Here you'll find comments and stories about my stay in Brazil; translations of Brazilian songs, poems, short stories and pieces of news; photographs. Also, some film and book reviews. In Spanish, Catalan, Portuguese and English.
Thursday, November 20, 2008
Dia nacional da consciência negra
Ontem (19/11/08) na Folha de S. Paulo:
O trabalhador negro (preto e pardo) ganha apenas cerca da metade do que o não-negro (branco e amarelo) recebe na Grande São Paulo. São R$ 4,36 por hora, em média, contra R$ 7,98, segundo pesquisa realizada pela Fundação Seade e pelo Dieese.
Quanto maior o nível escolar, maiores as disparidades. O rendimento real do indivíduo negro que não concluiu o ensino fundamental é de R$ 3,44 por hora, e o do não-negro, R$ 4,10 - uma diferença de 19,2%.
Já na comparação entre duas pessoas que terminaram a universidade o abismo atinge 40%: o negro recebe R$ 13,86 por hora e o não-negro, R$ 19,49. O levantamento foi realizado em 2007, mas os valores tiveram correção monetária até julho.
(...)
O indicador "mais preocupante", diz Patrícia Lino Costa, coordenadora da pesquisa, é o que mostra a distância entre os ganhos dos negros e dos não-negros que fizeram faculdade. O restrito acesso à escola é uma das principais causas da desigualdade no mercado de trabalho, mas, para quem conseguiu superá-la, o preconceito acaba sendo o pior obstáculo, afirma. Uma vez contratado por uma empresa, o trabalhador negro não consegue galgar posições e subir na carreira, daí a sua renda ser inferior à dos brancos que sobem na hierarquia, diz ela.
"Os negros não conseguem sequer entrar em um cargo mais elevado. Entre um engenheiro negro e um branco, certamente prefere-se contratar o branco, achando que o negro não é capaz", afirma José Vicente, reitor da Unipalmares.
(...)
Por isso, de acordo com os especialistas, a redução das disparidades começa na educação fundamental, para que as crianças aprendam desde cedo a lidar com as diferenças. Para Vicente, as cotas em escolas técnicas e nas universidades ajudam, porém deveriam ser uma "verdadeira política de Estado, e não fruto apenas da boa vontade de um grupo de reitores". As empresas, por sua vez, estão aumentando os seus programas de inclusão, diz Costa.
"O problema é a velocidade do avanço. No Brasil, que se orgulha da sua miscigenação, números como esses de renda e emprego são chocantes. Os EUA, onde até 50 anos atrás um negro não podia beber água no mesmo bebedouro de um branco, acabaram de eleger um negro presidente. Falta seriedade ao nosso governo", diz Vicente.
PS: Em Espanha, dia de celebração da morte de Francisco Franco.
Tuesday, November 18, 2008
Traduccions de Brasil 54 (No aeroporto i O que é isso, de Pato Fu)
Ve perfectamente bien
Todo lo que creo que me conviene llevar
Me mira de medio lado
Y dice:
¿Qué es eso
Que brilla tanto
En mi rayo X?
Por favor dígame
Es una carta
Una carta de amor
Él dice que está tan triste y solo
Me pide por favor que vuelva
No,
Hay otra cosa
Por favor,
El monitor.
Oh, es una caja,
Son mis discos,
Disculpe
Déjeme ir
Es una carta
Una carta de amor
Es una carta
Una carta de amor

¿Qué es eso?
Un rompecabezas
¿Qué es eso?
Es todo el saber
¿Qué es eso?
Un nunca me olvides
¿Qué es eso?
Un ser o no ser
¿Qué es eso?
¿Qué es eso?
Palabras cruzadas
¿Qué es eso?
El bien contra el mal
¿Qué es eso?
Tónica cambiada
¿Qué es eso?
Un no haber final
¿Qué es eso?
¿Qué es eso?
Una encrucijada
¿Qué es eso?
Una casi muerte
¿Qué es eso?
Un montón de nada
¿Qué es eso?
O falta de suerte
¿Qué es eso?
¿Qué es eso?
Un sueño confuso
¿Qué es eso?
La tele apagada
¿Qué es eso?
Juguete sin uso
¿Qué es eso?
Memoria borrada
¿Qué es eso?
PS:Brinde.
Saturday, November 15, 2008
O título do filme é horrível e o subtítulo também..., então... Sobre o filme do W. Allen que se passa em Barcelona (extended)

Opiniões conflitantes sobre o filme que estreou ontem no Brasil. A crítica (norte-)americana gostou muito (críticas especialmente positivas na New Yorker e no NYT). A crítica européia gostou pouco. A crítica espanhola e catalã não gostou. Meu irmão Uri, há um ou dois meses, quando viu o filme, escreveu um e-mail tão cheio de xingamentos (ele geralmente escreve e-mails com xingamentos, mas esse tinha xingamentos demais por linha :) que eu (uma pena, porque estava engraçado) resolvi não reproduzi-lo aqui (e olha que meu irmão tem um Woody Allen em papel machê, de 50 cm, no antigo quarto dele); uma jornalista de El País escreveu um artigo também xingando o diretor (mas essa está meio doidona). A Gabriela, que viu o filme ontem aqui no Brasil e que adora Barcelona, achou o filme muito bom. Enfim, eu respeito todas essas pessoas e opiniões (excetuando a da doidona), então... só assistindo! Por enquanto, há uma opinião unânime (inclusive meu irmão, que não gosta dela, concorda, e isso me deixa feliz, porque faz parte de uma velha briga entre nós): a Penélope arrasa com tudo e com todos. A outra coisa é que eu gosto do cartaz... e então posto o cartaz.
PS: Ah, para os amigos de Barcelona: Segundo a Zero Hora o filme é 4 (de 5) estrelas; segundo a Folha de S. P. é "bom", com altos e baixos.
PS2: Já posso opinar. Tive a sensação de estar vendo um bom filme de um diretor principiante. Ou uma boa história provavelmente escrita às pressas. A segunda parte é melhor. Não achei paixão nas cenas de sexo (só no beijo da Penélope à Scarlett). Algumas frases sobre o amor me pareceram meio bobas. Uma Barcelona mais real e intensa é a de Todo sobre mi madre (estou comparando só a imagem da cidade, se for comparar os filmes, ai). Achei as dúvidas das personagens, ou talvez a forma de serem expressadas, próprias de pessoas mais novas do que as representadas (se bem que a gente não muda muito, né?). É para ser um filme triste (segundo o diretor) e isso eu só o percebi no final (na cena do aeroporto), não permeia o filme, que às vezes parece não saber bem o que é. É difícil construir uma história verossímil com três atores tão conhecidos? (Eu não consegui deixar de ver eles.). Por que caralho aparece o Joel Joan?
PS3: O psicólogo Contardo Calligaris viu o filme e gostou, achou-o leve, bem-humorado e, no final, triste. Considera-o "um pequeno tratado do amor paixão", e diz que os espetadores "terão o prazer (ou desprazer) de se reconhecer em algum lugar do leque de experiências amorosas que o filme apresenta - um leque pequeno, mas do qual escapamos pouco".
Com exemplos do filme, ele faz considerações interessantes sobre o amor-paixão.
"1) Os casais que se amam de paixão, cujos parceiros parecem ser feitos um para o outro, em regra, acabam tentando se matar (Juan Antonio e María Elena). É porque, se o outro me completa e vice-versa, o risco é que nenhum de nós sobreviva à nossa união - ao menos, não como ente separado e distinto (...).
2) Por sorte ou não, o amor-paixão é raro. A maioria de nós vive relações menos 'interessantes' e menos fatais - relações em que a gente se preocupa em criar os filhos, decorar a casa, ganhar um dinheiro (Vicky e Doug) (...). Detalhe: nesses casais 'normais', ao menos um dos parceiros vive com a sensação de que sua escolha amorosa é resignada, fruto de um comodismo medroso (...).
3) Os que parecem não idealizar o amor paixão passam o tempo se protegendo contra ele. Deve ser por isto que a normalidade amorosa pode ser insuportavelmente chata: porque ela exige a construção esforçada de defesas contra a paixão (Doug).
4) A paixão não é uma coisa que a gente possa encontrar saindo pelo mundo como um turista da vida (Cristina). Pois não basta esbarrar na paixão; é preciso encará-la quando se apresenta".
"Para mim", escreve Calligaris na Folha, "a mais 'patológica' de todas as personagens do filme é Cristina. Sua aparente abertura para a vida ('Ela não sabia o que queria, mas sabia o que não queria', narra a voz em off) é apenas uma versão 'bonita' e literária de sua 'insatisfação crônica' (diagnosticada por María Elena, com razão). Nisso, Cristina é muito próxima da gente: ela consegue brincar com a paixão, mas sem perder a ilusão da liberdade ou o sonho do que ela poderia encontrar na próxima esquina. Por isso, sua voracidade é a do turista: tira muitas fotos pelo mundo afora, mas será que ela se deixa tocar pela vida?".
PS4: Cristina, em letra de The Smiths:
Sad veiled bride [Vicky], please be happy
Handsome groom, give her room
Loud, loutish lover, treat her kindly
(Although she needs you more than she loves you)
I know it's over
And it never really began
But in my heart it was so real
And you even spoke to me and said:
"If you're so funny
Then why are you on your own tonight?
And if you're so clever
Then why are you on your own tonight?
If you're so very entertaining
Then why are you on your own tonight?
If you're so very good looking
Why do you sleep alone tonight?
I know because tonight is just like any other night
That's why you're on your own tonight
With your triumphs and your charms
While they are in each other's arms"
PS5: Well, I don't want to be a "Cristina", but I want to be a "sad veiled bride" less. That would also explain why there are so many Cristinas.
PS6: Eu adoro quando a Penélope afirma, meio gritando, meio chorando, irritada por ter se dado conta disso tão tarde, nos braços de Juan Antonio e em frente de uma Cristina desconcertada: "Cómolosabíacómolosabíacómolosabía!!". (Certo que foi idéia dela!)
Wednesday, November 12, 2008
Divulgando a literatura em catalão 3

