Tuesday, September 22, 2009

Meu amado pai


Do Ramon, 2000.


De Oriol Sais, 1989.


Do El País, 1998.


De um desenhista de Les Rambles, 1998.

Friday, September 18, 2009

O mal-estar na civilização, de S. Freud

"A vida, tal como a encontramos, é árdua demais para nós; proporciona-nos muitos sofrimentos, decepções e tarefas impossíveis. A fim de suportá-la, não podemos dispensar as medidas paliativas. (...) Existem talvez três medidas desse tipo: derivativos poderosos, que nos fazem extrair luz de nossa desgraça; satisfações substitutivas, que a diminuem; e substâncias tóxicas, que nos tornam insensíveis a ela. Algo desse tipo é indispensável."

Derivativo poderoso seria a criação artística, a atividade científica ou até o trabalho, quando é livremente escolhido.

Satisfação substitutiva seria, por exemplo, a leitura, ou a contemplação da obra de arte.

Substâncias tóxicas, bom... eu estou fumando.

Tem a religião, mas para Freud é "uma paranóia coletiva". Ele fala bem da filosofia budista, que busca a ausência de desprazer, a felicidade da quietude.

Segundo Freud, o problema do "momento" de felicidade ou prazer, mais comum, é que é uma "manifestação episódica", que não se prolonga; que deriva de um contraste, e não de um "estado de coisas".

Sobre o amor... "A modalidade de vida que faz do amor o centro de tudo, que busca toda satisfação em amar e ser amado" talvez se aproxime mais da meta da felicidade. Porém "nunca nos achamos tão indefesos contra o sofrimento como quando amamos, nunca tão desamparadamente infelizes como quando perdemos o nosso objeto amado ou o seu amor".

Mas há esperança! "Não existe uma regra de ouro que se aplique a todos: todo homem tem de descobrir por si mesmo de que modo específico ele pode ser salvo. (...) É uma questão de quanta satisfação real ele pode esperar obter do mundo externo, de até onde é levado para tornar-se independente dele, e, finalmente, de quanta força sente à sua disposição para alterar o mundo, a fim de adaptá-lo a seus desejos. Nisso, sua constituição psíquica desempenhará papel decisivo, independentemente das circunstâncias externas."


Wednesday, September 16, 2009

Longe

A Rose :) me enviou o novo videoclipe do Arnaldo Antunes :)) Do novo CD, que saiu agora :))) Mas eu já conhecia esta canção! Foi a que a Anna :) filmou no show que ele fez em Porto Alegre! Showzão que eu perdi! :(

Friday, September 11, 2009

Diada Nacional

Hoje é o Dia Nacional da Catalunya - como o passado dia 7 foi o Dia do Brasil. Compartilhar de um Dia Nacional seria, usando palavras de Freud dedicadas à religião (mas que sem dúvida ele deve ter dedicado, também, ao nacionalismo, equiparado a ela pela psicanálise), compartilhar de uma "paranóia coletiva". Então, eu estou fora - sempre fora. Como cidadão da Catalunya, da Espanha, da Europa, do Rio Grande do Sul e do Brasil (sem esquecer a importância, talvez maior, de meu ser barcelonês e portoalegrense), digo que podem enfiar esses dias nacionais no **. "Pode ser / pode ser bom / e pode ser / pode ser não". :)

Monday, September 07, 2009

My workplace for 2009 (3)



Embora eu seja influenciável, não é pelo que escreveram Nietzsche e Rousseau que coloquei os papéis na vertical: é para ter uma visão de conjunto e poder ler em voz alta.

Thursday, September 03, 2009

De pé

Também para a dissertação, estou lendo Ecce Homo, de Nietzsche. E me fez sorrir esta coincidência com Rousseau. (Também gostei de outra coincidência: Paloma, amiga do mestrado está lendo o mesmo livro.)

Rousseau, que escrevia passeando, escreve: "É nos passeios, no meio dos rochedos e dos bosques, que escrevo, no cérebro".

Nietzsche, que escrevia num atril (isto é o que me ficou das aulas de filosofia no colégio :), escreve: "Ficar sentado o menor tempo possível; não dar crença ao pensamento não nascido no ar livre, de movimentos livres - no qual também os músculos não festejem".

