Friday, September 26, 2008

Diálogo sobre a função da arte a partir de um texto de Eduardo Galeano

A função da arte

Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: Me ajuda a olhar!


- Peraí. Se o menino ficou mudo de beleza, por que perguntou ao pai?
- Perguntou ao pai para entender por que isso mexeu tanto com ele.
- Pois não precisava. Devia ser um menino superdotado, supersensível.
- Mas se ele entendesse melhor, ia apreciar com mais gosto e mais a fundo.
- Não tinha como apreciar com mais gosto e mais a fundo. Ficou mudo. Queria entender por que isso mexeu com ele? Isso não é o principal.
- Acontece que ninguém disse que era o principal. O menino quis saber depois de ter o primeiro contato. Não acho que isso se sobreponha à sensação.
- Pode ser que se sobreponha à sensação.
- Vou surtar. O mais lindo do poema é a mudez do Diego face à beleza e imensidão do mar, OK? Mas o poema continua, e a segunda parte também é interessante. Olha o título, "A função da arte".
- A arte tem essa função, mas também a função estética. O poema mistura as duas, esse é o problema.
- Chega. Senão isso vira um romance.
- Meu irmão já não sabe ver cinema, estudou demais.
- Hoje eu fui à natação.
- Vá com cuidado com essa teoria.
- Foi tão bom.
- Deve ser questão de medida, como tudo, de equilíbrio.
- Pois é, acho que sim, como tudo na vida, né?
- Que bom que tu foi à natação. Sabe? O menino deve ser um pré-socrático. E quando pergunta ao pai, tudo vai por água abaixo.
- Eu vou dormir. Tu não lê direito.


PS nada a ver: Ontem vi meia hora do debate entre Obama e McCain (foi isso o que eu agüentei). Eles subestimam seu público, ou eles são assim? Tive a mesma sensação de quando vi o debate entre Royal e Sarkozy: o país merece mais do que qualquer um dos dois. Um jornalista brasileiro escreve, sobre o debate: "McCain e Obama são menores do que a crise". Concordo (e ainda bem que eles não estão sozinhos a resolvê-la, porque a crise é f***). E os brasileiros deveriam se orgulhar de seus presidentes, ao menos dos que eu "conheci", FHC e Lula.

PPS:

[Video no longer available.]

8 comments:

Anníssima said...

Eiiiiiiiiiii...

vou pedir meus direitos autorais!!!

hahahahahaha ;)

Rugê,
tu fez com que tudo acabasse em ARTE!

Parfait!

Adorei! Quero uma cópia pra mim!

Roger said...

OK! :D Co-autora do diálogo maluco: a maluca Anna Faedrich! :D Teórica da literatura! :ppp (Quem sabe a gente ganha ela para a literatura!!!)

Arte não! Arte seria o texto do Galeano, que a gente estragou, haha!

Beijo!

Anonymous said...

A VORE BRO'

Teu irmao sí sabe ver cinema, el problema és que ja no hi ha cinema bo per veure!!!!!

Uri dixit

Roger said...

És ficció, bro'!

És per fer gràcia, hombre!

Roger said...

Ara, que tens una certa deformació professional... Mm.

Anonymous said...

mamoooooooooooooooooooooon!!!!

Uri dixit

Pd.- Justament això, ficció, és el que falla en el cinema!!!!

Anníssima said...

é isso aí!!

vamos contestar o Roger sabidão!

hahahaha =)))

e eu não sou teórica nada! Eu estudo teoria. E só.


ôw.. a literatura já me ganhou! e disparada!
Ela chegou bem antes da teoria... ;)

rsrsrs

Agora, quanto ao "maluca", não posso contestar! isso é indiscutível hahahaha ;)

beijo de cinema com ficção!

Roger said...

Gentiiiiii!

Mas vocês não perceberam que quem aparece mais chato (pesado, em espanhol?) nesse diálogo é aquele que se supõe que sou eu?

Estou rindo de mim, caramba! :p

(Bueno, y de los otros también, hihihi!)