PS: Sinopse no site da Livraria Cultura: Na Barcelona da década de 1930, Colometa, balconista de uma loja de doces, leva uma existência banal ao lado do pai. Durante um baile na praça do Diamante, Colometa conhece Quimet, um jovem impetuoso que se tornará seu marido. Com ele tem dois filhos e passa a criar pombos. A Guerra Civil toma de assalto a cidade, a aos poucos o universo de Colometa se desintegra. O marido parte para a luta, a comida acaba e os pombos representam um jugo insuportável.
Gabriel O Pensador, Festa da música tupiniquim
... E no andar lá de cima
Um dos donos da festa
Tá na boa, tá em paz
Tá tocando um violão
"Festa estranha com gente esquisita
Eu não tô legal, não agüento mais birita"...
Friday, November 07, 2008
Traduccions de Brasil 53 (Os dois lados, de Murilo Mendes)
A este lado está mi cuerpo
Está el sueño
Está mi novia en la ventana
Están las calles gritando con luces y movimientos
Está mi amor tan lento
Está mi ángel de la guarda
Que a veces se olvida de protegerme
Está el mundo llamando a mi memoria
Está el camino hacia el trabajo
Al otro lado hay otras vidas viviendo mi vida
Hay pensamientos serios esperándome en la sala de visitas
Está mi novia definitiva esperándome con flores en la mano
Está la muerte, las columnas del orden y del desorden
(Enviado por Bel. :)
Wednesday, November 05, 2008
Singing for Freedom
Tuesday, November 04, 2008
Give me hope...

E que maravilha a capa da New Yorker!

Friday, October 31, 2008
Coragem
Belize: Somewhere in there I recall, Margaret and Thaddeus
find the time to discuss the nature of love. Her face is reflecting
the flames of the burning plantation, you know the way white
people do, and his black face is dark in the night and she says
to him, "Thaddeus, real love isn't ever ambivalent."
Tony Kushner, Angels in America
Quando ouviu que sua filha tinha sido baleada, pensou que nada no mundo seguia em seu lugar. As paredes se inclinaram, o chão não ia lhe sustentar. O interior de seu corpo esvaziou-se, e ele achou que fosse se dobrar. As janelas o olhavam. Os vidros, bombeados para dentro da casa, batendo como corações, parecia que iam estourar. O mar azul de fora emudeceu. E um apito começou a subir pelo fio do telefone e a fuçar-lhe o cérebro, sobrepondo-se à voz. "Sua filha foi baleada".
A única foto dela estava em cima da lareira: a foto dela, ele e a mulher. Era de cinco anos atrás. Quando se separaram, ele sentiu-se culpado, e não levou nada para a casa da praia, onde foi morar. Ao contrário: a casa da praia ficou quase vazia, pois ele colocou as roupas da filha e da mulher, os livros e as lembranças em caixas de papelão e enviou-as por correio à casa da cidade. Restou só aquela foto, tirada na praia, em um dia de sol.
Soltou o telefone, tremiam-lhe os joelhos, apoiou-se no balcão que separava a sala-cozinha da sala de estar. Durante uns minutos ainda ouviu o apito, não conseguiu pensar. Depois, calçou uns sapatos, vestiu seu casaco de linho de verão e andou como um autômato até a garagem – como se os pés, como se o corpo não fosse mais o seu. Sentou na direção do velho Chevrolet e tentou ligar o carro, que por três vezes não pegou. Pensou que não ia ser capaz de dirigir até a cidade. E que aquilo não era possível – não podia acontecer.
Dirigiu lentamente pela rua à beira-mar, toda esburacada. Enxergou a praia deserta entre as dunas e, do outro lado, as casas vazias, de janelas fechadas – os quiosques fechados também, desmontados. Cinco anos atrás, ele procurou aquele despojamento, aceitou aquele despojamento, adotou-o. Era o mais parecido com uma espécie de castigo, e isso o levaria a uma purificação. Ela aprendeu a dirigir nessa mesma rua, tão diferente nos meses de verão. Com onze anos, ele a sentou no colo e ela tomava conta da direção; com treze, ela começou a mexer nas marchas; não chegava aos pedais. Lembrou da vez em que entraram na praia e encalharam na areia, de suas risadas espasmódicas. Pareceu-lhe que ouvia ela rir. Depois veio a faculdade e ela nunca tirou a carteira.
Não ouvia o quebrar das ondas; e os latidos do cão de guarda que corria atrás do carro, e pulava, chegavam-lhe abafados, como de um outro lugar. Ele a protegia quando, nesses meses longos das férias, ela começou a namorar – e a beber, a fumar. A mãe sempre foi mais conservadora, e a filha sabia disso e usava ele, que por sua vez sabia e deixava-se usar: bastavam um piscar de olhos, um olhar – quem não obedeceria o olhar de alguém que sabia tanto o que queria –, um pigarrear inocente. Assim se entendiam. Pisou assustado no freio ao ver-se com o carro no meio da estrada – sem saber como tinha chegado lá, a cidadezinha às costas. E jurou que ia estar atento ao tráfego; eram 150 km até a cidade e prometeu a si mesmo que ia estar atento ao tráfego.
Desviou a vista para o rádio. Não queria ouvir nada nem ninguém, e quase sorriu ao pensar que provavelmente o aparelho nem funcionava. Ouviu: Pai, como tu é desligado. Nesse tempo todo, a mulher não quis mais saber dele; ela sim, ela ligava. Ligava sempre no dia do aniversário dele e na noite de São João. Essas duas ligações o deixavam feliz, dois meses antes começava a esperá-las. Apertou os lábios ao lembrar das festas: como ela, aos 14, aos 13, aos 12, cravava os olhos nas fogueiras. Eram o fogo e o inverno que davam à filha uma beleza superior. Ela fitava o fogo como se nada na vida – que apenas começava –, como se nada na vida pudesse— Parecia que se irmanasse ao fogo, e seus olhos e seus cabelos, em vez de refletir as chamas, viravam profundamente pretos, de um preto aceso. No verão era mais menina, com seu corpo opulento, soberbo, mas sem aquele olhar. Sentiu a vibração do carro – aqueles ferros velhos querendo se desconjuntar – e um formigamento a subir-lhe pelas pernas.
Quis bloquear os pensamentos. Fixou a atenção nos modelos e as cores dos carros que o ultrapassavam. Mas nessa época, e nesse dia, havia poucos carros na estrada. Então foi dizendo para si os nomes das árvores nas margens – cedros, jacarandás –; e quando o bosque interrompia-se, dos campos de lavoura. Surpreenderam-lhe usinas que não lembrava da última vez. Como ela teria mudado em cinco anos! Ele só tinha a foto da lareira e a voz, mais densa a cada ligação, a cada ano; e com isso ia compondo o crescimento da filha, mas não era bastante. Sempre perguntava pelos cabelos dela. Até que um dia ela disse: Pai, isto está virando uma obsessão! Ele não queria que os cortasse. Eu sou aquela, ela dizia, referindo-se à foto, ou talvez aos verões passados na praia, ou— Ele acreditava, gostava de acreditar nessa não-mudança.
De todos os quadros que ele pintara, que ninguém vira, que a umidade e o salitre estragavam, quantos eram ela? Nas camadas sobre camadas, nesses quadros tão pesados, de somente um ou dois tons, o que havia? São marinhas, ele dizia, quando perguntado pela filha, não é nada; e adicionava: gastar pintura por gastar. Mas ela nunca acreditou. Essa era a pergunta dela, que sabia que o pai vivia a caminhar demoradamente pela areia e a pintar em casa. São teus cabelos, ele brincava então. Só que nem sabia de certo. Essas manchas e essas cores eram ela? Não podiam ser o que ele nunca foi. É tu, é tu, minha filha! Tremeram-lhe as mãos na direção. Esticou os braços com força, retesando desde os ombros até os dedos. Começou a tremer-lhe o rosto. Nunca imaginara que fosse possível ficar ainda mais só.
Desceu do carro tremendo, em um posto de gasolina que ele não conhecia, novo, brilhante, deserto. Não se via ninguém, mas todas as luzes estavam acesas. Foi tirar a carteira do bolso, e a carteira caiu no chão. Em vez de se agachar e recolhê-la, cobriu-se o rosto com as mãos. “Senhor”, ouviu. Alguém lhe devolveu a carteira. Ele apenas enxergava. “O senhor está bem?”. Ele cruzou os braços sobre o peito, agarrando os ombros para não tremer mais, e fez que sim com a cabeça. Era uma mulher loira, mais alta do que ele, de roupa branca, com uma aura dourada. A mulher abriu a tampa e encheu o tanque do Chevrolet; logo, sem deixar de olhar para trás, voltou para o seu carro. Então ele pôde vê-la: tinha o cabelo comprido e usava dois grandes brincos de argola dourados. Reparou na blusa branca, nas formas do corpo, na cintura. Quis sorrir para ela. A mulher se aproximou de novo e perguntou-lhe com voz doce: “Você pode dirigir?”. Ele fez que sim. O corpo tremia-lhe menos. No respirar acelerado sentiu por um instante um cheiro de— Cheirou forte num intento de sentir o perfume – de voltar à realidade – mas sentiu só a gasolina. Ainda de pé onde a carteira caiu, estendeu os dedos para acenar à mulher, que ao passar pelo Chevrolet deu-lhe tchau desde a janela de seu carro vermelho. Vestida de festa, pensou ele. Nesta hora. Neste posto. Pensou que era um anjo. Perguntou-se se era um anjo. E pensou se a filha não poderia ter sido um anjo também.
Será que te amei o bastante, filha? Pai, tu sabe. Foi na última conversa telefônica, no dia do seu aniversário, seis meses atrás. Bastante era quanto? Quão grande deveria ter sido seu amor, se depois ele ia sumir por cinco anos? Que valia isso? O que valia ele? Inalava ar e o soltava rápido, sentia o coração bater na pele. Ouviu sua voz, rindo ao telefone: Pai, daqui a dois anos todo o mundo estará louco! Aos poucos foram aparecendo mais luzes traseiras, feixes verticais que perdiam-se no céu, estrelas vermelhas que o perturbavam e o obrigavam a piscar. E a voz dela em sua cabeça: O amor não é— O amor não é nunca ambivalente. E ele a ruminar: amor de pai, amor de mãe, amor de amigo, amor de— Por que o homem tem de ser de material tão sensível?
As ruas da cidade pareceram-lhe espectrais. Exceto por algum ou outro carro e o movimento cromático dos sinais, parecia que ninguém morasse lá – que uma debandada, enquanto ele estava fora, tivesse se produzido, deixando só fantasmas. Viu figuras escuras nas ruas esvaziadas, figuras contra paredes ora sujas, ora rachadas, banhadas em um amarelo de necrotério de hospital. Sentiu de novo o apito ouvido ao telefone – ignorava quantas horas atrás: quando era dia; e forte, como sempre desde que elas partiram e ele ficou na praia, a ameaça da loucura. Se ela não estivesse lá, deitada em sua cama, em seu quarto, com a mãe, as amigas, nada mais o salvaria. Ele, que quando achou já estar perdido, para não enlouquecer ou se matar, começou a pintar, sem ela não viveria. Não vai me beijar? Isso foi o que ela disse. Muito tempo atrás, no entanto parecesse sempre ontem. Encostada na porta do quarto do sótão, o único lugar da casa de cuja janela, por cima das dunas, dava para ver o mar. Ele nunca soube se ela estava perguntando. Nem na voz nem nos olhos acesos pôde adivinhar. Por que o homem é obrigado a—? Mas tinha certeza que tiveram coragem.
Quase não reconheceu a casa. Mudou a cor da fachada. A porta, larga e alta, antes era de madeira, não de aço. Alguém dormia nos degraus. Tanta coisa havia mudado. Desceu rápido do carro. Já não tremia, nem suava. De regresso à casa onde morou, subiria esses degraus, sentiria de novo o carpete nos pés, apalparia as paredes. E ela estaria na cama, no centro de tudo, sorrindo para a mãe. Olhou para cima e não viu luz nas janelas. Deu mais uns passos e enxergou: a figura nos degraus da porta, com os cabelos no rosto, diminuída no interior de um abrigo. A mulher ergueu a cabeça e pestanejou; pestanejou várias vezes em frente ao homem de cabelos grisalhos. Sorriu e chorando disse: “Meu amor, amor meu”. Então ele soube. No entanto, perguntou: “Onde ela está?”. “Ninguém parou, ninguém parou, ninguém parou”, a mulher disse. “Onde ela está?”. A mulher soluçava, abraçava-se a ele, golpeava-o com raiva no peito, no casaco, colava-se a ele.
Foi de táxi ao IML. Um homem de guarda-pó o recebeu na entrada. Explicou-lhe que Débora havia sido baleada às seis da tarde, ao sair da faculdade de carro. Que os assaltantes fugiram. Contou-lhe que o namorado morreu na hora, na direção; que o carro rodou cem metros, até bater em um poste de luz. “Sua filha Débora”, o médico disse, “conseguiu abrir a porta e sair. Um grupo de vizinhos tentou socorrê-la no chão. Pediram para outros carros pararem e a levarem para o hospital. Senhor? Na ambulância, ela disse: Ligue pro meu pai. Não resistiu. Agora, se quiser entrar na sala. Talvez queira levar uma lembrança”.
Monday, October 27, 2008
Crueldad

Sunday, October 26, 2008
Frear o ritmo ir muito lento
Se queres um pouco de mim
Me deverias esperar
E caminhar a passo lento
Bem lento
E pouco a pouco esquecer
O tempo e sua velocidade
Frear o ritmo ir muito lento
Mais lento
Ser delicado e esperar
Da-me tempo para te dar
Tudo o que eu tenho
Ser delicado e esperar
Da-me tempo para te dar
Tudo o que eu tenho
Se queres um pouco de mim
Da-me paciência e verás
Será melhor que andar correndo
Levantar vôo
E pouco a pouco esquecer
O tempo e sua velocidade
Frear o ritmo ir muito lento
Mais lento
Ser delicado e esperar
Da-me tempo para te dar
Tudo o que eu tenho
Ser delicado e esperar
Da-me tempo para te dar
Tudo o que eu tenho
Se me falas de amor
Se suavizas minha vida
Não estarei mais tempo
Sem saber o que eu sinto
Ser delicado e esperar
Da-me tempo para te dar
Tudo o que eu tenho
Ser delicado e esperar
Da-me tempo para te dar
Tudo o que eu tenho
Wednesday, October 22, 2008
Tom Zé "estudando a bossa"