Wednesday, September 02, 2009

Bem que eu queria ir (notas de uma vida fóbica), de Allen Shawn

Há dias que queria comentar este livro, sobre o que já escrevi alguma coisa. O comprei no Botequim das Letras, a segunda vez que eu fui lá. A primeira vez, quando achei o livro por acaso, a atendente não sabia o preço, o livro acabava de chegar; ligou para a dona, a ligação caiu; então, sem preço, não pude comprá-lo. A segunda vez, a dona estava ali. Tirou o livro do bolso, disse que esteve lendo o prefácio e que lhe parecia muito bom. Essa dona é uma mulher jovem, uma guria, e então já gostei dela (uma dona de livraria que lê os livros!), mas gostei mais ainda quando, dias depois, a vi sendo entrevistada em uma TV local. Disse que na sua livraria (que é muito pequenina) só tinha livros escolhidos: de ficção, ensaios, algo de psicologia, algo de crítica literária; e que não tinha auto-ajuda, por exemplo, nem best-sellers (só alguns: Leite derramado, ela tinha; as mulheres, aqui como no Leblon, entram loucas nas livrarias pedindo o leite derramado do Chico (hihi, essa piada não é minha, é do Simão)).

Gostei do livro, cujo autor é músico e um grande fóbico (tem fobia de quase tudo). Mas esperava que fosse mais autobiográfico e menos informativo (tinha essa expectativa e o comprei porque tem a ver com a pesquisa para minha dissertação, como as Confissões de Rousseau): é metade-metade. Talvez meio repetitivo, e não especialmente bem escrito (ou será a tradução?; li muitos "eu", "eu", "eu", os "I", "I", "I" que em inglês são necessários, mas em português ou espanhol não), porém muito interessante. Bom para quem queira saber como as fobias têm as raízes na infância - para isso, além de sua própria experiência, o autor usa Freud - e como algumas tem origens remotas, nos primeiros homo sapiens (porque eram "medos úteis": medo da escuridão, dos espaços abertos ou fechados, etc.) - para isso ele usa Darwin. A psicanálise e as técnicas da psicologia cognitivo-comportamental não o curaram, mas o aliviaram, fizeram sua vida possível, ele diz (ele conta de maneira engraçada como foi levado com um grupo de pessoas com claustrofobia e medo de voar ao hangar de um aeroporto e metido em um avião em manutenção). Fala pouco em neuropsiquiatria, achei isso em falta (ele escreve: "Pelo menos até os dias de hoje não existe ressonância magnética no mundo que possa olhar para o cérebro e analisar as conexões neuronais para determinar quais [fobias] existiam no útero, quais se formaram aos três anos de idade e quais se criaram no mês passado"). Finalmente, achei estranho que só falasse em egocentrismo no posfácio, quando pede desculpas ao leitor: acaso o egocentrismo não está presente nas fobias e neuroses em geral?

Alguns trechos (escolhidos:):

Em geral, o agorafóbico sofre de uma culpa terrível por todas as ocasiões e oportunidades perdidas ou estragadas por suas reações e pelas ausências ou partidas inexplicadas que feriram suas relações.

No que se refere à confrontação dos riscos normais da vida, há decerto muita verdade no velho conselho de voltarmos imediatamente a montar o cavalo que nos derrubou. Uma experiência que rapidamente contradiz um trauma pode ajudar o cérebro a se curar com ainda mais velocidade.

[Segundo Freud] as carícias que recebemos quando bebês e continuamos a buscar em formas mais maduras quando crescemos podem nos ajudar a sobreviver. (Mais recentemente, o psicanalista francês Didier Anzieu escreveu sobre o "eu-pele" (le moi-peau) e a importância de sermos acariciados, dizendo que o afeto físico é um reforço essencial do "eu".)

Quando hábitos de evitação e ansiedade persistem por muito tempo, eles se tornam parte de você, como a dor crônica. O cérebro se acostuma às conexões, e elas se consolidam. O impressionante, no entanto, é que mesmo o cérebro adulto pode construir conexões completamente novas. As antigas podem se desfazer - se a pessoa estiver pronta a desfazê-las - e por fim, com muito trabalho, podem ser substituídas.


Monday, August 31, 2009

Poema

Desprezo

Desprezo as pessoas que só escrevem bem,
por terem falta de talento ou ambição.
Desprezo as pessoas que escrevem muito bem,
porque serão e viverão desgraçadas.

Saturday, August 29, 2009

Poema

Poema encontrado em uma velha caderneta. (É sério, estou mexendo em velhas cadernetas.)

Escribir será, para mí, un juego.
No voy a pararme a pensar en los adjetivos.
Escribir será, para mí, un juego.
Escribiré sin pensar una historia de miedo.


PS nada a ver: Ontem, sexta-feira, na loja da esquina uma mulher pequenina, com a pele curtida e o cabelo estragado, comprou à minha frente dez maços de cigarros. Pensei: Puta, como fuma esta mulher! E depois: Não pode ser; puta, como fuma esta família! Foi logo indo para casa que caiu a ficha. Não eram para ela. Eram para o marido preso. Sábado ou domingo é dia de visita...


