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Muito tempo depois, agora, comecei a ler O meu nome é Legião, seu último romance. O comprei por vários motivos: pelo título (sei: besteira); porque uma professora disse que ele, mais do que Saramago, merecia o Prêmio Nobel; porque achei o assunto, a miséria e a degradação humana na periferia de Lisboa na atualidade, muito interessante; porque ele foi o escritor mais aclamado na última FLIP; porque em uma entrevista na TV disse que escrevia pensando no entretenimento do leitor (estava brincando?); porque eu queria saber como escrevia, não bastava ter lido aqueles artigos no jornal.
Parei de ler na página 100. O livro é tão chato que dá a sensação de que deve ter sido chato inclusive escrevê-lo. São mais de 200 páginas de fluxo de consciência. Quem agüenta? E o pior: por que?, qual é a necessidade de contar essa história usando essa técnica? (É arbitrário!) Por que o relatório do policial, no início do livro, não pode ser um relatório e basta, em vez dessa mistura de lembranças que acaba com a paciência do leitor? E a prostituta a continuação? Não daria para conhecer a sua história "desde fora"?, sei lá, através de diálogos, por exemplo? E por que ela pensa como o policial?, por que os fluxos de consciência são iguais? (Nota: Incomoda também a famosa questão da poetização da miséria: neste caso, não é o que as personagens dizem, ou pensam, que é poético, mas a forma em que o dizem.)
E isso tanto tempo depois de Joyce, e Faulkner, e quem quer que for que inventou o fluxo de consciência em literatura. A neurobiologia é a ciência que avançou mais desde então, e já não dá para não ver que essa técnica é afetada, um artifício mais evidentemente artificial do que outros artifícios pretensamente realistas. Por que não aproveitar o avanço científico para criar uma nova maneira de representar o pensar? Se é que a gente não pensa assim! (Nota: Terminei de ler as Confissões de Rousseau; Rousseau, sem o pretender, com toda sua verborragia, está mais próximo de mostrar como opera o pensamento do que autores como Lobo Antunes neste livro.) (Nota 2: Provavelmente D. Foster Wallace tentou, mas ainda não li seu tijolão, Infinite Jest.)
PS: Antes de falar mal de Lobo Antunes, uma vaca sagrada (quem sou eu?, podia não estar enxergando nada), quis me precaver, procurei alguma crítica do livro na Internet. Achei a de Pedro Mexia, que saiu no caderno cultural do Público: "O texto antunino é hoje uma melopeia cheia de repetições, parênteses, devaneios, saltos temporais, períodos que não acabam ou que elidem os verbos. É um estilo que se tornou maneirista. Que se tornou sentimental. Que exige uma leitura quase ofegante. É fácil ficarmos deslumbrados com este tipo de escrita quando o descobrimos. Mas ao fim de uma década e de um punhado de romances só os incondicionais não acusam algum cansaço".
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2 comments:
"(quem sou eu?, podia não estar enxergando nada") - Quizá, un critico hasta la muerte!
Noooo. Porque fui leyendo e leyendo, con la mejor disposición. Com vontade de gostar. Hasta que... não deu mais! :)
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