Thursday, May 31, 2012

L'allocution de Baudot, au livre d'Emmanuel Carrère

Estou marcando muitos trechos do romance, Outras vidas que não a minha, de Emmanuel Carrère, que leio aos trancos e barrancos. No fim vai merecer uns quatro coraçõezinhos, e no início quase fui trocá-lo na loja (até fui; por sorte, sem a nota fiscal). Em meu "deve", a impaciência; em meu "haver" uma estranha intuição para encontrar o livro adequado no momento adequado.

Hoje quero postar um trecho sobre a justiça, que adorei. E comentar, também, que poderia ler-se nas escolas o capítulo sobre as financeiras, agências ou estabelecimentos de crédito fácil (têm vários nomes) e sobre as audiências de inadimplência (p. 113 a 133). Nem todo o mundo sabe - e é melhor a leitura de um romance do que a das páginas de um jornal para entendê-lo - como essas empresas funcionam, e elas formam parte do tripé que provocou a crise, junto com os bancos de investimento e as imobiliárias.

Mas o que eu quero compartilhar é o seguinte: fazer justiça não é aplicar a lei, OK?

"Étienne, a essa crítica, respondia como Florès: não faço senão aplicar a lei. Aplicava-a, com efeito, mas à sua maneira, e lembrando-se de um texto que o impressionara na ENM, a alocução de Baudot. Esse Baudot, um dos inspiradores nos anos setenta do Sindicato da Magistratura, fora punido pelo ministro da Justiça, na época Jean Lecanuet, por ter feito este discurso para jovens juízes: 'Sejam parciais. Para manter o equilíbrio entre o forte e o fraco, entre o rico e o pobre que não pesam o mesmo peso, façam a balança pender mais para um dos lados. Mostrem uma predisposição pela mulher contra o homem, pelo devedor contra o credor, pelo operário contra o patrão, pelo escorchado contra a companhia de seguros do escorchador, pelo ladrão contra a polícia, pelo réu contra a justiça. A lei é interpretável, ela lhes dirá o que quiserem que ela diga. Entre o ladrão e a vítima do roubo, não hesitem em punir a vítima'."


... Encontrei agora, procurando informação sobre "esse Baudot", a alocução em vídeo. Essa alocução ou discurso ou arenga virou "La profession de foi du syndicate de la magistrature" na França. Baudot diz mais do que no trecho citado por Carrère e o que diz é igualmente importante.

Tuesday, May 29, 2012

Toujours grand Jean-Louis Trintignant

Dans Ma nuit chez Maud, d'Eric Rohmer, 1969, le film préféré de mon père.



Dans Amour, de Michael Haneke, Palme d'Or à Cannes 2012, attribuée hier. Avec Isabelle Huppert.

Monday, May 28, 2012

Mais coisas loucas (A mulher do café)

Deveria estar começando a traduzir um livro que me enviaram de Barcelona. Ou começando a traduzir umas coisas lindas sobre jewelry que me pediu por favor a Maria (querida), afilhada do meu pai. Ou respondendo um e-mail da Cristina, que por fim curtiu o presente que lhe fizemos os amigos em janeiro (!), um fim de semana fora de Barcelona com o marido e sem a filha.

Mas antes queria postar mais uma(s) coisa(s) louca(s). Desta vez não se trata de algo que escutei de uma pessoa desconhecida. Ela é desconhecida, mas a Marinella e eu cada vez sabemos mais coisas dela, e as que não sabemos as intuímos ou, em última instância, inventamos. Não fosse a preguiça, já teríamos escrito a história dessa mulher misteriosa que encontramos sempre onde tomamos café nas quintas-feiras. Não vou dizer o nome do café. Às vezes nem me lembro desse nome (não é um nome comum) e digo por mensagem à Marinella "a tal horas no café da maluca", o que é injusto, porque a maluquice da mulher ainda não é clara - a referência é para que a Marinella não vá para outro lugar. A mulher é misteriosa, bela, de olhar absorto, calada, com origens (nós achamos) no Leste europeu. E, isso sim, vítima de rituais compulsivos que envolvem o café e os cigarros, mais não posso dizer. Bom, talvez em outros posts (um dia deixei a Marinella lá sentada e segui a mulher, feito um Pepe Carvalho; "me dá 15 min.", lhe disse; teria precisado de mais). O único que queria postar aqui é o seguinte. Quinta-feira passada havia um senhor sentado à mesa ao lado da dela. Coisa estranha, estabeleceu-se uma conversação. A Marinella estava atrasada (ela sabe quem é o senhor: alguém graúdo: silêncio), eu estava lendo umas coisas, sinto-me mal por não ter prestado atenção (a Marinella me encheu de perguntas que eu não soube responder). Mas uma frase eu ouvi com clareza, anotei-a inteirinha no celular, mostrei-a à Marinella com orgulho. A mulher disse, assim, do nada:

