Saturday, December 06, 2008

Por que falo como eu falo

"Agora penso sempre em uma língua estrangeira. Porque com o tempo todas as línguas se misturam. (...) Muitas vezes a palavra exata não me vem à mente, ou me vem em uma outra língua. (...) Se fico à vontade, as frases saem lógicas (...). Algumas formas de expressão ou o uso da gíria num contexto inadequado às vezes podem chocar meus interlocutores, que entretanto não reagem, por causa de minhas boas intenções. Há casos em que pretendo realçar uma expressão e o faço de maneira inusitada, o que destrói o efeito desejado. (...) Não se pode estar preocupado com isso a cada momento, senão o raciocínio se interrompe, a cabeça divaga e perde-se o fio da meada. Há tantas coisas a dizer que a forma deve se manter em segundo plano. Frequentemente tenho a impressão de ir muito depressa, como se tivesse de me expressar com urgência."

Sergio Kokis*, A casa dos espelhos


Eu ia fazer um pastiche com esse trecho do romance em que o autor reflete sobre o fato de se expressar em uma língua estrangeira. Mas o texto está tão bem escrito e é tão preciso, tão exato - me reconheço tanto nele - que não pude adicionar nada. Só direi que esse chocar meus interlocutores, sobretudo por querer me expressar com urgência, já me trouxe algum problema. Me desentendi com uma professora até ao ponto de abandonar sua disciplina, por exemplo. (Mas, também, como era chata essa disciplina.)


* Sergio Kokis, carioca, mora no Québec desde 1969, nunca mais voltou ao Brasil e escreve em francês.

5 comments:

Anonymous said...

y aburrida la maestra, che!

Roger said...

Sí. La maestra... enfim, deixa pra lá.

Anníssima said...

Já eu, não achei a disciplina chata! ;)

só pra contrariar meu amigo aqui.

Roger said...

Bom, só para os amigos entenderem (e o Uri escrever algum comentário radical) é a disciplina de uma professora que acha que tudo é literatura, desde Hamlet, até Harry Potter VII, passando pelas instruções de uma máquina de lavar roupa, pelo pior post deste blog, por qualquer texto do maluco da Veja (este, Uri, tu não conhece, melhor para ti) ou o livro da Bruna Surfistinha. E cuidado com discordar dela.

Anníssima said...

Ru, respeito a tua opinião, mas paro minha participação na discussão por aqui. Afinal, amigos tbém podem discordar e ter opiniões divergentes, não?

Então tá. Que bom!

Bisous :)


[aliás, o mais importante do tópico é outra coisa, é "por que falo como eu falo"... ou seja, é O Roger, e não a prof...] ;)))