Origen: Cuando empecé a componer las músicas, el título no estaba en pauta. Hasta que escribí el verso 'A Doralice me disse no desconsolo seu' y pensé: 'qué verso más bossanovista!'. Fue el grano de arena dentro de la ostra, la incomodidad que genera la perla. No hice una perla, hice un disco.
Transgresiones: La mayoría de veces puse las pillerías, transgresiones y bromas más sabrosas en los últimos 30 segundos de las canciones. Seguí el consejo de los lingüistas, cuando afirman que los radicales informan más que las desinencias.
Expulsado: La bossa nova era algo tan fino que mi calidad de bárbaro me expulsaba de aquello, yo mismo me expulsaba. Al lado de ese alejamiento, sin embargo, existió una atracción desde el momento de su aparición en el mundo.
Puente Rio-Niterói: La ingeniería brasileña sólo consiguió resolver el problema de construir el puente Rio-Niterói cuando hizo la traducción intersemiótica de las enseñanzas de la bossa nova. Sus plataformas flotantes son la traducción en hierro y hormigón de lo que la bossa nova hizo en la música. Lo femenino de las plataformas traduce lo femenino de las síncopas. Y, como la bossa nova, la tecnología del puente fue una creación brasileña exportada. En 1958, en un sólo año, Brasil pasó de exportador de materias primas, el grado más bajo del subdesarrollo humano, a exportador de arte, el grado más alto. Antes, el arte brasileño en el mundo era víctima de la mirada exótica, lo que no sucedió con la bossa nova, un género tan consumado que no permitió ese engaño.
"Chega de saudade": Oí "Chega de saudade" cerca de las dos de la tarde, en la ZYD-8, Radio Excelsior de Bahia. Era algo completamente absurdo, al mismo tiempo que era apasionante, al mismo tiempo que era diferente, al mismo tiempo que salía del vientre de la samba. Mi vida habría sido otra si no hubiera escuchado eso. No tendría tanta fe en la invención si no hubiera vivido una invención de ese porte.
El canto de João Gilberto: Los jóvenes estábamos cansados de los vibratos. Cuando surgió João, vimos que podía haber otro modo, íntimo, de cantar. Lo que fue una explosión. Porque al largo de siglos varias experiencias fueron hechas con la garganta humana. El canto lírico fue fruto de una evolución de generaciones. Pero João, solito en su cuarto de baño de Juazeiro, hizo con la voz humana algo que nunca había sido hecho. Fue el fonoaudiólogo, el esteta del buen gusto, el profesor de anatomía que creó una nueva forma de usar la musculatura de la cara... De hecho, hay dos cuartos de baño que deberían garantizar un Premio Nobel a sus constructores: el de Arquímedes (que, en su bañera, descubrió la ley del empuje) y el de João Gilberto.
Cantantes participantes: Todas fueron generosas, grabaron fuera de su tono. Antes de las grabaciones, copié el primer CD de João Gilberto 12 veces y lo mandé a cada una de ellas, para que entendieran de qué estaba hablando. No para imitarlo, cada una usó aquello de un modo.
Arnaldo Antunes, coautor de cuatro canciones del disco: Me tomé la libertad de meterme en sus letras. En 'Rio arrepio (Badá-badi)' sólo quedó un verso suyo: 'Nunca la tristeza fue tan feliz'. En 'Mulher de música', tuvo una enorme sensibilidad para seguir la idea del verso inicial que hice y escribió unas 10 estrofas, pero en la canción sólo quedaron dos.
Dorival Caymmi: Como en "Chega de saudade", el texto del disco también tiene un PS que hace referencia a él. En ese, era 'PS: Caymmi dice lo mismo'. En el mío es una referencia a su muerte, que no le permite escuchar la canción que le hice, 'Solvador Bahia de Caymmi'.
Tom Jobim: Hice las cuerdas de 'Rio arrepio (Badá-badi)' en el teclado, a la hora de grabar, improvisando, imitando las cuerdas de Tom Jobim. En los arreglos del primer disco de João Gilberto, las cuerdas de Jobim están paradas, sostienen la misma nota por varios compases. Cuando hay un elemento que se mueve mucho, como la guitarra de João, Jobim percibió que otro elemento, parado, gana sentido informacional. 'Samba de una sola nota' es un ejemplo perfecto de ese principio. Como la armonía cambia, la nota nunca es una sola.
Vinicius de Moraes: Era el poeta que escribía en la contraportada de "Canção do amor demais" cosas como 'crestada por la pátina de vida'. Y luego hizo letras que cualquier ama de casa entendía. Esa renuncia, esa entrega, es de una grandeza... Con un abanico pequeño de palabras, aumentó el repertorio de sentimientos de la clase media brasileña.
Funk (música tipo hip-hop nacida en las favelas de Rio): Las olas concéntricas generadas por el impacto de la bossa nova sin duda reventaron en el funk carioca. Se ve en un estribillo como 'Me estoy poniendo muy mojada', que es un metaestribillo (por remitirnos al arte de hacer estribillos), microtonal y plurisemiótico (al usar el sonido y el texto para alcanzar no sólo la audición, sino también el tacto, el olfato, el placer sexual.
PS nada a ver: Since they won't be taken to international courts or put in jail, at least let's laugh at the expense of the leaders of the Republican party for what they've done these last eight years.
[Video no longer available.]
PPS: Na verdade, esse PS não é tão "nada a ver". Porque Tom Zé, ligado em tudo, escreveu aquela música, "Companheiro Bush":
Se você fá sabe quem vendeu
Aquela bomba pro Iraque,
Desembuche.
Eu desconfio que foi o Bush.
Foi o Bush,
Foi o Bush.
Foi o Bush.
Onde haverá recurso
Para dar um bom repuxo
No companheiro Bush.
Quem arranja um alicate
Que acerte aquela fase
Ou corrija aquele fuso,
Talvez um parafuso
Que ta faltando nele
Melhore aquele abuso.
Um chip que desligue
Aquele terremoto,
Aquela coqueluche.
Tuesday, October 21, 2008
Divulgando a literatura em catalão 2

