Friday, November 20, 2009

Capítulo 14 (novo rascunho)

Não procure em fúteis brigas de infância entre irmãos, poderia ter dito à doutora J.-P., nem em inexistentes conflitos familiares. Procure, melhor, nos livros que li na faculdade, com suas idealizações, ordenações, sistematizações. Procure nas chamadas ciências humanas. (Sigam chamando a economia de ciência, agora, com a crise que afeta o mundo inteiro e que ninguém soube prever; digam isso aos nova-iorquinos que nunca imaginaram que iriam comer sopa na igreja de Chelsea.) Quão ingênuo eu fui, quão absurdo ter buscado auxílio em Montaigne ("Querer, desde agora, isto e aquilo, mas sem desposar-se com qualquer coisa que não seja nós mesmos. Ou seja, que o demais esteja em nós, mas não tão unido e colado que não possa desprender-se sem nos arrancar a pele e algum pedaço de nós"); ter lido sobre o amor e sobre a amizade depois das turbulências do namoro com Taís. Se Taís foi o fator que precipitou a doença, a predisposição só pôde vir dessas leituras. Nada mais pode explicar que minha compreensão de Taís fosse tão distorcida, minha análise do fracasso do relacionamento tão errada e tão irracional. Só aqueles livros, e a maneira em que os li: anotando, resumindo, esquematizando; reduzindo esquemas até que coubessem em post-its.

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