Monday, August 31, 2009

Poema

Desprezo

Desprezo as pessoas que só escrevem bem,
por terem falta de talento ou ambição.
Desprezo as pessoas que escrevem muito bem,
porque serão e viverão desgraçadas.

Saturday, August 29, 2009

Poema

Poema encontrado em uma velha caderneta. (É sério, estou mexendo em velhas cadernetas.)

Escribir será, para mí, un juego.
No voy a pararme a pensar en los adjetivos.
Escribir será, para mí, un juego.
Escribiré sin pensar una historia de miedo.


PS nada a ver: Ontem, sexta-feira, na loja da esquina uma mulher pequenina, com a pele curtida e o cabelo estragado, comprou à minha frente dez maços de cigarros. Pensei: Puta, como fuma esta mulher! E depois: Não pode ser; puta, como fuma esta família! Foi logo indo para casa que caiu a ficha. Não eram para ela. Eram para o marido preso. Sábado ou domingo é dia de visita...


PS 2: Maravilha (da época da minha avó; minha avó Montserrat canta esta música - não que ela fume, nem que espere al hombre que ella quiere: esse homem já foi, e nunca esperou um outro):




PS 3: Maravilha 2, tudo a ver com o post de ontem, porque a Céu a cantou, disse que a ouvia em casa quando criança e nunca parou de ouvi-la:


Friday, August 28, 2009

Vagarosa

Ontem foi a noite da Céu. Fui com o P. (sempre querido) e a J. (também muito querida - uma outra J., não a J. F., sempre querida e sempre sumida). Depois fomos no bar de um amigo de escola do P., F., também conhecido da G., bem pertinho do Opinião, onde tinha roda de samba. Bem bom. A Céu estava empolgada; o público, mais ou menos (menos do que o público da Concha Acústica do TCA de Salvador). Só não gostei do figurino, essa saia é bem pouco sexy :o) Enfim, o show foi bom, mas não foi massa, talvez porque eu também não fiquei tão descontraído (em casa eu fico: o CD é massa, me faz dançar). (O vídeo não é meu; sempre confio que vai ter alguém filmando :)

No Far West

Notícia de hoje, do jornal Zero Hora:

"Um homem morreu na tarde desta sexta-feira ao tentar assaltar uma lotação que fazia a Linha Ipanema, em Porto Alegre. Armado com uma faca e um revólver, o homem ingressou no coletivo na Avenida Juca Batista, próximo ao supermercado Zaffari, no bairro Cavalhada, e anunciou o assalto minutos depois.

Na altura do número 2300, quando o assaltante já recolhia pertences dos passageiros, o motorista freou bruscamente a lotação, causando a queda do criminoso, que deixou cair as armas.

De acordo com a tenente da Brigrada Militar Sibele Brito, que atendeu a ocorrência, o condutor entrou em luta corporal com o assaltante e conseguiu tomar a faca. Logo depois, cravou a arma no peito do homem, que morreu no local. Pelo menos quatro passageiros estavam no lotação no momento do incidente. Nenhum ficou ferido."

Thursday, August 27, 2009

Lázaro Ramos no Irritando Fernanda Young (ou: Você vai fazer coisas que nunca pensou que ia fazer)

Fernanda: "Mas mesmo assim, você não cresceu triste, né? Baiano não fica triste...".
Lázaro: "Fiiiica! Só que não demonstra. Faz parte do marketing. Marketing baiano".

*

Fernanda: "Você não é muito carnavaleiro, né?".
Lázaro: "Eu adoro Carnaval! Ir de pipoca...".
Fernanda: "...".
Lázaro: "Não sabe o que é? Ficar na rua, com o povo, levar porrada, beber cerveja?".
Fernanda: "...".
Lázaro: "Ai Fernanda, vou ter que levar você no Carnaval. Você vai fazer coisas que nunca pensou que ia fazer".

*

Fernanda: "Eu sou tímida".
Lázaro: "De verdade?".
Fernanda: "Sim. Muito tímida".
Lázaro: "Precisamos estudar isso".

*

Fernanda: "Eu li numa entrevista que você não era ciumento".
Lázaro: "Eu disse isso?".
Fernanda: "Disse".
Lázaro: "Menti".

