Tuesday, February 26, 2008

Anna Karénina

Finalmente acabei de ler esse longo, grande romance de Tolstoi com que meu irmão Oriol me presenteou no Natal. Demorei muito, e li-o aos trancos e barrancos (houveram coisas mais interessantes no meio: Barcelona, os amigos, o Carnaval,...), e por isso, desde já, digo que não sei se minhas impressões são muito confiáveis...

Comecei a leitura emocionado, sem poder parar, achando o livro algo semelhante a uma boa novela de TV (em espanhol, culebrón) -dessas que, segundo alguns cronistas de jornais brasileiros, não existem mais. Reparei no jeito em que Tolstoi usa as expressões faciais e corporais mais sutis para fazer as personagens "falarem", e reparei também no uso das repetições, essa coisa proibida nas oficinas de criação literária: repetição não só de palavras, senão inclusive de expressões no mesmo parágrafo. (Isso não é da tradução espanhola: segundo a revista New Yorker, foi feita há pouco uma ótima tradução ao inglês de Guerra e paz que respeita essas repetições, que haviam sido eliminadas, "corrigidas" pelos tradutores ou editores de versões anteriores.) E vi como Tolstoi vê todas as personagens com o mesmo respeito, todas as ações como compreensíveis, normais, "humanas". E há no livro grandes descrições, por exemplo nas cenas de caça.

Mas... estava querendo acabar esse livro porque tinha uma filona de livros que, se não melhores, certamente iam ser mais frutíferos para mim, tanto no sentido de me dar prazer, quanto de me dar conhecimento (porque os livros servem também, sim, para conhecer um pouco melhor as pessoas e o nosso mundo). O problema com Anna Karénina é que muitas das questões morais apresentadas, convenções, etc. não existem mais, ou existem mas adquiriram outras formas; e, assim, os assuntos centrais do livro ficam meio ultrapassados... Há pouco, com as leituras de seleção ao mestrado, voltei ao costume de marcar passagens, e neste livro, de quase 1.000 páginas, marquei apenas umas dez (muitas mais, é verdade, no final do livro, nos capítulos em que a personagem de Lievin -para alguns alter ego de Tolstoi- fica mais introspectiva). Sendo que quando li Proust na faculdade marcava quase tudo. Para comparar Tolstoi com outro grande escritor do século XIX, eu diria que os romances de Machado de Assis, por exemplo, são muito mais "modernos", têm mais a dizer ao leitor de hoje.

E mais uma: por que Anna Karénina? Anna não é a personagem principal! Há cinco ou seis personagens tão importantes quanto ela! Lievin é mais importante e a ele são dedicadas mais páginas! E é só um dos amigos do irmão de Anna!

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