimo pelo presente que o João me fez por ter terminado o mestrado. Ele fez, literalmente, em sua marmoraria. O mármore verde é grego. O branco, italiano. Obrigadão, João. É incrível.

Friday, October 08, 2010

Janta no Boris (retorno a POA)

Como eu estou com preguiça para escrever no blog, coloco aqui o link para um post da Anna (querida), que comentou a janta de ontem no restaurante do tio da querida Paloma. :)

Thursday, September 30, 2010

No es crisis, es capitalismo

Imágenes de la huelga general de ayer en España.









PS: Joaquín Estefania, en la introducción del suplemento cultural Babelia de ayer, de El País, dedicado a la crisis económica y titulado "Crónica del fin", escribe:

La aplicación de ideas equivocadas ha sido una de las responsables de la Gran Recesión. Dos economistas se salvan de la quema, según el consenso de los textos recogidos aquí: Keynes y uno de sus discípulos, Hyman Minsky. A estas alturas es innecesaria, por obvia, la reivindicación de Keynes, imprescindible para explicar por qué la Gran Recesión no ha devenido en otra Gran Depresión. Pero conviene recuperar la obra de Minsky, un economista americano que defendió en el desierto que el capitalismo es intrínsecamente inestable y que la fuente principal de esa inestabilidad son las acciones irresponsables de los banqueros, operadores de Bolsa y otras personas del mundo financiero. Decía Minsky que si el Gobierno dejase de regular con eficacia el sector financiero, el sistema estaría sujeto a derrumbes periódicos, algunos de los cuales podrían arrojar a toda la economía hacia recesiones prolongadas.

(...)

Cómo va a reformarse el capitalismo para que pierda parte de esa volatilidad y recupere algunos criterios de equidad como por ejemplo los Objetivos de Desarrollo del Milenio? Declaraba Keynes en 1933: "El decadente capitalismo internacional, individualista, en cuyas manos nos encontramos después de la guerra, no es inteligente, no es bello, no es justo, no es virtuoso y no satisface las necesidades. En resumen, nos desagrada y comenzamos a despreciarlo. Pero cuando buscamos con qué reemplazarlo, nos miramos extremamente confusos". Setenta y siete años después de esas palabras seguimos con idénticas incógnitas. Alguien dijo que el sistema necesita un infarto para que, si lo supera, afronte los desequilibrios y adopte un estilo de vida más saludable. El infarto ha llegado pero el capitalismo, en vez de protegerse, se ha dado de alta en el hospital y corre a festejarlo con un cartón de Marlboro, una botella de ginebra y un Big Mac con patatas fritas en la mano. El pesimismo de los autores que analizan la crisis está basado en la sospecha de que no se hayan desprendido las lecciones necesarias ni se tenga la voluntad de corregir los abusos.

Wednesday, September 22, 2010

Músicas que estão tocando em Barcelona

(Dicas da querida Nelia. :))

Espíritu Santo

(... Y sonaron las trompetas de la muerte y la gente se puso a bailar
se puso caliente
y se puso a jugar y con la lengua entre los dientes
bien juntitos como dos gemelitos en el vientre
Y yo me puse contento, como loco de alegría
porque en lugar de Barcelona
La Habana esto parecía, esto parecía
Porque bailando hasta el Espíritu Santo se pone blando...
... Uno, dos, tres
Esto es danza libre
cardio-sensorial, un movimiento enérgico variablemente rítmico
Esto es la guerra y para ganar
tendrás que liberarte del sentido del ridículo
No seas tan critico, mátalo ya
Saca ese monky townky funky sabes que eres único...)


Castillo de arena

Me he puesto tetas

Saturday, September 18, 2010

O que ando fazendo em terras catalãs

Que andei fazendo desde minha chegada a Barcelona, no dia 6? (Como parei de fumar, vou preparar um café antes de responder :) Alguns amigos (brasileiros) me perguntaram isso, e em vez de escrever para cada um, achei que podia fazê-lo no blog (que, além do mais, está meio parado). Por enquanto, só vi uma amiga, a Clotilde, umas dessas poucas, grandes amigas que me procuram mesmo quando eu demoro em ligar, ou não ligo, porque sabem como eu sou e que para mim é sempre um prazer encontrá-las. Fomos num japonês novo e ficamos até que o restaurante fechou. Ela me contou sobre a crise na editora (onde ela trabalha e eu trabalhei) e de seus planos e eu lhe falei de minhas dúvidas quanto ao futuro (escrever, fazer o doutorado, etc.). Ela foi a primeira pessoa daqui a me aconselhar: eu poderia tentar ganhar uma bolsa integral de doutorado agora, até o dia 29 de outubro, e, se não a ganhasse, tentá-lo de novo em 2011. Quanto a outros amigos, ainda não os telefonei. Tenho vontade de vê-los, mas ainda não me animei (vá saber).

Estou curtindo a família. Pais, irmãos (inclusive a Rous :p), avós (fui duas vezes almoçar com minha avó da vinícola, em Sant Sadurní: um dia ela fez canelons, o outro, paella :) Estou ajudando na reforma do apartamento dos meus pais (não dos filhos, já que estamos todos fora). Está ficando uma maravilha, com uma sala muuuito espaçosa, uma biblioteca igualmente enorme, duas sacadas com chão de madeira (grandes, também: agora tudo é grande, derrubaram muitas paredes), um quarto que é meu mas meus irmãos dizem que é "de todos", com computador, notebooks, impressora, montanhas de livros, um sofá cama... Os banheiros (muitos) são a coisa mais chique, com assentos e tampas de privada que descem sozinhas :o) E a cozinha, bah!, é tipo restaurante! Tem sido muitos dias de estar aqui para abrir a porta a pedreiros, pintores, eletricistas, a decoradoras (ai, como ela é linda!). E de acompanhar minha mãe comprar objetos de decoração.

Ontem foi ótimo, fiz algo com muito, mas muito prazer: ajudei meu irmão com a edição (quase) definitiva do capítulo 2 da série "Emerson" (que logo estará no ar). Será essa minha vocação secreta?, a edição ou montagem audiovisual? Quando adolescente, eu tinha uma "mesa de edição" (isso não existe mais, hoje tudo é Mac), só que logo me cansei, não achava graça em ficar um dia inteiro trabalhando para, no fim, ter um ou dois minutos bons. Mas agora é diferente, quero ser montador! :D Fico dizendo para o Uri: corta isso; cola isso aqui; deixa eu ver de novo; para!; isso vai fora, não precisa; aumenta esse som! (Hehehe!) E ele vai mexendo super rápido no Final Cut (do programa não entendo lhufas). O local da produtora do Uri e o Gerard, Sinparpadear, que eu pensei que fosse um apartamentinho em Gràcia, é um galpãozão na Sagrera!, parece Nova York!

Andei lendo, também, é claro. Li o livro Descanse em Paz (em inglês, Wild Nights!), comprado em POA, em que Joyce Carol Oates conta os últimos dias, ou os últimos anos de vida, dos escritores norte-americanos E. A. Poe, Emily Dickinson, Mark Twain, Henry James e E. Hemingway. É fantástico, pois não são narrativas biográficas: a escritora inventa, a partir dos traços de caráter e as obras desses autores, como poderiam ter sido seus últimos dias. Poe, por exemplo, morre como operário solitário de um farol muitas milhas ao oeste da costa do Chile, em companhia de um cachorro... Li uma New Yorker. Li bastantes jornais...

Falando em jornais: como escrevi no meu "romance inacabado", "nos jornais está tudo errado". Desemprego na Espanha: 20%. Desemprego entre os jovens na Espanha: 40%. Há uma greve geral prevista para o dia 29, mas, por enquanto, apesar desse 40%, ninguém foi para a rua jogar tijolos em ninguém (os jovens sem emprego, dizem os velhos radicais, devem estar em casa vendo programas de TV). Na Catalunha, apesar da crise econômica, só se fala (como sempre, sigh!) em "questões identitárias": se a gente quer ser independente, se a gente quer formar parte de uma Espanha federal... (Depois me perguntam por que eu me auto exilei!!!) E agora essa do perigoso Sarkozy, botando os ciganos em aviões, rumo a Romênia. Como se eles não fossem cidadãos de União Européia e tivessem, por lei, liberdade de ir e vir... A comissária de Justiça da União Européia deu um tapa verbal nesse fascista, que no início só recebeu o apoio previsível do Berlusconi. Porém, um dia depois os presidentes dos 27 países da União (dos 27!) ficaram ao lado do presidente francês! :( Esta Europa dos Estados não presta, gente!