Wednesday, August 26, 2009

As nuvens, de Juan José Saer

Li em duas sentadas este livro de Juan José Saer, o segundo "anti-Borges" (o primeiro e mais querido é, para mim, Manuel Puig). Lendo o início, esperei uma obra mestra. Talvez não o seja, mas é um romance muito bom. O assunto, a viagem de um médico alemão, com uma caravana formada por índios, soldados e prostitutas, para levar cinco loucos desde uma aldeia cem léguas ao norte de Buenos Aires até uma nova clínica psiquiátrica fundada por ele e seu mestre, com "métodos novos, mais humanos". O tema, a relatividade da loucura. E a loucura de se aventurar pelo pampa - que, descrito por Saer (a história se passa no início do século XIX) é o próprio inferno. O narrador é o médico, mas neste trecho inicial, que me maravilhou (e que agora, ao transcrever, achei proustiano), o autor se refere em 3a pessoa a quem encontra o manuscrito da viagem, nos dias atuais - o romance é de 1997; Saer morreu em 2005. (Trad. de Heloisa Jahn.) (Estou lendo autores argentinos e uruguaios em português, quem diria. A tradução é muito boa, mas seria legal que livros de Buenos Aires estivessem à venda aqui; estamos tão perto...)


[...] A casquinha dupla de creme e chocolate que se prepara para tomar será seu único almoço, e se esperou até tão tarde - já são quase duas e meia - para sair do escritório e comprá-lo é porque decidiu que o sorvete terá a função de permitir que fique sem comer até a hora do jantar. O calor é, sem dúvida, a causa principal de sua frugalidade, mas uma espécie de estoicismo que poderia ser considerado esportivo, produto não de uma regra que aplica a toda a sua vida, mas capricho do dia, confere a essa estratégia física uma vaga coloração moral. De modo que se sente bem durante alguns segundos, contente, leve, sadio e, apesar de já não estar longe dos cinqüenta, imagina contar com um futuro - imediato e remoto - claro, direito e vívido, como um tapete vermelho estendido desde a ponta de seus pés até o infinito. Quase ao mesmo tempo, o rigor do verão, o tumulto da rua, os gases escuros emitidos pelos automóveis e que envenenam o ar puxam-no de volta para uma certa medida de realidade, para esse meio-termo do estado de espírito situado a igual distância da angústia e da euforia e que aqueles que imaginam conhecê-lo relativamente bem, e ele próprio, mesmo quando por distração se deixa convencer por eles, chamam com segurança injustificada seu temperamento.

Saturday, August 22, 2009

Muita frescura

No guarda-volumes do MARGS, onde estão expostas temporariamente obras dos mais importantes pintores franceses, um homem vestido de camisa e bombachas resmunga, com voz cada vez mais alta:
- É muita frescura. É muita frescura.
Até que o garoto e a garota atrás do balcão cansam, e o garoto pergunta:
- O que é uma frescura senhor?
- Não poder entrar com o chimarrão. Aqui no Rio Grande do Sul.


PS nada a ver: Rosa Montero.

Friday, August 21, 2009

Medo(s)

Eu estava na rua Uruguai, olhando para o alto, e reparei nos aparelhos de ar condicionado. Há prédios antigos de cinco ou seis andares, e outros de mais de doze. E em cada andar há, do lado de fora, seis ou mais desses aparelhos. Não tenho fobias, nenhum tipo de pânico, mas espero que estejam todos muito bem parafusados. Já pensou, se um dia começarem a cair em cima da cabeça dos transeuntes? (São coisas que a gente imagina quando está desocupada.)

Aproveito para recomendar um livro que ainda não comprei nem li, mas vou ler. A Companhia das Letras lançou agora Bem que eu queria ir, de Allen Shawn (filho de William Shawn, editor-chefe da revista The New Yorker entre 1951 e 1987), que conta seus "medos de quase tudo", faz uma "arqueologia de suas fobias".

Allen Shawn, escrevendo sobre seu pai e a revista The New Yorker: "Hoje eu diria que, como eu, ele era agorafóbico e sofria de transtorno do pânico. Ao contrário de Emily Dickinson, era ativo e precisava da empolgação de estar presente no mundo, mas também buscava segurança e tentava fazer um porto seguro de todos os contextos em que entrava. Ele via a revista que editava como uma espécie de abrigo intelectual e moral para seus leitores. Descrevia cada edição como uma espécie de 'presente' enviado aos assinantes, uma recompensa, talvez, por terem chegado ao fim de mais uma semana" (p. 51-52).

Antes de vir ao Brasil em 2005, assinei por três anos à revista. E ainda hoje procuro às vezes abrigo nela, deslocando-me até a Livraria Cultura e comprando a preço de ouro números um mês atrasados.

