Thursday, February 03, 2011

Barra de Itariri, Bahia

(Último post de fotos, último post das férias. A partir de hoje, trabalho.)

Entre quinta-feira e domingo passado estive em Barra de Itariri, na pousada Bela Vista, fácil de encontrar, pois é a única. (Tem outra, mas é velha, pequena, pior: isso me disse o taxista.) Barra de Itariri é um vilarejo perdido no litoral norte da Bahia, perto do Sergipe. Depois das 15 h, só se veem nativos, já que o último ônibus para Sítio do Conde sai às 14 h. Sítio do Conde, a uns 12 km, é um pouco maior, tem mais pousadas e um pouco de vida noturna, segundo me contaram duas garotas de Alagoinhas que conheci na praia e estavam hospedadas lá (precisamente para curtir essa vida noturna). Mas é em Barra de Itariri onde dá para tomar banho de rio ou banho de mar; com a maré alta ou a maré baixa; perto das rochas ou dos manguezais; com turistas ou com nativos; de dia ou de noite;... Quando, no ônibus de Salvador, cheguei a Sítio, fiquei meio desapontado: a praça principal estava quase deserta, a pobreza era evidente (eu sabia que não ia a Praia do Forte, mas mesmo assim), o ônibus para Barra só saía três horas depois e eu, com minhas malas, não tinha o que fazer, não podia nem ir ver o mar. Esperei. Mas cansei, e daí apareceu meu eu mauricinho, e daí resolvi ir para Barra na hora, de táxi, pagando os 50 reais. Foi bom. O taxista me surpreendeu: negro, fortão, com um colar desses de hip-hopeiro, botou no rádio Laura Pausini! Então já relaxei. Foi um prazer esquisito, ir nesse carro, por essa estrada de barro esburacada, com os coqueiros e o mar à esquerda e esse cara ao meu lado, ouvindo "La solitudine", "Strani amori", todo o CD!

Essa mesma tarde, vi algo lindo em Barra que não pude fotografar (só saí para tirar fotos na tarde do dia seguinte). Um monte de criancinhas brincando com um cavalo na água. Três garotos tinham ido a cavalo pela praia, atravessado o rio com a água cobrindo a metade do corpo dos animais, continuado até os manguezais e voltado, e depois deixado às crianças um dos cavalos. A maré estava subindo, mas mesmo assim as crianças botaram o cavalo na água. Montaram no lombo dele duas, três crianças de vez, e alguma até o usou de trampolim (o cavalo, tranquilo, se deixava fazer). O mais incrível foi quando, do cavalo (branco), só se viu a cabeça. Um monte de cabeças rindo, gritando, e uma cabeça de cavalo lá no meio! (Mais tarde pensei que aquilo me impressionou, provavelmente, porque a única vez que vi uma cabeça de cavalo recortada na água foi no filme The Neverending Story, numa das cenas mais tristes que vi no cinema quando criança.)

Gostei, também, de passear à noite pelas ruas do vilarejo, de terra e desertas. Barra de Itariri me lembrou Fernando de Noronha, pela solidão e quietude, e as praias inteiras para mim, e também San Pedro de Atacama, pelas ruas empoeiradas e um certo ar de faroeste. Como em F. de Noronha, vi muitos caranguejos e sapos. Também, uma noite, depois de jantar, me deitei na areia da praia e vi o céu mais estrelado de que tenho lembrança (impossível reconhecer uma constelação nesse céu). Jantar, esse era o problema. Não tem nada, no vilarejo. Para almoçar, me virei nos bares-"restaurante" da praia, mas para jantar, no primeiro dia, não encontrei nada, todas as ruas escuras, tudo fechado, só jovens indo para cima e para baixo de moto e famílias sentadas às portas das casas, tomando o fresco. Até que uma turista (baiana, lá não tem estrangeiros) me indicou uma tapiocaria, onde comi o melhor beiju da minha vida (dica: fazer na panela, não na chapa). Acabou sendo bom, isso de não ter onde jantar. No segundo dia, segui a indicação do dono da pousada (um paulistano que mora há dez anos nesse mini paraíso) e fui a uma casa particular que também funciona como restaurante, o "Monte das Oliveiras". Na sala de estar havia três mesas vazias, para os possíveis clientes, um sofá e uma TV, só, e ao fundo se via a cozinha. A filha adolescente fez de garçonete, tomou meu pedido. Enquanto esperava, conversei com ela e com seus irmãos, mais novos, no alpendre da casa, onde havia pássaros em gaiolas, e gatos, e galinhas. O pai ficou o tempo todo no sofá, assistindo à novela da Globo. Esperei muito, mas valeu a pena: as mulheres, que não saíram da cozinha (eram muitas, três ou quatro; "se eu fosse o Ferran Adrià", pensei, "já estaria lá dentro, observando tudo"), fizeram uma deliciosa moqueca de camarão com pirão.