Outras coisas que andei fazendo... Mexi no iPad do meu irmão Ramon, para ver se comprava um para mim. Isso do iPad é uma loucura. Logo que chega nas lojas (e isso acontece uma vez por semana), se esgota em dois dias. Eu ainda não sei. Não gosto disso de sujar a tela cada vez que mexo no treco! Mas está sendo um baita sucesso, sem dúvida... Com o Ramon e um amigo seu também joguei basquete, domingo. Depois de uma hora, estava acabado. Mas é que no domingo era fumante! :)

Quanto ao meu futuro, como eu já previa a visita ao meu psicólogo-celebridade me ajudou (conversamos por duas horas). Continuarei escrevendo o romance e continuarei fazendo-o no Brasil, isso já estava decidido. Mas não vou tentar o doutorado já (talvez o ano que vem). A escrita é mais importante, continuar o romance é o que mais quero, e vou me virar para conseguir a grana necessária para sobreviver (me viro com pouco :). (Alguém quer aulas de espanhol? De catalão? De literatura espanhola? :)

Matei a saudade dos doces daqui, que são menos doces do que os do Brasil (ou da Argentina, ou do Uruguai). (Aqui é chantilly em vez de doce de leite, por exemplo.) Vi um jogo do Espanyol com o Uri num bar. (Quando o Espanyol perdia 2 a 0, antes do intervalo, eu já queria ir para casa, mas ele me obrigou a ficar, disse que tinha atravessado a m**** da cidade para ver o jogo comigo e não iríamos embora até o fim: fim: 4 a 0.) Visitei várias livrarias. Por prazer, mas também procurando mais exemplares do meu livrinho (Una barca, un riu, que parece que está esgotado) e a Historia de la locura de Foucault, cujo primeiro volume está esgotado mesmo (e assim não adianta comprar o segundo). Comprei novas HQ de Chris Ware e de Daniel Clowes e ganhei do meu pai El horizonte, romance de Patrick Modiano... Ah, e resgatei de minhas prateleiras Four Quartets, de T. S. Eliot, e Grande sertão..., de G. Rosa, que vou ver se tenho tempo de ler.


PS: Não importa quantos iPads são vendidos. A crise é visível, palpável. As pessoas estão tristes e estressadas, temendo ser despedidas. Muitas famílias estão sem salário nenhum, só com ajudas. Há muitos divórcios... Sempre tive motivos para preferir morar no Brasil: agora esse é mais um.

Wednesday, September 15, 2010

Água e vinho, de Egberto Gismonti

Eu conheço uma pessoa com um dom muito especial. Além do mais, toca violão e é melômana. E, além do mais, é do Espanyol. :) Ontem essa pessoa "me apresentou" ao compositor brasileiro Egberto Gismonti e à música "Água e vinho", que ouvi no seu iPhone enquanto conversávamos.

Thursday, September 02, 2010

Mestre em Letras! :D

Tchanám! Algumas fotos de ontem, dia da defesa de minha dissertação (o meu dia, segundo a Anna, que me deu força até no almoço, antes de tudo começar... :)

Agradeço muitíssimo aos amigos que assistiram à defesa, aos que ficaram conversando no bar da Famecos depois, aos que foram à Champanharia mais tarde (às três fantásticas, Anna, Josy, Paloma, que estiveram nos três lugares, sempre ao lado), aos que enviaram mensagens ou telefonaram. (E aos que tiraram as fotos!) Foi um dia muito especial, que eu não vou esquecer. Me senti muito querido e feliz, e isso... isso é o máximo.