Tuesday, June 05, 2007

Half Nelson

Ontem aconteceu uma dessas pequenas coisas boas. Fui no cinema com uns amigos. Chegamos lá e não tinha o filme que a gente queria ver. Tinha uns quinze, mas nenhum que a gente tivesse vontade de ver. Tinha filmes dos que a gente não sabia nada, e depois essas merdas (Spiderman 3, Piratas 3...; me desculpe quem goste, mas nem sequer os atores querem repetir essas experiências...). Todo o cartaz está uma merda nestes meses post-fevereiro, é sempre assim (meu irmão Oriol diria que "o cinema", em geral, está uma merda). Então a gente estava lá na bilheteria, na frente, com uma filona atrás de nós, sem saber o que fazer. E foi aí que o Arlo pegou as rédeas e escolheu ao acaso Half Nelson. Tudo bem. Pensei, no mínimo vamos melhorar nosso inglês. E foi bom também porque o filme começava mais tarde e assim eu podia jantar. Meus amigos já tinham comido, mas eu tinha ficado em casa vendo um jogo de basquete e ido direto ao cinema. Comi um sanduíche de sobrasada (não existe isso no Brasil, é coisa de Mallorca), e eles, queridos, me acompanharam comendo umas rações de batatas fritas. A gente conversou sobre viagens (vontade de viajar), amigos não presentes (Àlex, Cristina, Joan...), etc. E fomos ver o filme. Que não foi ruim, mas muito bom. O protagonista é um professor que dá aula de história a uma turma de (pre)adolescentes negros. E a protagonista é sua aluna preferida (e talvez mais inteligente), Drey. Ele, Dan, branco e magrelo, também é o treinador do time de basquete das meninas. E é viciado em crack. E tudo acontece numa periferia pobre duma grande cidade (agora sei que é Brooklyn, New York, mas podia ser qualquer outra urbe). Dan ensina à turma "dialectics", o processo mediante o qual os grandes câmbios teriam se produzido ao longo da Historia (marxismo, né?). Seria tudo um jogo de puxar, tirar, ceder, apertar... (Não é assim também, penso eu, nas relações humanas? Não tem post neste blog, parece ser, sem Renato Russo, e ele escreveu: "Estamos medindo forças desiguais / Qualquer um pode ver / Que só terminou pra você".) Dan, sempre muito dedicado a seus alunos, pede para eles fazerem atenção aos câmbios relativos aos chamados civil rights. Àqueles que, em algum momento da história dos Estados Unidos, favoreceram aos negros, aos homossexuais, ás mulheres. Mas... a história acontece num gueto, e esses câmbios são pouco perceptíveis. Dan é um homem solitário e viciado em drogas, como já falei. A escola, uma bagunça. Os alunos, todos pobres. O irmão da Drey está encarcerado por causa dum traficante "amigo"; a mãe trabalha como enfermeira 16 horas por dia; o pai... cadê o pai? O filme conta a história da amizade entre esses dois, menina e professor; uma amizade cheia de silêncios (que, engraçado, acho que chega ao ponto máximo quando ela, de fora do carro, chama ele de "asshole", e ele, de dentro, chama ela de "bitch"), em que a menina acaba sendo quem presta a ajuda maior. E conta, também, como o negro continua sendo discriminado. Os negros continuam sendo discriminados tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Ah!, mas tem esse Barak Obama running for President!, alguém dirá. Ao que o Chris Rock poderá responder (num de seus hilários e revoltados monólogos): BULLSHIT. E ao que a Oprah dirá... (mas vamos deixar a Oprah em paz, não gosto dela; aliás, ela é objeto de algumas piadinhas no filme...). A igualdade fica longe. Mas, o que eu gostei do filme, além dela e ele serem pessoas boas, queridas, e a paisagem, extranhamente, bonita (é lindo ver a menina andar de bicicleta pelas ruas do seu bairro), é que as personagens lutam. Não é como nesses filmes tipo American Beauty em que brancos de classe média vivem infelizes em subúrbios sem saber o que fazer. Não. Aqui a pobreza é maior, mas as pessoas lutam. Mesmo estando sós, mesmo não tendo perspectivas de futuro ou sendo viciadas em crack. Ao sair do cinema ganhei uma guloseima da Anna, e ao chegar em casa vi que o site de críticas Rotten Tomatoes dava ao filme um 91% fresh.

No comments: