Monday, August 29, 2011

Super 8, de J. J. Abrams e Steven Spielberg (ou A volta do cinema de aventura; ou Os nostálgicos)

Vou traduzir (mais ou menos literalmente, e editando um pouquinho e comentando, como sempre) a crítica do filme Super 8 que o Uri me enviou. Eu já queria muito assistir ao filme, que está passando em POA; agora, depois de ler o que meu irmão diz, não vou me demorar. Já queria muito porque, mesmo não sendo ele o diretor, acho que o filme tem muito de Spielberg (começando pelo título); de J. J. Abrams não tenho nenhuma opinião, devo ser uma das poucas pessoas que nunca viu um capítulo de Lost (perdi Lost, duh).


Voltei agora do cinema e, pela primeira vez em muito tempo, estou com vontade de compartilhar uma alegria em vez de xingar a mãe do diretor. E sabendo que em breve, com a estreia do novo filme de Almodóvar, que promete ser ruim, voltaremos à guerra, aproveito este momento de joia e alegria para te dizer que, por fim, hoje recuperei um pouco de minha fé no cinema graças a Super 8.

Sei, sei que dirás que Tailândia destruiu meu cérebro para sempre jamais [O Uri voltou de uma viagem a Tailândia e Indonésia e diz que, por enquanto, não tem palavras para descrever a experiência], que Super 8 não deve ser uma obra-prima, nem vai passar à história do cinema, nem é um filme dos que tentam mudar a linguagem do cinema, nem uma história profunda e reveladora, nem nada realmente novo. Não, não é: é só um filme clássico de entretenimento juvenil (juvenil, não infantil, OK?), sem maior objetivo do que entreter, divertir, prender o espectador e, porque não, fazer com que os jovens acreditem um pouco na mágica do cinema e com que este lhes pareça um pouco mais atrativo. Mas isso, oh irmão!, isso que parece tão simples, já é muito. Trinta são muitos anos, e trinta, nem mais, nem menos, são os anos de vazio entre os filmes da nossa geração e este Super 8. E depois desses anos desérticos, fico feliz que por fim uma nova geração possa crescer com algo parecido aos nossos E.T., Indiana Jones, Star Wars, os Goonies, etc. [The NeverEnding Story, eu diria também; Close Encounters of the Third Kind, Jaws, se bem que esses são dos 70.] Porque Super 8 é isso: um filme que lembra todos esses outros (a homenagem é mais do que evidente, até no vestiário, as bicicletas, o tipo de cidadezinha, o atrezzo, etc.) e usa os efeitos especiais atuais só para melhorar alguma cena, mas sempre mantendo o visual realista, até retrô (de fato, o filme poderia se passar no mesmo ano de E.T.); e tem um roteiro bom, não para crianças tontas del culo, bobas, que não edulcora nem tenta fazer nada mais digerível (atenção, é um filme juvenil, também não fica esperando um Platoon), com detalhes que os babacas de Hollywood tinham esquecido por décadas e coisas que os executivos dos grandes estúdios não permitiram nunca nos últimos anos. E assim, oh brother, a gente se sente um pouco como nessa época, quando ia ao cinema sendo criança, sorrindo; sorrindo porque sabia que o filme o prenderia, e por começar a pensar que, no futuro, talvez, a gente poderia tentar fazer cinema também. E a gente pode finalmente falar de cinema de entretenimento (ou comercial, dizem alguns bestas) digno, sem ter vontade de bater a cabeça num muro na saída por ter se deixado enganar. [Eu tive vontade disso depois de um Harry Potter, lembras, irmão? Alias, de bater tua cabeça num muro, pois foi tu quem propôs um "programa-lixo de domingo" com Harry Potter e McDonald's.]

Porém, nem tudo é maravilhoso. Preciso dizer que, se bem estamos de parabéns pelo fato de alguém ter sido capaz, no mínimo, de se aproximar desse tipo de filmes, também seria bom que o filme fizesse alguma aportação nova. Super 8 já é um passo à frente, sem dúvida (em Barcelona está passando nos cinemas Verdi e nos Renoir, o que é significativo), mas E.T. tem um final melhor, Encounters também, e Indiana Jones (só os Goonies não), e é fato que este filme tira tudo, vive do que nesses filmes já foi feito (mais do que uma homenagem, como disse, às vezes parece que copiaram tudo, cenários, roupas, até penteados, dos 80 e 70). Por enquanto me conformo com isso (tomara que cada ano os filmes de entretenimento fossem assim, com essa energia, em vez de lixo do primeiro ao último fotograma [meu irmão não dá nomes; eu diria: Senhor dos Anéis, Narnia, Harry Potter, Piratas do Caribe, todos os filmes de super-heróis; Avatar, inclusive; The Matrix, essa baboseira pseudofilosófica de estética fascista, etc. (nos dois primeiros casos a coisa é grave pois os livros são muito bons)], mas espero que a partir deste ponto alguém comece a trabalhar para criar cinema de entretenimento novo, do século 21 [o próprio Spielberg + Kubrick já fizeram isso, mas não quero brigar...], que funcione tão bem quanto o do passado, que possa se equiparar a esse mas sem copiá-lo... Enfim: sendo positivo, ao menos as crianças que hoje têm entre 8 e 15 anos poderão voltar a desfrutar do cinema, como fazíamos nós, sem precisar de recuperar DVDs. 

