Wednesday, April 01, 2009

Objeto de pesquisa

Hoje eu estava lá no Café A Brasileira da rua Uruguai (meu preferido, e o preferido do meu pai; já não existem cafés desse tipo, lá na Espanha) quando uma garota me abordou. "Por que você está lendo o Estado?" Não foi assim tão brusco, mas essas são as primeiras palavras que eu registrei. Ela, que estava tomando café com uma amiga na mesa ao lado, disse que era de S. Paulo. Repetiu a pergunta e se explicou. Trabalhava no departamento de marketing do jornal Zero Hora, e queria saber não só por que eu lia o Estado de S. Paulo, mas também, principalmente, por que não lia a ZH. Era simpática e bonita, então, estava fora da questão responder algo como "porque eu acho a ZH um ..." (Iiih, não dava, não.) Falei que gostava de artigos e reportagens mais longos, com espaço para aprofundar nos assuntos..., algo assim, chato, bem a minha cara. E disse que eu lia a ZH no bar, para saber o que acontecia na cidade (ela tinha perguntado: e como tu te informa dos assuntos mais locais?). Perguntou meu nome, elas se apresentaram, perguntou de onde eu era, o que eu fazia, e logo disse para a amiga: "Claro, é o perfil". Eu tinha esquecido que para algumas pessoas nós somos todos perfis. Então: de Barcelona + estudante de mestrado (e ainda em Letras!) = leitor de um jornal nacional. Ela era formada em publicidade; a amiga, em relações públicas. Ela falou brincando: "Bom, você vem de ser objeto de uma pesquisa de marketing". Era o momento de dar a ela meu telefone por se queria pesquisar mais, só que, bom, nasci e vou morrer tímido. Só aproveitei para dizer que era uma opinião comum de meus colegas de aula que na ZH faltavam críticas de livros e filmes. (Mas também nem sei se meus colegas de aula lêem muitos jornais.) Ela se defendeu dizendo que no caderno de sábado havia, mas concordou que era um ponto fraco do jornal. Eu continuei lendo sobre o G20 (nada sobre o G20 na ZH de hoje que eu li no bar) e elas continuaram tomando seu café. Eu não soube puxar mais assunto. E, óbvio, não houve troca de telefone nenhum - mas, também, nesses casos, tres son multitud. (Em defesa da Zero Hora, quando eu era novo em Porto Alegre e no Brasil, o lia com prazer.)

3 comments:

gabriela said...

"(...)algo assim, chato, bem a minha cara(...)"
AHAHAHAHAHAHAHUAHAUHAUAHUAHAUHAUAH

Roger said...

Ei, tu, não leva ao pé da letra, era só uma captatio benevolentiae... :p

uri said...

ya sabes, gente de publi, cliches por todas partes... es asim, o encajas en un grupo o no existes... jiajiajia

em sembla bé que no et baixessis els pantalons i li diguessis que el seu diari era fluixet però... jo li hauria donat el telefon!!!!!!!!