Monday, May 28, 2012

Mais coisas loucas (A mulher do café)

Deveria estar começando a traduzir um livro que me enviaram de Barcelona. Ou começando a traduzir umas coisas lindas sobre jewelry que me pediu por favor a Maria (querida), afilhada do meu pai. Ou respondendo um e-mail da Cristina, que por fim curtiu o presente que lhe fizemos os amigos em janeiro (!), um fim de semana fora de Barcelona com o marido e sem a filha.

Mas antes queria postar mais uma(s) coisa(s) louca(s). Desta vez não se trata de algo que escutei de uma pessoa desconhecida. Ela é desconhecida, mas a Marinella e eu cada vez sabemos mais coisas dela, e as que não sabemos as intuímos ou, em última instância, inventamos. Não fosse a preguiça, já teríamos escrito a história dessa mulher misteriosa que encontramos sempre onde tomamos café nas quintas-feiras. Não vou dizer o nome do café. Às vezes nem me lembro desse nome (não é um nome comum) e digo por mensagem à Marinella "a tal horas no café da maluca", o que é injusto, porque a maluquice da mulher ainda não é clara - a referência é para que a Marinella não vá para outro lugar. A mulher é misteriosa, bela, de olhar absorto, calada, com origens (nós achamos) no Leste europeu. E, isso sim, vítima de rituais compulsivos que envolvem o café e os cigarros, mais não posso dizer. Bom, talvez em outros posts (um dia deixei a Marinella lá sentada e segui a mulher, feito um Pepe Carvalho; "me dá 15 min.", lhe disse; teria precisado de mais). O único que queria postar aqui é o seguinte. Quinta-feira passada havia um senhor sentado à mesa ao lado da dela. Coisa estranha, estabeleceu-se uma conversação. A Marinella estava atrasada (ela sabe quem é o senhor: alguém graúdo: silêncio), eu estava lendo umas coisas, sinto-me mal por não ter prestado atenção (a Marinella me encheu de perguntas que eu não soube responder). Mas uma frase eu ouvi com clareza, anotei-a inteirinha no celular, mostrei-a à Marinella com orgulho. A mulher disse, assim, do nada:

-Seria bom que os psiquiatras lessem mais literatura. Não literatura médica, não. Mais literatura tipo romances.

Pode parecer pouco, mas, para a nossa investigação, a frase é importante. Como deveria sê-lo para qualquer leitor. Pois não é uma maluquice qualquer. Não é, de fato, propriamente uma frase maluca. É uma frase interessante. Mais do que isso: a nosso ver, carrega uma certa verdade, uma forma de clarividência característica de algumas mentes insensatas. Enfim: uma frase a considerar.

Depois de proferi-la, a mulher falou alguma coisa sobre sexo livre. E foi por isso, basicamente, que a Marinella, quando chegou, não parou de fazer perguntas e ficou chateada comigo. Ela teria querido saber, com toda a razão, mais sobre as opiniões sobre sexo ou, quem sabe, sobre a própria vida sexual da mulher. Que disse (foi só o que eu ouvi):

-O sexo livre.
(O homem não disse nada; ou se assentiu, foi quase imperceptível.)
-... Mas não todo o mundo está preparado.

2 comments:

Marinella said...

hahaha Que detetives de meia pataca nós somos, hein, Roger?

Mas ela já nem me parece tão maluca, só é estranha... E suga o café daquele jeito!

Roger said...

Ela é maluca, sim. Mas há razão em toda maluquice. Temos muito a descobrir.