-Seria bom que os psiquiatras lessem mais literatura. Não literatura médica, não. Mais literatura tipo romances.

Pode parecer pouco, mas, para a nossa investigação, a frase é importante. Como deveria sê-lo para qualquer leitor. Pois não é uma maluquice qualquer. Não é, de fato, propriamente uma frase maluca. É uma frase interessante. Mais do que isso: a nosso ver, carrega uma certa verdade, uma forma de clarividência característica de algumas mentes insensatas. Enfim: uma frase a considerar.

Depois de proferi-la, a mulher falou alguma coisa sobre sexo livre. E foi por isso, basicamente, que a Marinella, quando chegou, não parou de fazer perguntas e ficou chateada comigo. Ela teria querido saber, com toda a razão, mais sobre as opiniões sobre sexo ou, quem sabe, sobre a própria vida sexual da mulher. Que disse (foi só o que eu ouvi):

-O sexo livre.
(O homem não disse nada; ou se assentiu, foi quase imperceptível.)
-... Mas não todo o mundo está preparado.

Thursday, May 24, 2012

Situações raras

Do romance Outras vidas que não a minha, de Emmanuel Carrère, que estou lendo.

"É uma situação bem rara alguém ver-se dizendo não apenas o que viveu, mas quem é, o que faz com que ele seja ele e nenhum outro, a alguém que não conhece. Isso acontece nos primeiros momentos de um encontro amoroso e de um tratamento psicanalítico, isso acontecia agora."

É. Uma situação rara, difícil. Angustiante, meio paralisante, até; em função da autoconfiança que esse alguém tem no momento e de maneira diretamente proporcional ao desejo que ele sente pelo outro, no caso do encontro amoroso.

Sunday, May 13, 2012

Coisas loucas

Seguido escuto coisas engraçadas ou surpreendentes de pessoas que falam ao meu redor ou se dirigem a mim. Esta eu vou registrar.

HOMEM se levanta de sua mesa na calçada e se aproxima de mim:

Uma pergunta, já que tu é novo [sic]. A Isabel Allende... está viva ou está morta?

EU:

Está viva.

HOMEM, voltando à sua mesa, falando a uma mulher:

Está viva.

MULHER, olhando para o céu:

Ah, graças a Deus!

Come Healing, by Leonard Cohen

Hoje pensei em Leonard Cohen, não sei por quê, e lembrei que não comprei ainda nem tinha escutado seu novo CD. Ouvi as músicas e escolhi esta para o blog, "Come Healing".

O solitude of longing
Where love has been confined
Come healing of the body
Come healing of the mind
...





Da Rolling Stone US: "When Cohen calls this album Old Ideas, he means not just that these are the thoughts of a septuagenarian, but that he's been turning over these cards for a long while: sex, love, God, and the way the three can be shuffled to relieve the pain of existence. A Jew who disappeared up a mountaintop to ponder Zen Buddhist koans, Cohen has sought rapture anywhere and everywhere he can find it – prayer, LSD, the thighs of a woman – and tried to unite the spiritual and the physical since he first made a sensation with a song about a girl named Suzanne, who touches your perfect body with her mind".

(Essa última frase me emocionou, mas acho que não é preciso postar "Suzanne".)