PS 2: Maravilha (da época da minha avó; minha avó Montserrat canta esta música - não que ela fume, nem que espere al hombre que ella quiere: esse homem já foi, e nunca esperou um outro):




PS 3: Maravilha 2, tudo a ver com o post de ontem, porque a Céu a cantou, disse que a ouvia em casa quando criança e nunca parou de ouvi-la:


Friday, August 28, 2009

Vagarosa

Ontem foi a noite da Céu. Fui com o P. (sempre querido) e a J. (também muito querida - uma outra J., não a J. F., sempre querida e sempre sumida). Depois fomos no bar de um amigo de escola do P., F., também conhecido da G., bem pertinho do Opinião, onde tinha roda de samba. Bem bom. A Céu estava empolgada; o público, mais ou menos (menos do que o público da Concha Acústica do TCA de Salvador). Só não gostei do figurino, essa saia é bem pouco sexy :o) Enfim, o show foi bom, mas não foi massa, talvez porque eu também não fiquei tão descontraído (em casa eu fico: o CD é massa, me faz dançar). (O vídeo não é meu; sempre confio que vai ter alguém filmando :)

No Far West

Notícia de hoje, do jornal Zero Hora:

"Um homem morreu na tarde desta sexta-feira ao tentar assaltar uma lotação que fazia a Linha Ipanema, em Porto Alegre. Armado com uma faca e um revólver, o homem ingressou no coletivo na Avenida Juca Batista, próximo ao supermercado Zaffari, no bairro Cavalhada, e anunciou o assalto minutos depois.

Na altura do número 2300, quando o assaltante já recolhia pertences dos passageiros, o motorista freou bruscamente a lotação, causando a queda do criminoso, que deixou cair as armas.

De acordo com a tenente da Brigrada Militar Sibele Brito, que atendeu a ocorrência, o condutor entrou em luta corporal com o assaltante e conseguiu tomar a faca. Logo depois, cravou a arma no peito do homem, que morreu no local. Pelo menos quatro passageiros estavam no lotação no momento do incidente. Nenhum ficou ferido."

Thursday, August 27, 2009

Lázaro Ramos no Irritando Fernanda Young (ou: Você vai fazer coisas que nunca pensou que ia fazer)

Fernanda: "Mas mesmo assim, você não cresceu triste, né? Baiano não fica triste...".
Lázaro: "Fiiiica! Só que não demonstra. Faz parte do marketing. Marketing baiano".

*

Fernanda: "Você não é muito carnavaleiro, né?".
Lázaro: "Eu adoro Carnaval! Ir de pipoca...".
Fernanda: "...".
Lázaro: "Não sabe o que é? Ficar na rua, com o povo, levar porrada, beber cerveja?".
Fernanda: "...".
Lázaro: "Ai Fernanda, vou ter que levar você no Carnaval. Você vai fazer coisas que nunca pensou que ia fazer".

*

Fernanda: "Eu sou tímida".
Lázaro: "De verdade?".
Fernanda: "Sim. Muito tímida".
Lázaro: "Precisamos estudar isso".

*

Fernanda: "Eu li numa entrevista que você não era ciumento".
Lázaro: "Eu disse isso?".
Fernanda: "Disse".
Lázaro: "Menti".

Wednesday, August 26, 2009

As nuvens, de Juan José Saer

Li em duas sentadas este livro de Juan José Saer, o segundo "anti-Borges" (o primeiro e mais querido é, para mim, Manuel Puig). Lendo o início, esperei uma obra mestra. Talvez não o seja, mas é um romance muito bom. O assunto, a viagem de um médico alemão, com uma caravana formada por índios, soldados e prostitutas, para levar cinco loucos desde uma aldeia cem léguas ao norte de Buenos Aires até uma nova clínica psiquiátrica fundada por ele e seu mestre, com "métodos novos, mais humanos". O tema, a relatividade da loucura. E a loucura de se aventurar pelo pampa - que, descrito por Saer (a história se passa no início do século XIX) é o próprio inferno. O narrador é o médico, mas neste trecho inicial, que me maravilhou (e que agora, ao transcrever, achei proustiano), o autor se refere em 3a pessoa a quem encontra o manuscrito da viagem, nos dias atuais - o romance é de 1997; Saer morreu em 2005. (Trad. de Heloisa Jahn.) (Estou lendo autores argentinos e uruguaios em português, quem diria. A tradução é muito boa, mas seria legal que livros de Buenos Aires estivessem à venda aqui; estamos tão perto...)