O resto não dá para explicar. O bem que o mar me faz, a beleza da paisagem, a sensação da água na pele, a do sol, etc. Ah, terminei de ler La conciencia de Zeno, num outro post já vou comentar.


Mosaico de fotos (maré baixa):









E mais três (estas não são minhas):


Pensei em fazer isso, mas não fiz: subir nesse posto de salva-vidas (onde não tinha salva-vidas) e ficar ali, lendo.


Crianças de Barra de Itariri.


Barra de Itariri, rua principal.



PS: A trilha sonora do taxista de Sítio. Há anos eu não ouvia essas músicas. Será que o colega Emerson gostaria? Sabe?, eu acho que sim. Acho que o Emerson tem seu lado sentimental.

8 comments:

Sergio Lulkin said...

Rugê, que bela sensibilidade de viajante.

Roger said...

É o que eu mais gosto de fazer...

Sergio Lulkin said...

Acho que tá no pós-genético, porque com um mês de idade entrei num avião, dentro de um berço portátil, o que me fez gravar as impressões das nuvens em meu pequeno e jovem corpo. Dali em diante, nunca mais parei de sonhar... e deslocar-me.

uri said...

envidia...

gabriela said...

thumbs up - gabriela likes this.

rous said...

jo intentant adaptar-me a les possibilitats de barcelona i tu m'ensenyes meravelles..definitivamente hauré d'anar cap a brasil :)

Sergio Lulkin said...

Com el nostre secretari esta una mica en tránsit fa mesos... declaro, com a Ambaixador, que a partir del Març estem obrint places per Donnes que vulguin treballar al Brasil, fent de Attachés Cultural Multinternacional. Llavors, Senyorita Rous, és molt benvinguda al nostre trópic. Espero que el Snr. Cardús retorni aviat a les seves feines o hem de declarar el "puesto" buit per vacances massa llargas.

Roger said...

Uri, no tinguis enveja, que tu ja coneixes aquests paratges! Qui llegeixi aquest post es pensarà que tu ets un currante i jo un bon vivant, i no, companys, no és això. L'Uri ja ha estat al Brasil (ha perseguit tortugues a F. de N., per exemple). L'Uri fa submarinisme a la Costa Brava, es posa un traje de neoprè i va a veure peixets. Ha vist dofins al Cap de Creus. Té un amic a Culera amb qui va a pescar calamars a la nit... i no m'ha convidat mai!

Gabriela! Tá inventando etiquetas tipo facebook, like/dislike? Bueno, adorei teu "thumbs up", mas isto não é o facebook! :p (É San Pedro de Atacama ou não é, nessa última foto?)

Rous, és que m'he cansat de dir-t'ho: quan et decideixis a anar a Salvador, hauràs trobat el teu lloc a la Terra...

Joer! El senyor Ambaixador m'està "fent el llit"! :o( (Per qui no ho sàpiga: és que ens vam reunir a l'Ambaixada, i jo, Secretari, encara no he escrit l'acta de la reunió, i deu estar dolgut...) Aviat retornaré a les meves feines. És que he estat enfeinat intentant desxifrar la diferència entre neurotransmissors i neuroreguladors. I coses per l'estil. (Bé, també he estat dos dies a Imbé. :) Però ja avanço aquí el punt número 3 de la reunió: entre glops de café brasiler i mossegades de xocolata argentina, vam decidir, sí, l'obertura de places per a membres del sexe femení a l'Ambaixada. A més, les candidates estaran exemptes de l'obligació de recitar la Vaca Cega o qualsevol altre poema de Joan Maragall. També vam decidir la postura de l'Ambaixada davant la crisi a Egipte (no ens podíem deixar de manifestar). Però, amb permís del senyor Ambaixador, diré que la seva postura és una mica confusa, massa diplomàtica, jo diria. (La meva es resumiria en alguna cosa com ara "cops de roc als polis!". Però jo només sóc el Secretari.)