Tuesday, October 02, 2007

In media res

Este é o primeiro exercício do curso de criação literária da Faculdade de Letras da PUCRS, no qual estou participando como aluno convidado, à espera de poder cursá-lo oficialmente no ano que vem.


Perdido, pensou nesse articulista experto que dizia que bastava cortar as primeiras frases para deixar um texto bom. Mas isso não era começar in media res. Tentou lembrar a primeira vez que ouviu essas palavras, no colégio. Não lhe provocaram nenhuma impressão especial; provavelmente anotou-as na folha e continuou olhando a professora, por quem estava apaixonado. Pensou no início de O apanhador no campo de centeio, com esse menino que não tinha vontade de começar a contar sua história pelo começo (ou esse era o Huckleberry Finn?). Um in media res argumentado? De qualquer jeito, era um livro demasiado popular (crime). Veio-lhe à cabeça o início de Cem anos de solidão: “Muchos años después, frente al pelotón de fusilamiento...” Um in media res perfeito. Mas, de tão repetida e imitada, essa frase parecia-lhe ter sido ruim desde o momento de sua criação. Foi então que pensou na possibilidade de plagiar o começo de alguma obra obscura.

Dez anos atrás, quando ainda estava em Barcelona, não se concebia que escrever pudesse ser ensinado. Para aprender a escrever, ele e seus colegas de faculdade concordavam, só era necessário ler. E eles liam aos melhores. E, dos melhores, só o melhor. Lido o Dr. Faustus, já não liam A montanha mágica. Lido O som e a fúria, achavam desnecessário ler Absalom, Absalom. Aprendiam, também, ouvindo o que diziam ou deixaram escrito os escritores mais admirados. Como Josep Pla, que fumava para encontrar “o adjetivo”, e cuja sentença “o mais profundo está na superfície” era das mais repetidas nas conversas no bar. Sentiam-se capazes de chegar a escrever (escrever era escrever bem) e estavam resolvidos a desistir desse objetivo se não o conseguissem. Jovens, engraçados, soberbos com despreocupação, gostavam especialmente das conversas dedicadas a estripar alegremente os escritores que, ainda estando em todas as listas, eles achavam por unanimidade menores.

Assim como estudar escritura criativa, nesses tempos recorrer ao plagio teria lhe parecido uma insensatez. Mas agora ele estava lá, no Brasil, numa aula com dezoito aprendizes de escritor. Que nem numa aula de inglês. E, de alguma forma, precisava demonstrar que ele não era um aprendiz. Convencido, considerava-se a si mesmo um escritor que não escrevia. E foi assim que, consciente de que, por circunstancias da vida, esse estado injusto ia demorar em mudar, e com a vontade escondida de impressionar seus novos colegas, achou justificada sua determinação. Buscaria na internet um bom começo in media res. Deveria haver um monte. Tirando Mercè Rodoreda (alguém era capaz de conhecê-la!), quase qualquer autor catalão serviria. E, no final, plagiar também era uma arte.

7 comments:

Anonymous said...

Hola Roger,

Que sapigues que t'estimem MOLT, però la llengua del Tirant no es la portuguesa. Ens agradaria que de tant en tant escrivissis quelcom en català o castellà. Anem de cul amb el diccionari.
REVOLUCIÓ¡¡¡
AUPA FERNANDO ALONSO¡¡¡
MASSA KK


Nelia

Roger said...

Hahaha

Ja escric en castellà!

En català... No em vénen coses al cap. I m'entendria menys gent!

Parlant del Tirant, em va alegrar veure una súper traducció al portuguès a la millor llibreria de Porto Alegre. Un totxo (<-charnego) de llibre súper ben editat que feia goig (<-català pur), l'hauria comprat però valia més de 50 euros...

I l'Alonso... hihihi (No comment)

Jo també t'estimo molt.

ru

Maria Fabriani said...

Ia comentar uma coisa aqui mas fiquei impressionada com o Catalão desses dois comentários. Adorei. :)

Ah! você provavelmente já conhece, mas ainda assim: você já leu João Gilberto Noll?

Roger said...

Oi Maria!

Gostou do catalão? :)

Então um dia vou postar algum poema que eu goste, com a tradução.

Mas, escrever em catalão como diz a Nelia... Não sei não. Os amigos brasileiros não iam entender!

Não conheço o João Gilberto Noll, mas já vou ler ele, obrigado pela dica! :)))

Anonymous said...

Benvolgut Ferrero Rocher,

Perdona'm que no em mossegui la llengua. Però això que no escrius en català perquè no t'entendrien... No gosaria pas fer-te canviar d'opinió (oh, horror!), però no t'acabo de creure. Vols que et llegeixin molt-moltíssim o parir un llibre ben fotut? Estic segur que és això últim.

Malament rai que no et vinguin coses al cap en la teva llengua materna! Quan vas aprendre a pelar-te-la tampoc no et venien coses al cap en aquesta llengua? (I encara t'hi deuen venir, bacó.) No se m'acut un exercici més semblant a escriure que pelar-se-la.

Bé, perleta, perdona'm el comentari. En el post has dit coses molt entenimentades i m'hauria agradat parlar-ne amb una mica de seny.

(Ja que hi som, què té de xarnego el mot "totxo" aplicat a un llibre gruixut? Tens massa manies (o mania) amb la llengua catalana. T'ho diu una puta de la llengua com jo.)

Jo també t'estimo, potser gairebé com la Nelia (que no tinc el plaer de conèixer).

Sempre teu i sota teu,

Josep

Roger said...

Josep, marica :p, no em vaig expressar bé. O no volia parlar en concret. El que volia dir és que tinc amics al Brasil, concretament a Salvador, però també aquí a Porto Alegre, i fins i tot una a Suècia, que si escrivís en català no m'entendrien. Mentre que els amics catalans, si escric en castellà m'enteneu, i si escric en portuguès, amb una mica d'esforç, també. (I a vegades escric en anglès perquè m'entengui una amiga de Nova York.) No escric perquè em llegeixin molt, escric perquè em llegeixin els amics.

Ja ho vaig pensar que això de totxo potser era català... veus com non sé?

Ah, i me la pelo en japonès.

Robertson Frizero said...

E o que é a "intertextualidade" senão um plágio com chancela acadêmica? :)))

Parabéns pelo blog, Roger.

Abração,
Beto

P.S.: O catalão parece ser uma língua fascinante. Por acaso conheces algum professor aqui em Porto Alegre?