Thursday, May 10, 2012

Em resposta ao comment do Sérgio no post anterior

Sérgio, querido, podría escribir los versos más tristes esta noche, escribir, por ejemplo, el cielo está estrellado y bla bla bla. O los más alegres, como my mistress' eyes are nothing like the sun. Si este fuera un blog íntimo y personal, no me faltarían asuntos. Pero hay cosas buenas sobre las que no quiero escribir, amores incipientes, por ejemplo, y cosas menos buenas sobre las que debo callar, no voy a morder la mano que me da de comer, ensaios de teatro. Podría hablar de Laura, que me escribió después de tantos años, el infierno de Facebook se puede humanizar un poco, tiene esas cosas, o sobre lo que hizo Marinella el domingo por mí. Podría postar un cuento suyo, em que uma mulher suspira e diz: "por aí, pelo mundo", sem acreditar muito, como um dormir, talvez sonhar. O hablar de los libros que leí, pero a veces me cansa escribir, más ahora que escribo todo el día. Os capítulos do romance, poderia, mas o romance não cabe mais aqui. Anunciar uma palestra próxima, dia 31, Ivan Izquierdo, a quien le está permitido, y cómo no, mezclar ciencia y literatura, ou um show do Fito, no tan próximo, en que el pibe cantará lo de las margaritas em Madri. Hablar de España y de Europa me da tristeza, ni siquiera me alegra la victoria de Hollande, qué poco podemos hacer. Não fui ao cinema, não tenho filme para esculhambar. De Porto Alegre ya no sé qué decir, en esta puta ciudad, todo se incendia y se va?, sete são muitos anos. E o que tu vai fazer em Barcelona, disse a amiga, chateada. Não sei, querida. Encher de beijos minha sobrinha e meus pais, bota a culpa em Philip Roth. A Piauí está ficando ruim, vou reler Cortázar, então terei saudades de Paris. Outro dia num café, um cara de moletom: Bedford Ave., saudades também, mesmo sem ter sido feliz a última vez, mas meu narrador mora lá. Ontem no outro café, três velhos recitando, um Pessoa, outro Quintana, outro Drummond, todos os versos inexatos, achei bonito. No celular tenho fotos para postar, vistas da cidade acumuladas, talvez o faça. Falar bem disto e mal daquilo, ótimo, gostaria, pero no quiero crearme enemigos, ya me los creo cuando no aguanto más. Murió la profesora Remédios Ritzel, pero qué voy a decir, que la recordaré?, que no había nadie como ella en la facultad? Ana habría escrito un bello epitafio, no la conoció ni la conocerá. Porque en noches como esta la tuve entre mis brazos bla bla. No sé lo que Clotilde est en train de faire, no escribí a Julia y a Jorge, nem à Bel.

Wednesday, May 02, 2012

En la ciudad de Sylvia

O Sérgio me enviou esta mini crítica ditirâmbica do filme de José Luis Guerín, de 2007:

A Pilar López de Ayala é a jeune-fille mais linda do mundo!
O Xavier Lafitte é o jeune-homme mais lindo do mundo!
A fotografia do filme é um delírio de beleza.
A música é ótima.
O filme é especial, requer paciência e tranquilidade, é cool, é lindo!


Friday, April 27, 2012

Tuesday, April 24, 2012

Hope There's Someone, de Antony and the Johnsons + "People like being clean"

BREAKING NEWS: BYE BYE Bar$a, Er Millor Ekip derr Món. Bar$a (jogando com 12) 2 - Chelsea (jogando com 10) 2. Nem Liga, nem Champions. Sempre RCDE.


Andava revisando coisas da Isabel Coixet e ouvi esta música no trailer de The Secret Life of Words. Este Antony Hegarty é mais esquisito que o Daniel Johnston. (Além de que se parece demais com a própria Coixet: inquietante.) (No trailer, gostei da declaração de amor de Tim Robbins, quando ele diz, em tradução minha ao espanhol, que fica mais garrula: "Creo que ahora que me sujetas la polla y meo delante de ti, podríamos llamarnos por nuestros nombres, o hasta empezar una nueva vida juntos".)




Também de The Secret Life of Words, revi esta cena, que eu não lembrava. Lembro pouco desse filme, não o achei bem acabado (talvez não o entendi); gostei mais de My Life Without Me. Mas a cena, revista agora, mesmo na telinha do iPhone, me fez chorar. (Como é difícil escutar, pensei também. Inclusive no cinema. Porque Sarah Polley está esplêndida no monólogo, mas Tim Robbins está com cara de tijolo. Não reparem.) (P.S. ao parêntese: Reparem, antes, na burrice do espetador: a personagem de Tim Robbins é cega, ou parcialmente cega. Duh, Roger!)

