Thursday, October 14, 2010

A sem-vergonhice de José Serra

Talvez esteja na hora de fazer as malas e me mudar, pois moro numa República (só agora me dei conta) integrista cristã. 70% dos brasileiros se dizem a favor de continuar considerando o aborto como crime. Uma República de hipócritas, também, já que cada ano um milhão de mulheres fazem abortos de maneira ilegal, e centenas morrem por causa disso. José Serra, candidato da direita, entrou no jogo sujo (sempre a direita... Obama é um terrorista muçulmano, né?), vendo que era sua única chance de ganhar a eleição do dia 31. Virou católico de carteirinha (ele, que, no fundo, é tão defensor da descriminalização do aborto quanto Dilma), integrista, até. Não há dia que, em sua propaganda eleitoral na TV, não fale dezenas de vezes em "nascer", "nascimento", "o Brasil que está nascendo", suas palavras acompanhadas com imagens de partos, de bebês com o cordão umbilical ainda sem cortar. Uma imagem é repetida cada dia; para alguns deve ser bonita, mas a mim me parece tirada de um filme de terror: a de sete (!) mães grávidas, vestidas de branco, com cortinas brancas esvoaçando entre elas, acariciando seus ventres cheios. A mulher de Serra chamou Dilma de "assassina de criancinhas". Tudo muito triste. Cadê o jogo limpo nas eleições? Por que, em vez de lutar para mostrar quem é mais cristão, os dois candidatos não dizem que são, sim, a favor da descriminalização?, que aborto é questão de saúde pública, que estamos no século XXI? (Tudo ficaria igual, os integristas não teriam em quem votar.) Mas isso não vai acontecer. Serra prefere seguir nesse jogo, traindo não importa quais princípios, pois vê nele sua única opção de vencer. Ignora as consequências de ir por esse caminho, ignora o perigo de brincar com a separação Estado-Igreja que o Ocidente demorou tanto em lograr. Analistas falam num retrocesso de décadas, quando não numa volta à idade das trevas, à Alta Idade Média. Falam num Brasil dos talibãs. Inclusive na Folha de S. Paulo, de direita, abundam os artigos contra essa estrategia de José Serra. Só o admirado José Simão leva isso na brincadeira ("Quem não é batizado pode votar? Pode, mas não deve!"), mas é serio, e é uma tristeza.

2 comments:

uri said...

sí bro'

és trist, molt trist... i el pitjor és que s'està extenent...

la intel·ligència ja no es valora, el sentit comú no existeix i, el pitjor de tot, és que brasil és avui en dia un referent global i no m'extranyaria que molts PPolítics de per aquí es fixin en aquesta estratègia per les pròximes eleccions...

espero que el serra aquest perdi i la gent demostri que el nivell de la majoria és molt superior al dels polítics!!!! sinó no sé pas a quin país ens haurem d'exiliar...

Sergio Lulkin said...

estic d´acord amb el Roger i Uri, perque fa un fástic insoportable... quines forces més reaccionarias, els prejudicis més ordinaris, una gent qui vol agafar el poder sigui com sigui, i nosaltres creient en un pais de futur... per aixó penso que l´art i la filosofia, potser, ens ajuden a soportar aquest cotidià que ens ofega.