Friday, September 07, 2012

Nêmesis, de Philip Roth

Quando li em algum lugar que o último livro de Philip Roth era sobre uma epidemia de poliomielite que, partindo de Newark, acabava com todo o mundo em Nova Jersey, incluindo todos os garotos de um summer camp, pensei iiih, esse não vou ler: já sei como começa, já sei como termina e, pior ainda, vai ser uma parábola (o que deu no Philip Roth?). Pensei demais. O romance (que finalmente li por recomendação do Leo, obrigado, um abraço :) não é uma parábola, nem é só sobre a epidemia (como La peste, de Camus, em que está inspirado, também não era). Roth conta, de maneira bem específica, como sempre, uma história concreta: a da epidemia como é vivida primeiro no pátio de uma escola em férias, onde garotos se reúnem cada dia para jogar beisebol, num bairro judeu e pobre de Newark, e depois numa colônia de verão nas montanhas, para onde conseguem escapar os garotos de famílias de classe média. Roth estabelece vínculos com outras duas grandes tragédias, a Segunda Guerra (o romance se passa em 1944) e, de maneira menos evidente, o extermínio dos índios norte-americanos, mas o foco está sempre na história local. E essa - isto é o que torna o livro fantástico para mim - é a história de um homem, mais uma personagem inesquecível na obra de Roth: o Sr. Cantor (acho que deveriam ter mudado o nome dele, Cantor em português não dá, demorei a me acostumar, o cara não canta), um jovem de 23 anos, o encarregado de cuidar e ensinar esportes aos garotos no pátio de Newark e na colônia de Indian Hills. Ele é o que mais importa neste livro, e o mais maravilhoso. À sua personalidade é dedicado o terceiro e último capítulo (para ler e reler); e, antes, é no seu sentido do dever, nas suas dúvidas (a maior, religiosa: Deus é um grande filho da puta?), seus insuportáveis dilemas e suas escolhas, no campo de sua moral, em definitiva, onde - não sei dizer em português - se corta el bacalao. Quem leu o romance não vai esquecer Bucky Cantor: "ele era para todos nós a autoridade mais reverenciada e mais exemplar que conhecíamos, um jovem com convicções, simpático, cortês, justo, zeloso, estável, gentil, vigoroso, muscular - ao mesmo tempo líder e companheiro" (p. 191); "entretanto, não há ninguém menos passível de ser salvo do que um sujeito bom destroçado" (p. 190).




PS nada a ver: Hoy es 7 de septiembre, día de recordar a Mecano. Acabo de pasar una hora en YouTube escuchando viejas canciones. Segunda mitad de los ochenta, yo era un adolescente. Qué recuerdos, cómo pasa el tiempo.

2 comments:

Leo Wittmann said...

Bom mesmo, hein?! ;)

Roger said...

Bom. Passei-o para o Sérgio. Que está gostando e vai passa-lo adiante. Vai ser um livro viajante.