Saturday, April 21, 2012

Friday, April 20, 2012

Um contra o outro, de Deolinda

Um pouco de música portuguesa. (É a trilha dos créditos finais de Muito Giro, novo programa do Fernando Caruso no Multishow - novo para mim, que vi um capítulo agora no YouTube, estou sem Net.)


Wednesday, April 04, 2012

Rubem Fonseca e o que um escritor deve ser/ter

A Marinella me enviou o vídeo de uma palestra que Rubem Fonseca deu em Portugal, agora em fevereiro. Nela ele fala das cinco coisas que um escritor tem que ser ou ter. (Só cinco. A mim me falta uma, às vezes: a motivação, que é a mais volúvel.) E demonstra algo que eu não sabia: ele é um showman. (Sérgio, tu vai adorar sua movimentação, seu uso do corpo no palco, isso que tantos professores e palestrantes esquecem que é fundamental.)

Segundo alguns comentários no YouTube, o som está ruim, mas com fones de ouvido se escuta tudo muito bem.

Sunday, April 01, 2012

So proud of Uri!

SÉRGIO: Alguém desta família tinha que ser famoso!
EU: Pois é! Antes de meus pais morrerem!
SÉRGIO: Não fala isso, que eles são muito jovens e falar isso dá azar.
EU: É verdade.

http://www.imeldafilms.com/ <-- Este é o site da produtora pela que o Uri começou a trabalhar, depois de realizar muitos comerciais para uma outra. A produtora dele e do Gerard, sinparpadear, para projetos criativos de ficção (Emerson e outros), continua, mas agora ele vai trabalhar aqui também. Quem saiba de cinema vai entender porque o passo que ele deu me orgulha tanto, vai ver com quem ele "se associou".


Aqui um dos muitos comerciais que o Uri fez, que eu não conhecia e adorei: http://www.imeldafilms.com/?portfolio=match-com

Thursday, March 29, 2012

Show de luz no prédio da prefeitura de Barcelona, fevereiro de 2012

Ontem tomei café com a Camila (não: cerveja) no Chalé da Praça XV. Na praça tinha um show de música, e pela megafonia foi anunciado um show de luz na fachada do mercado, às 20h. Então lembrei do show de luz na fachada da prefeitura de Barcelona, ao que assisti o dia do meu aniversário (depois de um baita almoço e uma baita surpresa que os amigos me deram em casa da querida Roser), em ocasião das Festas de Santa Eulàlia, segunda padroeira da cidade (a primeira é a Mercè). Pensei que talvez este seria igual ao de Barcelona, inclusive poderia ser produzido pela mesma empresa. Não foi: foi bonitinho, mas nada a ver com aquele. Aquele foi espetacular, e se na hora não postei nenhum vídeo foi porque também o achei, vai saber por quê, um pouco brega. O vídeo (de "salchimurri") não produz o mesmo efeito que o show ao vivo, mas dá para se ter uma ideia. A parte que mais me impressionou começa no minuto 7 (e, antes, as explosões de pintura).

Mais tarde vou postar um vídeo que eu fiz, essa mesma tarde, do correfoc infantil. Achei mais lindo que o correfoc de La Mercè, que ocorre em setembro na Via Laietana, porque este passa pelas ruazinhas estreitas e antiquíssimas do Barri Gòtic. Os diabos mais novos, nos disseram, têm apenas 5 anos de idade. E eu quase me queimei, filmei de muito perto.

Saturday, March 24, 2012

Restless, by Gus Van Sant

Gus Van Sant doesn't make bad movies. Por isso achei estranho que no site Rottentomatoes seu novo filme aparecesse com só 36% de críticas positivas, ou seja, como "rotten". Como isso simplesmente não podia ser, procurei a crítica de A. O. Scott, do New York Times. Ela é positiva. Mas ainda mais positiva é a de Richard Brody, na New Yorker.

Não sei se o filme vai estrear ou se já passou pelos cinemas em POA. Lembrei dele hoje, folheando por acaso uma revista bobinha de novembro ou dezembro de 2011, onde era recomendado. Gosto de escrever as "críticas" eu mesmo, mas como não sei se vou poder ver o filme, posto o trailer e a crítica de Brody aqui, para quem tiver a chance de assistir.




