Thursday, April 22, 2010

Notícias da Copa do Mundo 1

(Início de uma série que irá até... deixa eu ver no álbum... o dia 11 de julho.)

Notícia 1: "Assaltantes roubam lote de 135.000 pacotes de figurinhas da Copa em São Paulo" (Uol). Ou, 675.000 cromos. Ou, mais de R$ 100.000. Não acho que seja para vender. Acho que até os assaltantes ficaram viciados com o álbum oficial da Copa do Mundo...

Notícia 2 (anterior à 1): "O desabastecimento de figurinhas na cidade se São Paulo vem gerando irritação de consumidores e donos de bancas de jornal". A notícia explica que, apesar de ser uma mania há décadas, o sucesso do álbum de figurinhas da Copa deste ano está surpreendendo todo mundo. E todo mundo está irritado com a Panini, que se justifica: "Não esperávamos esta mania, o álbum é um mega sucesso. Os envelopes mal chegam às bancas e já se esgotam. Há colecionadores comprando 50 envelopes de uma única vez" ("colecionadores" = nerds). E um dono de banca diz: "Só hoje eu disse mais de 20 vezes que não tinha mais. Veio um cara aqui e comprou R$ 400! Não entendo uma coisa dessas. Ele era um adulto!". É. Esse é o ponto ao que eu queria chegar. Ele era um adulto. Nós somos adultos.

Porque eu (sim) comprei o álbum na segunda-feira da semana passada, depois de ter postado mais um capítulo de meu romance. Contente, me dei esse presente (e disfarcei comprando também a Folha de S. Paulo e a Piauí), e desde então estou achando um prazer abrir os envelopes (já não há como disfarçar, a cada dois ou três dias compro 10 envelopes na mesma banca, que, estou achando, me dá sorte, tenho poucos cromos repetidos), ver se sai alguma figurinha especial (um time, um estádio, o emblema de alguma seleção, um jogador que eu conheça), passar delicadamente as páginas finas do álbum, colar com atenção, no quadradinho, cada figurinha, alisando-a... Um prazer para lá de relaxante (mais do que o ioga, que também comecei a fazer).

Agora entendo o meu pai. No fim do verão do ano passado, depois de, se não lembro mal, três anos de aposentado, peguei ele sentado à mesa da sala de jantar colando figurinhas num álbum. O álbum, do campeonato espanhol, tinha vindo com o jornal de domingo, e eu não acreditei no que via. Falei: "Fala sério, pai, tu não vai fazer isso...". Ele me olhou, com cara de abobado: "Por que não? Tô gostando...". Eu falei para meu irmão: "Ei, tu, diz para ele não fazer isso!". Meu pai estava aposentado, sim, com muito tempo livre. Mas aquela regressão à infância???

Bom, pai: eu regredi também. E ia escrever este post mesmo antes de saber que tantos marmanjos ("homem adulto, ou abrutalhado") do Brasil estão dedicando seus dias ao mesmo passatempo infantil. Isso não é desculpa.

No início fiquei preocupado. (Ia dizer o quê, à mulher a quem compro sempre a Folha ou o Estadão, quando fosse lá pela segunda vez pedir envelopes? Que eram para o meu filho?; ia pensar o quê, dona Madalena, quando viesse arrumar o apê e visse o "South Africa 2010 FIFA World Cup Official Licensed Sticker Album" ao lado do Dicionário de Sinônimos e Antônimos?; ia reagir como, a amiga e escritora Ana Santos, quando eu lhe revelasse o meu segredo? - ela já reagiu, me disse que podia trocar figurinhas com as crianças às que dá aulas de inglês...; e a Raquel?, a Raquel ainda não sabe...) Nunca reneguei de meu lado infantil, mas, colecionar cromos, nessas alturas? Precisava, de mim para mim mesmo, de uma boa explicação.

