Wednesday, May 26, 2010

Comunicação a uma academia, de Kafka

Domingo assisti, com as queridas Anna e Manu (a Manu é uma amiga baiana que está há uns meses na PUCRS) à Comunicação a uma academia, adaptação do conto de Kafka encenada pela Companhia Club Noir no Theatro São Pedro. Havia só 80 lugares, tudo cadeiras no palco (a plateia, as galerias e os camarotes, vazios), os espectadores formando "a academia". A peça é curta e de um único ator - que, difícil de acreditar, é uma atriz, Juliana Galdino; o monólogo de um macaco que, já homem velho, explica por que se converteu à condição humana. A interpretação é fantástica, a maquiagem e a iluminação, também: vimos perfeitamente um homem com rasgos simiescos, ouvimos a voz de quem poderia ter sido, no passado, um macaco. Mas saímos do teatro meio desapontados: esperávamos reflexões, algum soco no estômago, mesmo que sutil. Porém, é Kafka. E Kafka, a gente esquece, é um autor de estilo realista. Reflexões, muito menos mensagens, não são aparentes em sua obra.

Mesmo assim, e pensando a posteriori, a história é forte. Resumindo:

O macaco explica que decidiu tornar-se homem - e que isso foi extremamente fácil para ele - não para poder ser livre de novo (livre, ele diz, era-o quando macaco), senão para sair da jaula do navio holandês que o levava para o porto de Hamburgo. Foi sua única opção: escapando da jaula, teria sido encerrado numa jaula pior, como a da jiboia, que o teria devorado, ou chegado ao convés e se jogado no mar, onde teria morrido afogado. Podia, somente, tentar sobreviver, e isso foi o que fez, por meio da imitação dos humanos, os marinheiros que o vigiavam: fumando e se embebedando como eles, aprendendo a cuspir no chão, conseguindo dizer "Hola". Já em Hamburgo, também não pôde escolher: teve de se aperfeiçoar como homem, deixar de ser o que era. Não fazendo-o, teria ido para o parque zoológico. Fazendo-o, ingressou em nosso teatro de variedades, hipocrisias, mesquinharias e vaidades.

3 comments:

Anníssima said...

Não é que agora entendi a peça? rsrsrs brincadeirinha...

Bom, a Manu achou mesmo que fosse um atOR! Nooossa, a representação foi fantástica mesmo. E a maquiagem então, nem se fala!

A companhia e o Mufulleta depois, perfeito! ;) Pena que a Manu tá indo embora... :(

Roger said...

É, nós também teríamos achado, né?, sem a informação? :)

A companhia e o Mufulleta foram tanto o mais legais do que a peça... :))

PS: Fica Manu!

Manu said...

Não falem duas vezes, senao eu fico!!

kkkkkkkkkkkk

amei tudo!