"Cara, só escrevo pra te agradecer a indicação da Mercè Rodoreda. Acabei de ler o Mirall Trencat (em português, claro, Espelho Partido) e gostei muito mesmo. Vou ver se consigo outras traduções dela. No mais, era isso, valeu e tudo de bom."
:)
Sunday, October 19, 2008
Frevo (Pecadinho)
La Rose em va enviar aquesta cançó en mp3. ("Lembra da maluquinha que abriu o show da Céu, na Concha Acústica?":) (Como eu não ia lembrar?:) La "maluquinha" és la Márcia Castro, la cançó és de Tom Zé i Tuzé de Abreu*. M'agrada molt la lletra. És una cançó de Carnaval, perfecta per començar el dia (o la nit) animat. (Tchau, vou dançar.)
Esta noite não quero saber de conselho
esquece, deixe pra lá
me arranja um pecado
quente pra me consolar
pense bem que depois
tem o ano inteiro pra gente pagar
Cinqüenta gramas de amor
veja lá, é um bocadinho
vinte gramas até,
venha cá, é tão pouquinho.
Eu vou morrer se você
não quiser
me arranjar um pecadinho.
Se você não quiser
me arranjar um pecadinho.
*O Tuzé de Abreu é outro baiano, mas menos famoso que o Tom Zé. É um cantor, compositor, diretor musical, flautista... Sei lá mais o quê... rsrs. Já trabalhou com Moraes Moreira, Carlinhos Brown e outros talentos. Ele tá em cena há muito tempo, mas não é muito conhecido, eu acho. (Rose)
Obrigadão, Rose.
Thursday, October 16, 2008
Ficar (aos 11)
Professora particular: I must go, it's nine o'clock. I hope you do well in the test, my girl.
Aluna de 11 anos: Thank you very much. I will do. I will be. I will doing...
Prof.: You will do your best.
A.: Sim. I will do my best.
P.: Perfeito. Eu sei que tu é nota A!
A.: Sora, posso te perguntar uma coisa?
P.: Claro.
A.: Tu já ficou?
P.: Se eu o quê? Há há! Como assim, se eu já fiquei?
A.: É que... Bom: eu...
P.: Já... já fiquei. Claro, né?! Mas é que eu sou bem mais velha que tu... Por que tu quer saber?
A.: Promete que não vai contar contar pra minha mãe? Nem pra minha irmã?
P.: Prometo.
A.: É que no colégio tenho quatro pretendentes.
P.: (Ai, meu Deus.) Quatro pretendentes! Nossa! Tem algum bonitão, inteligente e que saiba mais inglês que tu?
A.: Hehe.
P.: E já escolheu algum deles?
A.: Ainda não. Na verdade, eu não sei se eu quero ficar.
P.: Claro. Tu é muito nova ainda. Eu brinquei de Barbie até os 14. E dentro do colégio também não dá pra ficar!
A.: Tu que não sabe! Lá tem muitos cantinhos!
P.: (Ai, meu Deus!) (Muitos cantinhos!)
A.: Algumas amigas minhas já ficaram, sabia?
P.: Já?
A.: Já. Eu até ajudei uma amiga a ficar ontem.
P.: Ah, é? E como tu fez isso?
A.: Eu fui por trás, peguei a cabeça dele, peguei a cabeça dela e empurrei um contra o outro. Assim.
P.: Há há! Sério??
A.: Depois saí correndo!!!
Sunday, October 12, 2008
Isto é água, isto é água
A liberdade de ver os outros
Dois peixinhos estão nadando juntos e cruzam com um peixe mais velho, nadando em sentido contrário. Ele os cumprimenta e diz:
– Bom dia, meninos. Como está a água?
Os dois peixinhos nadam mais um pouco, até que um deles olha para o outro e pergunta:
– Água? Que diabo é isso?
Não se preocupem, não pretendo me apresentar a vocês como o peixe mais velho e sábio que explica o que é água ao peixe mais novo. Não sou um peixe velho e sábio. O ponto central da história dos peixes é que a realidade mais óbvia, ubíqua e vital costuma ser a mais difícil de ser reconhecida. Enunciada dessa forma, a frase soa como uma platitude – mas é fato que, nas trincheiras do dia-a-dia da existência adulta, lugares comuns banais podem adquirir uma importância de vida ou morte.
Boa parte das certezas que carrego comigo acabam se revelando totalmente equivocadas e ilusórias. Vou dar como exemplo uma de minhas convicções automáticas: tudo à minha volta respalda a crença profunda de que eu sou o centro absoluto do universo, de que sou a pessoa mais real, mais vital e essencial a viver hoje. Raramente mencionamos esse egocentrismo natural e básico, pois parece socialmente repulsivo, mas no fundo ele é familiar a todos nós. Ele faz parte de nossa configuração padrão, vem impresso em nossos circuitos ao nascermos.
Querem ver? Todas as experiências pelas quais vocês passaram tiveram, sempre, um ponto central absoluto: vocês mesmos. O mundo que se apresenta para ser experimentado está diante de vocês, ou atrás, à esquerda ou à direita, na sua tevê, no seu monitor, ou onde for. Os pensamentos e sentimentos dos outros precisam achar um caminho para serem captados, enquanto o que vocês sentem e pensam é imediato, urgente, real. Não pensem que estou me preparando para fazer um sermão sobre compaixão, desprendimento ou outras “virtudes”. Essa não é uma questão de virtude – trata-se de optar por tentar alterar minha configuração padrão original, impressa nos meus circuitos. Significa optar por me libertar desse egocentrismo profundo e literal que me faz ver e interpretar absolutamente tudo pelas lentes do meu ser.
Num ambiente de excelência acadêmica, cabe a pergunta: quanto do esforço em adequar a nossa configuração padrão exige de sabedoria ou de intelecto? A pergunta é capciosa. O risco maior de uma formação acadêmica – pelo menos no meu caso – é que ela reforça a tendência a intelectualizar demais as questões, a se perder em argumentos abstratos, em vez de simplesmente prestar atenção ao que está ocorrendo bem na minha frente.
Estou certo de que vocês já perceberam o quanto é difícil permanecer alerta e atento, em vez de hipnotizado pelo constante monólogo que travamos em nossas cabeças. Só vinte anos depois da minha formatura vim a entender que o surrado clichê de “ensinar os alunos como pensar” é, na verdade, uma simplificação de uma idéia bem mais profunda e séria. “Aprender a pensar” significa aprender como exercer algum controle sobre como e o que cada um pensa. Significa ter plena consciência do que escolher como alvo de atenção e pensamento. Se vocês não conseguirem fazer esse tipo de escolha na vida adulta, estarão totalmente à deriva.
Lembrem o velho clichê: “A mente é um excelente servo, mas um senhorio terrível.” Como tantos clichês, também esse soa inconvincente e sem graça. Mas ele expressa uma grande e terrível verdade. Não é coincidência que adultos que se suicidam com armas de fogo quase sempre o façam com um tiro na cabeça. Só que, no fundo, a maioria desses suicidas já estava morta muito antes de apertar o gatilho. Acredito que a essência de uma educação na área de humanas, eliminadas todas as bobagens e patacoadas que vêm junto, deveria contemplar o seguinte ensinamento: como percorrer uma confortável, próspera e respeitável vida adulta sem já estar morto, inconsciente, escravizado pela nossa configuração padrão – a de sermos singularmente, completamente, imperialmente sós.
Isso também parece outra hipérbole, mais uma abstração oca. Sejamos concretos então. O fato cru é que vocês, graduandos, ainda não têm a mais vaga idéia do significado real do que seja viver um dia após o outro. Existem grandes nacos da vida adulta sobre os quais ninguém fala em discursos de formatura. Um desses nacos envolve tédio, rotina e frustração mesquinha.
Vou dar um exemplo prosaico imaginando um dia qualquer do futuro. Você acordou de manhã, foi para seu prestigiado emprego, suou a camisa por nove ou dez horas e, ao final do dia, está cansado, estressado, e tudo que deseja é chegar em casa, comer um bom prato de comida, talvez relaxar por umas horas, e depois ir para cama, porque terá de acordar cedo e fazer tudo de novo. Mas aí lembra que não tem comida na geladeira. Você não teve tempo de fazer compras naquela semana, e agora precisa entrar no carro e ir ao supermercado. Nesse final de dia, o trânsito está uma lástima.
Quando você finalmente chega lá, o supermercado está lotado, horrivelmente iluminado com lâmpadas fluorescentes e impregnado de uma música ambiente de matar. É o último lugar do mundo onde você gostaria de estar, mas não dá para entrar e sair rapidinho: é preciso percorrer todos aqueles corredores superiluminados para encontrar o que procura, e manobrar seu carrinho de compras de rodinhas emperradas entre todas aquelas outras pessoas cansadas e apressadas com seus próprios carrinhos de compras. E, claro, há também aqueles idosos que não saem da frente, e as pessoas desnorteadas, e os adolescentes hiperativos que bloqueiam o corredor, e você tem que ranger os dentes, tentar ser educado, e pedir licença para que o deixem passar. Por fim, com todos os suprimentos no carrinho, percebe que, como não há caixas suficientes funcionando, a fila é imensa, o que é absurdo e irritante, mas você não pode descarregar toda a fúria na pobre da caixa que está à beira de um ataque de nervos.
De qualquer modo, você acaba chegando à caixa, paga por sua comida e espera até que o cheque ou o cartão seja autenticado pela máquina, e depois ouve um “boa noite, volte sempre” numa voz que tem o som absoluto da morte. Na volta para casa, o trânsito está lento, pesado etc. e tal.
É num momento corriqueiro e desprezível como esse que emerge a questão fundamental da escolha. O engarrafamento, os corredores lotados e as longas filas no supermercado me dão tempo de pensar. Se eu não tomar uma decisão consciente sobre como pensar a situação, ficarei irritado cada vez que for comprar comida, porque minha configuração padrão me leva a pensar que situações assim dizem respeito a mim, a minha fome, minha fadiga, meu desejo de chegar logo em casa. Parecerá sempre que as outras pessoas não passam de estorvos. E quem são elas, aliás? Quão repulsiva é a maioria, quão bovinas, e inexpressivas e desumanas parecem ser as da fila da caixa, quão enervantes e rudes as que falam alto nos celulares.
Também posso passar o tempo no congestionamento zangado e indignado com todas essas vans, e utilitários e caminhões enormes e estúpidos, bloqueando as pistas, queimando seus imensos tanques de gasolina, egoístas e perdulários. Posso me aborrecer com os adesivos patrióticos ou religiosos, que sempre parecem estar nos automóveis mais potentes, dirigidos pelos motoristas mais feios, desatenciosos e agressivos, que costumam falar no celular enquanto fecham os outros, só para avançar uns 20 metros idiotas no engarrafamento. Ou posso me deter sobre como os filhos dos nossos filhos nos desprezarão por desperdiçarmos todo o combustível do futuro, e provavelmente estragarmos o clima, e quão mal-acostumados e estúpidos e repugnantes todos nós somos, e como tudo isso é simplesmente pavoroso etc. e tal.
Se opto conscientemente por seguir essa linha de pensamento, ótimo, muitos de nós somos assim – só que pensar dessa maneira tende a ser tão automático que sequer precisa ser uma opção. Ela deriva da minha configuração padrão.
Mas existem outras formas de pensar. Posso, por exemplo, me forçar a aceitar a possibilidade de que os outros na fila do supermercado estão tão entediados e frustrados quanto eu, e, no cômputo geral, algumas dessas pessoas provavelmente têm vidas bem mais difíceis, tediosas ou dolorosas do que eu.
Fazer isso é difícil, requer força de vontade e empenho mental. Se vocês forem como eu, alguns dias não conseguirão fazê-lo, ou simplesmente não estarão a fim. Mas, na maioria dos dias, se estiverem atentos o bastante para escolher, poderão preferir olhar melhor para essa mulher gorducha, inexpressiva e estressada que acabou de berrar com a filhinha na fila da caixa. Talvez ela não seja habitualmente assim. Talvez ela tenha passado as três últimas noites em claro, segurando a mão do marido que está morrendo. Ou talvez essa mulher seja a funcionária mal remunerada do Departamento de Trânsito que, ontem mesmo, por meio de um pequeno gesto de bondade burocrática, ajudou algum conhecido seu a resolver um problema insolúvel de documentação.
Claro que nada disso é provável, mas tampouco é impossível. Tudo depende do que vocês queiram levar em conta. Se estiverem automaticamente convictos de conhecerem toda a realidade, vocês, assim como eu, não levarão em conta possibilidades que não sejam inúteis e irritantes. Mas, se vocês aprenderam como pensar, saberão que têm outras opções. Está ao alcance de vocês vivenciarem uma situação “inferno do consumidor” não apenas como significativa, mas como iluminada pela mesma força que acendeu as estrelas.
Relevem o tom aparentemente místico. A única coisa verdadeira, com V maiúsculo, é que vocês precisam decidir conscientemente o que, na vida, tem significado e o que não tem.
Na trincheira do dia-a-dia, não há lugar para o ateísmo. Não existe algo como “não venerar”. Todo mundo venera. A única opção que temos é decidir o que venerar. E o motivo para escolhermos algum tipo de Deus ou ente espiritual para venerar – seja Jesus Cristo, Alá ou Jeová, ou algum conjunto inviolável de princípios éticos – é que todo outro objeto de veneração te engolirá vivo. Quem venerar o dinheiro e extrair dos bens materiais o sentido de sua vida nunca achará que tem o suficiente. Aquele que venerar seu próprio corpo e beleza, e o fato de ser sexy, sempre se sentirá feio – e quando o tempo e a idade começarem a se manifestar, morrerá um milhão de mortes antes de ser efetivamente enterrado.
No fundo, sabemos de tudo isso, que está no coração de mitos, provérbios, clichês, epigramas e parábolas. Ao venerar o poder, você se sentirá fraco e amedrontado, e precisará de ainda mais poder sobre os outros para afastar o medo. Venerando o intelecto, sendo visto como inteligente, acabará se sentindo burro, um farsante na iminência de ser desmascarado. E assim por diante.
O insidioso dessas formas de veneração não está em serem pecaminosas – e sim em serem inconscientes. São o tipo de veneração em direção à qual você vai se acomodando quase que por gravidade, dia após dia. Você se torna mais seletivo em relação ao que quer ver, ao que valorizar, sem ter plena consciência de que está fazendo uma escolha.
O mundo jamais o desencorajará de operar na configuração padrão, porque o mundo dos homens, do dinheiro e do poder segue sua marcha alimentado pelo medo, pelo desprezo e pela veneração que cada um faz de si mesmo. A nossa cultura consegue canalizar essas forças de modo a produzir riqueza, conforto e liberdade pessoal. Ela nos dá a liberdade de sermos senhores de minúsculos reinados individuais, do tamanho de nossas caveiras, onde reinamos sozinhos.
Esse tipo de liberdade tem méritos. Mas existem outros tipos de liberdade. Sobre a liberdade mais preciosa, vocês pouco ouvirão no grande mundo adulto movido a sucesso e exibicionismo. A liberdade verdadeira envolve atenção, consciência, disciplina, esforço e capacidade de efetivamente se importar com os outros – no cotidiano, de forma trivial, talvez medíocre, e certamente pouco excitante. Essa é a liberdade real. A alternativa é a torturante sensação de ter tido e perdido alguma coisa infinita.
Pensem de tudo isso o que quiserem. Mas não descartem o que ouviram como um sermão cheio de certezas. Nada disso envolve moralidade, religião ou dogma. Nem questões grandiosas sobre a vida depois da morte. A verdade com V maiúsculo diz respeito à vida antes da morte. Diz respeito a chegar aos 30 anos, ou talvez aos 50, sem querer dar um tiro na própria cabeça. Diz respeito à consciência – consciência de que o real e o essencial estão escondidos na obviedade ao nosso redor – daquilo que devemos lembrar, repetindo sempre: “Isto é água, isto é água.”
É extremamente difícil lembrar disso, e permanecer consciente e vivo, um dia depois do outro.
Friday, October 10, 2008
Em crise