[...] A casquinha dupla de creme e chocolate que se prepara para tomar será seu único almoço, e se esperou até tão tarde - já são quase duas e meia - para sair do escritório e comprá-lo é porque decidiu que o sorvete terá a função de permitir que fique sem comer até a hora do jantar. O calor é, sem dúvida, a causa principal de sua frugalidade, mas uma espécie de estoicismo que poderia ser considerado esportivo, produto não de uma regra que aplica a toda a sua vida, mas capricho do dia, confere a essa estratégia física uma vaga coloração moral. De modo que se sente bem durante alguns segundos, contente, leve, sadio e, apesar de já não estar longe dos cinqüenta, imagina contar com um futuro - imediato e remoto - claro, direito e vívido, como um tapete vermelho estendido desde a ponta de seus pés até o infinito. Quase ao mesmo tempo, o rigor do verão, o tumulto da rua, os gases escuros emitidos pelos automóveis e que envenenam o ar puxam-no de volta para uma certa medida de realidade, para esse meio-termo do estado de espírito situado a igual distância da angústia e da euforia e que aqueles que imaginam conhecê-lo relativamente bem, e ele próprio, mesmo quando por distração se deixa convencer por eles, chamam com segurança injustificada seu temperamento.

Saturday, August 22, 2009

Muita frescura

No guarda-volumes do MARGS, onde estão expostas temporariamente obras dos mais importantes pintores franceses, um homem vestido de camisa e bombachas resmunga, com voz cada vez mais alta:
- É muita frescura. É muita frescura.
Até que o garoto e a garota atrás do balcão cansam, e o garoto pergunta:
- O que é uma frescura senhor?
- Não poder entrar com o chimarrão. Aqui no Rio Grande do Sul.


PS nada a ver: Rosa Montero.

Friday, August 21, 2009

Medo(s)

Eu estava na rua Uruguai, olhando para o alto, e reparei nos aparelhos de ar condicionado. Há prédios antigos de cinco ou seis andares, e outros de mais de doze. E em cada andar há, do lado de fora, seis ou mais desses aparelhos. Não tenho fobias, nenhum tipo de pânico, mas espero que estejam todos muito bem parafusados. Já pensou, se um dia começarem a cair em cima da cabeça dos transeuntes? (São coisas que a gente imagina quando está desocupada.)

Aproveito para recomendar um livro que ainda não comprei nem li, mas vou ler. A Companhia das Letras lançou agora Bem que eu queria ir, de Allen Shawn (filho de William Shawn, editor-chefe da revista The New Yorker entre 1951 e 1987), que conta seus "medos de quase tudo", faz uma "arqueologia de suas fobias".

Allen Shawn, escrevendo sobre seu pai e a revista The New Yorker: "Hoje eu diria que, como eu, ele era agorafóbico e sofria de transtorno do pânico. Ao contrário de Emily Dickinson, era ativo e precisava da empolgação de estar presente no mundo, mas também buscava segurança e tentava fazer um porto seguro de todos os contextos em que entrava. Ele via a revista que editava como uma espécie de abrigo intelectual e moral para seus leitores. Descrevia cada edição como uma espécie de 'presente' enviado aos assinantes, uma recompensa, talvez, por terem chegado ao fim de mais uma semana" (p. 51-52).

Antes de vir ao Brasil em 2005, assinei por três anos à revista. E ainda hoje procuro às vezes abrigo nela, deslocando-me até a Livraria Cultura e comprando a preço de ouro números um mês atrasados.

Monday, August 17, 2009

Por que o mundo não pode funcionar

Há no mundo 1) pessoas que usam guarda-chuvas, 2) pessoas que não usam guarda-chuvas* e 3) marquises.

E há o seguinte: as pessoas que usam guarda-chuvas não se afastam do lado de dentro da calçada, ou seja, de debaixo das marquises, enquanto as pessoas que não usam guarda-chuvas caminham pelo lado de fora, sob a chuva.

Por quê?

As pessoas que usam guarda-chuvas 1) não sabem o que têm em cima da cabeça, 2) são tão conscientes quanto as pessoas que não usam guarda-chuvas da inutilidade ou ineficácia do guarda-chuvas (mas, então, por que o usam?), 3) se importam pouco ou nada com as pessoas que não são elas.

Minha suspeita: o princípio que leva as pessoas que usam guarda-chuvas a caminhar debaixo das marquises é o mesmo que leva as pessoas que têm dois carros a quererem três ou as pessoas que têm cinco milhões a quererem dez.

Por isso o mundo não pode funcionar.


*Por diferentes motivos: 1) estéticos (não gostam do treco e/ou não se preocupam com seu cabelo), 2) humanitário-científicos (querem que o treco de há 300 anos evolua algum dia, 3) poéticos (Uma vez eu perdi o meu medo / O meu medo, o meu medo / O meu medo da chuva / Pois a chuva voltando pra terra traz coisas do ar).

Friday, August 14, 2009

Twittando

Ninguém disse que é um absurdo, um nivelar por baixo, coisa para quem não lê nem escreve, isso do Twitter, só poder usar 140 caracteres?*


*Queria argumentar, mas já usei 136. Restam-me quatro: FUCK.

Wednesday, August 12, 2009

Céu, Cordão da Insônia

Céu está de volta com seu segundo disco, "Vagarosa". Eu vi ela em fevereiro do ano passado em Salvador, com a Rose e o Ronaldo. Agora ela se apresenta... em Porto Alegre :) Dia 27, no Opinião.



Da Folha de hoje: "A proposta é uma música irracional, que mais estimule o corpo do que a cabeça, que ganhe o ouvinte pelo tato, pelo suingue. Talvez por isso a Jamaica seja, de novo - até mais que o Brasil do samba -, a principal referência rítmica de 'Vagarosa'".

Monday, August 10, 2009

O meu nome é Legião, de António Lobo Antunes

Há anos, mais de cinco, li alguns textos de Lobo Antunes. Eles encerravam o caderno cultural Babelia, do El País. Não gostei, não entendi nem do que tratavam, os achei poéticos demais, achei quase ridículo, fora de moda, que fossem escritos sem pontuação. Deixei de os ler.

Muito tempo depois, agora, comecei a ler O meu nome é Legião, seu último romance. O comprei por vários motivos: pelo título (sei: besteira); porque uma professora disse que ele, mais do que Saramago, merecia o Prêmio Nobel; porque achei o assunto, a miséria e a degradação humana na periferia de Lisboa na atualidade, muito interessante; porque ele foi o escritor mais aclamado na última FLIP; porque em uma entrevista na TV disse que escrevia pensando no entretenimento do leitor (estava brincando?); porque eu queria saber como escrevia, não bastava ter lido aqueles artigos no jornal.

Parei de ler na página 100. O livro é tão chato que dá a sensação de que deve ter sido chato inclusive escrevê-lo. São mais de 200 páginas de fluxo de consciência. Quem agüenta? E o pior: por que?, qual é a necessidade de contar essa história usando essa técnica? (É arbitrário!) Por que o relatório do policial, no início do livro, não pode ser um relatório e basta, em vez dessa mistura de lembranças que acaba com a paciência do leitor? E a prostituta a continuação? Não daria para conhecer a sua história "desde fora"?, sei lá, através de diálogos, por exemplo? E por que ela pensa como o policial?, por que os fluxos de consciência são iguais? (Nota: Incomoda também a famosa questão da poetização da miséria: neste caso, não é o que as personagens dizem, ou pensam, que é poético, mas a forma em que o dizem.)

E isso tanto tempo depois de Joyce, e Faulkner, e quem quer que for que inventou o fluxo de consciência em literatura. A neurobiologia é a ciência que avançou mais desde então, e já não dá para não ver que essa técnica é afetada, um artifício mais evidentemente artificial do que outros artifícios pretensamente realistas. Por que não aproveitar o avanço científico para criar uma nova maneira de representar o pensar? Se é que a gente não pensa assim! (Nota: Terminei de ler as Confissões de Rousseau; Rousseau, sem o pretender, com toda sua verborragia, está mais próximo de mostrar como opera o pensamento do que autores como Lobo Antunes neste livro.) (Nota 2: Provavelmente D. Foster Wallace tentou, mas ainda não li seu tijolão, Infinite Jest.)


PS: Antes de falar mal de Lobo Antunes, uma vaca sagrada (quem sou eu?, podia não estar enxergando nada), quis me precaver, procurei alguma crítica do livro na Internet. Achei a de Pedro Mexia, que saiu no caderno cultural do Público: "O texto antunino é hoje uma melopeia cheia de repetições, parênteses, devaneios, saltos temporais, períodos que não acabam ou que elidem os verbos. É um estilo que se tornou maneirista. Que se tornou sentimental. Que exige uma leitura quase ofegante. É fácil ficarmos deslumbrados com este tipo de escrita quando o descobrimos. Mas ao fim de uma década e de um punhado de romances só os incondicionais não acusam algum cansaço".