Monday, August 17, 2009

Por que o mundo não pode funcionar

Há no mundo 1) pessoas que usam guarda-chuvas, 2) pessoas que não usam guarda-chuvas* e 3) marquises.

E há o seguinte: as pessoas que usam guarda-chuvas não se afastam do lado de dentro da calçada, ou seja, de debaixo das marquises, enquanto as pessoas que não usam guarda-chuvas caminham pelo lado de fora, sob a chuva.

Por quê?

As pessoas que usam guarda-chuvas 1) não sabem o que têm em cima da cabeça, 2) são tão conscientes quanto as pessoas que não usam guarda-chuvas da inutilidade ou ineficácia do guarda-chuvas (mas, então, por que o usam?), 3) se importam pouco ou nada com as pessoas que não são elas.

Minha suspeita: o princípio que leva as pessoas que usam guarda-chuvas a caminhar debaixo das marquises é o mesmo que leva as pessoas que têm dois carros a quererem três ou as pessoas que têm cinco milhões a quererem dez.

Por isso o mundo não pode funcionar.


*Por diferentes motivos: 1) estéticos (não gostam do treco e/ou não se preocupam com seu cabelo), 2) humanitário-científicos (querem que o treco de há 300 anos evolua algum dia, 3) poéticos (Uma vez eu perdi o meu medo / O meu medo, o meu medo / O meu medo da chuva / Pois a chuva voltando pra terra traz coisas do ar).

Friday, August 14, 2009

Twittando

Ninguém disse que é um absurdo, um nivelar por baixo, coisa para quem não lê nem escreve, isso do Twitter, só poder usar 140 caracteres?*


*Queria argumentar, mas já usei 136. Restam-me quatro: FUCK.

Wednesday, August 12, 2009

Céu, Cordão da Insônia

Céu está de volta com seu segundo disco, "Vagarosa". Eu vi ela em fevereiro do ano passado em Salvador, com a Rose e o Ronaldo. Agora ela se apresenta... em Porto Alegre :) Dia 27, no Opinião.



Da Folha de hoje: "A proposta é uma música irracional, que mais estimule o corpo do que a cabeça, que ganhe o ouvinte pelo tato, pelo suingue. Talvez por isso a Jamaica seja, de novo - até mais que o Brasil do samba -, a principal referência rítmica de 'Vagarosa'".

Monday, August 10, 2009

O meu nome é Legião, de António Lobo Antunes

Há anos, mais de cinco, li alguns textos de Lobo Antunes. Eles encerravam o caderno cultural Babelia, do El País. Não gostei, não entendi nem do que tratavam, os achei poéticos demais, achei quase ridículo, fora de moda, que fossem escritos sem pontuação. Deixei de os ler.

Muito tempo depois, agora, comecei a ler O meu nome é Legião, seu último romance. O comprei por vários motivos: pelo título (sei: besteira); porque uma professora disse que ele, mais do que Saramago, merecia o Prêmio Nobel; porque achei o assunto, a miséria e a degradação humana na periferia de Lisboa na atualidade, muito interessante; porque ele foi o escritor mais aclamado na última FLIP; porque em uma entrevista na TV disse que escrevia pensando no entretenimento do leitor (estava brincando?); porque eu queria saber como escrevia, não bastava ter lido aqueles artigos no jornal.

Parei de ler na página 100. O livro é tão chato que dá a sensação de que deve ter sido chato inclusive escrevê-lo. São mais de 200 páginas de fluxo de consciência. Quem agüenta? E o pior: por que?, qual é a necessidade de contar essa história usando essa técnica? (É arbitrário!) Por que o relatório do policial, no início do livro, não pode ser um relatório e basta, em vez dessa mistura de lembranças que acaba com a paciência do leitor? E a prostituta a continuação? Não daria para conhecer a sua história "desde fora"?, sei lá, através de diálogos, por exemplo? E por que ela pensa como o policial?, por que os fluxos de consciência são iguais? (Nota: Incomoda também a famosa questão da poetização da miséria: neste caso, não é o que as personagens dizem, ou pensam, que é poético, mas a forma em que o dizem.)