Era isso, não quero te estragar o filme contando mais, só dizer que assistas, e que assistas como quando éramos crianças e íamos ao cinema em Sitges, no verão; compra pipoca se isso te faz lembrar mais da infância, bota uma camiseta e uma calça curta e um tênis, o que tu quiser, mas vai lá, esquece teus 36, just go and let it go.


Trailer:



PS nada a ver: Descobri uma palavra linda, do russo, sem equivalente em outra língua: razbliuto. O carinho que se sente pela pessoa que um dia você amou. (Parece, li no jornal, que existe um Irresistível almanaque das palavras que a gente não tem, da Ed. Conrad.)

5 comments:

uri said...

nao fui a indonesia, so thailandia e malaysia, indonesia pronto (espero).
Por lo demás, ya sé que fue idea mía, pero por eso era un programa-lixo!!!!
Y si lo de Spielberg-Kubrick era AI... no comments... jejeje

Leo Wittmann said...

Roger,

Também adorei o filme. Para mim (e para muitos) um dos melhores deste ano. Acho que ele captura (ou recaptura) aquela mágica dos anos 80, bem como disseste.

Mas discordo (amigavelmente, claro) de que existe um vácuo de trinta anos entre uma geração e o Super 8. Sem dúvida, é difícil achar um filme tão bem sucedido no quesito que coloquei lá em cima, mas acredito que temos alguns, sim (talvez vários, hehe). E eu gosto do "Senhor dos Anéis"! Acho esse um bom exemplo.

Enfim, te recomendo que vejas ainda o "Planeta dos macacos: a origem". Gostei.

Abraços,

Leo.

Roger said...

Oi Leo!

Fica a vontade para discordar radicalmente, também. :) É o que meu irmão e eu não paramos de fazer, hehe. Para mim Almodóvar é El Genio de La Mancha, por exemplo, e para ele é La Loca de La Mancha... "A.I." é uma obra-prima para ver e rever e discutir nas universidades, mas para ele é... bom, não sei o que, acontece que ele não entendeu nada. :ppp

Também, tenho algumas dúvidas sobre se esses filmes eram assim tão bons. Acredito, na verdade, que se eu visse os Goonies de novo acharia uma porcaria.

Mucho ruido y pocas nueces, muito barulho por nada: isso é o que eu penso quando assisto aos filmes de aventura recentes (inclusive "O Senhor dos Anéis", que tem coisas das que eu gostei). Muita explosão e muito perseguição, muito combate e tal, para quê? Quando começa uma dessas perseguições intermináveis, tipo nos filmes de Jason Bourne (que também não são ruins), por exemplo, fico com vontade de apertar um FFW, ou dormir: o cara do bem vai escapar, não vai? Então me poupa!

Nos bons velhos tempos isso não acontecia. Na perseguição de "E.T.", por exemplo. Os caras de bicicleta vão ser presos pela polícia quando, no último instante, o extraterrestre faz todos saírem voando, pedalar pelo céu. Totalmente imprevisível e surpreendente, nessa época. Coisa de gênio.

O "Planeta dos macacos" eu quero ver. Já me disseram que é bom. Além do mais, acredito que seja bem atual. Neste mundo de merda, que os humanos se explodissem e os símios tivessem uma chance evolutiva seria uma boa. Outra solução é que um gigantesco planeta azul colida com a Terra, como em "Melancolia". Quanto mais penso mais gosto desse filme. "The Earth is evil", diz duas vezes Kirsten Dunst, com uma serenidade maravilhosa. Quem não concorde, pode rever os anteriores filmes de Lars Von Trier, que eu acho necessários para entender este. Ver o que os humanos fazem com a mulher que interpreta Nicole Kidman em "Dogville", ou o que fazem com Björk em "Dancing in the Dark". Esse cara é um mestre. (E o Almodóvar também, bro.)

Abraço, Leo!


Uri: Indonesia, Malasia... El problema es que estoy muy mal de geografía... :)

uri said...

no comments sobre AI, no comments sobre Almodóvar, no comments sobre la ultima de Lars von Trier (ainda nao vi), pero sí diré que Los Goonies ainda aguanta, no tan bien como ET o Indiana Jones o Star wars, pero aguanta, y la historia interminable tambien aunque, you know, algunos efectos y trucajes han quedado un poco anticuados...

por lo demás, como diz el poeta e canta Loquillo "me gustan las frugales transgresiones" pero, ainda mais, discordar radicalmente!!!!

Roger said...

"Me gustan las frugales transgresiones". Me encanta. :)