Saturday, April 04, 2009

A sorte de não ser anglófono

Para quem gosta de ler e escrever, é uma sorte não ser anglófono. Hoje tem na Folha uma crítica de um livro de Nick Hornby: Frenesi Polissilábico. O livro reúne resenhas que ele fez para a revista norte-americana The Believer (nota: nunca ouvi falar; segundo o crítico, é "uma das revistas mais bacanas do mundo" - também não sei o que isso quer dizer), com a imposição dos editores de que as resenhas fossem sempre positivas. Por isso ele resolveu escrever sobre livros escolhidos por ele (o título da coluna era "Stuff I've Been Reading"). Preciso dizer que eu não sou leitor de Hornby (comecei a ler A Long Way Down, não gostei, parei: acho que ele escreve voltado para um público muito jovem), mas sei que ele é um bom escritor, respeitado, premiado, etc. Então. O que eu quero destacar é o que aparece em último lugar na crítica da Folha. O crítico diz que, entre os mais de 100 títulos lidos por Nick Hornby, se encontram "apenas algumas cartas de Flaubert e Tchekov, um romance do israelense Amos Oz e outro do espanhol Javier Cercas". E em traduções ao inglês. Já sabia mais ou menos disso, pois colegas que eu tive em Nova York (colegas leitores) também só liam livros em inglês e de autores anglófonos (todos tinham lido One Hundred Years of Solitude, isso sim). My point is - porque já estou me alongando demais - que nós, fãs da literatura norte-americana e inglesa, conhecemos a literatura deles e várias outras: ao menos as européias, as latino-americanas...; e até podemos ler as obras nos idiomas originais. Ou seja: em princípio, estamos muito mais capacitados do que eles - os anglófonos, que não aprendem outras línguas porque "não precisam" - para adquirir uma bagagem cultural maior, o que pode significar ter uma visão mais abrangente, uma visão mais aproximada do real (e do fantástico, por que não). E, em segundo lugar, que é assustador pensar que o país que dominou o mundo no século XX esteve, quanto à criação literária e à leitura, tão isolado do resto de países e culturas. Imagino - só pode ser assim - que os grandes autores (Hemingway, Fitzgerald, T.S. Eliot, Faulkner, etc.) foram exceções (os três primeiros moraram na França, por exemplo) a essa "regra". Mas os leitores anglófonos... eles cresceram e crescem desconhecendo um mundo, o que não pode ser (nem tem sido!) nada bom.

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