Saturday, August 08, 2009

Não dá pra entender :'(



Aos 26 anos, capitão do Espanyol morre de ataque cardíaco


UOL - Das agências internacionais em Barcelona (ESP)

O jogador Dani Jarque, capitão do Espanyol, da Espanha, morreu neste sábado, na Itália. Segundo as primeiras informações, o atleta, de 26 anos, teve um ataque cardíaco no quarto do hotel em que a sua equipe estava hospedada na cidade de Coverciano, e foi encontrado por seus companheiros já sem vida.

(...)


O Estado de S. Paulo

O Espanyol estava fazendo sua pré-temporada em Coverciano. No domingo, iria jogar com o Bologna, mas a partida foi cancelada em razão da morte do jogador espanhol e o time voltará para Barcelona.

(...)

Daniel Jarque chegou ao clube quando tinha apenas 12 anos. Fez sua estreia em 2002 e participou da conquista da Copa do Rei em 2006. No mês passado, o zagueiro conquistou o posto de capitão do time.



El País

La nueva casa del Espanyol en Cornellà-El Prat, inaugurada hace una semana con un colorido espectáculo, vive ahora la antíteis de esa fiesta a consecuencia de la muerte de Jarque. Los aficionados pericos han acudido espontáneamente a la puerta número 21 del estadio, el mismo número del dorsal que vestía el capitán espanyolista, para rendirle homenaje.

Somos el Espanyol, nunca olvidamos nada: artículo de Enric González.



Foto de iPhone enviada por Ramon.

L'afició verd-i-negra sempre al costat de l'afició de l'Espanyol. :)


PS nada a ver, mas muito importante: Um grande abraço para meu irmão Ramon e para a Nelia, que cuidaram dos meus pais enquanto meu pai se recuperava no hospital (nada grave, uma infecção chata). Conhecendo o Ramon, deve ter ido cada dia. (E os outros três irmãos, sumidos pelo mundo...) O Ramon até foi no estádio do Espanyol (antes dessa tragédia) comprar, na loja, um pack para o pai. (E fantasiou ele, só que meu pai não quer enviar a foto.) Meu grande irmão.

Friday, August 07, 2009

Tuesday, August 04, 2009

(Alguns) Brasileiros morando em Barcelona

Programa de 30 minutos sobre a comunidade brasileira na Catalunya. Em catalão. Bom, com testemunhas em português, também. Estou postando sem tê-lo visto ainda. Passou ontem.

Monday, August 03, 2009

Nova casa (própria!)

Ontem foi inaugurado o novo estádio do RCD Espanyol, meu time de futebol. O time do Jorge, da Julia, do meu pai, dos meus irmãos, do meu avô, que ia ao estádio de Sarrià, tanto tempo atrás, do Mr Bulbena, de todas aquelas pessoas que são especiais demais para torcer pelo outro time de Barcelona. Força Espanyol!




Foto de iPhone enviada por Ramon.


PS nada a ver: De uma galeria de arte moderna em Washington D.C. (enviado pelo Ronaldo):

Saturday, August 01, 2009

Still from New York

Uma amiga me perguntou se eu conhecia a expressão em inglês "to give head", e achei engraçado e me pus a cantar esses versos de Chelsea Hotel nº 2 e a lembrar de Nova York.




PS: Manhattan antes da chegada dos holandeses:


NYT

Tuesday, July 28, 2009

Monday, July 27, 2009

Baleias em Ipanema (hoje!)


Baleia e filhote nadam em Ipanema e atraem atenção de banhistas
e motoristas que passavam pela região (Folha Imagem).





PS nada a ver: Gisele descabelada:

Thursday, July 23, 2009

Confissões, de Rousseau

Depois de muito olhá-lo na Cultura, um dia comprei este livro como um dever (não era leitura obrigatória*, mas no mestrado tínhamos uma disciplina sobre literatura autobiográfica); o comecei a ler com algum receio; de fato, o achei chato; lá pela página 200, quase o abandonei; e agora só espero a hora de deitar para continuar a devorá-lo.

Vou comentá-lo um pouco quando tenha tempo. E, principalmente, vou copiar alguns trechos (tradução de Rachel de Queiroz e José Benedicto Pinto). Por enquanto, só adicionar que, muito antes de ser citado pela professora da disciplina, foi, para mim, a recomendação de um "defunto". Podem me chamar de idólatra, mas as dicas de Renato Russo não as deixo passar (Anna: seu esporte preferido era a natação). Graças a ele descobri Pato Fu, o Tao Te King, Adélia Prado, e outros livros, bandas, etc. que agora não lembro. (Só não vou ler a Bíblia, que ele leu e releu.) (Até porque meu irmão Ramon me a roubou.)