Monday, October 06, 2008
Para quem não gosta de ler os clássicos 2
Mais três:
Esaú e Jacó, de Machado de Assis
Pedro: Pau que nasce torto nunca se endireita.
Paulo: Pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto.
Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago
As pessoas podem ser muito ruins. As pessoas podem ser muito boas.
Late works of Philip Roth
I'd like to fuck with this young, extremely beautiful college girl. And I'll do it, because I'm an old, decrepit, self-obsessed Literature Professor (and she loves it). Oh, and I'm afraid of dying.
Saturday, October 04, 2008
É tão estranho, os bons morrem jovens*
1. (Por que os melhores escritores se suicidam, e aqueles que deveriam se suicidar, não?) Fa uns dies que una qüestió em ronda el cap: per què els escriptors que se suïciden són els bons, i els dolents, en canvi, segueixen publicant i publicant sense parar fins que la mort natural se'ls emporta (normalment, molt tard), no sense abans haver pogut deixar acabats un parell de llibres que els seus familiars publicaran per treure pasta?
2. (Podemos confiar nos escritores que não têm se suicidado?) Ja sé que el que em pregunto no és nou, però m'ha vingut al cap recentment pel tema de l'amic Foster Wallace. Et diré, primer de tot, que costa molt trobar llibres d'aquest home a Barcelona, però m'he començat a llegir un llibre de contes seu (les seves novel·les no es troben, ni a la Fnac), i, una vegada més, es compleix la norma artística segons la qual "el que se suïcida era bo". D'aquí la meva pregunta: ens podem fiar dels escriptors que no s'han suïcidat?
3. (O que deveria deixar feliz um escritor é escrever bem, não escrever redações escolares.) Res més lluny de la meva intenció que promoure la idea de què si un no se suïcida és perquè no és bon escriptor, però la veritat és que sorprèn veure el talent i la qualitat de tots els autors que, al llarg de la història, s'han anat matant, mentre que homes com l'amic Bucay, que inunden les llibreries de tot el món de paper (arbres tallats), no només no es treuen la vida, sinó que van pel món fent de gurús feliços capaços d'ensenyar la gent a ser feliç.
A veure: si el que hauria de fer feliç un escriptor és escriure bé, i allò que l'hauria de fer sentir desgraciat és escriure redaccions de col·legi (com El niño con el pijama de rayas, que ja només pel títol sembla una redacció),... per què collons es maten els que escriuen millor, i en canvi els dolents no només no s'amarguen amb la seva prosa vulgar, sinó que es tornen més prolífics cada dia?
4. (A grande teoria irrefletida de Oriol.) Sé que això no només passa amb la literatura, sinó també amb la pintura, la música i altres arts. (Per sort meva, amb el cine no passa: el cine és més de morts tràgiques en accidents de cotxe i coses per l'estil, no sé si perquè són més espectaculars cinematogràficament parlant, si perquè el cine no és un art individual, o si, simplement, perquè el cine no és un art, com pensaria qualsevol persona que només hagués vist les pel·lícules fetes els darrers 20 anys.) I, com ja deus haver imaginat, tinc una gran teoria al respecte.
Òbviament la meva opinió va pels camins de l'artista que viu la seva obra; que és conscient de la seva mediocritat fins i tot quan assoleix els nivells més brillants, perquè és justament llavors quan s'adona de la distància que separa el seu talent del poder creatiu de la naturalesa; que s'adona de la futilitat del seu esforç; etc. Però això ja s'ha dit molts cops i no és divertit. Jo avui prefereixo llançar-me al fang del sensacionalisme i l'escriptura lliure i irreflexiva, molt més divertida, i dir coses com que els bons escriptors que encara estan vius són bons perquè encara no s'han suïcidat, però ho faran.
O que si l'amic Paul Auster (a qui admiro) s'hagués suïcidat fa tres llibres, hauria passat a la història com a un escriptor millor del que finalment acabarà sent considerat si continua així. (Tot i que jo tampoc no em mataria si tingués un piset a Nova York, una dona intel·ligent i guapa, reputació mundial, i pogués viure com volgués i fer el que volgués). O dir que el que hauríem de fer tots és no llegir cap llibre de cap escriptor que no s'hagués suïcidat (això, sens dubte, seria mal rebut pels familiars de molts escriptors.) O que els escriptors que després de publicar es queden vius i cobrant els drets de la seva obra són uns hipòcrites pesseters.
5. (O exemplo de Gerard e os mestres da literatura do Japão.) No sé, el Gerard (un gran lector, per cert) durant un temps de la seva vida es va marcar el principi literari de llegir només escriptors que s'haguessin suïcidat, i a poder ser japonesos (el suïcidi es porta més a Orient que aquí). Ara ja no segueix aquesta màxima, però sempre diu que fliparies amb els grans descobriments literaris que va fer (moltes vegades, d'autors que només havien escrit un o dos llibres abans de matar-se).
És clar que això xoca frontalment amb la meva màxima com a lector, segons la qual només llegeixo autors vius (màxima que em salto, però no gaire). Encara que a vegades d'això en resulti que després de llegir unes quantes pàgines pensi "a aquest paio l'haurien de matar".
6. (Justificante da reflexão irrefletida e alguns desvarios.) En definitiva, no sé per què passa (tot i tenir la meva teoria), però feia dies que hi pensava i tenia ganes d'expressar el meu punt de vista sobre el tema dels escriptors suïcides i el perquè sembla que els que se senten més atrets per aquesta pulsió autodestructiva són els que tenen més talent creatiu.
I volia fer-ho d'una manera alegre i divertida, traient ferro a l'assumpte, més que res perquè ets el meu germà, ets *****, crec que ***** i, almenys de moment, no massa prolífic, la qual cosa, segons el meu rànquing de causes que porten un escriptor a suïcidar-se (explicat perfectament al 4t capítol de la meva teoria), et dóna uns quants punts.
Per això et dic que si mai et passa pel cap (després de publicar una gran novel·la, això sí) cometre un acte tan romàntic com un suïcidi literari per situar-te a l'Olimp de la història de la literatura, pensis immediatament en l'amic Auster i t'adonis que hi ha altres camins a la vida i que no només l'escriptura pot fer-te feliç (pensa, de fet, abans que en l'Auster, en ***** ***** *****, sambar als carnavals o banyar-te a Noronha amb les tortugues). A més, si et mates ja no podré llegir els teus llibres (seguint la meva màxima) i això em tocaria molt els *****.
7. (PS:) Grande Foster Wallace. A veure si algú a Barcelona s'anima a reeditar les seves novel·les, prometem no suïcidar-nos en massa després de llegir-les.
PS do Roger: Procurando na Internet a forma correta de escrever "não têm se suicidado", dei-me de cara com a seguinte qüestão: "O capitalismo pode se considerar inocente diante do número alarmante de escritores que têm se suicidado nos últimos 100 anos?". O link leva para o Jornal do Brasil, mas eu não vou ler agora essa reflexão, que deve ser séria em vez de irrefletida que nem a do meu irmão.
*"Love In The Afternoon", Legião Urbana.
*PS: Pode haver mais respostas em uma canção...