E isso tanto tempo depois de Joyce, e Faulkner, e quem quer que for que inventou o fluxo de consciência em literatura. A neurobiologia é a ciência que avançou mais desde então, e já não dá para não ver que essa técnica é afetada, um artifício mais evidentemente artificial do que outros artifícios pretensamente realistas. Por que não aproveitar o avanço científico para criar uma nova maneira de representar o pensar? Se é que a gente não pensa assim! (Nota: Terminei de ler as Confissões de Rousseau; Rousseau, sem o pretender, com toda sua verborragia, está mais próximo de mostrar como opera o pensamento do que autores como Lobo Antunes neste livro.) (Nota 2: Provavelmente D. Foster Wallace tentou, mas ainda não li seu tijolão, Infinite Jest.)


PS: Antes de falar mal de Lobo Antunes, uma vaca sagrada (quem sou eu?, podia não estar enxergando nada), quis me precaver, procurei alguma crítica do livro na Internet. Achei a de Pedro Mexia, que saiu no caderno cultural do Público: "O texto antunino é hoje uma melopeia cheia de repetições, parênteses, devaneios, saltos temporais, períodos que não acabam ou que elidem os verbos. É um estilo que se tornou maneirista. Que se tornou sentimental. Que exige uma leitura quase ofegante. É fácil ficarmos deslumbrados com este tipo de escrita quando o descobrimos. Mas ao fim de uma década e de um punhado de romances só os incondicionais não acusam algum cansaço".

Saturday, August 08, 2009

Não dá pra entender :'(



Aos 26 anos, capitão do Espanyol morre de ataque cardíaco


UOL - Das agências internacionais em Barcelona (ESP)

O jogador Dani Jarque, capitão do Espanyol, da Espanha, morreu neste sábado, na Itália. Segundo as primeiras informações, o atleta, de 26 anos, teve um ataque cardíaco no quarto do hotel em que a sua equipe estava hospedada na cidade de Coverciano, e foi encontrado por seus companheiros já sem vida.

(...)


O Estado de S. Paulo

O Espanyol estava fazendo sua pré-temporada em Coverciano. No domingo, iria jogar com o Bologna, mas a partida foi cancelada em razão da morte do jogador espanhol e o time voltará para Barcelona.

(...)

Daniel Jarque chegou ao clube quando tinha apenas 12 anos. Fez sua estreia em 2002 e participou da conquista da Copa do Rei em 2006. No mês passado, o zagueiro conquistou o posto de capitão do time.



El País

La nueva casa del Espanyol en Cornellà-El Prat, inaugurada hace una semana con un colorido espectáculo, vive ahora la antíteis de esa fiesta a consecuencia de la muerte de Jarque. Los aficionados pericos han acudido espontáneamente a la puerta número 21 del estadio, el mismo número del dorsal que vestía el capitán espanyolista, para rendirle homenaje.

Somos el Espanyol, nunca olvidamos nada: artículo de Enric González.



Foto de iPhone enviada por Ramon.

L'afició verd-i-negra sempre al costat de l'afició de l'Espanyol. :)


PS nada a ver, mas muito importante: Um grande abraço para meu irmão Ramon e para a Nelia, que cuidaram dos meus pais enquanto meu pai se recuperava no hospital (nada grave, uma infecção chata). Conhecendo o Ramon, deve ter ido cada dia. (E os outros três irmãos, sumidos pelo mundo...) O Ramon até foi no estádio do Espanyol (antes dessa tragédia) comprar, na loja, um pack para o pai. (E fantasiou ele, só que meu pai não quer enviar a foto.) Meu grande irmão.

Friday, August 07, 2009

Tuesday, August 04, 2009

(Alguns) Brasileiros morando em Barcelona

Programa de 30 minutos sobre a comunidade brasileira na Catalunya. Em catalão. Bom, com testemunhas em português, também. Estou postando sem tê-lo visto ainda. Passou ontem.

Monday, August 03, 2009

Nova casa (própria!)

Ontem foi inaugurado o novo estádio do RCD Espanyol, meu time de futebol. O time do Jorge, da Julia, do meu pai, dos meus irmãos, do meu avô, que ia ao estádio de Sarrià, tanto tempo atrás, do Mr Bulbena, de todas aquelas pessoas que são especiais demais para torcer pelo outro time de Barcelona. Força Espanyol!




Foto de iPhone enviada por Ramon.


PS nada a ver: De uma galeria de arte moderna em Washington D.C. (enviado pelo Ronaldo):

Saturday, August 01, 2009

Still from New York

Uma amiga me perguntou se eu conhecia a expressão em inglês "to give head", e achei engraçado e me pus a cantar esses versos de Chelsea Hotel nº 2 e a lembrar de Nova York.




PS: Manhattan antes da chegada dos holandeses:


NYT