Fragmento 1, do Livro Quarto:

Esses longos detalhes da minha juventude parecerão muito pueris, e isso me aborrece. Embora tenha nascido homem, a certos respeitos fui criança muito tempo, e ainda o sou em muita coisa. Mas não prometi oferecer ao público um grande personagem: prometi me retratar tal qual sou e, para que me conheçam na idade avançada, é preciso que me tenham conhecido bem na juventude. E como, em geral, os objetos me impressionam menos que as lembranças, e todas as minhas idéias são em imagens, os primeiros traços que se me gravaram na cabeça lá ficaram, e os que se imprimiram depois, antes se combinarem com eles do que os apagarem.

Fragmento 2, do Livro Terceiro:

O padre Gaime [...] pintou-me um quadro verídico da vida humana, da qual eu só tinha idéias falsas. Mostrou-me como, mesmo com um destino adverso, o homem sensato pode sempre aproximar-se da felicidade e correr a favor do vento para a alcançar; e como não há verdadeira felicidade sem sabedoria, e como a sabedoria é indispensável a todas as situações. Amorteceu muito a minha admiração pela grandeza, provando-me que os que dominam os outros não são nem mais sábios nem mais felizes do que eles. Disse-me uma coisa que me volta sempre à memória: é que, se cada homem pudesse ler no coração dos outros, haveria mais pessoas que quereriam descer do que pessoas que quisessem subir.

Fragmento 3, do Livro Segundo:

[A Sra. de Vercellis] gostava que eu lhe mostrasse as cartas que escrevia à Sra. de Warens e que lhe prestasse contas dos meus sentimentos. Ela, porém, não soube avir com acerto para os obter, nunca me mostrando nada dos seus. Meu coração gostava de se expandir, mas só quando sentia que o fazia em outro coração. Interrogações secas e frias, sem nenhum sinal de aprovação, nem de censura a minhas respostas, não me inspiravam nenhuma confiança. Quando nada me significava que minha tagarelice agradava ou desagradava, ficava sempre receoso, e procurava menos mostrar o que pensava do que dizer algo que me pudesse prejudicar. [...] Enfim, para ler no coração dos outros, é sempre um mau processo mostrar-se que se esconde o próprio coração.


Fragmento 4, do Livro Nono:

Sei que me repito, mas é preciso: a primeira das minhas necessidades, a maior, a mais forte, a mais inextinguível, residia toda no coração; era a necessidade de uma convivência íntima, tão íntima quanto o pudesse ser; era por isso, sobretudo, que eu carecia mais de uma mulher do que de um homem, de uma amiga que de um amigo.

Fragmento 5, do Livro Terceiro:

Nunca pude fazer nada com a pena na mão, em frente a minha banca e ao papel. É nos passeios, no meio dos rochedos e dos bosques, é à noite na cama e durante as insônias que escrevo, no cérebro. E pode-se imaginar com que lentidão, sobretudo para um homem inteiramente desprovido de memória verbal, que durante a vida inteira não pode guardar seis versos de cor.

Fragmento 6, do Livro Sexto:

Nos primeiros dias, a curiosidade me tornou indiscreto e [as abelhas] me picaram uma ou duas vezes. Mas logo fizemos tão boa amizade que me deixavam chegar tão próximo quanto eu quisesse, por mais cheias que estivessem as colméias, prestes a soltarem os enxames, que às vezes me cercavam, me pousavam nas mãos, no rosto, sem que nenhuma delas me picasse. Todos os animais cismam com o homem e têm razão. Mas logo que se certificam de que não lhes queremos fazer mal, sua confiança fica logo tão grande, que é preciso ser mais que bárbaro para a ludibriar.


*Deveria ser, como as Confissões de Santo Agostinho, o outro livro fundador do gênero.



PS nada a ver: Hoje acordamos com 4ºC de temperatura: voltei para a cama. Amanhã teremos 0ºC e será o dia mais frio da década em Porto Alegre. Quem diria, sair à rua com luvas. É verdade que há muitos Brasis.

PS nada a ver 2: Caetano Veloso, ontem na Folha: "Por mim, os ingressos todos dos meus shows deveriam ser menos caros, porque o público que tem muito dinheiro é, em geral, muito careta - e eu não sou careta".

PS nada a ver 3: An Ancient Society Faces New Change In Brazil.