NYT
Thursday, October 02, 2008
De nuevo los pingüinos

Zero Hora
Hace unos seis meses, estos pingüinos de Magallanes se pasaron de largo en su migración al norte. Muy de largo. Espabilados, en lugar de quedarse en el litoral sin gracia del estado de São Paulo, siguieron viaje hasta las playas de Salvador, donde han pasado el invierno calentitos y disfrutando de la hospitalidad y la comida bahianas. Ahora, cabizbajos, son obligados a desfilar de vuelta. Caminan para subir a un avión que les llevará de Salvador a Pelotas; de Pelotas irán en camión a Rio Grande, y en Rio Grande serán devueltos al mar, para que otra corriente les lleve a pasar el verano a las aguas frías del fin del mundo. Mundo cruel.
Friday, September 26, 2008
Diálogo sobre a função da arte a partir de um texto de Eduardo Galeano
Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: Me ajuda a olhar!
- Peraí. Se o menino ficou mudo de beleza, por que perguntou ao pai?
- Perguntou ao pai para entender por que isso mexeu tanto com ele.
- Pois não precisava. Devia ser um menino superdotado, supersensível.
- Mas se ele entendesse melhor, ia apreciar com mais gosto e mais a fundo.
- Não tinha como apreciar com mais gosto e mais a fundo. Ficou mudo. Queria entender por que isso mexeu com ele? Isso não é o principal.
- Acontece que ninguém disse que era o principal. O menino quis saber depois de ter o primeiro contato. Não acho que isso se sobreponha à sensação.
- Pode ser que se sobreponha à sensação.
- Vou surtar. O mais lindo do poema é a mudez do Diego face à beleza e imensidão do mar, OK? Mas o poema continua, e a segunda parte também é interessante. Olha o título, "A função da arte".
- A arte tem essa função, mas também a função estética. O poema mistura as duas, esse é o problema.
- Chega. Senão isso vira um romance.
- Meu irmão já não sabe ver cinema, estudou demais.
- Hoje eu fui à natação.
- Vá com cuidado com essa teoria.
- Foi tão bom.
- Deve ser questão de medida, como tudo, de equilíbrio.
- Pois é, acho que sim, como tudo na vida, né?
- Que bom que tu foi à natação. Sabe? O menino deve ser um pré-socrático. E quando pergunta ao pai, tudo vai por água abaixo.
- Eu vou dormir. Tu não lê direito.
PS nada a ver: Ontem vi meia hora do debate entre Obama e McCain (foi isso o que eu agüentei). Eles subestimam seu público, ou eles são assim? Tive a mesma sensação de quando vi o debate entre Royal e Sarkozy: o país merece mais do que qualquer um dos dois. Um jornalista brasileiro escreve, sobre o debate: "McCain e Obama são menores do que a crise". Concordo (e ainda bem que eles não estão sozinhos a resolvê-la, porque a crise é f***). E os brasileiros deveriam se orgulhar de seus presidentes, ao menos dos que eu "conheci", FHC e Lula.
PPS:
[Video no longer available.]
Foto de la Fundació Iberê Camargo, la nova joia de Porto Alegre
Gabriela Floriani
Fundação Iberê Camargo
Monday, September 22, 2008
Folklore catalão (respondendo a uma petição)
"Hola, ja sé que això no va així i que no admets peticions, però crec que per una vegada ho pots fer. Com que el teu blog necessita parlar una mica més del teu país, dels teus orígens, dels quals sembles renegar, t'adjunto unes imatges fresquetes perquè facis un petit article al blog. Ja sé que no t'agrada tractar el tema de les festes populars nostrades, provincianetes per tu, però un escriptor creatiu com tu sabrà treure-li suc i donar-li la volta. Els teus lectors catalans ho mereixen."
Mais ou menos: "Sei que tu não aceitas petições, mas podias fazê-lo pelo menos uma vez. Como teu blog deve falar um pouco mais de teu país, de tuas origens, das quais tu pareces renegar, adiciono algumas imagens bem recentes para que escrevas um post. Sei que tu não gostas de tratar do assunto das festas populares, tão nossas, para ti provincianas, mas alguém como tu saberá lalalalá [aqui ele esculhamba minha capacidade para escrever]. Teus leitores catalães merecem".
Tuuudo falso. E, em qualquer caso, irmão, meus leitores (amigos, na verdade; leitores, assim, em abstrato, não tenho muitos) brasileiros merecem, não é? Ou vou ter que explicar para os amigos catalães as tradições catalãs? E ainda desde o Brasil? Tu já leu o título do blog? E a frasezinha em inglês?
Bom:
Amigos brasileiros,
Eu respondi que se ele mandava uma foto de um "tres de deu", eu postava, mas ele mandou três fotos: em duas delas, não dá para enxergar nada, e na outra há um dragão jorrando fogo pela boca. Essa eu vou postar, sim. Mas será que é específico da Catalunya, essa coisa de brincar com fogo? Não acho, não. Mais típico seria até ter mandado uma foto de uma catalãzinha bonitinha (o Ronaldo ia gostar). Eis, enfim, a foto, a terceira foto, tirada um dia das festas patronais de Barcelona, que são agora (mas podia ter sido tirada nas festas patronais de cidades como Vilafranca, Sitges, Vilanova, etc.) (Acredito que até no Japão tem isso. Yuji?)