"Restless" in Peace and War
Richard Brody, The New Yorker


To summarize Gus Van Sant’s new film, “Restless,” which opens tomorrow (and which David Denby wrote about in the magazine this week), is to invite laughter: Enoch (Henry Hopper), a teen-age boy who is obsessed with death, meets, at one of the many funerals he crashes, Annabel (Mia Wasikowska), a mortally ill girl, and they begin a relationship. Yet the backstory gives the young man a good reason to be death-obsessed—his parents both died in a car accident that also left him momentarily dead, and then in a three-month coma. And though the movie (like so many these days) runs on the emotional tangle and expressive frustration that results from not having gotten therapy at once, Van Sant extracts something wonderful from his somewhat contrived setup. All couples meet by a seeming miracle, and what brings this young pair together is less the way they think about death than the way they live. His real subject is the theatre of daily life—the mask and the costume, the assumed identity—as a formative and defining teen-age experience.

“I’ve always wanted you to admire my suffering” (as Kafka knew) is the fallback position for the adolescent not-quite-alpha male whose powers of invention get channelled instead into an elaborate (or, as Nietzsche might have said, priestly) ritual of abnegation, a theatre of self-denial that aims nonetheless at achieving the usual gratification (unless—and there’s another story—he internalizes his performance and takes its means as its ends: the portrait of the artist as a young dogmatist). Enoch is a type, but realized with a tender specificity. When he talks about death, he’s been there, and declares, with a roughly-earned existential anguish, that what awaits is indeed “nothing,” and the artificial fullness of his experience, or, rather, the filling-up of his existence with artifice, is his response to the void.

Enoch and Annabel share a love of role-play. They have thrift-shop Victorian wardrobes to die for, and their dress-up games and intricately scripted and staged playacting (done for their own pleasure, without spectators—except for Halloween) seem at one with the film’s Portland setting. As photographed by Harris Savides, it seems draped with Gothic vines and yet serene with a soft, enveloping light. Capturing a pair of smart and original kids in an ordinary town (i.e., not in the high-culture pressure cooker of New York or the hip milieu of Hollywood), Van Sant suggests that the unpopulated expanses, the proximity of nature’s sublime otherness, offer them a richer and stranger cauldron of fantasy, a larger and more malleable inner stage for it. He’s after nothing less than the very nature of the American imagination, its source in the land—and its morbid, violent roots.

There’s a strange sidebar to the action, and trouble in paradise—Hiroshi (Ryo Case), the living image of a gentle, ironic Japanese kamikaze pilot from the Second World War whose presence Enoch conjures. (What’s next, a musical twist on the Bataan Death March?) Van Sant’s view of him is startlingly benign and ahistorical (though a brief atomic-bomb montage suggests that, by comparison, he finds the Imperial Army’s suicide fighters unexceptionable); in any case, the boy’s fascination with martial ritual (purged of politics and nationalism) reflects his own struggles with violence and, for that matter, his own methods of auto-therapy.

Whether Hiroshi is Enoch’s imaginary friend or, for that matter, imaginary lover is never clarified; the suggestion is enough. Van Sant’s forthright approach to gender continuity, free-ranging desire, and possible exploration—amplified by the casting and the costuming that give Enoch and Annabel the same short and floppy haircuts and the same slender physiques—is all the more relevant to his vision of malleable identity.

The subject is in the air. Some of the best films of the year to date, such as “The Future,” “Bellflower,” “The Ballad of Genesis and Lady Jaye,” and even “Certified Copy” have confronted it, as does the forthcoming “Silver Bullets,” which I’ll revisit later. (It’s worth adding now that it shares something else with “Restless”: the fascinating presence, in a supporting role, of Jane Adams.)

Tuesday, March 20, 2012

Ficar em albergue é...

Ainda não saí e já estou com saudade do hostel. Como deve ser lindo ter um albergue - pensei hoje - e como deve ser triste. Pessoas queridas, por quem a gente se afeiçoa, logo vão embora e em geral não voltam mais. Depois de um mês, sinto um grande carinho pela Viviana, a Flávia, o Edilson e os outros empregados. O Edilson (um dos dois seguranças que se alternam às noites) me perguntou quanto custa e quanto demoraria em receber pelo correio uma camiseta do Espanyol. Ele sabe que Dátolo, agora no Inter, seu time, jogou no meu, assim como Costa, do Grêmio; sabe que Coutinho, selecionado pelo Brasil para a Olimpíada, está triunfando em Cornellà-El Prat (eu lhe disse que hoje fez mais um golaço).
-Quantas pessoas queridas tu não conheceu aqui, né? - ele vem de me perguntar agora, quando saí à calçada para fumar -. De todo o Brasil e do mundo.
-Muitas, quase todas. Só aquele **** era meio chato - eu disse (a nacionalidade não é difícil de adivinhar; por que tantos **** são assim?).
-Sim, ele era louco.
Senti-me muito querido pelas pessoas que trabalham aqui, que me tratam como se fosse da casa (isso é porque tu é como tu é, pensa bem, disse meu psicólogo); ajudaram-me em tudo, inclusive a procurar apartamento para alugar, e voltarei muitas vezes para vê-los e conversar. A bruschetteria, aberta ao público, começa a funcionar a semana que vem.

Hoje me deixou triste que o Ferras (o australiano, de origem palestina), fosse embora, para o Pantanal. 35 anos, aventureiro, interessado por tudo, bem-humorado, disposto a fazer rir qualquer um - em especial as gurias, comprovei estas últimas noites. Sem ele, por exemplo, o argentino Fernando e eu não teríamos sentado à mesa de três moças lindas e simpáticas, ontem, num restaurante da Cidade Baixa; nos divertido até altas horas. Sem ele, na sexta, Marta, a gaúcha italiana, não teria deixado suas amigas patricinhas no tedioso Dhomba e ido sambar com nós dois. Marta, a da beleza incomparável, "che fa tremar di chiaritate l'are", sambando se soltou ("como eu precisava disto!", disse), deixou de parecer um afresco para se tornar mais bela ainda, e real. Mas nem tudo foi noite e mulheres. Ontem à tarde, ele e o argentino (que hoje foi para Bento Gonçalves dar umas palestras sobre lógica computacional, seja isso o que for) me pediram para ir "naquele lugar onde se vê o pôr-do-sol"; eu voltava de um almoço com a Marinella e pretendia ler e descansar, mas fui passear com eles à beira do rio, antes de voltar para o Gasômetro e sentar na grama. Deu tempo até de jogar um pouco de basquete com um brasileiro que estava na quadra sozinho e - casualidade - morou em Sidney por dois anos e quer voltar lá para ficar. Meu inglês melhorou um monte (ontem fiz de tradutor simultâneo com essas três gurias); minha perna machucada, não - o médico pediu repouso, mas eu não quis perder a chance de fazer uns arremessos, muito menos de sambar. "Você é a gaúcha mais linda que eu já conheci. Não é cantada, é fato".

Todas essas pessoas, também o inglês Richard (sua história não cabe aqui, além de que não terminou, espero acompanhar a continuação, ele fica em POA), ou a Hellen, carioca que mora em Niterói, ou a nova empregada que a Viviana contratou, haitiana (numa janta a Viviana me contou uma parte de sua história, de seu inferno) me deixam seus e-mails e perfis no Facebook. Já andei pensando em voltar para esse mundo de amizades virtuais, para manter o contato, mas não o farei, seria absurdamente pouco em comparação com o vivido no mundinho real.

Wednesday, March 14, 2012

... E segue sendo muuuito bom (ficar em albergue)

Pena que já me restam poucos dias (mas vou para um lugar melhor). Aqui cada dia é festa, cada dia é carnaval. Estou sem tempo para contar as histórias que ouvi, falar nas pessoas que conheci ou estou conhecendo. A última, uma italiana. Bom, ela é gaúcha, mas está há cinco anos na Itália e pretende ficar lá. É de uma beleza inacreditável. (Um dos caras da recepção se cobre o rosto quando ela passa.) Hoje fomos comer pastéis e beber cerveja, com ela e uma amiga, quinta vamos dançar. E mais nada, é só para ser admirada (boa de conversa, também, e boa de risada). Já nem me preocupo com o português do blog, desculpem, está difícil, com todo esse pessoal estrangeiro. Hoje estou no quarto com um argentino e um australiano. O australiano me convidou para uma festa sexta, toca uma dj amiga dele. A festa não para.