Monday, August 10, 2009

O meu nome é Legião, de António Lobo Antunes

Há anos, mais de cinco, li alguns textos de Lobo Antunes. Eles encerravam o caderno cultural Babelia, do El País. Não gostei, não entendi nem do que tratavam, os achei poéticos demais, achei quase ridículo, fora de moda, que fossem escritos sem pontuação. Deixei de os ler.

Muito tempo depois, agora, comecei a ler O meu nome é Legião, seu último romance. O comprei por vários motivos: pelo título (sei: besteira); porque uma professora disse que ele, mais do que Saramago, merecia o Prêmio Nobel; porque achei o assunto, a miséria e a degradação humana na periferia de Lisboa na atualidade, muito interessante; porque ele foi o escritor mais aclamado na última FLIP; porque em uma entrevista na TV disse que escrevia pensando no entretenimento do leitor (estava brincando?); porque eu queria saber como escrevia, não bastava ter lido aqueles artigos no jornal.

Parei de ler na página 100. O livro é tão chato que dá a sensação de que deve ter sido chato inclusive escrevê-lo. São mais de 200 páginas de fluxo de consciência. Quem agüenta? E o pior: por que?, qual é a necessidade de contar essa história usando essa técnica? (É arbitrário!) Por que o relatório do policial, no início do livro, não pode ser um relatório e basta, em vez dessa mistura de lembranças que acaba com a paciência do leitor? E a prostituta a continuação? Não daria para conhecer a sua história "desde fora"?, sei lá, através de diálogos, por exemplo? E por que ela pensa como o policial?, por que os fluxos de consciência são iguais? (Nota: Incomoda também a famosa questão da poetização da miséria: neste caso, não é o que as personagens dizem, ou pensam, que é poético, mas a forma em que o dizem.)

E isso tanto tempo depois de Joyce, e Faulkner, e quem quer que for que inventou o fluxo de consciência em literatura. A neurobiologia é a ciência que avançou mais desde então, e já não dá para não ver que essa técnica é afetada, um artifício mais evidentemente artificial do que outros artifícios pretensamente realistas. Por que não aproveitar o avanço científico para criar uma nova maneira de representar o pensar? Se é que a gente não pensa assim! (Nota: Terminei de ler as Confissões de Rousseau; Rousseau, sem o pretender, com toda sua verborragia, está mais próximo de mostrar como opera o pensamento do que autores como Lobo Antunes neste livro.) (Nota 2: Provavelmente D. Foster Wallace tentou, mas ainda não li seu tijolão, Infinite Jest.)


PS: Antes de falar mal de Lobo Antunes, uma vaca sagrada (quem sou eu?, podia não estar enxergando nada), quis me precaver, procurei alguma crítica do livro na Internet. Achei a de Pedro Mexia, que saiu no caderno cultural do Público: "O texto antunino é hoje uma melopeia cheia de repetições, parênteses, devaneios, saltos temporais, períodos que não acabam ou que elidem os verbos. É um estilo que se tornou maneirista. Que se tornou sentimental. Que exige uma leitura quase ofegante. É fácil ficarmos deslumbrados com este tipo de escrita quando o descobrimos. Mas ao fim de uma década e de um punhado de romances só os incondicionais não acusam algum cansaço".

2 comments:

Anonymous said...

"(quem sou eu?, podia não estar enxergando nada") - Quizá, un critico hasta la muerte!

Roger said...

Noooo. Porque fui leyendo e leyendo, con la mejor disposición. Com vontade de gostar. Hasta que... não deu mais! :)