Saturday, August 28, 2010

Algumas ideias interessantes e novas,

ao menos para mim, lidas dias atrás no jornal, onde é raro encontrar ideias novas. São de Tyler Brûlé, canadense, criador de revistas como Wallpaper e Monocle, que, segundo a Folha, "se tornaram bússolas da classe AAA no mundo". Eu não sei, nunca comprei a Wallpaper e nem sabia da existência da Monocle. Mas ele, Tyler Brûlé, não me parece um filho típico dessa classe social, pelas suas ideias e sua experiência de vida. Em 95, antes de se tornar editor, ele era repórter free-lancer; fazendo uma reportagem sobre os Médicos sem fronteiras no Afeganistão, seu jipe foi atacado e ele perdeu a mobilidade num braço. [Alguns comentários meus entre colchetes.]


Sobre o luxo hoje

"Nunca tanta gente viajou, comprou e usufruiu do luxo na história. Como as grifes estão por todos os lados [é triste ver, no centro de Roma, as mesmas lojas que em Barcelona], as pessoas querem algo único, exclusivo. Acho que o luxo tem a ver com o artesanal, com o que não pode ser feito em série em uma fábrica chinesa. Há profissões artesanais, ofícios que você já não encontra mais em Londres. Se você for a Beirute, vai achar marceneiros, alfaiates, chapeleiros que ainda guardam as técnicas e a sabedoria de séculos."


Sobre os japoneses e o pós-luxo

"O que me interessa é o pós-luxo, que o Japão já vive. Por três décadas, eles compraram, usaram e se desfizeram de todas as grandes marcas, dos produtos mais caros, já não se impressionam com qualquer coisa. Deram a volta ao mundo, como turistas. [Adoro esse interesse dos japoneses pelo resto do mundo, que conheço de perto, pois eles fazem parte da paisagem da Barcelona turística desde sempre.] Imagina quem está acostumado com aquelas lojas de arquitetura delirante em Ginza e chega a Londres ou a Paris? Deus proíba que eles vejam o horror do varejo nos Estados Unidos [, o país mais brega da face da terra]."


Sobre o Brasil

"O Brasil tem um 'soft power' muito além da ONU ou da OMC. [Lula sabe disso, faz bom uso disso, é criticado por isso.] Colocar vocês com os Brics é injusto. Quem quer ter casa de veraneio na China, na Índia ou na Rússia? [Hehehe. Na Rússia! Vai indo que eu não vou!] Vocês tem comunidade libanesa, japonesa, do mundo todo, sem a culpa do passado colonialista da Inglaterra."


Marcas brasileiras

"Petrobras e Vale não chegam ao consumidor final europeu ou americano. E muita gente deve achar que a Embraer é alemã. Vocês precisam de marcas além das Havaianas. [Até porque um dia inclusive o Uri vai se cansar delas...] Por que não existe uma rede de hotéis brasileira, uma Marriott tropical? No Brasil, vocês têm gente amável [depende do Estado, mas tá bão], o que é 50% no negócio da hospitalidade. Na Europa não se acha 'staff' que sorria. [Vão num hotel na França para ver...]"


Mídia míope

"Meus leitores não são homens das cavernas [só são um pouco alienados], são conectados. Mas acho que a mídia tradicional está repetindo os erros da década passada, quando torrou milhões com a internet sem ter testado o meio, sem saber como faturar com ele. O mesmo se repete com o iPad. Há investimentos milionários sem foco. Jornais e revistas estão desviando dinheiro que deveria estar em escritórios no exterior, boas reportagens, grandes fotógrafos. Oferecer notícias de graça foi outro grande erro."


O futuro do papel

"Aprendo muito quando paro em uma banca de jornais no Japão ou em Taiwan. Há revistas de vários formatos, tamanhos e papéis, com belos suplementos especiais. Os japoneses passaram pela febre digital muito antes que o Ocidente, já estão em outra. As revistas do Japão têm sites bem pobrinhos. O coração deles está no papel."


Patéticos

"Acabo de lançar uma edição especial em formato jornal, a Monocle Mediterraneo. O jornal suporta areia, sol, não reflete a luz e é à prova de protetor solar. [Ki awesome! Mas um jornal qualquer ou um livro também!]. Nada é mais patético que tentar ler no iPad na praia ou na piscina, tendo que cobrir a cabeça para evitar reflexos no visor." [Há coisas ainda mais patéticas no uso de celulares e derivados, mas essa é muito patética mesmo.]



PS nada a ver: Mais uma sobre o nosso "sistema vampiro", capítulo empresas privadas ou privatizadas vs. empresas públicas ou estatais. Do jornal Zero Hora de hoje: "A companhia proprietária da mina [onde 33 mineiros chilenos ficaram presos a 700 m de profundidade e deverão esperar quatro meses pelo resgate], San Esteban, informou que deve pedir falência e não poderá pagar os salários dos mineiros. A estatal chilena do setor de mineração escavará o túnel para retirar os homens, a um custo de US$ 1,7 milhão".

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