Tuesday, July 14, 2009

Mayra Andrade

Eu estava procurando a forma correta de escrever "cabo-verdiana", para o relatório de um curso de poesia africana ao que assisti, e dei com esta cantora, Mayra Andrade. (Como é bom googlear... :) (Essa, a Rose, que conhece tudo, não deve conhecer. ;)

Thursday, July 09, 2009

Um irmão em busca de si, parte e 4



Este vídeo é um presente para meu irmão Uri, que terminou o Camino de Santiago, mas, ao não conseguir adiar o vôo de volta a Barcelona, não pôde caminhar mais uns dias, até Finisterre, como ele queria. Uri, aqui tens o vôo, pelas paisagens quase virgens da Galícia, até o fim da terra, onde espera o mar - ou uma mulher.

Esta é sua crônica:



Sei que parece impossível, sei que muitos não acreditavam em mim, sei que sua fé em minhas pernas não era superior à minha, mas a vida é assim, surpreendente e maravilhosa.

730 km a pé dão muitas histórias, e a palavra escrita não basta. Mas, vou dizer. Neste mês fui benzido mais vezes do que em toda minha vida. Por 300 km caminhei ao lado de Frodo, o portador do anel, deveriam ter visto seus pés. Lavaram e beijaram meus pés como Jesus fez com os apóstolos, fui ordenado cavaleiro da ordem dos Templários, dormi em chãos duros de ginásios e chãos ainda mais duros, de pedra. Caminhei de dia e de noite, sob a chuva e sob o sol, só e em companhia, com hobbits e com bruxas, e enfrentei cachorros e outros animais. Vi uma cabeça aberta ser fechada com grampos. Dansei e bebi e cantei à saúde da vida, dormi em lugares que nunca imaginariam, ouvi sons horríveis produzidos por homens. Conheci pessoas dos cinco continentes. Caminhei 41 km em um dia. Furei minhas bolhas, passei creme em minhas coxas, isso foi o mais perto que estive do sexo. E depois de 31 dias, cheguei a Santiago.

Não virei maluco, não saí dos trilhos. Nunca estive tão são, e o Camino me ensinou que a loucura é o dia a dia que vivemos neste mundo ocidental, que pirou. Não vou fazer discursos. São as ações, não as palavras as que valem. Mas minha vida a partir de agora vai seguir um caminho mais Tao, porque o Camino de Santiago é somente o mais curto dos caminhos que devemos recorrer. Mas é importante, porque é o primeiro.

Minha barriga não sumiu, deve ser genética, porque eu emagreci, e ela segue aqui, tão redondinha, bonitinha, orgulhosa de si. Fiquei bronzeado, mas o bronzeado pelegrino é antiestético, vou ter que ir à praia de manga comprida. Aprendi que não importa quanto tempo a gente fique esfregando sabão, se ao lado, na única privada, 60 pelegrinos defecam. Como caminhar tanto deixa o interior do corpo podre! Posso dizer que The North Face gasta mais em propaganda do que em produtos, e que os Compeed estão superestimados. E já não tenho mais vergonha de entrar na farmácia e pedir dois potes de vaselina, por favor. [Antes tinhas, Uri, irmão?]

O Camino é grande e rico em experiências. Mas não é assim que a vida deveria sempre ser?

Finalmente, é bom lembrar: a vida passa, mas o caminho se faz.


PS nada a ver: Roger índio:




PS 2 nada a ver (divulgando a literatura em catalão):

Monday, July 06, 2009

Last Chance Harvey

Sexta-feira, antes da compra do CD na Cultura, fui com a Anna (ela fez suas compras na Cultura antes: que agendas lotadas!) ver o filme Last Chance Harvey. O filme mais cheio de humanidade e amor que eu vi desde Away From Her. Foi mais uma recomendação do psicólogo Contardo Calligaris, que está sempre ali, na Folha, para falar sobre filmes ou romances que desvelam aspectos dos relacionamentos humanos (vou ver se depois recupero alguma coisa do que ele escreveu). Aqui se fala não só da possibilidade do amor entre um homem e uma mulher de mais de 50 anos, desiludida, ela, e "derrotado", ele, mas também do relacionamento de um homem e sua ex-mulher e, sobretudo, de um pai e uma filha por muito tempo afastados. (O trailer não faz justiça ao filme - quer vendê-lo como uma comédia -, e o título em português, Tinha que ser você, também não.)

Sunday, July 05, 2009

Pelo sabor do gesto

Comprei o novo CD de Zélia Duncan na sexta-feira. A turnê começou este final de semana em Niterói, sua cidade natal, e este vídeo, do primeiro show, foi postado hoje (por "Carmenen"). A música, que dá nome ao CD e à turnê, é uma versão da canção francesa "As-tu déjà aimé?", de Alex Beaupain.