A explicação não veio (não tem explicação). Nessa segunda-feira de há duas semanas tive, simplesmente, um impulso (quero esse álbum) e uma intuição: fazer a coleção pode ser relaxante! E a intuição estava certa, está sendo relaxante e gostoso, já disse, meu novo passatempo. Depois pensei em meu pai, entendi ele, com seu álbum do patético campeonato espanhol. E me senti melhor, gostei de estar fazendo como ele. E vieram lembranças de décadas atrás. Especialmente, de um álbum de cromos, que ainda conservo, bem guardadinho, como se fosse um livro, titulado Mamíferos. (Como qualquer criança, eu gostava de golfinhos, mas foi a partir desse álbum, com desenhos hiper-realistas de todas as espécies, que passei a gostar para sempre de cetáceos.) Não conservo nenhum outro álbum. Só lembro de ter completado outro (mas esse não era meu, era de toda a família) sobre "Árvores de Barcelona".

Lembrei, também, das palavras que usávamos para trocar figurinhas (que no Brasil devem ser diferentes; como é que eu vou fazer?), mas não de com quem as trocava, nem de quais eram as coleções (tenho lembranças mais vivas das bolas de gude, as "canicas", que ganhávamos ou perdíamos para os amigos em cada jogo). Um cromo repetido era "repe", ou "tengui". Um cromo que faltava era "falti". Daí o cara ia mostrando suas figurinhas e a gente entoando: "tengui, tengui, falti, tengui, falti". Isso a gente fazia na escola, mas meus pais me levavam também ao Mercat de Sant Antoni, onde aos domingos pais e filhos se reuniam para trocar figurinhas, revistas, tudo. No mercado, eu preferia as bancas: nelas havia todos os cromos, bastava comprá-los.

Em fim. Feita pública a confissão, não sei o que mais dizer. É bom voltar à infância. Mas há uma coisa que me inquieta. O tema dos álbuns. Eu era tão nerd assim, fazendo a coleção de mamíferos aos seis ou sete anos? E hoje virei o quê, com essa besta coleção de rostos de futebolistas?

5 comments:

Anonymous said...

muito legal fazer uma coleção... e mais legal ainda um álbum de figurinhas da copa!
eu não vou fazer dessa vez :-/ ... ontem pensei em começar a guardar as latas de coca-cola decoradas com ilustrações dos jogadores da seleção francesa, mas eu não simpatizo nada com a seleção francesa.

Anonymous said...

hahaha
boa Roger!!!
vou te dizer que to a dias pra comprar o album tambem...depois de ler o teu post vou ver se compro hoje na hora do almoco :))
depois podemos trocar as 'repe' por correio internacional :))
Antigamente, os albuns do campeonato brasileiro tinham figurinhas que precisavam de cola pra colar... :)
Abrass
Jonas

Roger said...

Oi Anonymous! Tu mora na França? :o) Eu já pensei até em apagar os jogadores franceses do álbum. Não que eu não simpatize com a seleção francesa (que, na verdade, pode-se dizer que é uma seleção africana), mas ela se classificou vencendo ilegalmente, com a maior cara de pau, da seleção irlandesa. Eu adoro a Irlanda. E os irlandeses são loucos por futebol e mereciam estar na Copa...

Eaí Jonas? :) Vai comprar! E vamos trocar as repe, sim! Mas tem aquelas regras, viu? Emblemas valem três figurinhas, estádios valem duas. Jogadores da seleção brasileira valem três. Jogadores da seleção espanhola valem CINCO! Hauhauahua!

Eu também usei cola... era muito chato. O gostoso é as figurinhas serem adhesivas... Abraço!

Leo Wittmann said...

Roger!

Gostei do post. No começo, achei que fosse ser uma crítica (dura) aos álbuns, mas terminou por ser um texto bem nostálgico e sensível.

Parabéns!

Leo

Roger said...

Obrigado Leo!

Por que ia fazer uma crítica aos álbuns? :)

Tem tantas outras coisas das que falar mal...

Abraço!