Ramon Cardús
Que eu renego de meu país? Não renego. Mas nunca me importei com "países". Que eu não gosto de provincianismos? Não gosto. (Nem de nacionalismos, bairrismos, etc.) (Mas quem se importa? Com o que eu me importo, quero dizer.)
Ah, e tem outra: meu irmão Ramon foi numa festa em que estava Penélope Cruz, a première (que chique) do filme Vicky, Cristina, Barcelona, de Woody Allen (que chique 2); isso não porque ele seja uma star, mas porque a mulher dele, minha querida Nèlia, organizava o catering. Ele estava lá, com sua (ou suas) super câmera(s), e não tirou nenhuma foto dela (ficou tirando fotos artísticas do veludo vermelho do tapete). Isso, irmão, essa foto, mesmo que a mulher não seja catalã, teria merecido um post enorme (e eu iria até tirar um sarro do sotaque espanhol dela: ninguém é perfeito). Mas tu mandou o dragão.
PS: Um "tres de deu" é isto. (Catalão autêntico, e bom para roubar em andares altos.) (Não, OK: dessa tradição eu gosto mesmo, é legal assistir a "castells".)

PS2: Acho que meu irmão, na verdade, tem medo de me perder porque escrevo nesta língua estranha.
Sunday, September 21, 2008
Tchau anjinho
Friday, September 19, 2008
Tortugas en Fernando de Noronha
De la sexta y última etapa del viaje de Uri, Marc y Manu a Brasil. (Vídeo de Uri.)
Uri y sus compinches persiguiendo tortugas. Cuando yo fui, esto no estaba permitido. Estas tortugas vivirán estresadas el resto de sus vidas. Y no pondrán huevos ni nada.
PS: Projeto TAMAR.
Wednesday, September 17, 2008
Delfines en Fernando de Noronha
De la sexta y última etapa del viaje de Uri, Marc y Manu a Brasil. (Vídeo de Uri.)
PS nada a ver (ou alguma coisa a ver com o post de ontem): E os Estados Unidos continuam restatizando tudo, como se fossem a Venezuela. Quem ia dizer. Viver para ver. O livre mercado. Ha. Ha. Cadê os economistas e políticos neocon, com suas teorias? O dinheiro do povo ao resgate de empresas arrasadas por seus donos... Por quê não deixam esses ricaços se foder? Pagar pelo que fizeram? Vergonha de país. Vergonha de sistema. Felizes os golfinhos...
Tuesday, September 16, 2008
(The World Is an) Infinite Jest

PS: No sábado, na Folha, em um longo artigo titulado "Obama, o preço de ser negro", traduzido da New York Review of Books, Andrew Hacker expressava seu sentimento persistente de que o fato de Obama ser negro pode virar a eleição contra ele em 4 de novembro (não só pelo fato de os brancos não estar dispostos a votar nele, mas também pelos impedimentos legais que os negros tem, em alguns Estados, para votar). Que Obama possa perder essa eleição por ser negro me deixa imensamente triste. No domingo, um outro artigo, "O impacto da possível derrota de Obama", de Jonhatan Freedland, traduzido do The Guardian pelo Estado de S. Paulo, parecia responder ao primeiro: "Se for determinado que o fator decisivo foi o racial - que Obama foi rejeitado por causa da cor da sua pele -, o veredicto do mundo será severo". E, também - relacionado com aquela "dor de ser" norte-americano hoje: "Os democratas anti-Bush ficarão novamente de luto, sentindo-se alienados no próprio país. Uma geração de jovens americanos - que apóiam Obama em massa - se tornará cínica, concluindo que a política não funciona afinal. E, o mais deprimente, muitos afroamericanos decidirão que se nem Barack Obama - com todas as suas qualidades evidentes - foi capaz de vencer, então nenhum negro jamais conseguirá se eleger presidente".
PS2: Na foto, a fonte Bethesda, em Central Park, Nova York, onde se passa a última cena da peça Angels in America (em que existe ainda um raio de esperança). (Também, meu lugar preferido do parque.)
Friday, September 12, 2008
Angústia, de Graciliano Ramos

PS: Há tempo, em um vôo para Barcelona, li S. Bernardo, do mesmo autor, que me disseram ser melhor que Vidas secas, e não lembro de nada. Livro bem escrito e seco, também.
PS2: "Não pinga do pano uma só gota".
Thursday, September 11, 2008
Two Parallel Lines
NYT
See The Indelible Imagery of Two Parallel Lines.
PS nada a ver: Cuba:

Zero Hora
Minha querida Clotilde está lá! :(
Sunday, September 07, 2008
El 7 de septiembre (Mecano)
"El 7 de septiembre es nuestro aniversario
Y no sabemos si besarnos en la cara o en los labios."
E:
"Y aunque empeñados en soplar
Hay llamas que ni con el mar."
Feliz 7 de setembro, feriado nacional (Independência do Brasil, 7 de setembro de 1822).
PS: Y para los no brasileños aprovecho para explicar que en días festivos como el de hoy los autobuses en Porto Alegre, y como en Porto Alegre en la mayoría de capitales de Brasil, son gratis, y que esos son los días en que muchos de los pobres que viven en las afueras pueden permitirse venir al centro de la ciudad. Hoy, por ejemplo, aquí en Porto Alegre habrá más gente que nunca en los centros comerciales y hay más gente que nunca viendo la puesta de sol a la orilla del río.
Thursday, September 04, 2008
Mis problemas con la natación
Desde los 14 hasta los 18 años nadé. Según mi traumatólogo, Dr. Segura, que era contra el uso de fajas, nadar era el único ejercicio que podía hacer que mi escoliosis no se agravara. Tenía, según él, que nadar hasta que terminara mi crecimiento (el crecimiento termina a diferentes edades: puede saberse que alguien ya no crecerá en altura - con una simple radiografía - según la forma de no sé qué hueso de la base de la columna - sacro?). Hasta los 14 nadé en el Colegio Padre Manyanet, de mi barrio. Pero la profesora decía que nadaba poco y lento, así que, confabulada con mi médico, me mandó a nadar a la Piscina Olímpica de Montjuïc (que entonces no era olímpica, pues estoy hablando de antes de los Juegos; era de dimensiones olímpicas, es decir, de 50 metros, no como la del Manyanet y la mayoría de piscinas, que son de 25). Hacía algunos años que el Acuario de Barcelona había quedado pequeño (en realidad, toda Barcelona era un pequeño desastre antes del 92), y el ayuntamiento había trasladado algunos peces grandes a la Piscina Picornell (después, Piscina Olímpica). En esa piscina, en esa época, se hizo entrenar por fuerza a los a los mejores waterpolistas catalanes (y a algunos nadadores profesionales; pero Catalunya nunca fue buena en natación). Y ahí es donde yo nadé, durante cuatro años, de lunes a viernes, tan rápido como nunca he vuelto a nadar. En esa piscina, con esos peces, no había otra opción. (La táctica para que no se acercaran era gritar debajo del agua; no me lo enseñaron, lo aprendí en un manual de la Marina de EE UU.) Pero el tratamiento - sádico - no dio resultado. Esos años de natación forzada me dejaron las espaldas anchas (en sentido literal, no figurado: tengo poca paciencia) para toda la vida pero no hicieron que mi escoliosis dejara de crecer. Es decir, dejó de crecer cuando yo dejé de crecer. Cuando tenía 18 años y mi escoliosis 40º. Entonces, sólo entonces, cuando aquel hueso cuyo nombre no sé ya se había cerrado y yo no había de crecer más en centímetros, pude volver al Padre Manyanet. Pero ya no quise saber nada de la tranquila piscina de 25 metros: fui directamente a la pista de condicionamiento físico, donde Iván, el profesor, fue siempre muy amable conmigo y me trató mucho mejor que los profesores de natación que he tenido. La foto de la Piscina Olímpica es de mi hermano Ramon (que nunca nadó: él jugaba a baloncesto).

Wikipedia

Ramon Cardús
Tuesday, September 02, 2008
Calentamiento global

Ramon Cardús
PS: Para quienes quieran imitar a Ramon (ahora que los pingüinos están llegando a las costas de Brasil), atención a esta nota de El País (03/07/2008): "Las autoridades avisan a quienes encuentran pingüinos que no los metan en agua helada. Algunos llegan a meterlos en la nevera y muchos acaban muriendo". Los pingüinos quieren frío, pero no demasiado.
Monday, September 01, 2008
Volta à vagabundagem
Tem razão. O magistério, para ser devidamente exercido, implica o estabelecimento de sistemas, condena o vago e o intuitivo, reclama estudos metódicos, leva enfim a um tipo de conhecimento útil, ordenado, sólido, funcional, respeitável - e falto de alegria. Ora, há na freqüentação aos textos literários algo de errante, e não me arrependo de haver preservado em mim essa vagabundagem afortunada.
Osman Lins, A Rainha dos Cárceres da Grécia
PS: Eu, que não gosto de metaficção, adorei este livro.