Wednesday, March 10, 2010

Capítulo 25 (rascunho)

Kate lia Theroux, Pamuk, Mafuz e outros autores que eu não conhecia. Gostava, também, de literatura juvenil. Certa vez, fomos a uma livraria especializada, na rua 16. Começou a pegar livros de mesas e prateleiras, mostrando-me, comentando-me empolgada cada um deles. Eram livros lidos na adolescência, pelos quais guardava o maior carinho (eu não resisti, fui empilhando-os nos braços, comprei quase todos). E agora estava encarregada da edição de medíocres romances históricos e novelas de mistério, de guias turísticos, de livros estrambólicos (enviou-me um destes últimos, para eu dar risada: um livro sobre como tecer suéteres, calças, etc. com pelos de cachorros de estimação). Por isso imagino os motivos que a levaram a querer, em suas palavras, se arrastar até debaixo da mesa e morrer; a abandonar a editora, com ódio desse mundo, para não voltar mais. Era tudo demasiado entediante, demasiado deprimente, demasiado estúpido.

Acredito que foram essas circunstâncias as que mudaram também seu caráter. A Kate das cartas e e-mails que eu recebia em Barcelona, sarcásticos, de língua afiada, por vezes assustadores, já que ela parecia se auto-flagelar, culpar-se pelo que estava vivendo, não era a garota que eu conheci terminado o curso. Comigo, passeando, assistindo a concertos, divagando sobre livros e filmes, sobre projetos de futuro, ela sempre foi doce, de jeito afável. Era propensa a lucubrações (do tipo que gosta de imaginar o que o gato de uma amiga pode estar pensando), mas também lúcida e pé no chão. Física e psicologicamente sensível e forte. Lembro de como, na residência, era paciente com sua companheira de quarto, que, mais nova, deprimida, passava o dia inteiro na cama, ouvindo uma e outra vez, incessantemente, o mesmo CD de Belle and Sebastian.

No comments: