Saturday, December 13, 2008

Esaú e Jacó, O mundo à minha procura III, Conta-Corrente I

Mais livros.

Pela presença excessiva da voz do narrador, mais exagerada do que em qualquer outro de seus romances de maturidade, aqui dá para ver como, para Machado de Assis, o mundo pode ser um teatro e as pessoas - as personagens -, títeres (em uma visão do mundo que, segundo um crítico literário, coincide com a do filósofo Schopenhauer). Essa presença excessiva chega a ser enfadonha, em opinião compartilhada por vários colegas. Mas o estilo é sempre incrível.





Terceiro volume de uma autobiografia romanceada de Ruben A., escritor português. Monólogo interior sem fim, texto verborrágico, com muitas metáforas, barroco, quase rococó, de ritmo rápido... Mas nada que disfarce o pouco interesse do enredo: um professor de "francês comercial", no Porto, compra uma casa e pensa no passado (onde há um Belzebu - o pai? -, uma namorada que termina o relacionamento com ele, um amor platônico, e não sei mais o quê).





Este eu não vou comentar. Vergílio Ferreira também é português, e Conta-Corrente também é um livro autobiográfico, neste caso escrito em forma de diário. Só vou citar um fragmento que achei bem interessante sobre Fernando Pessoa. (Eu gosto muito de Pessoa, mas Vergílio Ferreira tem uma crítica a fazer.)



P. 62:

Eça de Queirós foi quase a minha juventude; Pessoa, mais tarde, a minha quase obsessão. [...] É um "grande". [...] Mas depois de lhe escriturar a grandeza, gostaria de arrumar este problema: em que medida a sua originalidade não é muitíssimas vezes um arranjo curioso de banalidades? Dizer, por exemplo, "os olhos que têm o sono que não tenho" é dizer que se tem sono e se não pode dormir; dizer "se te queres matar, porque te não queres matar" é dizer "se te queres matar, porque não te matas?" [...]. Decerto, a maneira também é conteúdo; mas é um conteúdo em maneira e não em si com o quanto necessário à sua manifestação. E de tal modo isto é maneira, que é extraordinariamente imitável (e imitado) - o que não pode acontecer com uma originalidade de fundo. [...] Aliás, repito, seria interessante um confronto sistemático de Pessoa com Eça, de quem ele disse muito mal e em cujos bolsos meteu às vezes a mão. Por exemplo, é citada até à náusea a frase de Pessoa "a minha pátria é a língua portuguesa". Mas isto está na carta IV do Fradique: "Na língua verdadeiramente reside a nacionalidade". [...] O que é freqüente nele é não dizer nada de novo, excepto no que há de imprevisto e desmultiplicado na maneira de dizer. A ver se arranjo exemplos.

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